segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 27 -

- Kristen Dust -
- 27 -
SOLDADO
Logo cedo da manhã Gafanhoto estava pronto para sair do Quartel da Aeronáutica trajando um uniforme de soldado, todo belo, parecia até um militar. Ele foi levado na segunda feira para a corporação onde fora sabatinado pelos comandantes militares da Aeronáutica e do Exercito com relação à porta do túmulo das catacumbas existentes no alto da serra do Monte Sagrado. Ao lhe perguntar sobre a abertura da porta ou do portal de bronze, ele respondeu ser aquilo muito fácil de fazer. E ficou acertado um pagamento ao ser aberto o portal, se ele fosse capaz de executar a obra. Gafanhoto concordou com o acerto e disse mais ter outras portas em outras tumbas para serem abertas.
--- Outras tumbas? – indagou inquieto o Comandante militar da Aeronáutica.
--- Umas dez, apenas. E só. – disse ao homem letrado que comandava todas as tropas.
--- E o senhor abriu essas outras tumbas? – perguntou meio desconfiado o Comandante.
--- Já. Muitas vezes. Eu era menino nessa época! – sorriu Gafanhoto ao dizer tal fato.
--- E pode abrir agora? – indagou por mais uma vez o Comandante.
--- Eu posso. Mas tem um, porém: - relatou Gafanhoto ao Comandante.
--- O senhor me arranja um homem daqui mesmo, que não seja da Farda e, se for mais alguém, ninguém pode ver o que eu estou a fazer para abrir o portal. Certo? – indagou Gafanhoto ao comandante.
--- Assim não vamos aprender nunca. – disse alarmado o Comandante.
--- E tem o homem a paisana. Ele deve seguir os meus passos. Apenas isso. – falou Gafanhoto
--- E o Militar o que faz? – falou irado o Comandante.
--- Obedece! – sorriu o homem do mato ao falar assim.
--- Espere um pouco. Espere um pouco! Quem ensinou ao senhor fazer tantos truques com os mausoléus? – indagou preocupado o Comandante então sisudo.
--- Meu pai. – sorriu Gafanhoto.
Com isso o Comandante coçou as barbas que já não havia e indagou em segredo o outro Comandante do Exército posto ao seu lado. Foi uma conversa até certo ponto longa de mais. E quando o Comandante voltou já um tanto preocupado voltar a perguntar.
--- E onde está o seu pai? – indagou o Comandante ao mateiro.
--- Pelo que a minha me diz, ele está sepultado no cemitério. Mas eu tenho cá minhas dúvidas. – falou com certa comoção o homem do mato.
--- O senhor duvida? – perguntou com altiva o Comandante.
--- É. Tenho minhas dúvidas. Porque certa vez, a cova que nós sepultamos nosso pai, estava removida. E por mais que eu perguntasse ninguém soube explicar. – relatou com emoção o homem do mato.
--- Bem. Mas essa é outra questão. E vamos ao que interessa. Teu pai ensinou ao senhor como abrir tumba. E o senhor abre mesmo? – indagou o Comandante meio desconfiado.
--- Abro, sim, senhor. – disse Gafanhoto já todo molhado de suor.
E o Comandante voltou a conversar m voz baixa com os outros militares e após a conversa ele fez questão em dizer:
--- Está bem. Hoje, o senhor dorme no Quartel. E amanha segue com os meus oficiais astrônomos para o lugar indicado. Estamos entendidos? – fez questão em saber o Comandante.
--- Mas o senhor tem o homem à paisana? – indagou por sua vez Gafanhoto.
Volta novamente à conversa baixa com os homens da mesa. E após alguns minutos veio a resposta.
--- Temos. O senhor verá! – se prontificou o Comandante diante de todos os demais oficiais.
--- Mas eu preciso ver o homem agora. – falou Gafanhoto, de pé, em frente ao Comandante.
Voltou-se a conversa baixa para ninguém mais ouvir. E logo em seguida o Comandante falou.
--- O tenente foi buscar o taifeiro do rancho. Ele é um homem muito sério, como todos aqui. – falou altivo o Comandante.
