quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CRAPÚSCULO - 30 -

- Pola Negri -
- 30 -
O CONVITE
Ainda na terça feira, no restaurante a beira mar, Orlando Martins estava a conversar com Augusta Vieira, sua secretaria particular sobre casos das eleições para a Prefeitura, sendo ele um candidato de preferencia do coronel Juca, o mais forte dos homens da Política do Município de Panelas, quando entra no local aquela figura magra, baixa, quase que corcunda apenas pelo oficio, face morena e um sorriso no rosto. Orlando tão de imediato o reconheceu. Oscar Campelo era o seu nome. O homem tinha visto Orlando e se dirigia para a mesa do casal. Oscar se mostrava alegre por ter encontrado um velho amigo naquele restaurante. E de imediato foi até ao casal e cumprimentou Orlando. Esse o recebeu com afagos e maestria como sendo o homem conhecido de velhas datas. E apresentou a Oscar a moça que estava sentada naquele posto. Oscar também a cumprimentou cordialmente. Oscar era jovem quando Orlando, ainda menino, o conheceu. Ele era um tipógrafo conhecer de todo o mecanismo da arte tipográfica. Quando menino, Orlando admirava de muito aquele homem que passava a frente da sua casa levando consigo os filhos e colegas dos infantes para operar com ele em uma tipografia onde o homem trabalhava já naquele tempo como chapista, posição invejada pelos demais operários de gráfica. Ser chapista era o ponto alto de um artífice da arte gráfica. Era o homem que conhecia tudo de tipografia. O chapista dava as ordens e todos obedeciam. O tipográfico sabia muito bem de uma prensa ou até de uma linotipo.
O homem se acercou de Orlando e foi logo dizendo:
--- Há quanto tempo! Por onde andavas? Você esta empregado? – perguntou admirado Oscar Campelo.
--- Vou bem, obrigado. E estou operando os meus parcos conhecer no Ministério da Agricultura. – falou a sorrir o amigo Orlando.
--- Ora, pois! Casado? – indagou o velho Campelo a olhar com pressa para a moça Augusta.
--- Casado sim. A moça que a apresentei é a minha secretária tão somente.  – relatou Orlando Martins.
--- Ah bom. Secretária de um homem nobre! – destacou Campelo à moça presente.
Augusta de certo modo sorriu e dedicou a sua plena amizade ao velho, pois o homem estava com os seus passados setenta anos.
--- Augusta é o meu nome. Satisfação em poder conhecê-lo em hora tão oportuna. – sorriu Augusta um tanto envergonhada com aquela inesperada visita.
--- Ah bom. E como tem passado a família? – indagou Campelo se dirigindo a Orlando.
--- Todos bem. Muito obrigado! – sorriu Orlando a olhar para Augusta.
A moça não entendeu muito bem daquele modo de olhar para si do doutor Orlando Martins. Porém nada lhe perguntou naquele instante.
Com certeza, o seu Campelo atinava outra coisa. De modo que a seguir retirou do bolso do paletó uns convites para uma peça teatral naquela noite. E disse ainda que o espetáculo era o de amostra de tantos artistas locais. Entre tantos estava uma neta de Campelo.
--- Espero que assista ao espetáculo. A minha neta está no meio de toda essa gente. Tem aqui o seu nome. – e apontou o nome da neta.
--- Cristal? Belo nome. – respondeu Orlando com seu hábito de sorrir.
--- Cristal Prado. O programa suprimiu “Campelo” por ser extenso. –relatou o velho um pouco descontente.
--- É. Mesmo assim. Um nome lindo. Cristal Prado. Já pensou? Ela vai longe! – disse Orlando e passando um convite da Augusta.
--- Ela dança muito bem. Só você vendo. Ela está no meio de toda aquela gente. Mas, é bastante observar. Cristal é uma garota. Mocinha! Não tem nem namorado. E diz que não pensa nisso. Ela quer dançar. – e os olhos de Campelo se cobriram de lágrimas.
--- Isso é bom. Namorar pra que? A gente deve dar a oportunidade para quem tem gosto no que está a fazer. – respondeu com imenso tratar o doutor Orlando.
--- É o que eu sempre digo. Estude porque o estudo não se perde. – relatou Campelo enxugando as lágrimas do seu rosto.
--- Algo eu lhe devo? – quis saber Orlando apalpando a bolsa perdida no bolso da calça.
--- Não. Não é nada não. Foi um prazer te encontrar. Eu faço isso de boa vontade. – foi o que disse Campelo
--- Mas marca aqui a importância! – relatou Orlando apontando o bilhete como a despertar o homem.
--- É. Mas não é nada não. Foi um imenso prazer ter te encontrado. Há quanto tempo. Você era um menino quando eu te conheci. – declarou Campelo a enxugar as narinas.
--- Faz muito tempo. Tempo demais. Mas você ainda trabalha? – perguntou Orlando procurando alegrar a conversa.
--- Não. Eu me aposentei. Faz tempo. Agora, um trabalho ou outro em sempre faço. Na Gráfica. É. Eu peço permissão e faço os bilhetes na gráfica. Hoje está tudo moderno. Não tem mais linotipo. Sei não. - e Campelo voltou a chorar se lembrando dos velhos tempos de gráfico quando ele era chefe.
--- Mas as coisas mudam. Hoje é tudo computadorizado. No nosso tempo, era a marreta. O trabalhador não tinha Carteira de Trabalho. E se tivesse era mal visto pelo patrão. – comentou Orlando a observar a bela moça Augusta.
--- É. Esta é uma verdade. Eu fui do tempo que a gente trabalhava dez, doze horas por dia. E não tinha descanso. Era de domingo a domingo. Quem adoecesse estava posto fora. No meu tempo eu era aprendiz. E passei um bom tempo como aprendiz. Eu era menor de idade. E continuei ganhando um salário de menor até eu ter vinte e dois anos. Foi! Era um tempo difícil. – comentou Campelo a enxugar as lágrimas.
--- Você nasceu aqui? – perguntou Orlando para saber na verdade.
--- Não. Nasci nas brenhas do Para. Muito longe da capital. Eu aprendi o oficio cavando o chão. Era tudo que o homem ajeitava para mim. Eu era menino de calças curtas. Meu pai era encadernador. Oficio importante naquela época. Depois veio a febre. Meu pai morreu de febre palustre. Maleita. E eu continuei trabalhando como empregado sem carteira. Foi um tempo difícil. Minha mãe tinha nove filhos para criar. Dos nove morreram dois. Ficaram sete. Uns descaminharam. Outros foram para o sul. As meninas casaram quando chegou o tempo. Vida difícil aquela. – relembrou o velho Campelo.
Quase uma hora após o velho Campelo, com seu andar ligeiro e sempre olhando para baixo, saiu contando as horas com um punhado de ingressos na mão. Ele oferecia a um e a outro e sempre encontrava a negativa das pessoas em adquirir uma entrada do balé para aquela noite sem sossego. Um rapaz bem moço ainda passou pela calçada da beira-mar a oferecer caranguejo aos transeuntes.
