quinta-feira, 24 de maio de 2012

ISABEL - 01

- Liu Yifei -
- 01 -
O INÍCIO
O ônibus já estava chegando ao centro da cidade trafegando por uma única pista após mais de doze horas a rodar pelo morno sertão nordestino. Mulheres, homens, moças, rapazes, crianças até mesmo de colo já estavam exausto pela demora do carro a transitar pelo chão de barro creio de cratera do interior. As crianças choramingavam por tudo e por nada e as mães davam de mamar aos meninos carentes de mais afeto. Algumas mulheres já quase todas assanhadas cochichavam com seus maridos pela demora do carro chegar de vez ao terminal. Outras poucas mulheres a conduzir seus rebentos reclamavam estarem presas de gases e não viam a hora de descer para fazer as suas necessidades. O carro ainda a correr e a passar por casas nobres e pessoas ricas era tudo o de se ver.  Meninos a correr de um lado para outro cheio de alegria e contentamento. Uns gritava para outros. Uma moça talvez acenando ao namorado. E com beijos dados a sorrir. O calor da tarde aquecia ainda mais o desespero dos viajantes.  Isabel, bela e faceira, a dormir ou fazer de conta de dormir, com a cabeça pendida no encosto do banco de viagem nada reclamava. O guri, logo atrás, rompeu num pranto, como se tivesse assustado ou qualquer coisa desse tipo. A sua mãe o acalentava terno nos braços a lhe tecer conselhos de afago. O sol da tarde batia forte no interior do carro como um cão danado. Em seu sacolejar na estrada quente e macia o carro nada era de conforto. Um cortejo fúnebre seguia percurso em sentido contrario pela igual rodovia. Isabel abriu um olho e viu o carro negro recoberto de flores e grinaldas. Outros carros seguiam o primeiro. No interior do segundo carro, a moça vislumbrou a figura de uma mulher toda coberta de luto a consolar por outra mulher, talvez filha. O sacolejo do ônibus deixou passar os outros carros. As pessoas eram todas cobertas de luto. Isabel fechou de novo o olho. Ela estava com sono, com fome, com sede e com amargura para tudo. O sacolejar do carro apenas lembrava a dor de um amor distante. Esse amor tivera igual final de féretro passado. Um garoto no carro espirrou. Foi um espirro forte. A mãe limpou o nariz da criança com um pano. Isso tampouco assustou Isabel.  O trafego de veículos aumentava a cada momento e com isso a jovem já estava de chegar a alguma pensa de cobrar menor preço. Nos hotéis de luxo, isso ela não queria nem pensar. Tudo era coisa de gente milionária. A cidade era até pequena pelo que Isabel pode observar na verdade. Com a cabeça deitada no banco do ônibus ela apenas conservava um olho meio aberto para observar por onde o veiculo transitava. A choradeira dos meninos nem um pouco a incomodava. Isabel esperava um transporte para qualquer lugar desde as cinco horas da tarde do dia anterior. Ela saiu de casa, às escondidas, pulando a cerca de varas e saindo até a casa de outra mulher quase vizinha depois do ataque do seu padrasto para fazer sexo com a jovem. Isabel se defendeu enfurecida e fugiu momentos depois levando maca com peças de roupas, rede, cordas, perfumes e coisas de mulher. A sua mãe não estava e mesmo se estivesse nada faria em sua proteção. Enfim, a mulher, inda moça, relatou à razão de sua fuga a outra mulher e dizendo ter de ir para a estrada onde tomaria um ônibus para qualquer lugar não importasse qual. Apenas surgiu um ônibus muitas horas mais tarde. Isabel, solitária, com lágrimas nos olhos, de raiva ou de dor, atentando a esmo, apanhou o veículo sem saber mesmo para onde era o seu destino ou qual percurso o carro seguia. Sem noção das horas perseguidas ele viu a cidade como um todo, o caminho, as casas, as ladeiras, as ruas, e, por fim, a estação derradeira. Foi então ter ela despertado do seu pesadelo. A observar desventurada ela estava em alguma cidade do nordeste. Olhou bem para o pessoal a descer. Homens, mulheres, moços e moças e também crianças. Uma das crianças chorava demais com a sua mãe a limar o nariz do seu filho. Isabel desceu um pouco mais atrás e chegou ao motorista do veículo a perguntar qual cidade era aquela. O motorista respondeu e a moça desceu para pegar a maca de viagem do lado de fora do carro. Muita gente a transitar no vai e vem de quem chega e quem sai. Ela ficou a admirar as casas comerciais e por fim, perguntou a um rapaz ali posto onde tinha uma pensão para alugar quartos. O rapaz informou, mas olhando a mulher de cima a baixo voltou a dizer.
Rapaz:
