segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"NARA" - 12 -

- Jennifer Aniston -
- 12 -
TRABALHO
O trabalho árduo durou à noite/madrugada sem trégua. Com a ajuda dos soldados o negocio não foi mais rápido porque não podia consentir. A procura de vivos era intensa. Naquela noite também se teve a ajuda do Corpo de Bombeiros e de Ambulância do Hospital “Miguel Couto”, o hospital central da cidade. O tumulto era imenso com a chuva torrente a cair. Grito de ordens se ouvia a todo instante de um superior. Homens de paragens próximas se ajuntaram para socorrer as vítimas. Nem mesmo o trem teve permissão de trafegar, pois a rua ficava próxima à estrada de ferro. Gente modesta que plantava e colhia capim bem abaixo da linha do trem também veio em socorro das vítimas. Quando alguém cansava, esse era encostado e outro assumia o seu lugar. O alvoroço se ouvia por conta dos veículos particulares tentando os seus motoristas ajudar de qualquer forma. Na verdade, a rua virou uma tragédia para os seus moradores. Quando o dia amanheceu, a chuva amenizou e se podia enxergar o monte de destroços por toda a artéria.  Nas  demais ruas do bairro, a situação era calamitosa. Mesmo assim, não houve tragédia como na Rua da Salgadeira. O gado posto no curral para o abate diário teve de ser transportado para locais mais distantes.
Homens:
--- O que é isso meu Deus?! – lamentava um homem a chegar aquela hora da manhã.
E os demais confirmavam a tragédia sofrida por toda a população da rua e adjacências.
Homens;
--- Além de queda, coice! – ilustrou o homem a temer a real situação de que morava no alto da linha da estrada de ferro.
As alegres mulheres da pensão “Maria Boa” já estavam no local do drama a tentar auxiliar de qualquer forma as pessoas desassistidas. Nesse ponto, de manhã bem cedo, apareceu no local à moça Nara, seu filho de braço e mais o seu pai. Era um sábado. Dona Ceci ficou a cuidar de um forte café e levar para quem estivesse a necessitar. Outros moradores também fizeram o mesmo. O homem do pão não apareceu por causa da padaria onde ele trabalhava ter sofrido danos com as chuvas da noite. Os penitentes operários estavam ocupados no refazer suas máquinas. Por isso, não havia pão para se entregar. A padaria mais próxima ficava na Avenida Rio Branco há mais de quinhentos metros de distancia. Era onde se podia comprar o pão da manhã. No Mercado da Cidade o assunto principal era a tragédia da Salgadeira. Carne verde não apareceu para os homens talhadores.
Comentários:
--- O Governo precisa tomar atenção para retirar o povo daquele local! – resolveu discutir um dos quais.
Outros:
--- Eu também acho! – relatou alguém no café da banca do mercado.
Quem:
--- Todo mundo acha mais ninguém faz nada! – disse alguém ao sorver seu café bem quente.
Principal:
--- Quem você acha que é? Eu sou um Vereador! – disse o homem arrogante.
Nesse ponto “Quem” sorriu e completou:
Quem:
--- Quem disse que você é vereador? Bem quisera! Perdestes até o último vintém. – sorriu o “Quem” a beber seu café. E após o homem se levantou, pagou a conta e saiu.
O “Principal” ficou bufando de raiva a olhar o outro. Ao chegar à porta do Mercado o “Quem” se voltou para olhar o “Principal”, ajeitou o chapéu na cabeça, sorriu e partiu.
No sábado, nove horas da manhã quando o sol estava se firmando no ambiente, Nara estava em sua casa a dedilhar o seu violão e a balançar o seu neném. E de súbito um homem bateu à porta. Ela se levantou para saber quem era o tal e, de imediato estava a entrar em sua casa o amigo Eurípedes a vestir roupa simples nem parecendo um médico. E ao entrar Eurípedes foi logo a cumprimentar a amiga. De relance olhou para o piano a estar coberto por um lençol. Ele se ateve em perguntar como não ter dado a devida importância. Ela sorriu de uma forma amável e em seguida declarou:
Nara;
--- Chuva muita! Eu coloquei um lençol em cima do piano. – se voltou para o instrumento e se voltou de imediato para Eurípedes.
O rapaz sorriu de uma forma sem querer e foi em seguida ao ponto inicial. Ele falou não ter podido ir ao Teatro “Carlos Gomes” uma vez ter chovido bastante naqueles dias. Houve enchentes nas ruas do bairro da Ribeira e o Teatro sofreu com isso. A Casa de Espetáculos era em um local de cheias, pois o canto era antigamente um lago ou a margem do rio Potengi. Quando o Teatro foi construído não se pensou nas cheias vindas com o inverno, com certeza.
Eurípedes:
--- O local está todo encharcado. Não tem espetáculo hoje, amanhã. E, quem sabe? Depois de amanhã! – relatou entristecido o rapaz.
Nara ouviu o relato e ficou a pensar na situação da garagem. Talvez a garagem não tivesse sido atingida. De qualquer forma, era necessário de saber a opinião de Fred. Foi isso no que pensou a moça. Por certos minutos ela calou. Estava embalando o Neto, seu filho amado. E então se locomoveu até o berço onde o bebê estava. Ela olhou para Neto e sorriu. Então soergue a face para o amigo e fez questão em relatar:
Nara:
--- Você pensou nos nomes da diretoria? – indagou como não querendo.
O rapaz calou um pouco e depois falou. Ele disse “não”, pois nem sequer teve tempo. Seria necessário ver com os outros membros. No momento, todo mundo estava alheio à questão vez ter o temporal arrasado com muita gente, principalmente os moradores de bairros pobres. Algumas casas de pessoas ricas também sofreram inundações O desespero era em toda a cidade. Bonde perdido nas linhas em cantos distantes e essas coisas.
Eurípedes:
--- Eu vi chegar ao Hospital gente de acometida de difteria, faringite, bronquite. Coisa triste. – comentou o médico em sua emoção com os pacientes.
Nara:
--- Foi temporal intenso. Uma rua aqui perto teve suas casas derrubadas. – relatou com tristeza.
Eurípedes:
--- Qual rua? – indagou sem preocupação o rapaz.