--- Caranguejo, senhora? Leva dois e paga um. Dois por um! Dois por um! – estava a dizer o rapaz de calças suspensas até a metade da canela. O sujo era o que definia um apanhador de caranguejo.
As pessoas olhavam para os bichos amarados e alguém levava uma corda. O mangue era o habite natural para caranguejo uçá. A sua carapaça dura representa a resistência. Entre as pessoas estava seu Campelo a oferecer bilhete para o teatro na noite daquele dia. Nada o velho homem vendeu. E Orlando supôs ser aquela ultima viagem de um avô pobre, porém nobre. Ao sentir um aperto no peito, Orlando enxugou a lágrima a lhe descer pela face. Augusta o contemplou tão triste e disse apenas esse gesto:
--- É a vida, meu homem. É a vida! – declarou a moça a segurar as mãos de Orlando.
--- Eu sei. Eu sei. Mas um bilhete quase não vale nada. O velho está apenas querendo ajudar a neta que ele tem. Não pode ser! – disse o homem a chorar incontido.
A tarde já estava para além de duas horas. Orlando e Augusta a caminhar tranquilos, mesmo sempre a relembrar o trágico negocio do velho a oferecer as senhas para o espetáculo daquela noite. E se puseram os dois a caminhar soturnos para seguir até um ponto distante onde não havia nem hotéis, hospedarias ou mesmo cabanas de palha. A não ser uma. Essa estava abandonada por que teria acesso. O Sol ainda era quente e os passarinhos da beira mar estavam a catar algo que pudessem deglutir. No céu azul claro e límpido havia apenas o cantar dos bem-te-vis enquanto voavam para o cimo do morro. Uma jangada ao longe navegava ao seu ritmo das ondas. Um cão sem raça de cor amarelada passava contente com a cauda a balançar para o casal. Ao longe, distante ainda, um automóvel a trafegar com seu motorista em busca do seu aconchego. E não havia nem sinal naquela praia tristonha e silenciosa, salvo pelas quebradas das ondas do oceano. Bem próximo casal estava então à cabana desprovida de qualquer senhorio. Eles, então, por certo, a qualquer modo, quedaram-se loucamente ao amor.
Uma canção dolente trazida pelo vento morno enchia de enlevo aqueles dois corações embriagados de emoção e ternura como se estivessem em pleno acaso de sempre felizes e decantados para sempre ter o seu apaixonado prazer. A melodia distante e languida parecendo um fado falava, por certo, de poesia, saudades, corações embriagados de ternura e enlevo. O dia caminhava lento ao acaso sentindo a vida como se tem amor em pleno acaso de verão. Palavras não havia para dizer. Os dois plenos amantes apenas ansiavam a verdadeira chama de afeição e agrado. Delírios insanos rogavam por um instante de não poder mais esquecer, talvez morrer. O tempo girava como se a ave no azul do céu ensejava aos estranhos e felizes namorados o contemplar das vinhas do adormecer.
Um fugaz pardal acoitou a tarde e pousou bem próximo aos amantes. A moça tremeu de susto pela inesperada visita da ave solta.  E quase que gritando, Augusta se recolhe de toda.
--- Que susto! – disse Augusta levantando a mão ao seu peito a despertar.
--- Apenas um pardal. – disse o homem a sorrir.

CREPÚSCULO - 29 -

- Natalie Portman -
- 29 -
A TRAVESSIA
Gafanhoto já estava na parte nobre do portal de níquel, ferro e bronze. Um portal de algo fenomenal e incapaz de se romper se não tiver pleno conhecimento da sua história. E Aquiles muito bem sabia dos formidáveis segredos do portal da gruta. Ele olhava com alegre satisfação do tempo em que fora com o seu pai para conhecer os Mistérios do portal de níquel e bronze trazidos de monolíticos asteroides longínquos para se forma em um portal onde ninguém podia penetrar se não conhecesse o Mistério. Para isso, apenas os homens das estrelas eram conhecedores. O pai de Aquiles, certa vez, relatou ao filho ter sido o portal o maior enigma dos deuses das estrelas. O homem, Juvenal do Jumento, destacou ter sido a Terra nascida há bilhões de anos.
--- Bilhões de anos a Terra se formou. No começo eram partículas pequeninas de ferro e níquel. Essas matérias se juntaram formando ao longo dos anos algo que se formou a Terra. Foram mais de quatro e meio bilhões de anos para se formar o Planeta. Partículas pequeninas dessas matérias. Certa vez houve um choque entre esse Mundo e outro planeta. Foi uma tremenda explosão. Coisa terrível. E então se formou a Lua. Essa lua que a gente vê toda noite. E por detrás dessa Lua existe outra Lua, menor, não visível por nós. – observou com severidade o homem Juvenal do Jumento.
--- Mas meu pai, como o senhor sabe de tantas coisas? – perguntou o garoto ao homem pai.
--- Parte me foi dita pelos homens das estrelas. – declarou o velho Juvenal.
--- Quer dizer que o senhor conhece os homens das estrelas? – indagou preocupado o menino.
--- Eles estão sempre entre nós. – relatou o velho Juvenal.
--- Estranho! E eu os vejo também? – quis saber da historia o garoto Aquiles.
--- É possível! É possível! – pigarreou o homem em frente ao portal da tumba dos homens mortos.
E então Aquiles acordou de suas lembranças trazidas pelos anos e chamou para olhar a porta o taifeiro de nome posto como Anunnaki. Os oficiais não tiveram a devida permissão de ver como Aquiles Gafanhoto conteria a espécie de abrir o portal dos enigmas. Isso foi dito antes que o pelotão saísse do Quartel.
--- Ninguém pode assistir ao que Anunnaki e eu vamos executar. – relatou Gafanhoto ainda quando estava nas dependências do Quartel.
E os oficiais obedeceram à ordem emanada por Gafanhoto.
Anunnaki e Gafanhoto prosseguiram com a sua tarefa. O taifeiro de nada entendia. E Gafanhoto somente olhava para o taifeiro para ver se o homem estava e entender o que ele executava. E louvou um tempo, quando o homem do mato passou a contar as pedras da enorme muralha até chegar a uma que ele suavemente apertou e de vez, a porta provocou um estrondo e da parede saiu um degrau. Então, o homem do mato subiu o degrau até alcançar uma parte do portal onde estava gravado um triangulo e, dentro dele uma espécie de sol com os seus raios descendo para o chão. O sol era bem mais parecido com um olho perspicaz. Anunnaki ficou atento ao que estava a suceder. E de repente outro estrondo rouco se fez. E, com muito vagar o portal foi abrindo de vez.
--- Pronto! Os cientistas não tentaram conseguir alterar o esquema do portal. – falou Aquiles ao descer das alturas.
Anunnaki ficou estupefato com aquele Mistério da porta. E nem sabia o que dizer ao ver dentro do salão algo ser parecido com água. Ele ficou extasiado com o que estava a observar.  Aquele panorama era por demais esplendorosos. E Anunnaki não sabia o que falar conservado seus olhos bem abertos à procura de uma ligeira frase a pensar. Porém tal frase não surgia. O homem procurou entrar no recinto e ouviu a advertência de Gafanhoto.
