quarta-feira, 16 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 15 -

- Abbie Cornish -
- 15 -
A IMPRENSA
A imprensa falada, escrita e televisiva esteve no palco da descoberta de discos voadores desde o seu inicio quando nada havia para informar. Nesse tempo, os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas fizeram um apanhado geral do que ainda existia e onde eram permitidos os rapazes e moças entrar. Desse manancial, eles entrevistaram os dois vaqueiros e o auxiliar de veterinário. Porém nada em si eles recolheram de tão importante. Os vaqueiros não souberam dizer coisa alguma. E o auxiliar de veterinário também. Tudo o que eles falavam era que tinha procurado os seus cavalos. Apenas o garoto Paulo foi quem disse ter avistado “uns homens altos” raptando os três homens, sendo dois da casa do velho Juca. E assim, o tempo rolou. Entrevista com os cientistas por que não era permitido pelo Exercito ninguém de fora ou de casa entrar no sitio onde estava à montanha Sagrada. No máximo que se podia fazer era tirar fotos de longe do Monte. E assim passou o tempo com entrevistas aqui, ali, e acolá sem maiores resultados. Uma semana e estava tudo terminado. Quando a Aeronáutica entrou na frente para alugar parte da fazenda de Orlando Martins, então a coisa tomou novo vulto. Os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas tiveram a permissão de fazer matéria do local ermo. E foi assim mais uns três dias. Mas a batalhava não terminava então. Novamente o pessoal de imprensa foi acionado quando se começou a construção do aeroporto. Porém, ali pouco havia a noticiar. E lá se vão os repórteres de mala e cuia para a capital, local de onde vieram. Uma briga ali, outra acola. Isso não dava em nada. Os caminhões tanques do óleo diesel, betume, gasolina e coisa e tal, isso não surtia efeito para uma regular reportagem. Somente quando houve a informação de que um avião caça tinha pedido permissão para aterrissar pois tinha sido procurado por um disco voador, então os profissionais da imprensa voltaram com muita esperança de colher novas noticias. Mesmo assim, não houve vazamento de informação e o comando distribuía nota impressa declarando ter sido um acidente com o avião caça. A nave havia estourado um pneu na hora de aterrissar. Volta todo mundo para trás. Nada conseguia saber de concreto.
--- Vamos lá ao morro, gente! – reclamava o repórter.
--- Vou nada! Lá só tem cobra! – respondia outro decepcionado com o vexame.
--- Pois eu vou! – reclamava o repórter torcendo a sua corda.
--- Vai, pra ver se tu entras! – respondia outro verdadeiramente desenganado.
E nesse ponto estava tudo em banho Maria. Foi então que um repórter conseguiu saber que na tarde do dia passado a Aeronáutica tinha entrevistado um roceiro de nome “Gafanhoto”. E o repórter com seu gravador e sua maquina de fazer foto a tiracolo se pôs a procurar a casa do agricultor o coisa do gênero.
--- O homem mora bem alí. – dizia um outro roceiro.
--- Não! Ali mora um cunhado dele. Ele mora mais pra lá! – comentava outro roceiro.
E caminhando a caminhar, o repórter foi se embrenhado pelo mato até chegar à casa de Gafanhoto.
--- Ô de casa! – bateu palmas o rapaz conhecido entre os demais repórteres como “Sonrisal”, pois botava verme até na própria verme. Era um Sonrisal e tanto aquele repórter magro, gago, malcheiroso a suor e tudo que tinha de ruim para se colocar em um ser humano.
Uma mulher bem magra apontou de entro da casa e de lá mesmo perguntou.
--- O que é, seu moço? – quis saber a mulher do roceiro.
--- É aqui que mora Gafanhoto? – perguntou o repórter Sonrisal a mulher com sua voz gaga e sorrindo.
--- É. Mas ele foi à caça. – respondeu a mulher magra ao repórter.
--- Ele vai demorar? – perguntou Sonrisal a mulher com sua cara cheia de sorriso.
--- Quem sabe? Pode chegar hoje ou amanhã. Ou nem voltar para casa. – respondeu a mulher esfregando um copo em uma toalha de banho.
--- É danado! Eu posso esperar por ele? – perguntou Sonrisal a mulher que estava já com uma colher de pau na mão.
--- Se quiser, pode. Só não sei quando ele volta! – respondeu a mulher meio desconfiada.
--- Vou esperar. Posso? – disse mais Sonrisal.
--- Tá as suas ordens! O chão está aí! Mas pru mode eu saber: o que é que o senhor quer com Gafanhoto? – indagou a mulher sempre posta bem atrás da casa.
--- Nada não. É uma história que ele contou de um Disco Voador. – respondeu Sonrisal, sorrindo como quem não queria a mulher do roceiro.