Nara:
--- Salgadeira. Fica logo abaixo. Descendo. – falou Nara rolando a mão dando por entender.
Eurípedes:
--- Na Rua do Motor houve também casas caindo. – balançou a cabeça em desengano.
Nara:
--- A Prefeitura devia tomar cuidado com essa gente. Imagine a Redinha! – falou ao desgosto.
Eurípedes.
--- Situação grave é a de Aldeia Velha. – relatou o homem desenganado e triste.
Nara;
--- Aldeia Velha? Lá? – apontou a moça para o local.
Eurípedes;
--- Sim. Aldeia Velha era um sítio morada do Índio Potiguassu. Ainda hoje é conhecida por esse nome. Estão querendo mudar para Igapó. – falou com a cabeça abaixada o rapaz.
Nara;
--- Ah. O índio! – falou a moça meio alheia.
O vento frio de uma manhã de sol já era o sinal de um dia melhor. Dona Ceci tinha saído para assistir à Missa em companhia de seu marido Sisenando. Esse saiu para ir buscar os jornais do dia enquanto a mulher ficou mesmo na Catedral. Ele tinha estado na Rua Salgadeira logo cedo da manhã em companhia de sua filha. Ao voltar, Sisenando tomou café com bolo, pois o pão não havia por causa da chuva torrencial da noite-madrugada.  E também, Sisenando teria que ir ao Mercado ver se encontrava no local um par de sapatos, pois o que usava era também bastante velho. Os outros tinham sido molhados e assim ficaram imprestáveis. Era um tipo de calçado de não aguentar chuva. O sapato abria logo o solado. Era até interessante. Os sapatos ficavam batendo com assola no chão e subiam até ao ponto de partida fazendo uma zoada bem peculiar. Os jornais da cidade não saíram àquela hora o que fez Sisenando rumar o Mercado. Nesse percurso, Sisenando encontrou um velho amigo, membro da Maçonaria. Esse homem vinha quase a correr e na ocasião teve de recitar ao velho amigo:
Amigo:
--- O doutor está em coma. – relatou o velho amigo a Sisenando.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

"NARA" - 11 -

- Ísis Valverde -
- 11 -
ESCURO
O dia estava escuro mesmo. Com a chuvarada veio à ventania espalhando galhos das árvores por todos os recantos da capital. O trânsito de veículos ficou prejudicado por conta do rompimento da ponte do Canal do Baldo. Aquele era um trajeto feito para ligar os bairros do Alecrim à Cidade Alta e a outros bairros da cidade. Os bondes não transitavam pelo local por causa do rompimento dos seus trilhos. Os veículos não tinham como seguir de um lado para o outro. Pessoas não se aventuravam a cruzar o caminho. O aguaceiro era bem forte com a precipitação caída em toda a cidade. No Baldo havia um riacho vindo da Lagoa “Manoel Felipe” no bairro do Tirol e ainda havia o riacho da Lagoa Seca. Esse despejava seu volume de água no riacho do Tirol.  Apesar de um prefeito da cidade ter dito certa vez:
Prefeito;
--- Eu hei de construir essa ponte nem que seja com tronco de bananeiras! – falou bastante  eufórico o homem.
Mas a questão daquele momento não tinha tronco de bananeira a por nos eixos. Uma tromba d’água se abatia sobre a cidade e o povo dos escritórios temia pela ventania a derrubar os pés de árvores. O temporal aumentou o volume de água no riacho do Baldo. Era constante se ouvir gritos do pessoal.
Gritos;
--- Cuidado com o fio! – gritava alguém para outro alguém.
Era a triste sina de se temer morrer de choque elétrico. Em determinado instante a luz faltou em toda a cidade. Os Bondes que já não trafegavam por causa da tempestade. Nesse instante paravam de vez por falta de energia elétrica. O avanço das águas era constante. A descida do Alecrim foi tomada por avanço do lamaçal a destruir as mais robustas árvores. A lama descia pelas ruas Olinto Meira  e a Coronel José Bernardo com suas adjacências e do bairro da Cidade Alta era maior ainda a pegar a Avenida Deodoro, Princesa Isabel, Rio Branco, Santo Antônio e outras existentes. Em todos os recantos havia a enxurrada constante. No Baldo, o volume de água era impressionante. Os Bondes a se deslocar para a Cidade Alta ou o Alecrim, ficaram parados pela falta da energia elétrica. Os mesmo aconteceram na Ribeira, Petrópolis e Tirol. Os veículos também não trafegavam por canto algum. A tromba d’água era terrível e o pessoal morador da Rua Santo Antônio na parava de rezar e fazer promessas tardias. No Baldo alguém gritou desesperado.
Alguém:
--- Um corpo! Um corpo! – era o grito desesperado do homem apontando para o leito do riacho a borbotar a lama suja.
O Corpo de Bombeiros deslocou homens e viaturas para auxiliar no esforço feito por cada um dos ajudantes enquanto a chuvarada continuava a instigar. Engenheiros se deslocavam com sua roupa suja e molhada envolvidos entre os operários. Ninguém da Prefeitura chegou nesse primeiro instante. Fotógrafos de jornais estavam a postos nos locais fora de perigo a registrar os efeitos do temporal. Mudanças se viam a fazer de pessoas moradoras no baixio do local. Um touro mugia em qualquer parte. Uma mulher ao desmaio era socorrida por outros parentes a arrastar seu pesado corpo por um terreno no baixio onde havia cerca de arame para não permitir se entrar. A água continuava a subir e, pelo lado de quem desce da Cidade, via-se moradores abandonarem suas casas nobres. Era o desespero geral. As pobres mulheres e moças que lavavam roupa no riacho dessa vez não tiveram meios para tal. Cada qual reclamasse o pior. Algumas olhavam o tempo e se ressentiam de ter deixado o seu casebre, pois, talvez, o casebre caíra com a borrasca. O cuscuzeiro passou em sua debandada carreira não se importando com a tempestade e procurando um abrigo melhor e mais tranquilo em outro local. Diante do quadro calamitoso ninguém podia fazer coisa alguma. E os trabalhos prosseguiram por todo o dia. A “Companhia Força-Luz” apenas retomou a funcionar às quatro horas da tarde restabelecendo aos poucos em vários bairros a energia elétrica. Na casa de Nara tudo corria com vexame com dona Ceci a lamentar o caos abatido pela tormenta. Chovia menos na cidade e as residências estavam entulhadas de lixo vindo mesmo dos quintais. A moça tinha cuidado redobrado para não deixar o bebê Neto desprovido de assistência. A porta da frente da casa permanecia trancada. Às seis horas da noite o pai de Nara chegou ainda molhado pela grossa chuva caída na capital. Ele retirou os sapatos e comentou;
Sisenando:
--- Esse não presta mais. Só outro! – empurrou os sapatos para bem longe.