--- Espere. Nem um passo a mais. Veja se não tem alguém a espiar! – disse o homem a Anunnaki.
--- Hum? Alguém?  Ah bom! Vou olhar com certeza. – declarou o homem ainda extasiado com a porção de água ali tranquila.
--- Nem precisa olhar! Tem alguém? Você com certeza nota a presença? – indagou inquieto o mateiro
Anunnaki se pôs a observar e de repente nada viu que denotasse a presença humana. E falou em troca.
--- Ninguém! – fez ver Anunnaki ainda temeroso como querendo saber o porquê de tanta indagação.
--- Bom. Vamos entrar! Eu vou fechar a porta! – relatou por sua vez o homem Gafanhoto.
--- Fechar? – relatou o homem Anunnaki a estremecer de temor.
--- É. Entre de uma vez. Isso é Mistério! – falou o homem do mato de uma forma baixa.
Anunnaki estremeceu de pavor. E longo de alguns segundos voltou a indagar.
--- Você vai prender a nós? – indagou assustado Anunnaki.
--- Sim. Esse é o primeiro Mistério! – falou Gafanhoto com voz grossa e advertida.
--- Mistério? Que diabos de Mistérios? – indagou perplexo o homem.
--- Mistérios! Mistérios são mistérios! Vamos! Entre. A porta vai cerrar de vez! – relatou Gafanhoto ao outro homem.
Anunnaki deu um passo adiante e logo atrás a porta se fechou por completo. Anunnaki estremeceu de pavor. Ele naquele momento estava trancado. De repente um clarão se rompeu. E Anunnaki não saberia relatar de onde veio tanta luminosidade. Para o Templo – se assim fosse: o Templo dos Mortos – não havia nenhuma força energética ter ele tomado conhecimento. E alí, do toda parte vinha um clarão até certo ponto sedutor. Ele por fim indagou perturbado:
--- Luzes? De onde são tais luzes? – quis saber Anunnaki daquela profusão iluminada.
--- Luzes, sim. Das pedras! – arrematou sem muita preocupação o homem do mato.
--- Nossa! E  pedra tem luz? – falou inquieto o estonteante Anunnaki.
Aquiles Gafanhoto sorriu para Anunnaki e não lhe respondeu coisa alguma. Apenas chamou o homem para seguir um determinado caminho orientando ter Anunnaki o devido cuidado porque no caminhar ele encontraria pedras vestais e pedras da extinção.
--- Vestais? O que são vestais? Vestes? – perguntou alarmado o homem.
--- Não! Não! Não! Vestais são mulheres castas, virgens. Elas são vestais. As pedras também são virgens, pois nunca foram pisadas por alguém.
--- Vestais? Nunca ouvi falar. – disse o homem alarmado com a história.
--- Agora você tenha a cautela de não pisar nas pedras Vestais. Pois você vai enfrentar outros Mistérios ao passar pelos os Mistérios da Água. – relatou com franqueza o homem do mato.
--- Essa é boa! E como vou saber se a pedra é ves. ...Vé o que? – indagou por não saber o homem Anunnaki com o rosto franzido pelo temor de não acertar o passo.
--- Eu vou te mostrar. Apenas uma vez! Siga-me! – disse Gafanhoto ao seguir a frente de Anunnaki pelo meio do lago muito longo e a pisar com cuidado as pedras da extinção, pois as demais pedras ele já havia contado por precaução.
Na gruta onde Gafanhoto e Anunnaki estavam era na verdade um pátio bem amplo e a água cobria todo o recinto de ponta a ponta. E não se avistava o segundo pátio onde era o do Mistério do ar. E depois teria o Mistério do fogo para então se presenciar o Oraculo do Hadeano, o mais remoto dos Oráculos, cuja história foi quando tudo começou na formação dos planetas. Dizia o pai de Aquiles ser ali onde os cenobitas faziam suas preces antes de sepultar o homem deus. Na verdade, alí era chamado o Templo das Orações. Os homens das estrelas trouxeram consigo os verdadeiros costumes cujo tempo era perdido em seu mundo conhecido como Planeta Virgem cujo nome ficou dado as Virgens ou Vestais onde eram inumados os Deuses do Olimpo moradores de imensos Palácios construídos nas montanhas ultrapassando o céu. Do outro Universo surgia os Deuses da Cúpula dos Eternos. E como eternos os Deuses faziam suas preces a Deusa Héstia, filha de Cronos e Reia. Ela era uma das doze divindades olímpicas. Seu nome Héstia foi traduzido para Vesta, a mais velha das Deusas.
--- Nós estamos aqui vindos das estrelas, dizia meu pai. – falava Aquiles Gafanhoto ao atravessar as imensas pedras sepultadas no imenso lago tranquilo.
--- Eu não entendo de nada! – fez vez Anunnaki temendo cair na sequencia de Gafanhoto.
--- Eu digo isso porque, certa vez, eu estava caçando peba no mato e fui visitado por uma nave espacial. Isso faz pouco tempo. Então um alienígena veio até onde eu estava e disse:
--- Milhões de naves espaciais já estão preparadas para levar vocês para outro planeta distante da Terra, porque a sua “casa” vai explodir. E em certas regiões a água do mar vai encher todo o local onde vocês poderiam morar. – relatou o homem das estrelas.
--- É por isso que eu digo: não faz muito tempo e o mar invadiu uns Países. Toda a costa desse nosso País vai ser arrasada. Aqui, nós estamos por alguns dias. O mar vai afogar países de todas as Américas. E foram mesmo os alienígenas que deram a data de nós estarmos preparados para decolar para novas estrelas. – comentou o homem Aquiles Gafanhoto passando de uma pedra a outra no seu caminhar cuidadoso.
--- E está longe essa data? – quis saber Anunnaki.
--- Não! Está próximo! Muito próximo! – destacou Gafanhoto tomando todo o cuidado ao atravessar as pedras.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 28 -

- Yvonne Furneaux -
- 28 -
O ALMOÇO
Naquela mesma terça feira, Orlando Martins chegou ao seu escritório do Ministério da Agricultura, sede da Capital quando foi logo recebido com um “bom dia” por sua secretária particular, Augusta Vieira, moça de boas prendas a qual Orlando foi logo a perguntar se tinha algo para despachar tão breve chegasse. A moça trouxe-lhe os papeis e os pôs sobre a mesa de trabalho do doutor Orlando. O homem se exasperou por fazer tamanho calor àquela hora da manhã e pediu para a moça abrir as janelas do prédio. Em troca, Augusta disse-lhe ter a recomendação de fechar todas as janelas do prédio vez que foi posto o aparelho de ar condicionado para sustentar todo o edifício. E foi o que ela fez.
--- É bonito isso! Tem até graça! Esse equipamento está longe de oferecer ar condicionado a todo o prédio como se está falando. Abra a janela! – ordenou o doutor Orlando Martins.
--- Foi o doutor Afrânio quem mandou. – disse a moça outra vez.
