sábado, 9 de fevereiro de 2013

"NARA" - 02 -

- Lucy Hale -
- 02 -
ALVOROÇO
O alvoroço foi tremendo naquela tarde de um dia sereno. O sacerdote veio na companhia de seu Jorge, agoniado como ninguém sabia dizer a procura de um terço no bolso de sua calça por baixo da batina sem notar o terço está dependurado em suas próprias mãos. E tudo o que dizia o Padre Mario era para o homem andar depressa com o coroinha dos braços.
Padre:
--- Depressa! Depressa! Ele não pode morrer aqui! – fala de forma esbaforida o sacerdote.
Logo em seguida estavam as beatas. E por último, estavam às mulheres devotas e dona Cecilia. Quase ninguém queria ou sabia ajudar. Contudo, elas queriam ver o desfecho fatal: o garoto morto nos braços de  seu Jorge. Porém, ao passar pela porta, o padre Mario a trancou para não permitir entrar mais ninguém. As beatas, bem sabidas, saíram para a entrada da outra porta e as moça do Coro chegavam atrasadas. De momento, o Padre Mario abriu a porta e chamou dona Cecilia. Em seguida fechou tudo. Angustiado com a derrota, o padre conseguiu perguntar a mulher de como foi à tragédia do coroinha. Dona Ceci apenas relatou o observado por ela.
Ceci:
--- Foi um baque de uma só vez. Ele estava com as velas e subiu pela escada. ...Nisso, a escada caiu e o coroinha veio ao chão. – relatou angustiada a mulher.
Padre:
--- Meu Deus! Eu preveni! Não leve a escada!. – relatou o sacerdote a se benzer.
O organista colocou o garoto em uma cadeira e passou a massagear os pulsos de pediu alguma coisa para por em suas mãos.
Jorge:
--- Álcool! Álcool! – pediu apressado o homem.
Uma beata havia chegado e pergunto ao organista o que pedira:
Jorge:
--- Álcool! Álcool! Depressa! – disse o homem todo suado de pavor.
Beata:
--- Álcool! Álcool! E tem álcool aqui? – indagava preocupada a beata.
Jorge:
--- Depressa! O garoto está sem sentidos! – falou alto o organista.
O Padre Mario se exasperou com o descuido da beata e foi no armário onde se guardava vinho e entre as garras encontrou a de álcool. O sacerdote pegou a garrafa e trouxe depressa para entregar a seu Jorge enquanto rezava o terço já achado em suas mãos. Na rua, o caso chamou a atenção do repórter do jornal e esse veio incontinente ver o sucedido. E com o repórter um grupo de pessoas do jornal de das imediações da pracinha. Um homem mais decidido chegou à porta da sacristia, bateu e entrou depressa. Já no local solicitou ao sacerdote levar o coroinha ao hospital. Um tumulto se gerou de todo o lado. O Bonde que vinha teve de parar, pois em frente da linha tinham várias pessoas. A certa altura, o homem do carro agradeceu ao motorneiro e teve de organizar uma saída para poder por o seu carro no local. O motorneiro indagou às pessoas do fato havido. Alguém dizia ter sido um bêbado. Outro nem sabiam dizer ao certo.
O Bonde ficou parado antes da esquina e algumas pessoas desceram ou para ver o “suicídio” ou para pegar o caminho de casa na parte pobre da cidade. Quem foi ver o suicídio se decepcionou, pois o homem que entrou na sacristia voltou de imediato com o sacerdote e o organista. E foi assim que findou a “tragédia”. Seu Jorge com o rapaz nos braços, esse com a cabeça fendida, ficou no banco de trás da “fobica” e o motorista fez finca-pé para seguir até o hospital em pouco mais de dez minutos. A ‘fobica’  era um carro usado e dava ‘pinote’ de todo tipo quando largou para o hospital. Como se dizia por bem: “era do tempo do ‘ronca’”. A mulheres ficaram a lastimar pelo coroinha por sentir ter o garoto uma ‘bela’  voz no Coro da Matriz.
Carola:
