sábado, 30 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quarenta e Tres -

 
- PARIS -
- 43 -
DIAS
Manhã de sol. Nuvem ao poente. Elegante, mente quente. Gente. Quantas e tantas. Edgar vislumbrou cidade luz. Onde estava o primata podia reconhecer (do novo) e dar prova às artes belas do sentir, amar, viver, cantar. Torre Eiffel parecendo gigante. Altaneira, cavalheira, zoadeira. Passos alegre! Ruas desertas, abertas, discretas. O povo a sorrir, ouvir, mirar. Vento fluido do ar revolto das coisas insertas, com tantas improváveis destas. Melancolicamente a aguardar quem passa quem vem quem traça. O senhor do botequim, gordo enfim atento estava. Coisas e casos espalhados pelo chão tão raso. Relógio no braço, pulseira de aço. Cara de palhaço! Camisa sem gola. Contudo enrola a cara amarga a olhar profundo a esse velho mundo de vital desgraça. Um casal à espera de alguém que passa. Blusa escarlate a senhora pensa na praça. Ao lado tem sinônimo de desfaça. Disfarce ao quadro. Esposo fútil “folgado”. Quem? Quem? Quem? Provavelmente embriagado, atordoado, aniquilado. Camisa azul aberta ao peito. Sem jeito. Varão a sorrir por acaso. Asno!
De vez Lenira surge. Pergunta sem querer ouvir e sai. Tropeça. Cai. Edgar suado na primavera manhã nada fala. Apenas cala.
Lenira:
--- Merda! – fala mal a moça ao levantar.
Nair
--- Qu’est-ce? – indaga inquieta.  
Lenira:
--- Não me irrite com seu francês de merda! – falou zangada a ninfa.
Nair:
--- Pardon! Quero dizer: desculpe-me. – resolveu prosseguir acanhada.
Lenira:
--- Café da manhã! – resolveu falar malcriadamente a apontar a direção ocidente.
E indicou para a sala de refeições do hotel. Exímio luxo. Luzes em profusão. Oito cadeiras. E mesa imperial. Marfim, metal, enfim! Bar à moda antiga. Três suntuosos lampiões abertos, acessos, ornados.  Uma leve sineta para chamar garçom. Em total elegância no vestir, Lenira se apoiou com pressa na cadeira da sagrada mesa de real a fim. Os demais – pai e tio – de imediato se acercaram. Nair ainda cosicava algo em suas modernas vetes adquiridas no Rio.
Nair:
--- Merda! Tinha que se atar. – reclamava  impaciente.
Um fiapo de linha a pregar a blusa de tricô. Repleta gente no interior do Hotel a ostentar seus glamorosos vestidos certos da manhã. Sedas em profusão e blusa de filó. Elegância e arrojo no chique da moda primaveril. Um garoto a chorar de repente e a sua mãe ordenava:
Mãe:
Shut up! – falou de olhos abertos e dedos na boca, encurvada para o menino. Cale-se. Era o que ditava a inquieta mulher à sua mesa.
Cuidado! Terna, sente dormente barulho de rebento. Ruas: comércio. Gente louca compra (quase) tudo e nada mais diz contente. A mulher enche sacos de marca menor. Homem olha quem. Outros nem tem (inveja) de conversar inocentes. Carros correm com celebridades contidas, sentidas, fingidas. O mundo à sua volta. Risos só. Majestades a gracejar. Nunca se viu tanta confiança em todos. O mundo a sorrir cantar, contente, capaz de voltar à vinda de todos e outros nem sabe.
Leticia volteou a Praça da Concordia a companhia de Nair. E mais as damas das casas sorriam a admirar retratos de nus expostos em toda parte. Estatua de bronze cobria o visto encanto. Moços a pedalar insistente, contente a ter presente. Isso e mais iguais a ter para sempre ser. Motos discretas, completas. Na garupa a companhia, a companheira, saliente, sorridente, sorrateira.
Lenira:
--- C’est la vie! – gritava então de braços abertos à núbia.
Nair sorria com graça sem fim por está na Cidade Eterna. Era terna, moderna a delirante e irradiante menina-mulher. Encerra!. Crianças meigas a rodar-rondar para sempre e sem parar. Mulheres alegres a sorrir, a brincar com garbo. E festejar. Loucuras: palavras de amar. As inocentes em mente vivente prosseguiam além. Em todo o arfam também. Aperta coração, pois não visitavam mais aquelas travas desacertas de Natal ou e tal. Quartier Latin e qualquer nobre acerto da província amada. A fingir ou mentir as núbias devotavam os cuidados onde fossem amar e iludir eterna emoção. De nu antes disperso em cada verso a querer justo triste lamento. Ação ao qual e tal o qual. Entrais atrás das miríades distantes. Mulheres desatentas tantas antes do vir andantes. Lembranças. Quimeras. Contas. Passa. Termina. Caminhando. E depois. Depois. Ou nada. Além do Nada. Cada qual para o seu largo. Cargo. Tarde, Dia. Noite clara. Indo. Caminhando do lugar em sempre andar. Vindo!
