- Lucy Hale -
- 02 -
ALVOROÇO
O alvoroço foi tremendo naquela
tarde de um dia sereno. O sacerdote veio na companhia de seu Jorge, agoniado
como ninguém sabia dizer a procura de um terço no bolso de sua calça por baixo
da batina sem notar o terço está dependurado em suas próprias mãos. E tudo o
que dizia o Padre Mario era para o homem andar depressa com o coroinha dos
braços.
Padre:
--- Depressa! Depressa! Ele não
pode morrer aqui! – fala de forma esbaforida o sacerdote.
Logo em seguida estavam as
beatas. E por último, estavam às mulheres devotas e dona Cecilia. Quase ninguém
queria ou sabia ajudar. Contudo, elas queriam ver o desfecho fatal: o garoto
morto nos braços de seu Jorge. Porém, ao
passar pela porta, o padre Mario a trancou para não permitir entrar mais
ninguém. As beatas, bem sabidas, saíram para a entrada da outra porta e as moça
do Coro chegavam atrasadas. De momento, o Padre Mario abriu a porta e chamou
dona Cecilia. Em seguida fechou tudo. Angustiado com a derrota, o padre
conseguiu perguntar a mulher de como foi à tragédia do coroinha. Dona Ceci
apenas relatou o observado por ela.
Ceci:
--- Foi um baque de uma só vez.
Ele estava com as velas e subiu pela escada. ...Nisso, a escada caiu e o
coroinha veio ao chão. – relatou angustiada a mulher.
Padre:
--- Meu Deus! Eu preveni! Não
leve a escada!. – relatou o sacerdote a se benzer.
O organista colocou o garoto em
uma cadeira e passou a massagear os pulsos de pediu alguma coisa para por em
suas mãos.
Jorge:
--- Álcool! Álcool! – pediu
apressado o homem.
Uma beata havia chegado e
pergunto ao organista o que pedira:
Jorge:
--- Álcool! Álcool! Depressa! –
disse o homem todo suado de pavor.
Beata:
--- Álcool! Álcool! E tem álcool
aqui? – indagava preocupada a beata.
Jorge:
--- Depressa! O garoto está sem
sentidos! – falou alto o organista.
O Padre Mario se exasperou com o
descuido da beata e foi no armário onde se guardava vinho e entre as garras
encontrou a de álcool. O sacerdote pegou a garrafa e trouxe depressa para
entregar a seu Jorge enquanto rezava o terço já achado em suas mãos. Na rua, o
caso chamou a atenção do repórter do jornal e esse veio incontinente ver o
sucedido. E com o repórter um grupo de pessoas do jornal de das imediações da
pracinha. Um homem mais decidido chegou à porta da sacristia, bateu e entrou
depressa. Já no local solicitou ao sacerdote levar o coroinha ao hospital. Um
tumulto se gerou de todo o lado. O Bonde que vinha teve de parar, pois em
frente da linha tinham várias pessoas. A certa altura, o homem do carro
agradeceu ao motorneiro e teve de organizar uma saída para poder por o seu
carro no local. O motorneiro indagou às pessoas do fato havido. Alguém dizia
ter sido um bêbado. Outro nem sabiam dizer ao certo.
O Bonde ficou parado antes da
esquina e algumas pessoas desceram ou para ver o “suicídio” ou para pegar o
caminho de casa na parte pobre da cidade. Quem foi ver o suicídio se
decepcionou, pois o homem que entrou na sacristia voltou de imediato com o
sacerdote e o organista. E foi assim que findou a “tragédia”. Seu Jorge com o
rapaz nos braços, esse com a cabeça fendida, ficou no banco de trás da “fobica”
e o motorista fez finca-pé para seguir até o hospital em pouco mais de dez
minutos. A ‘fobica’ era um carro usado e
dava ‘pinote’ de todo tipo quando largou para o hospital. Como se dizia por
bem: “era do tempo do ‘ronca’”. A mulheres ficaram a lastimar pelo coroinha por
sentir ter o garoto uma ‘bela’ voz no
Coro da Matriz.