--- Coitado. Um menino tão bem. E acontecer uma coisa dessas. É de dar pena! – disse a carola a imaginar o estado do coroinha.
Outra:
--- Era ele o que cantava entre as moças? – perguntou assustada uma das tais.
Terceira:
--- Bem feito! Ele não tinha nada que se portar com as velas! Eu faço bem feito e sem perigo! – respondeu a terceira carola um tanto abusada.
Carola:
--- Cala tua boca! Não está vendo as pessoas de fora?! – argumentou cheia de brabeza a primeira carola.
E então a carola saiu para fechar a porta. As outras fecharam as janelas. E quem estava por dentro foi saindo para os seus lugares nos seus locais onde rezariam um terço em memoria do coroinha. As moças do Coro saíram para os seus lugares na parte de cima da Igreja. O relógio da matriz bateu às quatro horas da tarde. O homem do picolé rumou para longe a oferecer seus gelados. Os trabalhadores do jornal voltaram a sua rotina da tarde. E com mais instantes saiu da Matriz a senhora Ceci em busca de um armarinho onde teria algo a precisar: carreteis de linha marca Marrom e de cores várias. Com isso, terminou a sua tarde. Um pouco mais Ceci voltara a casa. Na volta encontrou umas amigas das antigas quando ainda Ceci conversou um tempo, não demorando tanto tempo. Conversas triviais e mais o assunto da queda do garoto ocorrido na Catedral, assunto da tarde para as fuxiqueiras mulheres.
Na casa de Ceci, bem antes do acidente, estava a sua filha Nara, moça de 18 anos de idade, tocando violão, presente do seu pai. Nara estudava sentada na poltrona e lendo as letras em uma revista. Com isso, a moça se esquecera do tempo a dedilhar o violão com vagar pondo e repondo os acordes perdidos. Com isso, a vida passava e nada mais lhe importava. No quintal, as aves de criação ainda procuravam beliscar alguma coisa por ventura encontrada. O galo, o mestre de cerimônia, cacarejada há quase todo instante. Mesmo assim, tal fato corriqueiro não incomodava Nara, pois a moça nem mesmo se levantava para ver se tudo estava bem. O tempo passava até quando alguém bateu a porta. Nara nem olhou, pois pensava em sua mãe a voltar mais cedo. Engano! Era uma moça com um pacote nos braços. E a moça de nome Laura, entrou depressa e bem depressa foi falando:
Laura:
--- Boa tarde Nara! Ô calor da peste! Com vai você? Estou com esse ‘pacote’! E não é meu! ... Mandaram para mim! Mas olha! Que boneco! – falou a moça de uma forma comprida, tudo de uma só vez.
Nara:
--- Boa tarde Laura! Deixa-me ver. ..... Que lindo! Parece um boneco sem dúvidas! – sorriu Nara a olhar o menino no colo de Laura.
Laura se sentou na poltrona e Nara deixou seu violão no ‘descanso’ como costumava fazer e se curvou para bem ver o menino de poucos dias de idade. A sorrir, Nara pediu um pouco o bebê para por em seu colo e assim o fez. O menino se mexia, mas conserva os olhos fechados, torcendo o resto para um lado e outro. Tinha urina do bebê no lençol. Logo Nara sentiu essa urina e alertou a sua amiga de que o bebê estava ‘molhado’. E sorriu.
Nara:
--- O neném está urinado. Ele fez xixi agora no meu colo. – sorriu demais com o apronto do neném.
Laura:
--- Que menino?! Fazer xixi agora? – disse Laura espantada e sorrindo.
Nara:
--- Não é nada! Deixa! Eu vou mesmo trocar! – sorriu Nara ao ver o bebê querendo chorar.
E as duas amigas foram para dentro da casa e por lá fizeram o tratado no bebê com todo o cuidado de alguém que não tinha prática em fazer a troca de panos de um recém-nascido. O tarde estava calmo e pela sala de jantar nada havia a temer.

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