A sua mulher olhou e nada comentou. A filha Nara saiu depressa para o seu quarto levando consigo o bebê, amparado como se fosse coisa de outro mundo. De imediato um rato todo molhado fez menção em correr e Nara então gritou:
Nara:
--- Ai!!! Um rato! Socorro! – e se agarrou em seu filho procurando subir na cama.
O homem ouviu e correu depressa para o quarto da filha aclamando de longe:
Sisenando:
--- Onde está o danado? – clamou o homem pegando um dos sapatos rotos.
A moça já estava suspensa na cama a segurar o seu filho. E o que pode dizer:
Nara;
--- Ali! Ali! Mata o bicho! – reclamou a moça acolhendo o bebê.
Sisenando correu para olhar mais de perto e, com um chute, empurrou o camundongo para longe. O rato, meio já sem vida rolou no chão e foi cair ao lado do corredor. Sisenando olhou a filha e então sorriu relatando:
Sisenando;
--- Tá morto o rato! – e sorriu a valer pelo tamanho minúsculo do camundongo.
Dona Ceci veio tanger o bicho já inteiramente morto para uma parte do quintal.  Nesse ponto, um relâmpago rompeu o céu. Com mais alguns minutos veio o trovão. E a chuva começou de novo. Sisenando comentou ter mais uma noitada de temporal. Às pressas, dona Ceci entrou para então fechar a porta da cozinha.
Ceci:
--- Não é possível? Chuva novamente? – reclamou a mulher um tanto nervosa.
E a chuva chegou. Menos no início. Forte na continuação. Relâmpagos e trovões assustadores atormentavam os viventes. De imediato, a chuva caiu insistente aumentando o volume das águas a correr ladeira abaixo na Rua Santo Antônio e ruas próximas. A  rua mais sacrificada era a Avenida Rio Branco onde a maior parte era moradia, algumas de gente rica. Essa avenida não tinha sido tomada ainda pelo comércio, salvo em alguns pontos. O certo era a existência de Padarias e armazéns ou de armarinhos. Algumas casas abrigavam setores de associações ou mesmo um cinema. O movimento intenso de gente era mesmo a Ribeira. Mesmo assim, existia da Cidade Alta o Mercado Público onde se tinha maior volume de comércio. Para um lado, na Avenida Rio Branco, havia ainda uma leiteria, casa de vender leite natural vindo do campo. E nessa avenida corria o maior volume das águas, todas despejado no Baldo. Para a metade da rua, do trecho do Mercado, as águas lamacentas corriam para a Ribeira em grande enxurrada onde se depositavam como sempre a chover. Estrondo se ouviu na Rua Santo Antônio. E um clamor de gente ao desespero. Eram os moradores da Rua da Salgadeira, pouco mais abaixo descendo a ladeira a levar até a linha do trem. As moradias da rua encharcadas pelas águas, não resistiram mais e findaram a soçobrar.  Era um clamor insistente do pessoal.
Uma:
--- Ai meu Deus! A minha casa! – gritava uma mulher.
Duas:
--- Dona Mumbé está debaixo da casa! – reclamava ao desespero outra mulher.
Três;
--- Vamos ajuntar esforço para retirar as vítimas! – gritavam inseguros os homens.
E as moradias continuavam a ruir como um jogo de baralho. As pessoas, às pressas levavam os filhos menores para algum lugar ou mesmo ajudavam seus maridos ou pais. Era um verdadeiro alvoroço tudo a se ver e ouvir. Gente vinha da parte mais baixa onde passava o trem em auxilio das sacrificadas pessoas. A bodega de seu Armindo era o ponto de amparo a toda aquela gente. Alguém buscou ajuda no Quartel de Polícia na parte próxima da rua e encontrou um tenente. Esse ordenou a seus soldados a acolher toda a gente da assombrosa catástrofe.  O pessoal socorrido tremia de frio e medo. Os menores choravam. Alguns aos berros. As mães, irmãs ou mesmo parentes próximo acalentava mesmo estando ao desespero em busca de outro parente, mãe, pai ou avó. Essas pessoas não tinham mais sido vistas. A calamidade se apossou do espírito de cada qual.
Um;
--- Onde está minha mãe? – clamava desesperada uma mulher.
Dois:
--- Quaro saber do meu pai! – era outro chamado aos berros.
Três:
--- Mariazinha! Onde está Mariazinha? – clama pelo amor de Deus alguém perdido na multidão
O Policia, como pode, caiu em campo para trabalhar na remoção de todas as quinquilharias dos seus moradores. A chuva atormentava a Polícia. Porém os soldados cumpriam ordens. Outros até habitavam os casebres derribados.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

"NARA" - 10 -

- Natalie Wood -
- 10 -
DESATENTO
Por motivo alheio ao seu saber, o rapaz voltou e disse não ter ideia de qual seria o nome. Mesmo assim, ainda aventou em falar nomes como “Marechal do Ritmo” ou mesmo “Grupo Sabiá”. O caso foi à votação. E continuou a prevalecer o nome de “Garagem” vitorioso por um voto. Nara então sorriu por dentro de si e relatou ter posto o nome por motivo da turma está ensaiando em uma garagem. Na verdade, ela defendeu o estilo do grupo em ser Sabiá, pois era uma ave muito querida e de um catar doce.  Se houvesse desacordo Nara retiraria o nome de “Garagem”. E a turma se esquivou de votar por ter número pequeno para tal. E se seguiu em outras conversas como quanto eram os cantores. E então se deu a confusão. Cada qual que quisesse ser cantor. E a hora foi passando sem ninguém chegar a uma definição. E tudo acabou sem qualquer definição definitiva.