--- Abra essa bosta. Ora. Eu vou morrer de calor aqui dentro? – inquiriu o homem
E a moça obedeceu ao mandado do doutor Orlando enquanto esse  coçava as costas para um lado e para o outro, sem cessar. Por fim ele pediu a moça para lhe coçar as costas. Ela sorriu e apontou a porta. Ele compreendeu e mandou fechar a porta por dentro. Augusta obedeceu.
--- Vou coçar com que? – perguntou a moça a sorrir leve.
--- Passe a régua. Coceira danada. Aqui para baixo. Não. Para cima. Mais para o lado. Em cima. Assim. Coce. – dizia Orlando como um louco com tanta coceira. E a sua cara estava toda franzida por causa da comichão. Após alguns minutos a coceira para de incomodar. Pelo menos ele de refez. Foi então que Orlando Martins dialogou nova conversa com a sua secretária.
--- Diz-me um negócio: que você sente em eu me candidatar a prefeito de Panelas? – indagou o homem.
A moça ficou espantada com a novidade.
--- Prefeito? O senhor? Que ótimo! – respondeu a moça a sorrir bastante feliz.
--- É. Prefeito! Eu peço licença do Ministério. ... Agora, tem o seguinte: eu precisaria de alguém de minha total confiança. Eu estou pensando muito no caso. Mesmo assim, eu pergunto: você aceitaria em ir para Panelas, se eu saísse vitorioso? – perguntou Orlando Martins um tanto precavido com a resposta.
A moça nem pensou muito tempo e respondeu:
--- Eu? Eu? Logo eu! Eu sei que o senhor sairá vitorioso. Mas eu? – falou com bastante receio a moça.
--- É. Você mesma. Se eu sair vitorioso, eu tenho que montar minha equipe. Vamos dizer que você não seja uma secretaria particular. Mas, pode ser até mesmo uma Secretaria. – relatou sem pressa o homem.
--- Não! O senhor está caçoando comigo! – sorriu a moça ao mesmo tempo em que a cabeça delirava.
--- Verdade! Cabe a você responder: sim ou não! Por lá você tem hotel enquanto arranja casa! Mordomia até demais. Aceita? –perguntou o homem com essas propostas a moça.
--- Quer dizer: nada é certo. Apenas estamos aventando. Mas, eu temo perder o meu emprego. Custou-me muito para conseguir esse emprego. Muito mesmo. E se eu sair assim de repente, de um momento para outro como vai ser? – perguntou a moça cheia de preocupação.
--- Você não vai perder o emprego. Eu até pensei em você pedir transferência para um órgão do Ministério da Agricultura. Depois eu desisti da ideia. E você pede uma licença. Se houve essa licença, então você vai para Panelas, Se não. Paciência. – relatou com firmeza o doutor Orlando.
--- Paciência! – suspirou por fim a dama inocentemente.
Amanhã percorreu sem mais abrolhos com Orlando Martins a despachar com serenidade seus expedientes; fazer correspondências; atender ao telefone e coisas mais. Às onze horas da manhã, aproveitando a oportunidade de Augusta adentar no gabinete, ele lhe falou:
--- Você vai para onde? – perguntou Orlando enquanto lia uma correspondência.
--- Eu? Agora? Vou terminar a listados funcionários. – disse a moça a seu chefe.
--- Não. Agora não. Quando acabar o expediente. – falou Orlando ainda com a correspondência na mão.
--- Eu? Vou para a minha casa? – sorriu espantada a moça.
--- Ah. Bom. .... – falou sem mais nada a dizer o doutor Orlando.
--- O senhor quer algo? – indagou Augusta.
--- Não. ... Nada.. ...Eu queria apenas conversar. Estou com a cabeça tinindo.. ..Pensei que você pudesse ir comigo almoçar. – falo o homem displicente.
Augusta pensou um pouco e finalmente voltou a falar.
--- Eu posso ir. A que horas? – indagou Augusta querendo por suas obrigações em dia.
--- Daqui há pouco. Onze e meia. Meio dia. Por ai assim. – fez ver Orlando ainda lendo a correspondência.
--- Está bem. Meio dia. Vamos aonde? Desculpe! – relutou Augusta a perguntar onde seria o almoço.
--- Desculpe o que? Ah.. ...No restaurante. Ou em uma peixada. Qualquer coisa assim. – declarou o homem sempre a ler o que estava em suas mãos.
Ao meio dia o automóvel seguia firme dirigido por Orlando Martins para um restaurante localizado em um bairro frequentado com regular participação de pessoas no dia da semana. O calor era intenso naquela hora. Mesmo assim, o veículo do fazendeiro, agricultor e além de tudo diretor de um departamento da sua repartição do setor da Agricultura era todo refrigerado a ar condicionado. Tão logo o homem entrou no carro, ligou o ar condicionado para amenizar o calor ardente que estava a fazer no meio ambiente. Augusta se sentiu satisfeita pelo ar condicionado. E quis saber do seu dono o tempo que ele havia adquirido aquele automóvel.
--- Faz tempo que o senhor tem esse auto? – indagou a sorrir a moça.
--- Um ano, mais ou menos. – respondeu Orlando ajeitando-se na direção.
Veículos passavam com ligeira pressa indo e vindo pela rodovia nem tanto congestionada, pois Orlando dirigia sem pressa, admirando a paisagem do mar aberto e sua brisa suave porem calorenta àquela hora do começo da tarde. Augusta tinha a impressão de sentir em sua pele o açoitar da afoita ventania a soprar intermitente por entre as dunas. A moça teve a impressão de se aberto o vidro da porta sentia-se melhor aquele vento afago. Enfim, Augusta lembrava-se de Olga, sua amiga. E onde estaria aquela hora.
--- Olga! –falou mansinha a moça Augusta.
--- O que dissestes? – indagou o homem sem ter entendido bem.
--- Nada. Apenas chamei o nome de Olga, uma amiga que eu tenho. – sorriu a moça ao falar.
--- Ah sim! Olga! É também um tango! – reportou o homem quase de imediato.
--- Não conheço a melodia. Tango? – indagou a moça um pouco surpreendida.
--- Sim. Tem muitas obras de arte com nomes singulares. – comentou Orlando ao passar por outro veiculo.
--- É. Tâmara. Amélia. Tammy. Martha. E tantos outros. –falou Augusta Vieira ao notar um restaurante onde o veiculo estava a estacionar.
No interior do restaurante de onde se podia ver o mar em ondas plácidas a salpicar a areia da praia, enfim Orlando buscou uma mesa na metade do restaurante e dali pode sentir a leve calma a sussurrar baixinho algo como uma terna canção de amor. Um casal quase desnudo adentrou nessa mesma hora da tarde no restaurante a sorrir e se dirigiu ao balcão. Outros pares estavam a comentar assuntos triviais. Algo de pouca importância para Orlando.  Naquele recinto ele estava apenas para conversar sobre assuntos que lhe interessavam. E nem se perturbava se a moça não interessasse também. O homem vendendo coco passava pela calçada com o seu carrinho de mão a chamar a atenção de quem quisesse.
--- Côco! Olha o côco! Está frio! – recitava homem adernando o próprio corpo.
Um garoto entrava para oferecer cartões de fotos. Uma menina surgia entre outras para suplicar esmola. Um bêbado tropeçava com suas pernas cambaleantes. Ele não sabia se continuava ou parava. Entre o meio de toda aquela gente, estava a mulher a vender goma fresca.