Lenira:
--- Essa mulher tem chame. – diz a núbia ao notar um quadro de dama atriz.
Loucas como o diabo gasta as divinas infantes delirantes gargalhavam sem cessar. Degustar no tempo do arco. Qual Arco? Do queijo, comida mágica. Viva e pronta até mais sempre. Inúmeras expressões da terra amada quente sempre vida. A França – e Paris, por certo - tornou-se conhecida – merecidamente – como a pátria da boa cozinha. Receitas típicas. Sem dúvidas! Pratos clássicos convivem com perfeição às variadas da nova cozinha. Refeição não é apenas alimento. Um ritual em si. O melhor momento do dia – almoço – pode durar até noite. Loire e Bretagne são regiões mais ricas do oeste. Salmão pocheado, enguias, carpas. Várias versões. Na Normandia, os frutos do mar. Leite, manteiga, creme fresco. Variedades a combinar. E mais: carne de cordeiro. Queijos famosos estão na Normandia. Chique – brie, camember, roquefort. Champagner, nome da região. Famosa produção de vinhos espumante. Delícia do outro mundo então. Provence, de frente para o Mediterrâneo. Região de boa comida. E famosa pelo acentuado uso de azeite, alhos, ervas, saladas, tomates, alcachofras. Peixes!
Lenira:
--- Escargot! – falou com emoção
Prato de caracóis cozidos servido nos restaurantes. É tão apreciado a existir inclusive talher especial a degusta-lo. “Foie gras”, alimento feito de fígado de pato ou ganso. - (gordura de fígado) – iguaria popular bem conhecida na culinária (francesa). Sabor descrito como rico e delicado. Ele é vendido inteiro! “Quiche lorraine” tornou-se um clássico das refeições francesas e de bom agrado. O presunto é receita bastante simples e de numerosas variações. A blanquette de vitela é um prato de carne – de vitela, galinha, coelho ou porco -. Embora os vitelos sejam processador de referência. Nas prateleiras, dizia enfim, Nair:
Nair:
--- Mon Dieu! – dito surpreso pela ninfa.  
Lenira:
--- Você ainda não viu nada! – disse de forma estúpida se largou na frente às cortes distantes.
Paris! Sena! Marne-Oise! Antiga capital do Império. Estendida por cinco continentes! A capital do Mundo! As divinas núbias a correr encontro ao verso sangravam astutamente o largar da eterna jovem antiga modesta em fase de festa quieta: Paris das eras! Eras a soluçar dementes do nascer ao poente. As andarilhas em andanças joviais buscavam as fadas do amor demais. Tao logo avistavam alegavam:
Nair:
--- Ali! – recitava surpresa, olhar aberto. Simplesmente a sorrir.
Ruas de Paris! Prédios de Paris! Casas de Paris! À volta ao mundo se aquilatava aos pés das ingênuas, arteiras, esbeltas, tão belas damas de ardor divino! A sorrir, a gritar! Amor eterno a brilhar em êxtase! Majestosamente! Em mágica profusão de cores, odores, horrores, olores! Ambientes escuros, estreitos, estável. Tudo eram canto e encanto às gentis senhoritas juvenis! Becos estreitos de duvidosa arte e manhas notadamente mudas.  Selos de moradia sustentável!
Nair:
--- Qual? Qual? Qual? – indagava com respeito e pressa o local.
Lenira:
--- Lá! – estirava o braço  a apontar.
Museus, edifícios ao longe se intrometendo entre meios lugares asquerosos, mentirosos, então distantes. Equidistantes! A capital das artes e do turismo! Lenira puxava, então, Nair, pelo braço para fugir de acaso nos becos estranhos. Imensos prédios de altíssima qualidade a desabar constante de terna amplitude. A Capital dos Sonhos a desandar para um lado e para outro em busca de seres robustos, embriagados pelo prazer constante.
Nair:
--- Onde? Onde? Onde? – e deixava-se puxar ao reboque de Lenira.
Lenira:
--- Louvre! A vitória voada da democracia! – arrebatava-se em êxtase.
Obras-primas! Contos de Museus! Beijo do Cupido! Pessoalmente o local favorito de quem sabe olhar. Forma de caminhar. Louvre todos os dias! Belas coisas a se consultar. Mergulhar no Louvre é se mantiver desejo. Ensejo do saber profundo e profano dos anos de amplas nobrezas e de requinte pureza! Magistrais humildades das antigas artes de índios e de homens canibais. Todo era novo no velho, antigo, amigo Louvre.
Nair:
--- Aberto? – indagou surpresa.
Lenira:
--- Je sais qu’il ya! – respondeu com pressa.
Eu sei lá. Foi assim expressado.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quarenta e Dois -