--- Ali tem uma mulher que aluga quartos! A moça pode procurar! Deixa-me levar a maca! – respondeu sorrindo o rapaz a Isabel.
Ela sequer fez objeção. O rapaz pôs a maca na cabeça e rumou em direção ao local indicado tendo a moça a perguntar se o preço era alto. E rapaz não sabia, mas todas as mulheres hospedadas no local nunca reclamaram de coisa alguma. Os carros passavam em vertiginosa correria entre populares a transitar de um lado e outra das calçadas numa presa infernal. Isabel, totalmente suada gostaria de ter um banho, trocar de roupas e tomar algo melhor para pôs de vez o fim à fome. Ela contou o dinheiro e viu quanto era afinal. Pôs a mão no peito para ter certeza de estar guardado um pequeno punhal. Isabel trazia o punha para onde seguia. Foi um presente do seu homem, morto meses atrás em uma contenda com um simples inimigo. O rapaz dito homem levou apenas uma cutilada de faca e morreu. Isabel vivia em comum com esse homem há alguns anos. Os dois foram criados quase juntos. O namoro foi apenas uma questão de tempo. Ela se juntou ao rapaz. Ainda a moça teve um filho e não escapou por conta de uma doença não sabida.
Pessoas:
--- Ele está com morfeia. -  dizia alguém.
Outras:
--- Que morfeia? Isso é doença de gente grande. Um purgativo é o remédio! – outro falava com a cara fechada.
Isabel costurava para os clientes de melhor renda e fazia produtos como os de milho, goma seca e molhada, bolos até mesmo os de casamentos. Na verdade, se não tinha dinheiro era porque raramente o pessoal pagava pelas costuras. A vendagem de produtos comestíveis era de pequeno lucro, quando não tinha a menor renda a receber do que era feito. Assim era a tão  mal vivida a de Isabel ainda moça de seus 15  anos.
Ao chegar à casa de alugar quartos, Isabel pegou a maca e agradeceu ao garoto procurando então saber de quanto se pagava por um aluguel. A mulher atenciosa lhe foi dizendo ser uma paga insignificante, pois naquele lupanar somente se ajeitava quem tinha a maior necessidade de ficar. Com tal explicação dada à moça já ficou de orelha em pé. Nesse momento, uma desorganização tomou conta de imediato da pensão lupanar. A moça encostou-se ao balcão enquanto uma das tais mulheres da vida rezingava com um homem por motivo de dinheiro. Era uma briga cruel de negócio por sinal não bom. A da vida respondia com ênfase ao gigolô da maneira a mais severa. Isabel ficou a olhar aturdida com aquele desentendimento.
Mulher:
--- Você está pensando o que? Que sou como as outras? – dizia a mulher toda em desaforo.
Gigolô:
--- Pra mim você é uma puta! – respondeu o gigolô com muita raiva.
Nesse ponto a mulher arrastou um canivete e soltou a faca do mesmo desferindo golpe na barriga do gigolô a dizer com severidade.
Mulher:
--- Sou puta, mas me honro! – respondeu a mulher tentando furar mais o gigolô.
Nesse ponto, a dona do bar, os garçons e demais pessoas acudiram o gigolô enquanto a mulher da vida tentava sair para pegar o seu caminho pela calçada da rua. Quem estava por perto não fez nem sinal em deter a mulher, pois dessas arruaças era comum ocorrer no recinto quer de noite, quer de dia. A dama saiu e começou a correr enquanto aperreado o gigolô ferido procurava estancar o sangue da barriga pondo um lenço em cima e a gritar de dor. Ele dizia impropérios para a mulher enquanto outras damas passavam e olhavam sem dizer nada. Apenas duas delas sorriam e diziam.
Damas:
--- Olhe! Vá se meter com Laura! Ela não leva desaforo pra casa nem um tico! – falou com desprezo a dama da sala.
E logo a dama se sentou em uma cadeira posta ao leu para quem quisesse sentar. Outra dama se aproximou da mesa e olhou com certo desprezo para a nova candidata a chegar. Ouvindo e vendo tudo isso quando nem menos chegava, Isabel arrumou a mala e saiu do recinto. E nem deu ouvido a dona do bar quando essa falou:
Dona do Bar:
--- Ei, Moça? E o quarto? – gritou a mulher para Isabel.
Essa não respondeu ao apelo e pegou a calçada do bar indo à procura de outro local onde pudesse repousar com maior tranquilidade. O caso a dama e do canivete lhe deixou bastante apreensiva, pois não sabia então por onde caminhar. A maca estava pesada por demais e na rua passavam transeuntes indo e vindo com maior pressa notando a presença de Isabel como uma pessoa a mais. Nesse instante, um homem bem trajado se acercou de Isabel. Após lhe cumprimentar indagou se a moça estava procurando algum lugar para morar. Isabel, meio estonteada não soube nem mesmo o que responder.

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