Carola:
--- Coitado. Um menino tão bem. E
acontecer uma coisa dessas. É de dar pena! – disse a carola a imaginar o estado
do coroinha.
Outra:
--- Era ele o que cantava entre
as moças? – perguntou assustada uma das tais.
Terceira:
--- Bem feito! Ele não tinha nada
que se portar com as velas! Eu faço bem feito e sem perigo! – respondeu a
terceira carola um tanto abusada.
Carola:
--- Cala tua boca! Não está vendo
as pessoas de fora?! – argumentou cheia de brabeza a primeira carola.
E então a carola saiu para fechar
a porta. As outras fecharam as janelas. E quem estava por dentro foi saindo
para os seus lugares nos seus locais onde rezariam um terço em memoria do
coroinha. As moças do Coro saíram para os seus lugares na parte de cima da
Igreja. O relógio da matriz bateu às quatro horas da tarde. O homem do picolé rumou
para longe a oferecer seus gelados. Os trabalhadores do jornal voltaram a sua
rotina da tarde. E com mais instantes saiu da Matriz a senhora Ceci em busca de
um armarinho onde teria algo a precisar: carreteis de linha marca Marrom e de
cores várias. Com isso, terminou a sua tarde. Um pouco mais Ceci voltara a
casa. Na volta encontrou umas amigas das antigas quando ainda Ceci conversou um
tempo, não demorando tanto tempo. Conversas triviais e mais o assunto da queda
do garoto ocorrido na Catedral, assunto da tarde para as fuxiqueiras mulheres.
Na casa de Ceci, bem antes do
acidente, estava a sua filha Nara, moça de 18 anos de idade, tocando violão,
presente do seu pai. Nara estudava sentada na poltrona e lendo as letras em uma
revista. Com isso, a moça se esquecera do tempo a dedilhar o violão com vagar
pondo e repondo os acordes perdidos. Com isso, a vida passava e nada mais lhe
importava. No quintal, as aves de criação ainda procuravam beliscar alguma
coisa por ventura encontrada. O galo, o mestre de cerimônia, cacarejada há
quase todo instante. Mesmo assim, tal fato corriqueiro não incomodava Nara,
pois a moça nem mesmo se levantava para ver se tudo estava bem. O tempo passava
até quando alguém bateu a porta. Nara nem olhou, pois pensava em sua mãe a voltar
mais cedo. Engano! Era uma moça com um pacote nos braços. E a moça de nome
Laura, entrou depressa e bem depressa foi falando:
Laura:
--- Boa tarde Nara! Ô calor da
peste! Com vai você? Estou com esse ‘pacote’! E não é meu! ... Mandaram para
mim! Mas olha! Que boneco! – falou a moça de uma forma comprida, tudo de uma só
vez.
Nara:
--- Boa tarde Laura! Deixa-me
ver. ..... Que lindo! Parece um boneco sem dúvidas! – sorriu Nara a olhar o
menino no colo de Laura.
Laura se sentou na poltrona e
Nara deixou seu violão no ‘descanso’ como costumava fazer e se curvou para bem
ver o menino de poucos dias de idade. A sorrir, Nara pediu um pouco o bebê para
por em seu colo e assim o fez. O menino se mexia, mas conserva os olhos
fechados, torcendo o resto para um lado e outro. Tinha urina do bebê no lençol.
Logo Nara sentiu essa urina e alertou a sua amiga de que o bebê estava
‘molhado’. E sorriu.
Nara:
--- O neném está urinado. Ele fez
xixi agora no meu colo. – sorriu demais com o apronto do neném.
Laura:
--- Que menino?! Fazer xixi
agora? – disse Laura espantada e sorrindo.
Nara:
--- Não é nada! Deixa! Eu vou
mesmo trocar! – sorriu Nara ao ver o bebê querendo chorar.
E as duas amigas foram para
dentro da casa e por lá fizeram o tratado no bebê com todo o cuidado de alguém
que não tinha prática em fazer a troca de panos de um recém-nascido. O tarde
estava calmo e pela sala de jantar nada havia a temer.
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