- AEROPORTO -
- 42 -
NEGÓCIOS
O dia em canto começou bem cedo na augusta aurora tenebrosa incerta. Ondas dormidas em vagantes cantos. No entanto tudo era ilusão, quimeras. Ó linda imagem sedução donzela, cada vez mais a alusão te espera. Encontrarás mera feição ex-fera. A todo instante de procelas eras.  Eterno mar onde procede a ânsia. Instante nasce navegantes seres. Olhar distrai, alguma coisa canta. E encanta canta as naus distintas velas. Antigo Rio de Janeiro planta. Em tanta coisa encontrarás maus versos. Vive alcançar arcano igual a anjo. O Sol, a brisa, o mar. A prima Vera. Praia a dormir, a cantar, sorrir. Contar. Colar cada instante eterno. Do oceano encontrareis encanto. Da brasa mansa em manso tento verso. Do céu brilhante, pranto delirante. As duas ninfas peregrinam imersa. Quanto mais vê do seu destino o senso. Quanto destino do oceano inverso.
Manhãs, tão belas manhãs. O sol e a solta vida a cantar. Suavidade devagar um tanto. Casais dormidos procurando certo. Lua de prata se anoitece, anda. E quando anda, anoitece inverno. Nair e Lenira atentas a tudo quando dorme a primavera. Velas, ventos, voltam. Pescado e pescador volteiam. Homens rudes, cruéis. Nada importa. É desigual. Igual a tudo. Igual a nada. Marulho do bravio mar. Quanto mais volteia, volta ao eterno procelar do antes. As douradas ninfas se escondem no imenso mar a mergulhar incertas. Levanta a brisa. Mergulha a onda. Assim caminha a suavidade.  Um violão quebra as cordas à melancolia do som. Nostalgia. Rapaz capaz jamais persegue a quem faz rimas de anais. Ciência dos povos. O tempo passa. Máculas horas certas. Do oceano às dunas bravias do Santo das Eras. Damas das Camélias a voltear andar, olhar, morrer de ri algo lá. Vertente, dormente, contente. Eram duas. As damas. Seguiam conversa afora. Dizendo: namorar. Quem: não importa.  Vestes em seda compridas até. A sorrir, gargalhar iguais raposas do mar. Nair ainda notou: duas donzelas a sorrir, a passar lá na calçada do Copacabana do astuto mar.
Então mergulha novamente. Contente ao se abrir em puros sorrisos de encanto ao sair à praia. Delirante. Irradiante. Elegante. Depois da festa, a fase. O oráculo do sentir a imensidão da divinal modestamente mulher ainda incauta tremia de temor.  Pessoas a caminhar no calçadão da Avenida Atlântica. Conversas! Cenas! Risos! Silêncio! Todos a caminhar. Camisa, peito coberto, nada a mostra. Terrível! Era a moda dos anos idos. John Wayne era um jeito só. Não tomava banho de mar. Ele era mais atento sem aumento e desalento. Pelo menos ele em Copacabana. As belas virgens deliravam com esse aparato nato, chato, ingrato. A festa em fase continua. Modelos a exibir suas vestes (sensuais). Os maiôs da moda estavam no auge.
Nair
--- Voir! Que c’est beau! – apontava a ninfa a descortinar belo maiô a cobrir inteiro corpo.
Lenira:
--- C’est la coutume des Amériques! – respondia a moça em contrapartida.
Era o costume das Américas de se usar maiôs composto até. Por isso ser belo.
Nair:
--- Pourquoi seulement dans les Amériques? – indagava surpresa.
Era o costume americano, apenas. Nair entendia plenamente.
Lenira:
--- Em France utilize également ces modèles! – garantia a moça
Esse modelo era universal e, por consequência era usado também em Cannes. Principalmente.
Nair:
--- Voilà? – perguntava a ninfa com surpresa.
Se for modelo universal é claro que se usava desse a apresentar.
Lenira:
--- Bikini! Il utilise-toi! – respondia com unhas nos dentes a observar o desfile de modas.
Biquíni era um modelo inquietante. As jovens ninfas da França o usavam com frequência.
E daí, e daí as exuberantes divas encetaram a vida bem vivida a percorrer cinemas, boates, teatros, cassinos, dança, estonteantes locais de música erudita, bailés, e até óperas no pouco espaço de tempo restante antes de seguir viagem para a capital dos sonhos e poder avistar a bela e eterna cidade de Paris onde se podia notar entre tudo mais inclusive as Deusas do Olimpo, vindas há séculos da Grécia e do Monte Olimpo onde eram afinal residentes. O conhecer o Rio, magistral e incomum, bem diverso da cidade vinda para Nair era o esplendor divinal e fulgurante de noite e dia. Os homens, Edgar e o comandante Ricardo França deliravam de entusiasmo ao perceber as suas divas prosseguir viagem às casas diurnas e noturnas do Rio sempre amado. Ambos sentados no Templo do Glamour em cadeiras macias e confortáveis, apenas visitavam com as suas apropriadas visões o ir e vir das musas virginais. As andanças das musas prosseguiam sem termo, sem fim com maestria. Apenas as duas moças olhava para os “velhos” magnatas a sorrir sem fim.
França:
--- Você sabe quem esteve aqui? – indagou com maestria o comandante.
Edgar:
--- Um mundo de gente. Mas quem? – indagou surpreso
O comandante sorriu e fez o tempo passar. Após, o astuto homem falou:
França:
--- O Rei Alberto I da Bélgica e a rainha Elizabeth. Isso foi em 1920. Faz tempo. Trinta anos! – comentou com agudez.
Edgar:
--- Sim. Ouvi certos comentários. – falou baixo o notável homem
França:
--- O casal veio a convite do presidente do Brasil, senhor Epitácio Pessoa e de sua mulher, Mary Pessoa. Naqueles idos tempos, a Rainha contribuiu para se executar a construção da Igrejinha de Santa Inês, no bairro da Gávea. – sorriu o comandante com maestria.
Edgar:
--- Excelente! O homem sabe tudo! – declarou com simbolismo o velho noivo de Nair.
França:
--- Ora! Ora! Eu apenas escutei conversas de escadas. – sorriu com prazer o comandante.
Edgar:
--- Rolantes? – indagou como se fosse piada.
À noite. Aeroporto. Orly. Estava desimpedida ao tráfego internacional essa base. Era ele o meio principal de transporte aéreo. Vôos nacionais e europeus. Também destinos internacionais. Estados Unidos-Brasil. Chuva fina. Gente muita. Congestionado então. Tempo sem lua. Lugar de espera. Por meia dúzia a era. Quarta meta de gera. Ação nenhuma! Quem dera. Parte interna. Tragédia! Quase muita coisa. Eterna! Precocemente tempo. De chegada! Quimera!  O roncar dos aviões traduzia emoções às mitológicas ninfas “brésilienne”. Evita Peron também chegaria naquela hora. Ou tinha mala especial. As duas amigas a procuraram. Porém não a viram. Apenas souberam por comentários.
Nair:
--- Evita? – indagou preocupada.
Lenira:
--- Oui! – responde a procura com ansiedade da mulher numero UM das Américas.
Nair:
--- Quelle chose!  - destacou deveras preocupada.
Os homens estavam à procura de alguém para despachar as bagagens. Sumiram então! Apenas eles disseram!
Edgar:
--- Espere! Espere! Nós voltaremos! – falou o l’enfant agité de surpresa.
Lenira:
--- Por que ele não diz: I’ll be back? – respondeu murmurando a sobrinha com a mão no queixo.
Nair:
--- Dire quoi? – indagou sem entender ao certo.
Lenira:
--- Nada! Deixa pra lá! As compras! Amanhã decerto! Hoje, dormir na eterna onda! – disse mais
Nair:
--- Mas você não disse que aqui eu devo falar francês? – perguntou indignada.
Lenira:
--- Nem sempre! Nem sempre! Nós estamos juntas. Não tem por que falar francês. – desativou.
O comandante Ricardo França chegou apressado puxando pelo braço um transportador de cargas o qual se fazia de rogado. O Comandante apenas ordenou ser preciso sair daquele entulho de seres “desumanos” porque a hora era tardia. Em seguida, chegara Edgar colhendo informações do seu amigo. E esse respondeu:
França:
--- Agora! Agora! Não tem espera! – disse atordoado o comandante.
Lenira:
--- Que foi? – indagou preocupada a moça a roer os dedos.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quarenta e Um -