--- Ah. Pois basta! É invenção dele! Aquilo tem tudo para contar. Dá licença! – reclamou a mulher saindo da porta da cozinha e entrando em um cubículo de dormir.
A tapera de Gafanhoto era pequenas, simples e só rebocava, sem tinta das paredes. Na frente tinha um alpendre onde ao que parece o homem dormia quando podia. Da casa para a cidade de Panelas era um estirão. Com efeito, apesar da modernização sofrida com a chegada do aeroporto, o município continuava em seu remanso. Na cidade tinha um hotel com um bar a funcionar dia e noite. Os outros comércios: tinham. Barbeiro, cabelereiro, modas, dentistas, médicos, casa do queijo, motos, bicicletas. Tudo isso em Panelas havia. Mercado, Igreja e Cartórios. Mesmo assim, o ramo de negócio era ainda bem pequeno. O que mais brotava era o de exportação de algodão. A feira livre era o ponto de encontro dos velhos amigos. Depois da feira e mesmo sem ter mais feira, os velhos amigos jogavam damas e baralhos no meio da rua em uma parte já com o seu calçamento de pedra. Entre outras atividades tinha a indústria de tijolos e telhas. Quando era verão, a indústria prosperava. Mesmo assim, não se falava no Monte Sagrado, região provavelmente rica, pois a serra era um mundo. E Sonrisal, olhando as nuvens do céu nem sequer reparava nesse negocio. Ele nem pensava no carro de som para passava durante o dia pela rua principal da cidade anunciando o “queima” de uma casa de vendas de mercadorias comestíveis. Ou de anuncio da morte de um dos mais velhos homens ou mulheres da cidade. Isso, também fazia o carro de som.
Já era a boca da noite quando Gafanhoto chegou à sua casa. Ele entrou pelo cercado de trás e soube que um homem o estava a esperar desde muito cedo. Foi a sua mulher que acabou de dizer, com o seu jeito arrebitado.
--- Tem um homem ai a tua espera! – declarou a mulher a Gafanhoto entre a panela e o fogão de barro.
--- É os de outro dia? – indagou Gafanhoto a beber uma caneca de água e por na mesa um Tejo.
--- Sei lá! Está lá fora. Mandei ele sentar! Tá no banco. – respondeu a mulher com a cara feia.
Gafanhoto entrou no quarto de dormir, trocou de roupa e se arrumou para ir até a entrada da casa ver quem era o moço a lhe esperar. Cegando ao alpendre, Gafanhoto cumprimentou Sonrisal, moço que já estava a cochilar de tanta espera.
--- Boa tarde. É quase noite. O crepúsculo já está chegando. – relatou Gafanhoto olhando o céu.
Sonrisal despertou da madorna e de repente, a sorrir, cumprimentou o homem igualmente. E logo foi dizendo sua estada naquele pedaço de chão. Ele ouvira falar que um disco voador assombrara Gafanhoto há alguns dias atrás. E o homem respondeu:
--- Homem! Eu não sei o que foi. Era um bicho grande. Ele veio e parou sobre minha testa. Agora, bem alto. Lá em cima. Ele ficou um tempo e depois sumiu. Eu até disse isso as autoridades do campo. – fez ver Gafanhoto coçando a barbicha.
--- As autoridades do campo? Que campo? – perguntou Sonrisal ao homem.
--- Alí. Lá fora. Na base. Eles vieram aqui para eu fazer um discurso para os meganhas e aproveitaram para perguntar sobre o disco.  – relatou Gafanhoto a coçar o pé em uma pedra.
--- Eu sei. Mas o senhor pode contar a historia? – perguntou Sonrisal já ligando o gravador.
--- Posso. Não tem nada de mais. Aliás, teve uma coisa que eu não contei para o comandante. – disse ainda Gafanhoto a coçar o pé descalço.
--- Pois diga! Pois diga! Pois diga! – relatou Sonrisal a sorrir fraco.
--- Posse contar nessa coisa? – perguntou Gafanhoto a apontar o gravador.
--- Pode! Pode! Pode! – disse por sua fez Sonrisal a sorrir desconcertado.
E o homem Gafanhoto contou que na estrada que levava após a Serra do Monte Sagrado, entrando por umas veredas, por cima de tudo, para o meio do caminho, tinha uma base desses Discos. Quando ele era jovem, por varias vezes, passou na vereda, bem no alto, onde os Discos paravam para “dormir”! Foi assim que ele disse.
--- Eles vão dormir lá. – relatou Gafanhoto coçando o pé na pedra.
--- E o senhor viu o Disco? – indagou espantado o jovem Sonrisal.
--- Ver, eu não vi. Mas meu pai me contava que era alí que os Discos dormiam. – disse ainda Gafanhoto.

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