sábado, 26 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 25 -

- Luciana Abreu -
- 25 -
SEM SUCESSO
Logo as primeiras horas da manhã da segunda feira, Antônio Tenório, o Tonheca, filho de João Tenório de Alencastro, o conhecido Coronel Juca, adentrou depressa na sala de almoço do velho pai e foi logo dizendo o que aconteceu no domingo quando o homem estava a viajar para a capital:
--- Os homens levaram as suas ferramentas. E parece que não vão mais voltar! – comentou Tonheca, alarmado com a estória.
--- Que homens? – perguntou o ancião a tomar café e com a boca cheia de cuscuz.
--- Os cientistas. Os homens que estavam na Serra. Agora só tem os guardas. Quatro ou seis. Parece! – relatou outra vez o seu filho Tonheca.
--- Quem disse isso? – perguntou de vagar o ancião.
--- Bem! Foram os vaqueiros. E eu estive pertinho da Serra. – comentou o homem.
--- Ah é? Foram embora, foram? – indagou o ancião com a boca cheia de cuscuz.
--- É. Pelo que se sabe! Foi briga feia! Uns queriam dinamitar a Serra. Outros foram contra! – disse mais o filho Tonheca.
--- Eu já esperava por isso. Esses rapazes não sabem de nada. – comentou o ancião  a engolir seu alimento.
--- E que é que a gente faz agora? – perguntou Tonheca ao ancião com a presença de sua mãe e de outros familiares.
--- Eu não faço nada. Eles são os patrões. Então, se virem! –disse por fim o ancião.
Com isso a historia terminou. Logo após a refeição matinal, o velho Juca foi até a Serra, onde mesmo se podia chegar, pois a vigilância era redobrada, com soldados do Exercito e da Aeronáutica, e olhou para uma escada de ferro, trançada, para um lado e para o outro até chegar ao todo da serra. Alí estava tudo normal. Juca e o seu filho Tonheca discutiram um pouco sobre a feitura da escada e então deixaram de lado. A guarda estava a postos nas suas guaritas: dois policiais da Aeronáutica e outros dois do Exercito. Entre eles, dois cabos: um da corporação do Exército e outro da Aeronáutica. Um jipão do Exército chegou com uma guarda para examinar o movimento dos soldados. Naquela hora eram rendidos os solados que estavam de guarda. Apenas os do Exército. Quanto os da Aeronáutica seriam trocados por sua Corporação quando o jipão chegasse com a nova tropa. O velho Juca quis falar com o cabo de guarda, mas não teve a oportunidade. Para subir na Serra, desde que as Forças Armadas tomaram conta do local, isso ficou proibido. Apenas os cientistas, que eram credenciados pelo Exército e a Aeronáutica poderiam ter acesso ao local. O caso interessante foi a armação da escada, um verdadeiro trampolim para dar acesso ao local. A escada era um vai e vem de cerca de cem andares ou mais. Era uma altura terrível para se chegar topo do local. De muito longe era vista a serra. E os militares montaram a escada em um tempo recorde. Além da escada tinha uma espécie de elevador. Por esse, era mais rápido de se descer ou subir. Por isso, os cientistas usaram o elevador quando foram para as suas residências de vez. Como não tinha nada a fazer para a subida da Serra, o velho Juca desistiu e resolveu voltar. Quando estava em sua casa, ele, ao pensar, resolveu ir até o Comando do Exercito para resolver a questão. E foi isso que fez. De nove horas, o velho Juca mais o seu filho Tonheca chegou ao Quartel Militar. No inicio foi bem difícil. Ele passou por uma guarda, mostrou a sua identidade, a qual ficou guardada na guarita; foi com outro militar ara falar com um tenente; depois seguiu com outro militar para falar com um capitão; por fim foi até um major. Foi uma caminhada e tanto aquela. O major estava ocupado, veio dizer um militar do primeiro escalão. Isto é: um soldado.
--- Não tem importância. Eu espero. – falou o coronel Juca.
E daí, toca a esperar. Foi um tempo sem fim. Quando o coronel Juca foi recebido pelo major, foi passada mais de uma hora. E ao relatar o que teria a dizer ao comandante, veio logo a decepção.
--- Nós estamos sabendo. Mas o comandante saiu por esta manhã. – falou o major.
Juca olhou para Tonheca, seu filho, e disse não ter motivo de esperar, uma vez que o caso dos cientistas já estava encerrado. E deu bom dia ao major, tendo voltado acompanhado por um soldado até a sala do tenente. Ele agradeceu a presteza e saiu para a guarita onde apanhou a sua identidade. Dai em diante só estava pronto a dizer, quando já estava longe do Quartel.
--- BOSTA! – foi o que disse o coronel Juca.