--- Goma! Olhe a goma! Está fresquinha! – respondia a mulher para ninguém.
Diante de tudo isso, o homem sorriu. Augusta, de costas, teve que se virar e olhar o que motivara o homem a sorrir. Vendo tudo o que se passava, Augusta indagou:
--- O que houve? – perguntou a moça sem entender do que se passava.
O homem então parrou de sorrir e respondeu.
--- O ébrio equilibrista! – disse por fim o doutor Orlando.
E a moça se voltou para olhar e nada mais enxergou. E Orlando disse apenas.
--- Já passou. – e voltou a sorrir de leve.   

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 27 -

- Kristen Dust -
- 27 -
SOLDADO
Logo cedo da manhã Gafanhoto estava pronto para sair do Quartel da Aeronáutica trajando um uniforme de soldado, todo belo, parecia até um militar. Ele foi levado na segunda feira para a corporação onde fora sabatinado pelos comandantes militares da Aeronáutica e do Exercito com relação à porta do túmulo das catacumbas existentes no alto da serra do Monte Sagrado. Ao lhe perguntar sobre a abertura da porta ou do portal de bronze, ele respondeu ser aquilo muito fácil de fazer. E ficou acertado um pagamento ao ser aberto o portal, se ele fosse capaz de executar a obra. Gafanhoto concordou com o acerto e disse mais ter outras portas em outras tumbas para serem abertas.
--- Outras tumbas? – indagou inquieto o Comandante militar da Aeronáutica.
--- Umas dez, apenas. E só. – disse ao homem letrado que comandava todas as tropas.
--- E o senhor abriu essas outras tumbas? – perguntou meio desconfiado o Comandante.
--- Já. Muitas vezes. Eu era menino nessa época! – sorriu Gafanhoto ao dizer tal fato.
--- E pode abrir agora? – indagou por mais uma vez o Comandante.
--- Eu posso. Mas tem um, porém: - relatou Gafanhoto ao Comandante.
--- O senhor me arranja um homem daqui mesmo, que não seja da Farda e, se for mais alguém, ninguém pode ver o que eu estou a fazer para abrir o portal. Certo? – indagou Gafanhoto ao comandante.
--- Assim não vamos aprender nunca. – disse alarmado o Comandante.
--- E tem o homem a paisana. Ele deve seguir os meus passos. Apenas isso. – falou Gafanhoto
--- E o Militar o que faz? – falou irado o Comandante.
--- Obedece! – sorriu o homem do mato ao falar assim.
--- Espere um pouco. Espere um pouco! Quem ensinou ao senhor fazer tantos truques com os mausoléus? – indagou preocupado o Comandante então sisudo.
--- Meu pai. – sorriu Gafanhoto.
Com isso o Comandante coçou as barbas que já não havia e indagou em segredo o outro Comandante do Exército posto ao seu lado. Foi uma conversa até certo ponto longa de mais. E quando o Comandante voltou já um tanto preocupado voltar a perguntar.
--- E onde está o seu pai? – indagou o Comandante ao mateiro.
--- Pelo que a minha me diz, ele está sepultado no cemitério. Mas eu tenho cá minhas dúvidas. – falou com certa comoção o homem do mato.
--- O senhor duvida? – perguntou com altiva o Comandante.
--- É. Tenho minhas dúvidas. Porque certa vez, a cova que nós sepultamos nosso pai, estava removida. E por mais que eu perguntasse ninguém soube explicar. – relatou com emoção o homem do mato.
--- Bem. Mas essa é outra questão. E vamos ao que interessa. Teu pai ensinou ao senhor como abrir tumba. E o senhor abre mesmo? – indagou o Comandante meio desconfiado.
--- Abro, sim, senhor. – disse Gafanhoto já todo molhado de suor.
E o Comandante voltou a conversar m voz baixa com os outros militares e após a conversa ele fez questão em dizer:
--- Está bem. Hoje, o senhor dorme no Quartel. E amanha segue com os meus oficiais astrônomos para o lugar indicado. Estamos entendidos? – fez questão em saber o Comandante.
--- Mas o senhor tem o homem à paisana? – indagou por sua vez Gafanhoto.
Volta novamente à conversa baixa com os homens da mesa. E após alguns minutos veio a resposta.
--- Temos. O senhor verá! – se prontificou o Comandante diante de todos os demais oficiais.
--- Mas eu preciso ver o homem agora. – falou Gafanhoto, de pé, em frente ao Comandante.
Voltou-se a conversa baixa para ninguém mais ouvir. E logo em seguida o Comandante falou.
--- O tenente foi buscar o taifeiro do rancho. Ele é um homem muito sério, como todos aqui. – falou altivo o Comandante.
E o homem da roça continuava de pé olhando direto para o Coronel da Aeronáutica. Nessa ocasião, um oficial mandou que o homem pudesse sentar enquanto o taifeiro não chegava. E o tempo ressoou longo por demais com os homens de Farda a sair da mesa e, depois de algum tempo, a voltar como se nada importasse; uns oficiais entravam e saia do auditório onde estava a se fazer a reunião mais ou menos secreta. Alguém conversa baixo ao longe, por trás de Gafanhoto; alguém soltava uma risada omissa e logo acabava; um rapaz soldado entrava com uma bandeja de xicaras e um bule de café para servir aos oficiais; um sargento entrava e apontava para Gafanhoto como a dizer a outro soldado ser aquele o rapaz. E após longo e extenuante período um oficial se fez presente trazendo a seu lado um homem de seus cinquenta anos e apresenta-lo ao Comandante. Em seguida, após breve conversa, a autoridade maior do recinto chamou pelo nome o homem do mato.
--- Senhor Aquiles Gafanhoto! Aqui está o homem que o senhor pediu! – fez vez o comandante a Aquiles.
E pondo-se de pé, Aquiles não fez reservas e pequi para conversar um pouco com o taifeiro. O taifeiro, com um andar meio contrafeito, saiu do local onde estava e se dirigiu ao homem do mato, calado, com os olhos ativos como a querer saber do que se tratava.
--- Nós precisamos conversar. O senhor tem cismas? – perguntou Gafanhoto de uma forma um pouco baixa
--- Não senhor! – respondeu o taifeiro sem perturbação.
--- Sabe guardar segredos? – voltou a indagar o homem do mato.
--- Sei sim, senhor! – relatou o homem a olhar por cima o mateiro.
--- Em qualquer circunstancia? – indagou Gafanhoto ao taifeiro.
--- Sim, senhor! – respondeu leve o taifeiro olhando por cima o homem do mato.
--- Veja bem o que o senhor responde. Pois de agora em diante o senhor vai ter uma nova missão nesta corporação. E não pode falhar. Em hipótese nenhuma. O senhor está entendendo? – perguntou Gafanhoto ao taifeiro.
--- Sim senhor! – respondeu o taifeiro ao mateiro.