Na volta para casa, Nara resolveu abrir mais para o seu amigo Eurípedes e relatou não ser a intenção resolver a questão de uma vez por todas. Contudo, a questão ser a de todos falava e não se entendia. Desse modo muita gente a falar e nada a resolver. Nara tinha a intenção de se fazer um grupo formado por três ou quatro componentes e nada mais. Esses eram os que fariam o grupo. E tinha mais:
Nara:
--- Não se falou em diretoria. Quem manda ou não. Isso faz a questão importante. Alguém tem que presidir. Outro o de secretariar e um de tomar conta dos lucros e prejuízos. O grupo deve ser formado por três ou quatro pessoas não dependente de ser um componente de tal diretoria. – falou com certeza a moça.
Eurípedes:
--- Você tem razão. Ninguém pensou em tal caso. – falou o amigo de Nara.
A noite corria serena. Eram dez horas. O Bonde estacionou no ponto inicial e por uns instantes os passageiros tardios ocupavam seus bancos. Porém o motorneiro avisou está o Bonde sendo recolhido à estação do Baldo. E quem subiu tornou a descer, pois nada se podia fazer. O carro seguiu para à rua de Nara onde pouca gente andava a perambular. O carro entrou por uma esquina da rua e logo à frente parou. Euripedes notou um grupo de homens todos de preto vindos a conversar assuntos alheios a rapaz. Nara vislumbrou seu pai e saltou do carro a levar seu violão. Eurípedes ainda voltou a dizer sobre a próxima reunião. Ela ouviu e caminhou para a sua casa. Uma janela da casa em frente se abriu para alguém ver quem estava a chegar aquela hora tardia da noite. Em seguida, uma mulher robusta se trancou fechando da janela.
Dona Ceci dormia com a cabeça caída sobre o braço direito e o menino estava acordado fazendo um grunhido como de alguém ou criança pronta para sujar o pano vestido. Nara olhou para o neném e procurou ver se ele estava enxuto e notou os grunhidos feitos não era nada menos do que sujar a frauda. Quando Nara pegou o menino a sua mãe acordou quase sobressaltada indagou as horas. No mesmo instante entra na sala o velho Sisenando um pouco “eufórico” e fala para o pequeno:
Sisenando:
--- Ele está sujo? – perguntou o homem ligeiramente alcoolizado.
Nara:
--- Está. Vai agora para o banho. – reclamou a mãe do bebê saindo com pressa da sala de jantar para o seu quarto.
O pai ficou atônito com a zanga de sua filha e não sabia por qual motivo. Meio alcoolizado ele indagou de sua esposa qual foi à causa de tanto aborrecimento. A mulher disse não saber e se possível Ceci acharia melhor ir para o seu quarto, pois era tarde e ela era preciso dormir. E se levantou da cadeira e foi saindo. Sisenando nada se importou e deu de ombros. Ele foi então para o banheiro onde  tomaria uma ducha de água fria a qualquer preço.
Naquela noite/madrugada, o sonho atroz perturbou a mente de Nara. Ela sonhava está no Mercado da Cidade e observou vagas mercadorias expostas. Tudo no Mercado era ruim. Os locais eram poucos. Uma mulher pedia uma sopa de lagartixa. A moça ficou desnorteada com tanto abuso da mulher faminta. E com o passar das horas Nara viu um local de vender coisas velhas. Ela temeu. Mais outros locais, tudo de quinquilharias. Eram quinquilharias miúdas. E mais:  todos os que passavam sempre olhavam para as velharias. Para Nara, aquilo não era tão velho assim, em seu sonho. O homem do jogo do bicho conferia os seus pules para ver se tinha acertado em algumas apostas feitas. Outro chegava ao seu lado e oferecia um bilhete de um automóvel. Teve alguém a lhe oferecer frutas, todas verdes. Mesmo assim, Nara não desejava ver mais. Na saída do Mercado ela notou uma mulher a atravessar a rua para pegar o Bonde. E nessa angústia, o sonho terminou.
Foi uma náusea constante feita pelo sonho na mente de Nara naquela madrugada. A moça acordou sobressaltada e no restante da manhã o sonho não saía de seu pensamento. Às vezes sentia vontade de chorar. Angustia pesada por ela sofrida. Remorso e vontade de sumir. Um caso de paranoia e delírio. Foi assim ter Nara pensado do amargo sonho da madrugada.  Em um instante, ela verificou como estava a dormir o seu filho amado. Parecia um boneco de porcelana no jeito como dormia. Nara se impressionou com o bebê e observou terna como um garoto podia dormir tão repousado assim. E o tempo passou rápido quando Nara olhou para o seu relógio de cabeceira e viu já às cinco horas da manhã. A moça saiu para esquentar a água no fogão da cozinha. Dona Ceci acabara de chegar e olhou o céu vendo nuvens pesadas dando a impressão de chuva a qualquer instante. A mulher recolheu seus braços em forma cruzada e suspendeu os ombros.
Ceci;
--- Vai chover. – relatou a mulher se voltando para a cozinha.
Nara nada respondeu. Ela estava a acender o fogão como sempre fazia. Riscou quase uma caixa inteira de fósforos com o seu desespero de não acende por causa do tempo frio a estar a fazer. O               menino acordou. Nara ouviu a sua forma de chamar alguém. Era um ronronado. Ela ouvira muito bem. E de imediato a moça largou a chaleira ainda sem acender o fogão e foi buscar a criança. A sua mãe se encarregou de acender o fogo e por a chaleira. O marido de Ceci entrou no gabinete sanitário sem dizer nada. Pássaros gorjeavam nas árvores do quintal. As nuvens se acercaram. O tempo mudou. A chuva cai de repente. A passarada silenciou. As biqueiras começaram a jorrar. Um homem gritou na rua:
Homem:
--- Chuva! – gritou um homem.
O homem de entregar pão apenas bateu à porta da casa e chamou por quem estava:
--- Olha o pão! – gritou o padeiro.