E o homem da roça continuava de pé olhando direto para o Coronel da Aeronáutica. Nessa ocasião, um oficial mandou que o homem pudesse sentar enquanto o taifeiro não chegava. E o tempo ressoou longo por demais com os homens de Farda a sair da mesa e, depois de algum tempo, a voltar como se nada importasse; uns oficiais entravam e saia do auditório onde estava a se fazer a reunião mais ou menos secreta. Alguém conversa baixo ao longe, por trás de Gafanhoto; alguém soltava uma risada omissa e logo acabava; um rapaz soldado entrava com uma bandeja de xicaras e um bule de café para servir aos oficiais; um sargento entrava e apontava para Gafanhoto como a dizer a outro soldado ser aquele o rapaz. E após longo e extenuante período um oficial se fez presente trazendo a seu lado um homem de seus cinquenta anos e apresenta-lo ao Comandante. Em seguida, após breve conversa, a autoridade maior do recinto chamou pelo nome o homem do mato.
--- Senhor Aquiles Gafanhoto! Aqui está o homem que o senhor pediu! – fez vez o comandante a Aquiles.
E pondo-se de pé, Aquiles não fez reservas e pequi para conversar um pouco com o taifeiro. O taifeiro, com um andar meio contrafeito, saiu do local onde estava e se dirigiu ao homem do mato, calado, com os olhos ativos como a querer saber do que se tratava.
--- Nós precisamos conversar. O senhor tem cismas? – perguntou Gafanhoto de uma forma um pouco baixa
--- Não senhor! – respondeu o taifeiro sem perturbação.
--- Sabe guardar segredos? – voltou a indagar o homem do mato.
--- Sei sim, senhor! – relatou o homem a olhar por cima o mateiro.
--- Em qualquer circunstancia? – indagou Gafanhoto ao taifeiro.
--- Sim, senhor! – respondeu leve o taifeiro olhando por cima o homem do mato.
--- Veja bem o que o senhor responde. Pois de agora em diante o senhor vai ter uma nova missão nesta corporação. E não pode falhar. Em hipótese nenhuma. O senhor está entendendo? – perguntou Gafanhoto ao taifeiro.
--- Sim senhor! – respondeu o taifeiro ao mateiro.
--- Amanhã nós iremos seguir uma trilha. Apenas eu digo isso agora. E nada mais. Se o Comandante perguntar o que o senhor ouviu, diga-lhe ser tudo segredo, pois de agora em diante o senhor está encoberto em um terrível mistério. – relatou muito calmamente o homem do mato.
--- Sim senhor. Nada direi! – confessou o homem taifeiro.
--- Tem outra coisa: de agora em diante o seu nome muda. O senhor passa a ser chamado Anunnaki. – disse-lhe Gafanhoto sem sorrir.
--- Égua! Que nome? Não tem outro bicho? – perguntou o taifeiro então chamado de Anunnaki.
--- Não. É esse mesmo. Para mim, o senhor só atende por esse nome. – declarou Gafanhoto.
--- Está bem – e pensou em seguida: – “É melhor do que ser Gafanhoto”. – Mas não sorriu.
Dali então, Anunnaki saiu da conversa e agradeceu ao seu Comandante e se pôs a decifrar o seu novo nome para não se esquecer. A caminho do trabalho o homem, Anunnaki se pôs de pé de forma inquieta por não saber se de agora em diante poderia servir rancho a quartelada. E então voltou onde estivera. Mas já não havia viva alma do rapaz de nome Gafanhoto.
Esse foi o incidente do dia anterior. No dia da partida, Aquiles Gafanhoto era para todos os efeitos um militar se resfolegando no fardamento de soldado, para ele muito apertado aqui, e muito folgado alí. E de qualquer forma, o homem já estava pronto para a partida tendo ao seu lado o companheiro de rotina deste ponto em diante de nome subgêneros: Anunnaki. O também soldado era outro a se esfregar de modo no fardamento, coisa que nunca usara, pois sempre fora no Quartel um mero taifeiro desde o tempo de sentar praça. Como em seu tempo, sentar praça era difícil, ele ficou apenas como taifeiro. E assim percorria o País inteiro se houvesse necessidade. O Jipão trafegou a toda velocidade pelas ruas estreitas de Panelas até chegar ao ponto marcado, a Serra do Monte Sagrado. Na sua nova e costurada indumentária o soldado Aquiles Gafanhoto só era ele, a bater continência para Deus e o Diabo. Quando o jipão chegou ao entalhe de subida da Serra do Monte Sagrado, o homem se aventurou a subir por uma gruta de pedras, como sempre ele fizera em tempos passados. O tenente disse logo a Gafanhoto ser o local outro bem diferente.
--- Por aqui soldado. Tem uma geringonça que os rapazes montaram. Venha por aqui! – gritou o tenente para Gafanhoto já em plena ascensão pela estrada que ele sempre galgava.
--- Tenho o que? – perguntou Gafanhoto sem entender muito bem o tenente.
--- Elevador! – gritou o tenente a todo peito.

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