- COPACABANA -
- 41 -
- SEGUIR -
 

Três meses, seis dias, cinco horas. Tudo pronto. A partida para o Rio de Janeiro, capital. Nair estava alegre, vibrante, extasiada da vida. Nunca viajara por avião, algo desconhecido de perto. Naquela manhã estival o delírio cativou a ninfa. Cinema, teatro, restaurantes de prima ordem, bares chiques da cidade, boates e clubes sociais ela então já conhecia muito bem. Sabia dirigir automóveis e, por fim, sabia falar francês a qualquer custo e de qualquer preço.

Nair:

--- bonjour, bonsoir, comment allez-vous, rien, mon ami, quelle heure. Je vais au bar. Combien coûte ce diamant? Je vous remercie. Non pas parce qu'il est! Il suffit de demander!

Era tudo ou mais a necessitar ao chegar à eterna e cativante Cidade Luz. A capital dos sonhos dourados, das mulheres elegantes, dos passeios públicos, das feiras livres, de Notre Dame, Torre Eiffel, bolevar Capucins, do rio Sena, dos cafés, do Museu de Louvre, do Champs-Élysées, do Arco do Triunfo, do Bateau-mouche, do Panteão, do Museu de Orsay, do Grand Palais, do Jardim de Luxemburgo, do Olympia, da Praça da Concordia, dos Jardins, do Palácio Royal, do Palácio Eliseu, do Teatro de Châtelet. Enfim! Do mundo ocidental aos seus belos e saltitantes pés. Carros brilhantes, pontes maviosas, barcos a singrar, gente na rua a dançar, cantar, falar, gritar da mais pura alegria do sonhar.

O avião pousou no aeroporto do Rio a pouco menos do meio dia. Fazia sol na cidade, entre os demais passageiros estavam Nair, Lenira, Edgar, o noivo, e por fim, o comandante Ricardo França o pai de Lenira. O comandante solicitou alguns dias de licença para poder seguir com o seu cunhado, Edgar, até Paris. Antes, porém, a turma ficaria em hotel de luxo, em Copacabana. Nesse período, Nair estava admirada pela beleza do Rio antigo e moderno. A sua indescritível ou bem inquieta movimentação desde o aeroporto até a praia onde ficaria hospedada. Por um largo tempo de andanças ao ar, ao mar, ao já, Lenira caminhou pelas calçadas da Praia do Flamengo até entrar no magistral ornado edifício onde ficava o Hotel Copacabana Palace aonde podiam se hospedar figuras importantes de todo o mundo, dentre os quais, André Maurois, Nelson Rockfeller, John Wayne, Errol Flynn e tantos outros homens de negócios e das artes cênicas, pintura, escultura entre os maiores expoentes da construção civil. Copacabana era o imperioso Hotel de inebriante requinte. Presidentes, autoridades, atores, cantores, estilistas entre Condes, Lordes, Príncipes, compositores clássicos dentre os quais se hospedavam no soberbo local. E era de se admirar um Hotel para magnatas, Reis, Rainhas, cantores de óperas e mesmo atores do quilate de Henry Fonda e Douglas Fairbank, maestros como Arturo Toscanini, escritores como Stefan Zweig e Arquiduques como Felipe da Áustria. No Rio de antigas e inquietas tradições onde se podia antever o irrepreensível futuro para a inquieta núbia.

Nair;

--- É luxo! –  comentava com ânsia.

Era um verdadeiro palácio branco de cristal a descortinar o mar, o ar, gaivota a chilrar, barulhar instalados na Avenida Atlântica, onde as maiores e melhores estonteantes belezas transitavam a todo instante na rua além dos morros dos ventos uivantes. O Golden Roon fazia história na música. Golden Roon era A Cúpula de Ouro daquela soberba metrópole e foi à primeira casa de espetáculos da América Latina. No local se apresentavam vozes que marcaram o século. Pela Cúpula se expressaram nomes os mais famosos entre todos os outros tais como Maurice Chevalier, Ray Charles, Edith Piaf, Nat King Cole entre outros enfim. Afinal, o belo magistral e ostentoso Hotel Copacabana Palace tornou-se patrimônio histórico do Rio. Do Rio antigo de doces afetos e enlevos incertos. No eterno Rio era o céu, o mar, o saltar dessa gente feliz. O Rio de amores mil, altaneiros senhores, de instantes ao luar. O afável Rio era o modelo do cantar. Consciente ou não, em seus trajes joviais a ninfa a delirar por quanto desses encantos.