Mais tarde, depois das oito horas da manhã Nara ainda pensado no sonho da madrugada estava ensaiando em seu violão e balançando o neném Neto no seu berço. Ela acompanha o sono da criança embalando o berço amarrado por uma tira indo do pé de Nara à pequena cama. As músicas cantadas por Nara tinham um acorde leve e embalava mais a criança.  A chuva era insistente com as biqueiras jorrando água aos borbotões. O homem do leite chegou bem atrasado e fez a entrega. Ele estava apressado e todo encharcado de lama. Por seu lado, Nara se preocupou. Foi dona Ceci quem recebeu o leite. Ela recebeu e entrou para a sala de jantar. O toque do violão lembrou a Nara os acordes de um piano. Ela não sabia por que. Apenas olhou para o móvel ao lado. Era o piano modelo vertical. Esse tomava menos espaço que o piano de cauda. Tal piano, sendo de cauda precisaria de um espaço maior. A observar o móvel Nara fez um leve sorriso. Mas fechou a cara em seguida.
Nara;
--- Bruto! Ignorante! Que está pensando? – foi o que refletiu a moça.  
Em tal momento ela notou a insistente chuva a cair copiosa. Então Nara se levantou e, na carreira, sacou de um lençol o qual cobria a sua cama e, de imediato, voltou fazendo daquele pano uma coberta para o piano temendo a chuva a cair e um respingo manchar a pintura do piano. Na rua, a enxurrada corria franca pela calçada formando uma lagoa a todo custo. A rua era início de uma descida e Nara viu as outras casas com suas portas e janelas fechadas.  O frio imenso açoitava o tempo.  Meninos desaforados corriam pela rua a tomar banho de chuva. Um entregador de compras passou com o balaio na cabeça, cambaleando por conta da pesada encomenda. O carro coletor de detrito vinha devagar, batendo a sineta e a buzinar constante advertindo aos constantes o carro do lixo. A meninada nem se importava com tal caso. Todos a gritar ensaiavam uma dança no meio da rua. Era o mundo todo a cair tão de repente por conta do temporal insistente. A terra escureceu de luto dado a tempestade arrasadora. Uma mulher moradora em uma casa quase em frente chamava seu filho de volta, pois o menino tinha a intenção de cair na borrasca. Um homem veio assustado do baixio e a gritar.
Homem;
--- Cuidado!!! A ponte do riacho do Baldo caiu!!! Cuidado!!! – gritava o home em desespero
O caminhão coletor nesse momento parou. O motorista quis saber do que estava a acontecer. E o homem apenas dizia para não seguir,  pois a ponte do Baldo caiu por conta  da tempestade abatida.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"NARA" - 09 -

- Emily Browning -
- 09 -
O INÍCIO
Após a discussão por causa do piano dado, Nara resolveu sair com o rapaz Eurípedes, tendo deixado o filho aos cuidados de sua mãe, Ceci, mesmo estando sempre preocupada com a criança. Na viagem ela se trancou e levou o seu violão, cujo destino era quase remoto por conta de Neto. Mas, então, ela retirou a capa do forro e foi com seu violão para participar do início das discussões sobre o Festival a ter lugar no Teatro “Carlos Gomes”, provavelmente. A noite vazia deixava ver ter a eterna solidão mesmo estando Nara acompanhada, uma sensação nostálgica e relutante. As casas sombrias passavam uma após outra no caminhar de um futuro do nada. Vento a uivar dava aos cabelos soltos da moça a imensa agradável percepção da sua quimérica solidão de sempre. Nara sempre calada olhava para as casas já modernas ao contrario das chamadas de “biqueira” ou “cachorro de cócoras” a prender seus soltos cabelos no início daquela noite de verão apesar de ser inverno no hemisfério sul. Como era bela jovem moça no cuidar da noite. Rapazes a passar conversando e moças a sair das suas casas com uma porção de livros e cadernos em baixo do braço. Homens sisudos em trajeto para o lado de suas moradias e os jogadores de bilhar a torcer os lisos tacos no ambiente das salas de apostas. Bonde a sair para o seu destino com as pessoas a pegar pelo lado de fora, pois para esses era mais fácil saltar. Uma motocicleta a passar desenfreada por entre as pessoas no instante de atravessar a rua. Um grito:
Pessoa:
--- Ui! Está louco seu maluco?! – gritava a pessoa de modo a se frear para a moto passar.
Apesar de tudo, a vida continuava. No templo protestante as pessoas começavam a chegar para recitar a sua Bíblia. E mais a frente, o chique cinema a abrir suas bilheterias para a venda dos bilhetes para a sessão da noite. Carros ao redor do cinema eram o comum. E o silencio imperava para o lado mais distante. Uma anciã parava na calçada a espera de tudo passar para ela poder atravessar a rua. Um rapaz  entrava em uma estação de rádio, com certeza para fazer o seu programa da noite. Um homem chegava à frente da emissora e colocava a cadeira onde de imediato se sentara.  Com um determinado tempo o veículo de Eurípedes estacionou na frente da casa sombreada de Fred onde estavam luzes acesas e, na entrada da casa, havia pouca gente, incluindo Fred.  O rapaz olhou para a entrada e logo falou:
Eurípedes:
--- Chegamos! Tem pouca gente. É assim mesmo. Nós e os outros. – sorriu o rapaz.
Nara olhou a casa de Fred e notou ser chique. E de imediato vislumbrou a garagem dentro do terreno, no final da casa nobre. Ela não falou. Mas de imediato desceu do auto a levar o seu violão. Nesse tempo, Fred chegou ao portão da casa e Eurípedes saltou igualmente do veículo fazendo largos elogios ao companheiro. Por seu turno, Nara apenas cumprimentou Fred e olhou de relance para ver os que estavam sentados nas cadeiras postas na entrada. Havia três moços e uma moça, pelo visto, namorada de algum dos presentes. Ela foi entrando em companhia de Eurípedes e recebendo os agradecimentos de Fred.  Finalmente chegou até ao local onde estavam os demais componentes do ensaio.
Nara:
--- Boa noite. Como estão vocês? – falou a moça aos demais companheiros.
Outros:
--- Boa noite Nara. Aqui tudo bem. Você vai incentivar a nossa causa? – indagou um de eles a sorrir.
Nara:
--- Eu recebi convite hoje por parte de Eurípedes. Ele é que pode falar. – falou de novo a moça a olhar sem querer para o doutor.