--- Amanhã nós iremos seguir uma trilha. Apenas eu digo isso agora. E nada mais. Se o Comandante perguntar o que o senhor ouviu, diga-lhe ser tudo segredo, pois de agora em diante o senhor está encoberto em um terrível mistério. – relatou muito calmamente o homem do mato.
--- Sim senhor. Nada direi! – confessou o homem taifeiro.
--- Tem outra coisa: de agora em diante o seu nome muda. O senhor passa a ser chamado Anunnaki. – disse-lhe Gafanhoto sem sorrir.
--- Égua! Que nome? Não tem outro bicho? – perguntou o taifeiro então chamado de Anunnaki.
--- Não. É esse mesmo. Para mim, o senhor só atende por esse nome. – declarou Gafanhoto.
--- Está bem – e pensou em seguida: – “É melhor do que ser Gafanhoto”. – Mas não sorriu.
Dali então, Anunnaki saiu da conversa e agradeceu ao seu Comandante e se pôs a decifrar o seu novo nome para não se esquecer. A caminho do trabalho o homem, Anunnaki se pôs de pé de forma inquieta por não saber se de agora em diante poderia servir rancho a quartelada. E então voltou onde estivera. Mas já não havia viva alma do rapaz de nome Gafanhoto.
Esse foi o incidente do dia anterior. No dia da partida, Aquiles Gafanhoto era para todos os efeitos um militar se resfolegando no fardamento de soldado, para ele muito apertado aqui, e muito folgado alí. E de qualquer forma, o homem já estava pronto para a partida tendo ao seu lado o companheiro de rotina deste ponto em diante de nome subgêneros: Anunnaki. O também soldado era outro a se esfregar de modo no fardamento, coisa que nunca usara, pois sempre fora no Quartel um mero taifeiro desde o tempo de sentar praça. Como em seu tempo, sentar praça era difícil, ele ficou apenas como taifeiro. E assim percorria o País inteiro se houvesse necessidade. O Jipão trafegou a toda velocidade pelas ruas estreitas de Panelas até chegar ao ponto marcado, a Serra do Monte Sagrado. Na sua nova e costurada indumentária o soldado Aquiles Gafanhoto só era ele, a bater continência para Deus e o Diabo. Quando o jipão chegou ao entalhe de subida da Serra do Monte Sagrado, o homem se aventurou a subir por uma gruta de pedras, como sempre ele fizera em tempos passados. O tenente disse logo a Gafanhoto ser o local outro bem diferente.
--- Por aqui soldado. Tem uma geringonça que os rapazes montaram. Venha por aqui! – gritou o tenente para Gafanhoto já em plena ascensão pela estrada que ele sempre galgava.
--- Tenho o que? – perguntou Gafanhoto sem entender muito bem o tenente.
--- Elevador! – gritou o tenente a todo peito.

domingo, 27 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 26 -

- Graziela Barduco -
- 26 -
SER PERFEITO
O salão do hotel Cassino estava repleto naquela noite estival. Gente de toda parte. Até mesmo de cidades vizinhas. Era um aconchego romântico e eterno entre aromas perfumosos de um doce sabor aquele de um nervosismo sem fim. Moças, rapazes, homens e esposas. Todos ao mesmo tempo. Alguns a sussurrar palavras de bem-querer. Outros a gargalhar ao sabor de qualquer acaso. Poetas a recitar seus lindos e eternos versos de amor. Garçons a passar de repente a atender os mais ruidosos e apurados fregueses. Era na verdade um mundo a desabar entre enlevos e colóquios. No final da sala onde tinham doze mesas, cada uma com quatro cadeiras. Estava um pianista a tocar peças de autores celebres em punhados de melodias a encher de frenesi os corações dos ternos e eternos namorados. Diante de tudo isso, chegou ao salão do hotel o senhor Coronel João Tenório de Alencastro tendo por companhia o seu filho Antônio Tenório e o respeitado chefe do executivo municipal, senhor Sebastião Salgado. O senhor Coronel João Tenório foi recebido à entrada do Hotel pelo seu proprietário, doutor Orlando Martins acompanho de sua esposa Laura e da filha maior, secretária de Educação municipal, Marina Martins de Barros, sobrenome nunca usado por nenhum da família de Orlando. O convidado adentrou no recinto e foi até a um local reservado onde os dois chefes poderiam conversa com maior tranquilidade. E, depois de demorada conversa, sentindo-se a morte do ex-governador; o caso dos loucos cientistas resolvendo não mais procurar os velhos túmulos dos extraterrestres; e da ausência de invernada no sertão, daí começou a devida conversa.
--- Muito bem, doutor Orlando Martins. Mas eu estou aqui para conversar com o senhor pelo caso mais importante. O senhor sabe que vai haver eleição para prefeito, vereador e deputado estadual. O senhor tem alguma para alguns desses cargos? – indagou o coronel com melancólica conversa.
--- Bem. Eu confesse que não tenho nenhuma pretensão. Eu tenho o meu trabalho no Ministério da Agricultura. E se sobra um tempo eu venho na minha fazenda. Tenho essa palhoça que o povo chama de Hotel; e mais alguns bodes e vacas para criar. O meu terreno já é parte da aeronáutica. Enfim, eu tenho tudo isso para cuidar. E não penso mais em nada. – falou o doutor Orlando.
--- Muito bem. Eu sei que o senhor é um homem rico. E não precisa mais de nada. Mas pense bem: nós temos um cargo vago. E não tem pretendente. O cargo de Prefeito. O senhor não acha que pode ser o prefeito desse município? – indagou o Coronel falando baixo.
--- Na verdade, isso bem que pode ser. Mas vai tomar um tempo enorme para quem o ocupa. E eu não vejo a possibilidade de para eu ser negociável. Agora, eu tenho uma proposta a fazer ao senhor: que tal o senhor conseguir um empenho para fazer um cargo vereador da a minha filha? - perguntou de vez o agropecuarista Orlando Martins.
A moça cresceu os olhos para o seu pai, porque ele fez uma proposta se ouvi-la sobre o assunto. E daquela vez Marina quase despencou no chão. Mesmo assim, a moça não disse nada, apesar do susto que teve.
Por largos e bons momentos a conversa prosseguiu com Orlando Martins dizendo que “não” e o coronel insistindo que “sim”. E com isso a conversa se insistia e persistiu pela alta madrugada quando no salão do Hotel já havia mais viva alma, a não serem os sonolentos garçons e a turma do bar se ajeitando para sair. E com isso, finalmente veio a resposta:
--- Está bem. Eu aceito. Desde que a minha filha, Amanda, tenha o apoio do senhor. – relatou por fim Orlando Martins.
Esse era o inicio da semana. E o coronel Juca se sentiu vitorioso.
--- Ao trabalho. – disse ele com o sabor da vitória.
No caminhar para a sua casa, Orlando Martins ouviu poucas e boas de sua filha Marina como uma rejeição a proposta feita ao coronel Juca. E o homem se defendia para fazer da filha melhor candidata a vereadora.
--- Não seja assim minha filha. Eu propus o cargo para você, porque, para mim, tanto fez como tanto faz. Eu não vejo nenhuma vantagem nisso. Agora, para você é o primeiro degrau. Depois vem o de deputada. E, quem sabe, até mesmo de Governadora. Eu espero que você aceite o que eu fiz. – relatou o homem.