Lenira:

--- Rio das eternas primaveras! – gritava em instantes de braços em cruz a doce e frágil mulher.

No saguão, estavam os ilustres homens a negociar os seus aposentos. Em traje de Comandante o qual não prestava tanto aos ilustres homens do Hotel estava enfim o senhor Ricardo França a indagar das atrações das futuras noitadas no soberbo palácio. E as ninfas podiam admirar a art déco de vertentes à escadaria central em mármore encimada por um painel luxuriante com figuras ostensivamente estilizadas da música e da dança. Pilares de entrada, detalhes em ouro, luminárias e até o inconfundível letreiro externo. Era o decisivo marco referencial na cultura. Inaugurado em 1923, esse impressionante prédio com sua imponente fachada era o hotel de luxo mais tradicional do Rio. O inimaginável projeto arquitetônico do francês Joseph Gire foi inspirado nos empreendimentos hoteleiros da Riviera Francesa. Ao seu exterior foi-lhe conferido um aspecto exterior eclético, com linguagem estilística inspirada na arquitetura sentenciaste da França. Do seu interior se podia contemplar a Avenida Atlântica aberta ao oceano. A sala de música ostentava um piano ocupando um local à diversão de visitantes ilustres entre reis, artistas, chefes de Estado e celebridades mundiais. O portal do irresistível e imodesto império ostentava árvores frondosas do Brasil colonial, como oitizeiros, amendoeiras e algodoeiros, modelos típicos do País. O hall do hotel era em mármore magnífico e lustroso, desenhado em cor sombria e amena. Fundamental para o lançamento de muitos talentos da dramaturgia, o Teatro Copacabana tinha em suas dependências instalado o Cassino. Ao se entrar pelo principal portal notava-se luxuriante iluminação em derradeiro estilo. Havia ainda trabalhos expostos em bolsas, colares, brincos, anéis, pingentes de prata, braceletes e pulseiras. A riqueza e diversidade das peças agradavam sobremaneira aos enigmáticos turistas,

Nair:

--- É arte que consegue reunir elegância – recitou a donzela

Organização de joias ornava o Palácio das Ilusões quiméricas. Um estilo de vida. A arquitetura eclética dava ao recinto a maior quimera de enfeites. Um dos principais estilos da época na augusta e preciosa arte. As estátuas em bronze marcavam o notável ambiente. Refinados salões mostravam a história do hotel mais luxuoso da Capital da República. O sistema de iluminação permitia a sua enorme fachada um leve e brilhante sobressalto mais tanto à noite quanto à luz do dia. O espaço aberto das piscinas era das maiores e mais ostensivas no então Novo Rio. O interior remetia aos maiores templos de glória. O Palace era hotel igual aos de Paris, Florença e então Veneza. A formosura esplendorosa em noite sem e com luar. Nada além faltava na resplandecência daquele santuário. Lampejo eternal das luminárias enfim a gotejar de certo encantos visuais no enternecer das estonteantes quimeras. Cintilação alucinante do  azul do céu a penetrar tranquilo por entre ricas cobertas embranquecidas à luz tênue do abajur lilás. Era o temor, terror, ardor, andar, andor, a dor dos mil e um sonhos atroz. Claros e brancos tapetes permitiam se ouvir silêncio no branquear da vetusta escrivaninha em jacarandá macio.

Batuque! Começa com essa cara que só tara encara! “Pisar no Chão Devagar”! As Ilíadas, fato falado, cantadas nos aedos das epopeias vis, escutavam na ânsia impacientemente do desejo sem beijo das musas escusas escassas nos cantares de um bardo celta.

Nair:

--- Vês?! – indaga surpreendentemente.

Lenira:

--- Teatro? – cuidadosa! Olhares inquietos!

Nair:

--- Oui! – de certo modo falou atenta.

A voz surpresa, miragem indagar, sobrancelhas arqueadas, dedo em riste, para o alto!

Lenira:

--- Ici? - questiona temerosa. A mente vaga. Teimosa forma aberta à mostra.   

Sonhos! Em cantos malemolentes, envolventes, inocentes, ambientes! As musas foram, viram, sentaram!

Nair:

--- Chic! - comentou sentada na cadeira do espetáculo teatral

Lenira:

--- Ça va! – unhas lindas, limpas, tentam dentes.  

O bardo cantava sim. Batuque formado. Gente delirar. Ar ambiente. Mente lugar! Pudera!

Nair:

--- Qui? – surpresa pergunta por alto enfim.

Lenira:

--- Plèbe rude! – fala sem mostras indigentes.

Nair:

--- Souvenez-vous! – relata inconsequente. Mente abstrata.

Lotado ou quase, teatro apresentava um cantor de estrada rara. Augusto Calheiros. Voz fina, firme, feia. A cantoria prosseguia. Batuque, sanfona, gaita. Ele cantava como canta galo. ”Quem quer ser mais do que é fica pior do que está. Quem andar na terra alheia pisa no chão devagar.” Delírios insanos da gente toda do calvário bardo. História antiga. Lendas, poemas. Recitação de repente. Ovação estridente, intermitente, indolente, inclemente. Espetáculo fechado ao seleto público do influente hotel faustoso. O bardo, turuna da mauricéia fazia enorme sucesso com a sua voz estilo peculiar. Vindo das eras de Maceió, Augusto Calheiros teve estreia no Recife e se projetava no Rio com imenso êxito. Era um cantor de quase elite. Sagrado, sangrento, suado.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quarenta -