E a conversa continuou com Fred a chamar os amigos para a garagem onde existiam apenas pneus velhos entre outros objetos de automóveis. Nara olhou para tudo e não disse nada. Os bancos estavam à disposição dos amigos. A lâmpada de luz elétrica estava acesa. Para se desligar era apenas apertar em um interruptor. A moça fez cara de quem não gostava, pois a luz ainda era muito fraca. De um modo ou de outro, ela não disse coisa alguma. Fred iniciou a reunião a conversar sobre o Festival da Juventude pretendido se fazer em Natal  talvez antes mesmo de ocorrer o do Recife. Contudo teria que se ensaiar muito até tudo estar pronto. Ele falou ter sido a ideia de Eurípedes em conversa entre ambos. Nada havia ainda decidido. Fred ficou responsável em chamar os colegas que os conhecia e tudo estava nesse pé.
Fred:
--- É isso, turma. – sorriu o rapaz a esfregar as mãos uma na outra.
Eurípedes:
--- Quem fala agora? – perguntou o segundo rapaz aos demais presentes.
Um –
--- Esse festival vai ser aonde? – indagou um rapaz.
Eurípedes:
--- Qual? O de Natal? Aí é que está o problema. Nós temos o Teatro “Carlos Gomes”. Porém, a princípio, temos que ensaiar. Eu fiquei de falar com outro amigo. Mesmo assim, ele não chegou até agora. Não sei o que sucedeu. Mas, pensando concreto, eu cheguei  a conclusão de ser aqui  mesmo os ensaios. Talvez a família de Fred não se importe. E. ...- estava a falar o rapaz.
Nara:
--- E se o Teatro não ceder espaço? – indagou a moça a olhar para Fred.
Fred:
--- É com ele. – sorriu Fred apontando o dedo para Eurípedes.
Nara se virou para Eurípedes, ela sentada no banco, com o violão atravessado em suas pernas e a mão no queixo. O rapaz a olhou e fez um gesto de riso sem querer. Então Eurípedes falou:
Eurípedes:
--- Bem. Parece não haver problemas com relação ao Teatro. Porém, em outro caso, temos o Teatro do Colégio Marista. – sorriu sem querer o rapaz.
Nara:
--- E os ensaios? – indagou por mais  uma vez a moça.
Eurípedes:
--- Isso é com ele? – e apontou para Fred.
Fred:
--- Por mim, tudo bem. Vai ser mesmo aqui. – resolveu o rapaz.
Nara:
--- Garagem! – falou a moça.
Fred:
--- Sim. Na garagem. – sorriu sem querer o rapaz.
Nara:
--- Eu falo no nome da banda. “Garagem”. – falou a moça.
Fred, sem entender muito bem do nome olhou para o seu amigo Eurípedes.
Eurípedes:
--- Nara me falou no nome do Grupo. Para ela, como se vai ensaiar em uma garagem, nada melhor do que por seu nome também de Garagem. E você o que acham? – perguntou o rapaz a turma reunida.
Os demais se olharam e nada tiveram a responder. Apensas um dos quatro ventilou.
Um.
--- Garagem? Eu pensei em se por um nome mais significativo. – relatou o número Um sem tecer maiores comentários.
Eurípedes:
--- Que nome, por exemplo? – indagou o rapaz ao numero Um.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"NARA" - 08 -

- Nicole Kidman -
- 08 -
FESTIVAL
O rapaz – médico – sorriu pela decisão de Nara e resolver se entrosar com o grupo. Os rapazes e moças estavam com toda certeza destinados a participar do Festival da Juventude a ter lugar também em Natal. Dos seis ou oito  iniciais participantes pelo menos Nara estava acertada em ter de participar. Com boas notícias iniciais o rapaz ficou de voltar à casa de Nara as primeiras horas da noite daquele dia para poder levar Nara e, possivelmente, o seu filho, o pequeno Neto como passou a ser chamado o menino Sisenando. Entre outros assuntos Eurípedes teceu comentário sobre o Festival e os ensaios da garagem da casa de Fred. Apesar de ser apertada, a garagem serviria de algum modo para a turma ensaiar. No vai e vem da conversa, Nara indagou se alguém pusera nome no grupo. Eurípedes relatou não saber ao certo. E perguntou;
Eurípedes:
--- Você alguma ideia? – perguntou sem muita precisão.
Nara:
--- Não. ... A não ser um nome simples. Que tal “Garagem”? – sorriu relutante a moça.
O rapaz ficou a meditar se o nome era propício. E demorou um pouco até perguntar;
Eurípedes:
--- Garagem? – indagou o moço com cara duvidosa.
Nara:
--- Foi uma ideia. Afinal é onde estamos a ensaiar. Não é em uma garagem? Então? – falou sorrindo a moça.
Eurípedes:
--- Sim. Nesse ponto você tem razão. Vamos ouvir os outros. De momento eu também fico com o termo “Garagem”. – sorriu o homem.
E a conversa prosseguiu até quase às onze horas da manhã quanto Eurípedes pediu para sair e Nara o convidou para ficar,  pois sua mãe  já estava a preparar o almoço. Nesse tempo, a moça já estava com seu filho no colo afagando e pondo a mamadeira para o garoto com leite lacto uma vez ser o bebê de tenra idade. Eurípedes ficou a olhar o jeito daquela mãe a cuidar do seu filho de modo tão deleitoso.  Um caso típico. Havia mães a adotar filhos “dos outros”, mesmo assim, Eurípedes jamais teve a oportunidade de ver uma simples moça tão jovem a cuidar de um pimpolho  como seu. A moça não tinha leite e por isso dava leite de mamadeira. O rapaz ainda olhou terno para a criança pensando em um dia ser pai com o mesmo afago.
Pouco antes do meio dia, chegou o senhor Sisenando com uma verdadeira “feira” nos braços para por em cima da mesa. Ele cumprimentou o rapaz e  indagou de quem se tratava. Nara respondeu ser o Doutor Eurípedes, médico. O pai quase se lembrou da figura. Mesmo assim achou por bem indagar:
Sisenando:
--- O  senhor é o mesmo do carnaval? – indagou com pressa o homem.
Eurípedes sorriu e observou seu o seu disfarço não mágico, pois estava sendo reconhecido até mesmo pelo pai de Nara. E resolveu o assunto.
Eurípedes:
--- Sim. Sou a mesma pessoa. – sorriu o homem.