Quando o velho Juca desatou aquilo tão sentido, o filho Tonheca, ao seu lado, procurou acalmá-lo, pois de nada resultava o velho se exaltar. O negócio era ter paciência. Afinal, o Monte Sagrado já era então da esfera federal por ser local então de gente do outro mundo. Mesmo assim, o velho não se conteve e relatou outra vez.
--- Mas é BOSTA! BOSTA! BOSTA! Tenho dito. –reclamou o coronel com ênfase.
Pouco mais tarde, o velho Juca, já em sua casa, mandou chamar o prefeito da cidade, Sebastião Salgado, para ter uma conversa a parte com o mandatário do município. Tao logo recebeu a comunicação, o senhor Salgado, se não correu foi porque a barriga enorme do homem não deixava. Porém, em um minuto largou tudo o que estava por fazer e se largou para a casa do velho João Tenório. Em se tratando de assuntos da administração, o homem corria as pressas. Por isso, tão rápido recebeu a mensagem, mais ainda chegou ao casarão do velho Juca. E como um bom pau mandado, ele estava na cadeira da entrada a conversar com o seu orientador de coisa alguma. Após alguns minutos, o velho Juca indagou ao prefeito:
--- O que você pensa do futuro? – indagou o velho Juca.
--- Futuro? Que futuro, coronel? – quis saber espantado o prefeito.
--- Ora Merda!!! O seu futuro! Não está vendo que tem eleições para deputado? – reclamou o velho Juca.
O demente prefeito sorriu um pouco e em seguida falou.
--- É. Eu não pensei ainda. – falou o prefeito Sebastiao Salgado com um sorriso nos dentes.
--- Pois pense. Pense. Eu vou falar com os meus correligionários para ver o que aceita ser prefeito da cidade por esses dias. Você saindo para deputado, eu tenho que arrumar um prefeito para a cidade. Estou certo seu bosta? – arremeteu o velho Juca em cima do prefeito.
O Prefeito Sebastião Salgado ficou entusiasmado com a ideia de ser o novo deputado do Estado, saído do município de Panelas e arrasar os oponentes da esfera estadual. Com isso, Salgado se dispôs em seguir a frente, tomando as rédeas das eleições logo de imediato. Ele passaria a inaugurar novas obras; calçar ruas; fazer praças; construir um estádio de futebol mais moderno; edificar uma estátua em homenagem ao seu mentor, João Tenório de Alencastro, o esteio da região, e:
--- Tira essa ideia de fazer uma estatua para mim. Você já viu se edificar uma estatua para as pessoas com vida? Tira essa ideia! – refugou o coronel Juca.
--- E que tal uma Igreja no alto Serra? – perguntou o prefeito municipal.
--- Também nem pensar. A Serra é um órgão da esfera federal. Já estou cheio de tanta besteira! – disse o velho Juca cuspindo fumo de lado.
--- Mas nós precisamos homenagear a Vossa Majestade!!! – relatou com ênfase o prefeito.
--- Espera. Espera. Vou lá dentro cumprir uma necessidade. E é melhor pensar em negócios mais amplos! – fez ver o velho Juca se levantando da cadeira e deixado gases para o prefeito cheirar.
O negócio ficou dessa forma em banho Maria. E o prefeito Sebastião Salgado pensando no que seria feito e o velho Juca se espremendo para cumprir as suas necessidades. Com isso, a farra terminou. À tarde, o velho Juca mandou um mensageiro à residência de Orlando Martins a relatar ter assunto para discutir apenas entre os dois. Que Orlando marcasse o local. E o velho estaria pronto para atender o chamado do doutor Orlando.  O mensageiro fez a entrega da missiva e esperou pela resposta. O doutor Orlando Martins coçou a cabeça de um lado e, depois de algum tempo de não mais cinco minutos, disse ao estafeta.
--- Diga ao coronel que eu estarei no hotel às oito horas da noite. Veja o que diz o coronel! – e guardou a mensagem no bolso do paletó.
E o mensageiro voltou disposto com os pés na bunda, em correria infernal. Orlando Martins ficou a olhar e ligeiramente a sorrir como tem certos elementos capazes de vir e voltar com uma simples mensagem do seu patrão. Ao se voltar para dentro de sua casa Orlando notou a presença de Nara, sua primeira esposa, a sorrir contente e a dizer algo cujo teor Orlando compreendeu de certa forma.
--- Não deixe de ir. – disse Nara a sorrir e logo a seguir desapareceu.
O homem ficou inquieto com tal atitude da saudosa esposa e, embora quisesse dizer algo em troca, nada lhe foi possível, pois Nara já não estava presente. Orlando Martins olhou ao seu redor, e ninguém alí estava por perto. De certa forma procurou para ver se avistava a sua atual esposa Laura, porém a esposa estava ausente. Com certeza estaria colocando papinha para a sua filha Amanda. Com isso, o homem se reteve em sua posição de senhor.

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