- ESTUDANTE -
- 40 -
- FRANCÊS -
A professora de Francês, Clotilde Novaes, chegou à mansão de Lenira logo cedo da tarde da terça-feira. Mulher extremamente elegante, de certa forma chegando a se tornar alta e um pouco robusta. Era uma pessoa de finos tratos. Clotilde falava pouco e até certo modo bem tranquilo para não dizer falar baixo. Vestes: traje alongado a cobrir bem boa parte das suas pernas. Um organdi, por certo. Cor cinza claro. Meias soquetes pouco longas. Sapato com salto menos alto. Cor do sapato de couro: preto! As vestes cobriam-lhe todo o corpo. Da gola na garganta ao final bem abaixo do joelho. Cintura atada com faixa da mesma peça. Mangas longas. Rosto sério. Óculos escuros a tirar em seguida e colocar óculos claros e de grau. Sua face era extremante larga. Quem beijaria aquela mulher? Ninguém, talvez. Ou um neto, bisneto, tataraneto, por certo. Livros ao braço. Cadernos também. Caneta de classe elevada, talvez francesa. Bem acertado, porém. Duas! Não! Três canetas bico de pena. Sharpie? Indubitável! Lápis de ponta escura. Uns! Três! Nada mal. A virgem moça a olhar o debater da prima-dona com as suas mãos seguras à cabeça um pouco levemente pensa para o lado da feio-bela insistente lente. A se acolher sentada à mesa da sala, a mestra Clotilde foi à luta sem curta conversa insulta.
Clotilde:
--- Venez! – falou a mulher de sua boa estatura.
Nair;
--- Que foi? – indagou assustada.
Clotilde:
--- Rien! – refalou a mestra.
Nair;
--- Eu não falo inglês, francês, polonês! Mal posso dizer falar português. – explicou com pressa. Cara amarga
Clotilde:
--- Très bien! Mas vai falar. Hoje nós começaremos o nosso estudo. De preferencia em francês, para a senhora entender bem. Tudo será francês. Droite? – falou tranquilamente.
Nair:
--- Ave Maria! Onde amarrei meu jegue?! – revirando os olhos.
Clotilde, a professora, a olhou por cima dos óculos de grau e sem sorrir. Cara trancada. Em seguida a mestra declarou a começar por nomes pessoais, como, eu, tu, ele. Depois de algum tempo, verá o nós, vós, ele. E assim por diante, A conversação era o mais importante para uma ninfa igual à Nair. Na França não era pouco o contingente de gente demente, inconsequente, insistente a procurar trabalho em algum porto de pesca ao largo do Mar Mediterrâneo ou Canal da Mancha. E poucos sabiam ler ou escrever. A Guerra trouxe destroços terríveis. Uma coisa de louco.
Clotilde:
--- Truc de fou. – contestou a mestra sem atinar viva alma.
E Nair, coitada, se assustou por completo. Então indagou:
Nair:
--- O que? – fez cara azeda.
Clotilde:
--- Nada. Allez, allez, allez. – (falou tranquila). – Os nomes pessoais: A senhora sabe haver nomes pessoais? – indagou paciente.
Nair:
--- Nomes pessoais? De gente? Ah! Isso eu sei. Tem dona Yayá, ali. – e apontou para a Rua do Motor.
Clotilde:
--- Pardon. Des noms comme la dame. – explicou a mestra sem sorrisos.
Nair:
--- Ave Maria! Fale em português mesmo. Eu já estou ao desmaio! – insistiu com a cara na tábua da mesa.
Clotilde olhou bem e com vagar. Então deduziu ser até melhor começar com as explicações fundamentais. E assim teve início o drama. E foi dessa forma a primeira aula de Nair a aprender o tal chamado chato, arrasado, amassado francês, a língua do gaulês. E a moça, delirante aprendeu a falar com a boca semicerrada o seu: Je, tu, il. Quanto à senhora, Nair deveria falar em outra forma: Dame. Apenas duas horas de três em três dias, pois a senhora Clotilde estava com demais compromissos a executar no restante da semana. Pela manhã, era impossível. Clotilde tinha aulas na Escola Doméstica, a manhã inteira. À noite, preparava as aulas do dia seguinte. Sábados e domingos eram o descanso, o cinema ou o teatro. Enfim, ninguém era de ferro, por certo e com capricho. A “madame” tinha encontros na Igreja onde rezava após a missa domingueira a discutir murmurante o costume social das grandes metrópoles.  
Ao fim da tarde, chegaram da Escola a senhora Clara e a sua filha Lenira. O comandante Ricardo França já estava a voar traçando o velho firmamento brasileiro de cabo a rabo. A ninfa Lenira, delirante e meiga, foi logo, a saber, como esteve à senhora Clotilde no primeiro dia de aula. A sentimental e doce Nair não teve por menos em declarar:
Nair:
--- Um horror! – desatou a chorar.
Estúpida, Nair não podendo falar demais ainda alegou ser a feia e impenetrável mulher experiente em demasia. Contudo, para uma aprendiza, o dado a fazer era lecionar em puro português deixando de lado o tal francês, espécie de idioma arranhando um pouco o latim e demais noções. E as explicações não terminaram uma vez ter a mestra feita questão em se adquirir enciclopédia (Larousse?), cadernos, livros, lápis, canetas, borrachas e cadernetas de apontamentos entre as giletes. Delirantemente a ninfa chorava de tantos arranhões em suas malfadadas etiquetas de formas e desatinos. A sua amiga íntima Lenira pedia a ter paciência, pois tudo, no começo é sempre dessa forma. E com o continuar, os negócios se transformam em casos da passagem de um inicio do melodrama elementar, complementar e acalmar, de fato.
Nair:
--- Eu disse a mestra não ter nem mesmo o primário completo. O diploma não me foi entregue, pois no dia anterior eu rasguei, sem querer, a minha roupa de cabo a rabo! – lamentava a estudante com lágrimas a verter.
Lenira:
--- Paciência! Paciência! Tudo se contorna. Quanto a livros e dicionário eu os tenho de rumas e você pode escolher o tal qual lhe aprouver. – tranquilizou a fêmea a lhe dar um beijo em sua ornada e cheirosa cabeça sem juízo.
O tempo passou. No domingo, Lenira e Nair já estavam à espera do início da sessão de cinema no Cine Rio Grande. A sala não tinha ar condicionado. Quando as portas fechavam, à tarde, ligavam-se os gigantescos ventiladores. Era a forma encontrada de se refrigerar o ambiente. O cinema era amplo. Não ter ar condicionado era o cúmulo, pois em outras cidades do nordeste havia equipamentos dessa forma. As duas simpáticas amigas escolheram o balcão, parte superior da casa (de cinema). Além do mais era local bem tranquilo, apesar de estar repleto de aficionados da arte fílmica. A casa ainda era nova, cheirando a leite. E se exigia trajes completos para homens, rapazes e mesmo de menor idade os quais estivessem presentes inclusive as damas quer estivessem a frequentar as sessões de luxo com ou sem noivo ou namorado. Na verdade, o cinema não era fausto só em comparação com os outros de arte de Paris. Por isso, era comum se ouvir Lenira declarar em tom suave:
Lenira:
--- Eu gostaria de rever uma peça de René Clair. “O Silêncio é de Ouro”. Ou seu mais recente trabalho, “A Beleza do Diabo”. Mas esse é muito novo. – falou comovida com as suas macias e delicadas unhas presa aos dentes.
Nair;
--- E o de hoje? – indagou sem firmeza e leve acanhada.
Lenira;
--- Crepúsculo? É bom. Billy Wilde. Clássico. Onze indicações para o Oscar. Gloria Swanson em destaque. William Holden. Venceu em três categorias: roteiro, trilha sonora e direção de arte. Este é o melhor de hoje na cidade. – falou mansa a ninfa.
Nair;
--- Não entendo nada dessas coisas. É a primeira vez. E tem cores? – indagou surpresa.
Lenira:
--- Não! Não! Não! Preto e Branco. O colorido não passou mais em Natal: “E o Vento Levou”. É filme de 1939 ou coisa assim. Mas tem outros filmes à cores. Você verá. Quando tiver um filme de arte, nós estaremos nesse palanque de acolchoado. Cadeiras duras. Deixa a gente com a “bunda” doendo! – reclamou a bela e suave diva.
Nair:
--- E o médico? – indagou a lembrar do doutor Narcíseo.
Lenira:
--- Ah. Hoje ele telefonou.  E disse estar de plantão. Nós conversamos um bom tempo. Coisas vãs. O homem é um gigante. – sorriu devagar a bela virgem.
Nair:
--- Algo de concreto? – perguntou de forma perturbadora.
Lenira:
--- Não. Não. Não. Conversas. Puras conversas. – relatou a moça a sonhar com as nuvens.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Trinta e Nove -