Nesse momento Sisenando sentiu um puxar em suas calças e, de repente, olhou e viu ser de Nara fazendo silencio para o homem evitar chamar o rapaz pelo apelido “Baiacu”.  O velho entendeu e sorriu. Nessa mesma ocasião relatou um assunto vindo do rádio. Era de um meteorito caído numa região da Rússia, atingido seis ou mais cidade, provocando mortes e feridos em cerca de mil pessoas.
Sisenando:
--- Houve pânico geral entre a população.  Um rastro de fumaça foi visto no Céu. Bolas de fogo foram lançadas a Terra. As pessoas estão em desespero. – relatou o velho todo suado por conta do calor do meio dia.
Nara;
--- O senhor ouviu a notícia? – indagou meio confusa com a situação dos feridos e mortos.
Sisenando:
--- Sim. Estava sendo divulgado há instantes. – falou o homem a despejar o conteúdo do saco.
Eurípedes calou por instantes e ficou pensando no Hospital onde trabalhava. O assunto era por menos questionável. Afinal ocorreu numa região distante, em outro país. Por Natal não tinha algo nesse sentido. Ele ouvira falar de um meteorito a se aproximar da Terra para um dia qualquer desses dias. Talvez fosse esse o caso. Sem se ligar muito ao assunto, Eurípedes deu menos importância ao fato. Apenas pensou em um amigo ter se lançado numa aventura e morar na URSS – A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – depois de longa espera. Desde  um certo tempo ele não escrevia para seus parentes, pois não tinha “disposição” para tal. A União Soviética era a chamada Cortina de Ferro. Chegava-se noticia da China, no extremo oriente um país “trancado” e, pois isso mesmo chamado “Cortina de Bambu”. No Brasil não havia nenhuma repressão àqueles jovens dispostos da entrar na Cortina de Ferro. Mesmo assim, quem fosse para a União Soviética era visto como “aventureiro” e a política norte americana fazia pressão para que o Brasil não permitisse brasileiro a entrar nesse país muito “distante”. A Cortina de Ferro foi implantada nos anos vinte. A II Guerra Mundial facilitou mais o ingresso de estrangeiros no império russo. Contudo, após o final da Guerra, o Governo da União Soviética teve de reestruturar para sair de um melancólico final e as pequenas nações do Império Soviético implantaram a mesma política do governo central de Moscou.
Às sete horas da noite Eurípedes estacionou o carro em frente a casa de Nara. Ela já estava em pé na porta com os braços em forma de asas fincando cada lado do corpo. O jovem entrou na sala com o seu sorriso de sempre e logo notou um presente posto ao lado, porém ainda fechado. A moça estava braba com o moço e foi logo a perguntar:
Nara:
--- Quem mandou? - e balançando o pé mostrava o piano ao seu lado.
Eurípedes:
--- Primeiro: boa noite. E então? Esse é bom? – sorriu o homem a cumprimentar o pai de Nara.
Nara:
--- Você não respondeu! – falou a moça pouco brava.
Eurípedes:
--- Ora. Não foi nada. Você disse ter aprendido tocar piano e eu adquiri um e mandei para você continuar os estudos. – respondeu o rapaz a sorrir.
Sisenando:
--- Esse piano é de uma marca excelente. Um Fritz Dobbert. Eu fiz estudos em um piano desses quando era pequeno. – falou o pai de Nara sem se levantar de onde estava.
Eurípedes:
--- Isso. Na minha casa temos um piano desses. Ele é uma maravilha. Espero ser esse também.  – sorriu o homem esfregando as mãos.
A moça calou e olhou para o seu pai a dizer:
Nara:
--- Até o senhor? – perguntou a moça de forma brava.
Sisenando:
--- E o que é que tem? Todo mundo tem piano em sua casa. Quase, quis dizer. Eu até toco alguma coisa sem me lembrar de tudo. – sorriu o homem encostando o jornal já lido.
Nara:
--- Quer dizer que eu estou entre dois maestros? – falou brava a moça.
Sisenando:
--- Ora minha filha. É só um presente. E se não quiser me dê. – sorriu o velho.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"NARA" - 07 -

- Thaís Fersoza -
- 07 -
CONVITE
Na quinta feira, de manhã bem cedo, alguém bateu palmas na porta da casa de Nara. A moça estava no final do quintal. A sua mãe foi quem atendeu ao moço, rapaz alegre, jovem ainda, corpo forte e muito bem parecido. Dona Ceci indagou do rapaz o nome. Ele respondeu:
Rapaz:
--- Eurípedes. É o meu nome. Eu procuro por Nara. Ela está? – indagou e sorriu.
Dona Ceci sorriu leve e respondeu sem se preocupar.
Ceci:
--- Eu sei quem é o senhor. Doutor Eurípedes. Ela está. Vou chama-la. Entre, por favor. – sorriu dona Ceci enquanto o rapaz adentrava a sala dizendo não ser precioso trata-lo de doutor.
Eurípedes:
--- Faço questão da senhora não me chamar de doutor. É muita pompa! – sorriu o médico.
Dona Ceci sorriu e se dirigiu para o interior da casa. Enquanto isso, Eurípedes se encaminhou para uma poltrona bem acolchoada e retirou do centro onde se colocava revistas, um cinzeiro e um pé de adornadas rosa. Ele tomou de uma revista e passou a ler. No canto, forrado, estava o violão no ‘descanso’, mudo, simplesmente mudo. Na sala havia ainda uma estante, outras cadeiras estofadas, um boneco tamanho médio de jade entre outras coisas mais. O homem cruzou as pernas e passou a ler a revista de notas para violão. Quando Eurípedes estava entretido com a leitura apareceu à porta do corredor a figura de Nara. A sorrir a moça indagou ao rapaz;
Nara:
--- Que bons olhos te vejam! Que está fazendo? Estudando violão? – sorriu a moça e se aproximou o acolchoado.
Na ocasião, Eurípedes se levantou de onde estava fazendo um largo sorriso no rosto e foi cumprimentar a moça Nara. Ele a tinha visto no sábado de carnaval quando Nara saída da Catedral. Depois daquele encontro surpresa, o rapaz ficou a imaginar se Nara se casara, pois levava um rebento em seu colo. Passado o período de carnaval, ele resolveu até a sua casa, pela manhã de quinta-feira e tirar o caso a limpo. E tinha uma boa desculpa para tal. Em meio da conversa foi ele logo direto ao assunto:
Eurípedes:
--- Você casou senhora? – sorriu o rapaz esperando um “sim”.