--- Mas o senhor nem me procurou ouvir. Talvez eu tenha outas pretensões. – disse por sua vez a moça.
--- Que pretensões? – perguntou o pai a filha amada.
--- Eu talvez quisesse ser médica! – relatou em seguida à moça Marina.
--- Mas isso não empata. Quer dizer. É...Você é quem sabe o que quer. – relatou o homem já um tanto desolado com a situação da filha.
--- Não é justo isso. Não é justo! – respondeu a moça de forma malcriada.
E assim, o homem conteve mais a sua voz e pegou o carro em direção à casa grande sem querer mais de conversa. Ao chegar a casa, desceu do carro, bateu a porta de vez e disse apenas isso:
--- Bosta! Pra que fui me meter nisso! – respondeu Orlando todo de péssimo humor.
--- Não tem importância. O senhor vai amanhã à casa do coronel e diz: conversei em casa e desisti da ideia. Nem eu nem o senhor. Estamos conversados. E pronto! – fez vez Marina.
--- É fácil pra você, heim? – falou com modos rudes o doutor Orlando.
E Marina suspendeu os ombros três vezes como que diz: “Eu! Não tenho nada a ver com isso”.
O homem entrou em sua casa e foi logo perguntando a sua esposa, Laura.
--- O que é que devo fazer? Diga-me! – indagou Orlando a Laura.
E a mulher respondeu:
--- Sei lá! Vocês é que são brancos é que se entendem. Eu não sei de nada. – respondeu Laura passando para o quarto de dormir.
--- Boa amiga você é! – falou bravo o homem
Com isso, todos foram dormir menos Orlando. Esse puxou a cadeira da varanda e ficou a meditar. Eram cinco horas da manhã quando o homem tornou de vez com a cabeça doendo parecendo ter tomado uma cachaça dos infernos. Nesse momento, o seu capataz José Jacó se acercou do patrão. Sem nenhuma importância Jacó ofereceu a Orlando um prato de qualhada ao dizer:
--- Esta ótima. Pode comer. – falou Jacó ao seu patrão.
--- É. Vou comer mesmo. Eu vou para a capital daqui há pouco. Não vou mais ficar aqui. Já ontem não fui. É um azar dos diabos. – relatou o homem com a cabeça tinindo.
--- Sabe? O Gafanhoto foi para o campo de pouso. – relatou o capataz ao seu patrão.
--- Campo de pouso? Ah sim. Aeronáutica. E o que foi fazer na Aeronáutica? – perguntou o dono da fazenda
--- Não sei. Ele está por lá. Quem me disse foi seu irmão. E ainda não voltou para casa. – disse Jacó.
--- Será que está preso? – perguntou o doutor a seu capaz.
--- Não sei. Mas é bem provável. E o coronel Juca o que foi que disse ao senhor essa noite na reunião? – perguntou o capataz.
--- Nada de mais. Ele quer ter um candidato a prefeito. Só isso. – disse o homem enquanto comia a qualhada.
--- E vai ser o senhor? Pelo que vejo! ... – disse o capataz.
--- Não está nada certo. Eu tenho o meu emprego no Ministério da Agricultura. Eu sei que o vencimento de prefeito não é tanto assim. Mas, dá para o gasto. Porém eu vou ter mais serviço. E as pessoas azucrinando aos meus ouvidos. E por conta disse eu prefiro desistir dessa empreitada. Não leva a nada.  – falou bem forte o doutor Orlando.
--- Mas o senhor pode por um ajudante. – fez ver o homem Jacó.
--- Ajudante? Que ajudante? Eu sou quem vou prestar contas no final. – relatou o doutor Orlando.
--- E o negócio do morro? O que é que o senhor pensa? – perguntou o capataz.
--- Do morro. Eu sei lá. Isso é com o Governo Federal. – destacou o homem.
--- E a Prefeitura não tem nada a ver com o morro? – voltou a indagar o capataz.
--- Deve ter. Deve ter. Eu não me meto nessa confusão. – relatou o doutor Orlando devolvendo o prato ao seu capataz.
--- E o Gafanhoto? Como fica? – indagou o capataz ao doutor Orlando.
--- Sei lá. Ele não me metendo nessa confusão que parece ter aprontado. .... – o doutro cuspiu para um lado e limpando o canto da boca.
O capataz sorriu uma risada bem velhaca e desandou para casa ainda a sorrir e comentar,
--- Esse doutor. ... – disse por vez sem mais querer o capataz.
Nesse momento o doutor Orlando Martins entrou em casa e se topou com a filha Marina tendo ido ao banheiro já naquela hora da manhã. Ela bocejou como nunca e nem falou com seu pai.

sábado, 26 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 25 -

- Luciana Abreu -
- 25 -
SEM SUCESSO
Logo as primeiras horas da manhã da segunda feira, Antônio Tenório, o Tonheca, filho de João Tenório de Alencastro, o conhecido Coronel Juca, adentrou depressa na sala de almoço do velho pai e foi logo dizendo o que aconteceu no domingo quando o homem estava a viajar para a capital:
--- Os homens levaram as suas ferramentas. E parece que não vão mais voltar! – comentou Tonheca, alarmado com a estória.
--- Que homens? – perguntou o ancião a tomar café e com a boca cheia de cuscuz.
--- Os cientistas. Os homens que estavam na Serra. Agora só tem os guardas. Quatro ou seis. Parece! – relatou outra vez o seu filho Tonheca.
--- Quem disse isso? – perguntou de vagar o ancião.
--- Bem! Foram os vaqueiros. E eu estive pertinho da Serra. – comentou o homem.
--- Ah é? Foram embora, foram? – indagou o ancião com a boca cheia de cuscuz.
--- É. Pelo que se sabe! Foi briga feia! Uns queriam dinamitar a Serra. Outros foram contra! – disse mais o filho Tonheca.
--- Eu já esperava por isso. Esses rapazes não sabem de nada. – comentou o ancião  a engolir seu alimento.
--- E que é que a gente faz agora? – perguntou Tonheca ao ancião com a presença de sua mãe e de outros familiares.
--- Eu não faço nada. Eles são os patrões. Então, se virem! –disse por fim o ancião.