- SILFÍDES -
- 39 -
- NOÇÃO -

Com toda certeza, João Mota soube logo. Nair seria boa aluna. Ele a olhou ao entrar pela segunda vez no Buíque, veículo não hidramático, como o de Lenira, porém de excelente qualidade como todos os carros importados dos Estados Unidos. Se bem a Inglaterra, a França, a Itália terem modelos de veículos capacitados sem contar com a Alemanha, ferida da guerra e ainda sem recuperar os estragos de sua máquina automotiva. Por certo, Mota não teria o impacto de mover modelos de outros países, como os europeus, sem falar nos russos, distantes do mercado consumidor do Brasil. Importados pelo país havia poucos carros, tal como o Cadillac, da GM. O cambio automático dava melhor rendimento aos veículos e motoristas além de permitir maior durabilidade e economia do motor, bem como de todos os componentes, tal qual caixa, eixos e diferencial. Todavia, o mecânico não tinha méritos para discutir a qualidade do automóvel, se então soubesse ser um veículo de maior segurança. Na Agencia General Motors, do bairro da Ribeira, João Mota tinha acesso frequente por meio onde o mecânico desmontava e montava uma caixa de marcha hidramática sem pestanejar de certo. Um homem sem instruções era capaz de desfazer e fazer o feito. Enfim, ele era Mota, o mecânico de total esmero. A sua pouca estatura não afetava a grandiosidade do saber.

Com determinação, João Mota fez a volta no Buíque e tomou direção contraria percorrendo a ladeira do Hospital “Miguel Couto” e seguindo pela Rua Nilo Peçanha a terminar em uma região mais tranquila. Quando ele acertou com o ponto alertou à moça:

Mota:

--- Aqui está bom. Não tem movimento de veículos. Rua tranquila. Sem gente, pois quando a senhora estiver dirigindo tenha cuidado com os pedestres. Velhos são mais arriscados. Além disso, tem animais e mesmo outros veículos. Catabirros são piores do que se pode imaginar. Pois, pois. Vamos ver como funciona o automóvel. Uma alerta: a senhora não dirige agora!. E nem vai resolver dirigir onde tem a “telha”!. (e bateu na própria cabeça) Esse é outro assunto. Bem!. O carro está estacionado, paradinho sem mexer com nada. Entendeu? Eu sei que sim!. Para a senhora começar a entender, veja bem. A senhora entra no veículo depois de enxergar se tudo está bem por fora, como os pneus e o tanque de gasolina. Ou outra coisa qualquer, como para-choque. Tudo em ordem e a senhora entra no seu carro. Costume verificar se não tem bichinhos, como escorpião e baratas. Tudo bem. Agora, a senhora se senta e verifica tudo por perto. A chave está em suas mãos. A senhora verifica os pedais. – ele mostra os pedais -. Tem os pedais de embreagem, esse aqui. É como se diz mesmo. Tem o acelerador. E tem o freio. Quando a senhora for dirigir, preste atenção nos sapatos. Eu vejo que a senhora está de sapato de salto alto. Tudo bem. Antes de começar a saída do carro, preste atenção com outros carros em volta. Bonde, inclusive. Então a senhora vai começar a dirigir. Mas não agora!. Espere!. A senhora põe a chave na ignição. Aqui, está vendo? –e olhou para Nair que continuava de braços presos ao busto e sorrindo alegre por demais. – Não é para achar graça! É sério! Pergunte a ele! – e apontou para Edgar. –

Edgar;

--- É sério, meu amor. – respondeu compenetrado e com maior incerteza

E então começou o curso de direção com o motorista em alerta para os trancos e barrancos, a mostrar como se mover o carro. De início, vagaroso! Lento! Cuidadoso! E a moça sem sorrir então prestou atenção a tudo. O noivo, atrás, observava atento! Mota, à direção, apenas falava em “carburador”, radiador, marcha-à-ré, estacionar, largar, acertar, não tocar. Mas, em nada tocar para não atrasar quando sair.  E assim começou a aula de direção.

Mota:

--- Por aqui! Não! Não! Está dirigindo troncho! – gritava insistente o mecânico.

Nair:

--- E eu faço o que? – a perguntar nervosa, com temor.

Mota:

--- Assim! Assim! Veja! – gritava ingenuamente o mecânico a voltear a direção com as próprias mãos.

Esse era o começo! O início! A partida! A invertida! A saída! Assim era o desabrochar da ninfa para seguir adiante nos temores, horrores, terrores da vida da imaginável motorista. Depois, a subida. A descida, a corrida, a batida. Era um mundo para o qual Nair, ao desespero interior se compadecia de ter consentido a fazer e não daquele inacreditável modo da vida a levar. Ao cabo de duas horas, o mecânico, suado, alertado, alterado findou a entregar o volante ao seu dono Edgar. Pronto! Agora, apenas no dia seguinte. A virgem ao dissabor seguiu à sua mansão, então, entrou. Suada! Irritada! Agoniada. Maltratada! Ela jamais saberia o acontecer dos dias a seguir. E assim foi a chama para aquele que clama a proteção de algum modo de viver e de quem ama. E se não ama começa a amar, deleitar, suportar a ânsia de animar.

Meio-dia. Almoço. Lenira indaga:

Lenira:

--- Então? – de olhos acesos e sorrir constante.

Nair:

--- Horror! – falou ligeiro a donzela.

Lenira:

--- Por quê? Tão fácil! Amanhã se aprume! As lições serão “pesadas”! – falou sem insistência.

Nair:

--- Não vou mais! O homem irrita qualquer um! – relatou a ninfa a olhar para um lado e a mão no queixo.

Lenira:

--- Ah vai! Tem que ir! Ora se vai! E tem mais: amanhã começa uma nova etapa na vida! – zangou de outro modo

Nair olhou em troca e quis saber qual era a nova etapa.

Nair:

--- Não quero ouvir tragédia! Já chega! Qual? – indagou surpresa.

Lenira:

--- Francês!  De tarde! A matrona chega! Veja bem! Todas as lições! Etiquetas! – falou enfim com muito esmero.

Nair:

--- O que? – se abusou com a cara amarga.  

Lenira:

--- Não é por mal! Você entrou em um novo mundo! Um mundo esplendoroso! Mágico! Tudo é fascínio! Requinte! Ocidental! Eternal! Perenal! – vibra a moça a iniciar a dança das sílfides! Das melhores elegantes mulheres.

Nair:

--- Não entendo nada! – despachou a moça aquietada em seu sofá.

Lenira:

--- Mas entenderá. Após essa semana tem outra coisa! – relatou com suavidade no olhar e seu modo de sorrir.

Nair:

--- Qual? Pirangí? Já conheço! – destacou a ninfa com voz soturna.

Lenira:

--- Nada de praia! São outras “eras”! – relatou a sorrir constante e a dançar as sílfides com a sua mão no coração.

Nair:

--- Como? – indagou a ninfa com a mão no queixo e a olhar do seu divã de baixo para cima.

Lenira:

--- Mas eternas, seguem sem cruzes, sem flautas, sem arados. São sonhos da vida e do sonhar. Estão perto do mundo e distante do juízo. Qualidades sem limites. Tudo é segredo! Esperemos! – falou elegante a dançar constante.

Nair:

--- Droga! Diga o quê? – perguntou com cismas e inquieta ao se soerguer do sofá.

Lenira:

--- Crepúsculo dos Deuses! – e dançava, dançava, dançava, dançava as lembranças das sílfides.

Nair:

--- Que? – indagou ainda mais misteriosa.

Lenira:

--- Isso! Deuses! Deuses! Deuses! – cantava a bela de forma eternal a bailar.

Então, Nair se aquietou e fez sentar de novo. Ainda indagou meio em dúvida.

Nair:

--- Cinema? – perguntou para saber.

Lenira:

--- Isso! Deuses! Deuses! Deuses! – delirava sem sossego a bela diva.

Nair:

--- Ah! Bom! Melhor! – relatou ansiosa.