Nara:
--- Coitada de mim. (sorriu). Eu reconheci você na saída da Catedral. Na verdade, eu tenho um filho, querido como tal. Mesmo assim, não foi preciso casar. – sorriu a moça a todo pano.
Eurípedes:
--- A bom. Logo vi. Eu não sabia de você gravida. E o pai? – indagou surpreso o homem.
A mossa gargalhou como nunca para o rapaz surpreso e de olhos abertos. E bem abertos.
Nara;
--- O pai? (gargalhou). Deve andar por ai! Quem sabe? - gargalhou outra vez a moça.
Eurípedes:
--- Ah bom. Deve estar no trabalho. – sorriu ele sem querer e a pensar em um “magricela” e mais para completar todo  sujo graxa com efeito de consertar um carro. – “Só pode” – ainda Eurípedes pensou.
Nara gargalhou como pode a sentar no sofá para não ter de cair no chão. E não podia nem olhar a cara do rapaz, pois a gargalhada voltava. Era uma risadagem ter a moça ao se deitar no sofá se curvando toda com certeza forção o seu estômago para ver se então parava dessa besteira de algumas vezes. Um tanto desconfiado, o rapaz perguntou:
Eurípedes;
--- Ele trabalha? – indagou surpreso com os risos da moça.
Então, não teve mais conversa. Nara se levantou da poltrona e foi cair em no meio da sala somente a gargalhar. E o tempo passou até Nara poder falar de vez a verdade da história. Ele confirmou não ter casado e então nem nunca. O menino lhe foi deixado por uma “amiga”. A doadora saiu para comprar fraudas e não mais voltou. Essa era a história resumida. Com isso, o rapaz já suado, teve tempo de tranquilidade. E assim repousou se espreguiçando por inteiro na poltrona onde estava a repousar.
Nara:
--- Foi esse o milagre. Então meu pai registrou o filho como meu, legítimo, por sinal, sem pai e, no sábado, nós fomos batizá-lo. Pronto. Está desfeito o mistério. – sorriu Nara a se por de pé.
Eurípedes:
--- Caramba! Que história! Nem Shakespeare! Matou-me! – falou sem graça o rapaz.
Nara;
--- E você? Que estás fazendo além de ser uma “colombina”? – gargalhou a moça.
Eurípedes:
--- Colombina! (refletiu o rapaz com a cabeça abaixada) – Bem, além de ser “colombina”, eu estou aqui, a essa hora da manhã, para te fazer um convite. Mas já sei não ser possível, pois estás acompanhada com um neném. Mas não custa nada falar. A garotada está querendo fazer uma apresentação, talvez no teatro. Por enquanto se pensa no assunto. Temos a garagem de Fred. Não é o melhor canto. Contudo, entre os piores esse é  melhor. E estamos nesse drama. De inicio, estamos com seis participantes, incluindo, você. É um festival. Vai acontecer do Recife ainda esse ano. João Pessoa, Fortaleza. E Natal não podia ficar de fora. O Festival da Juventude! É esse o nome da “majestosa” festa! – sorriu o homem ao relatar tudo. 
Nara ficou serena a meditar, pois o Festival da Juventude era algo novo e de muita garra. Ela estava com um bebê de pouco tempo. Era difícil dizer “não”. Mas para dizer “sim”, era outro problema. E Nara ficou há hesitar um tempo a meditar no filho e na turma.  E assim foi o tempo a passar e então Eurípedes indagou por qual causa Nara não toca piano. Nara se limitou a sorrir. Por fim, ao longo do tempo, a moça falou:
Nara:
--- Piano! (Nara ficou silente a meditar. E então falou). Eu estava com meus cinco anos de idade. Na casa do meu avô tinha um piano. E eu, muito arteira (sorriu) certa vez o meu avô me flagrou no piano. Desse momento, então, ele, no lugar de me repreender, começou a me dar lições de músicas e me ensinar a tocar piano. Demorou muito para que eu aprendesse todo o trabalho. Passei dos cinco  para os seis, sete, oito e mais anos. E aprendendo com ele a tocar. Meu avô dava aulas de músicas. Mesmo assim, eu não fui para a escola. Aprendi a tocar Chopin o seu preferido, e Mozart, Vivaldi, Beethoven, Bach, o meu favorito (sorriu) e outros mais. Villa Lobos, o brasileiro, todos o conhecem por um classicista. Ele não é um classicista. Nem ele e nem Bach e tantos mais. Hoje, se compõe uma melodia e então essa melodia, com o tempo, vira um clássico. Essa é a questão. Bach nunca foi um autor clássico. Ele tocava hinos de Igreja. Schubert também. Mas, ambos nunca foram um clássico. Apenas o mundo os chama assim. A música é universal. Tudo o que faz som, faz música. Até um pedaço de pau. O chiado de um rato. O grunhido de um porco. Todo isso é música. Uma queixada de burro também faz música. – fez vez a moça como querendo dizer tudo o que sabia sobre melodia.
Em instante, Eurípedes ficou a meditar e a fitar aquela sombra esguia de mulher, meiga por sinal, simples no seu trajar, afeta no seu falar, certa no seu pensar. Aquela mulher era apenas Nara por quem ele já de inicio devotara tamanho afeto. Em certo instante, uma lágrima desceu em sua face em a confusão de sentimentos recolhidos. Ela, talvez, fosse uma vida, capaz de renunciar do algo de maior importância e a devotar todo o seu carinho para algo novo. Ele já sabia que reconhecera em Nara uma mulher fatal mesmo com a sua silhueta franzina. Eurípedes nem falava para não por fim ao silencio profundo e cheio de ternura. Não importava ter tal máscara, pois a linda e perfumosa mulher estava bem a sua frente. E passado alguns segundos Eurípedes enfim falou:
Eurípedes:
--- Bem. Eu posso contar com você? – indagou sem medo o rapaz.
Nara:
--- Sim. Eu estarei presente nos ensaios e discussões. – resolveu em dizer a moça.