Com isso a historia terminou. Logo após a refeição matinal, o velho Juca foi até a Serra, onde mesmo se podia chegar, pois a vigilância era redobrada, com soldados do Exercito e da Aeronáutica, e olhou para uma escada de ferro, trançada, para um lado e para o outro até chegar ao todo da serra. Alí estava tudo normal. Juca e o seu filho Tonheca discutiram um pouco sobre a feitura da escada e então deixaram de lado. A guarda estava a postos nas suas guaritas: dois policiais da Aeronáutica e outros dois do Exercito. Entre eles, dois cabos: um da corporação do Exército e outro da Aeronáutica. Um jipão do Exército chegou com uma guarda para examinar o movimento dos soldados. Naquela hora eram rendidos os solados que estavam de guarda. Apenas os do Exército. Quanto os da Aeronáutica seriam trocados por sua Corporação quando o jipão chegasse com a nova tropa. O velho Juca quis falar com o cabo de guarda, mas não teve a oportunidade. Para subir na Serra, desde que as Forças Armadas tomaram conta do local, isso ficou proibido. Apenas os cientistas, que eram credenciados pelo Exército e a Aeronáutica poderiam ter acesso ao local. O caso interessante foi a armação da escada, um verdadeiro trampolim para dar acesso ao local. A escada era um vai e vem de cerca de cem andares ou mais. Era uma altura terrível para se chegar topo do local. De muito longe era vista a serra. E os militares montaram a escada em um tempo recorde. Além da escada tinha uma espécie de elevador. Por esse, era mais rápido de se descer ou subir. Por isso, os cientistas usaram o elevador quando foram para as suas residências de vez. Como não tinha nada a fazer para a subida da Serra, o velho Juca desistiu e resolveu voltar. Quando estava em sua casa, ele, ao pensar, resolveu ir até o Comando do Exercito para resolver a questão. E foi isso que fez. De nove horas, o velho Juca mais o seu filho Tonheca chegou ao Quartel Militar. No inicio foi bem difícil. Ele passou por uma guarda, mostrou a sua identidade, a qual ficou guardada na guarita; foi com outro militar ara falar com um tenente; depois seguiu com outro militar para falar com um capitão; por fim foi até um major. Foi uma caminhada e tanto aquela. O major estava ocupado, veio dizer um militar do primeiro escalão. Isto é: um soldado.
--- Não tem importância. Eu espero. – falou o coronel Juca.
E daí, toca a esperar. Foi um tempo sem fim. Quando o coronel Juca foi recebido pelo major, foi passada mais de uma hora. E ao relatar o que teria a dizer ao comandante, veio logo a decepção.
--- Nós estamos sabendo. Mas o comandante saiu por esta manhã. – falou o major.
Juca olhou para Tonheca, seu filho, e disse não ter motivo de esperar, uma vez que o caso dos cientistas já estava encerrado. E deu bom dia ao major, tendo voltado acompanhado por um soldado até a sala do tenente. Ele agradeceu a presteza e saiu para a guarita onde apanhou a sua identidade. Dai em diante só estava pronto a dizer, quando já estava longe do Quartel.
--- BOSTA! – foi o que disse o coronel Juca.
Quando o velho Juca desatou aquilo tão sentido, o filho Tonheca, ao seu lado, procurou acalmá-lo, pois de nada resultava o velho se exaltar. O negócio era ter paciência. Afinal, o Monte Sagrado já era então da esfera federal por ser local então de gente do outro mundo. Mesmo assim, o velho não se conteve e relatou outra vez.
--- Mas é BOSTA! BOSTA! BOSTA! Tenho dito. –reclamou o coronel com ênfase.
Pouco mais tarde, o velho Juca, já em sua casa, mandou chamar o prefeito da cidade, Sebastião Salgado, para ter uma conversa a parte com o mandatário do município. Tao logo recebeu a comunicação, o senhor Salgado, se não correu foi porque a barriga enorme do homem não deixava. Porém, em um minuto largou tudo o que estava por fazer e se largou para a casa do velho João Tenório. Em se tratando de assuntos da administração, o homem corria as pressas. Por isso, tão rápido recebeu a mensagem, mais ainda chegou ao casarão do velho Juca. E como um bom pau mandado, ele estava na cadeira da entrada a conversar com o seu orientador de coisa alguma. Após alguns minutos, o velho Juca indagou ao prefeito:
--- O que você pensa do futuro? – indagou o velho Juca.
--- Futuro? Que futuro, coronel? – quis saber espantado o prefeito.
--- Ora Merda!!! O seu futuro! Não está vendo que tem eleições para deputado? – reclamou o velho Juca.
O demente prefeito sorriu um pouco e em seguida falou.
--- É. Eu não pensei ainda. – falou o prefeito Sebastiao Salgado com um sorriso nos dentes.
--- Pois pense. Pense. Eu vou falar com os meus correligionários para ver o que aceita ser prefeito da cidade por esses dias. Você saindo para deputado, eu tenho que arrumar um prefeito para a cidade. Estou certo seu bosta? – arremeteu o velho Juca em cima do prefeito.
O Prefeito Sebastião Salgado ficou entusiasmado com a ideia de ser o novo deputado do Estado, saído do município de Panelas e arrasar os oponentes da esfera estadual. Com isso, Salgado se dispôs em seguir a frente, tomando as rédeas das eleições logo de imediato. Ele passaria a inaugurar novas obras; calçar ruas; fazer praças; construir um estádio de futebol mais moderno; edificar uma estátua em homenagem ao seu mentor, João Tenório de Alencastro, o esteio da região, e:
--- Tira essa ideia de fazer uma estatua para mim. Você já viu se edificar uma estatua para as pessoas com vida? Tira essa ideia! – refugou o coronel Juca.
--- E que tal uma Igreja no alto Serra? – perguntou o prefeito municipal.
--- Também nem pensar. A Serra é um órgão da esfera federal. Já estou cheio de tanta besteira! – disse o velho Juca cuspindo fumo de lado.
--- Mas nós precisamos homenagear a Vossa Majestade!!! – relatou com ênfase o prefeito.
--- Espera. Espera. Vou lá dentro cumprir uma necessidade. E é melhor pensar em negócios mais amplos! – fez ver o velho Juca se levantando da cadeira e deixado gases para o prefeito cheirar.
O negócio ficou dessa forma em banho Maria. E o prefeito Sebastião Salgado pensando no que seria feito e o velho Juca se espremendo para cumprir as suas necessidades. Com isso, a farra terminou. À tarde, o velho Juca mandou um mensageiro à residência de Orlando Martins a relatar ter assunto para discutir apenas entre os dois. Que Orlando marcasse o local. E o velho estaria pronto para atender o chamado do doutor Orlando.  O mensageiro fez a entrega da missiva e esperou pela resposta. O doutor Orlando Martins coçou a cabeça de um lado e, depois de algum tempo de não mais cinco minutos, disse ao estafeta.
--- Diga ao coronel que eu estarei no hotel às oito horas da noite. Veja o que diz o coronel! – e guardou a mensagem no bolso do paletó.
E o mensageiro voltou disposto com os pés na bunda, em correria infernal. Orlando Martins ficou a olhar e ligeiramente a sorrir como tem certos elementos capazes de vir e voltar com uma simples mensagem do seu patrão. Ao se voltar para dentro de sua casa Orlando notou a presença de Nara, sua primeira esposa, a sorrir contente e a dizer algo cujo teor Orlando compreendeu de certa forma.
--- Não deixe de ir. – disse Nara a sorrir e logo a seguir desapareceu.
O homem ficou inquieto com tal atitude da saudosa esposa e, embora quisesse dizer algo em troca, nada lhe foi possível, pois Nara já não estava presente. Orlando Martins olhou ao seu redor, e ninguém alí estava por perto. De certa forma procurou para ver se avistava a sua atual esposa Laura, porém a esposa estava ausente. Com certeza estaria colocando papinha para a sua filha Amanda. Com isso, o homem se reteve em sua posição de senhor.