- AVIÃO FANTASMA -
- 20 -
APARIÇÕES
O veículo de Edgar adentrou na garagem
da casa onde morava a sua mãe, a irmã, o marido da irmã e mais dois filhos
desse casal. O marido era aviador e não estava em casa. Seu nome era coronel
França – completo Ricardo França -. A esposa Clara, irmã de Edgar. Os filhos:
Lenira, de 26 anos de idade e Nestor, de 24 anos. A mãe de Edgar se chamava Ana
Amélia. Entre versos e contra versos
naquele instante, Clara, a sua irmã, teceu comentário da moça ter chegado à boa
hora, pois a doméstica anterior havia pedido demissão por ter de ir casar no
interior. E não voltaria mais pelo fato do noivo estar a trabalhar na mina de
cobre em outra região distante de Natal. Nesse momento Edgar se deu por feliz
por ter feito uma boa ação na hora certa. A despeito de relatar ser a moça de
boa índole, Edgar Penteado resolveu sair para tomar conta dos seus afazeres na
repartição do Estado. Em sua casa, ficou a virgem moça Nair Pereira, tomando
anotações do fazer e obedecendo as ordens de dona Clara, uma vez ter dona
Amélia idade já tanto avançada para determinar os efeitos. A casa de Edgar
ficava na Avenida Getúlio Vargas, próximo na praia do Meio e local bem chegado
da moradia de Nair. Dona Clara era professora e a sua filha Lenira lecionava
também na Escola Doméstica. Quanto ao rapaz, Nestor, estava a concluir seus
estudos de medicina. Após acertar o que a moça deveria fazer, dona Clara saiu
do local, a cozinha augusta e verdadeiramente rica, e foi ter com sua mãe a
confabular casos e coisas do dia a dia. Uma vez ou outra a nova doméstica saía
para indagar se o almoço era para quatro pessoas. E em resposta recebia não ser
preciso tanta comida assim. E foi assim ter Nair feito às orientadas refeições
para atender inclusive dona Ana Amélia. Por sua idade, a anciã já não comia
tanto assim, logo imaginou a doméstica. Horas foram passadas e ao meio dia
adentrou em sua casa o advogado Edgar Penteado como quase de surpresa.
Amélia:
--- Olha quem chegou? – alertou com
surpresa.
Clara:
--- Bons olhos os vejam! – comentou a
mulher.
Lenira:
--- Meu tio? – confessou surpresa.
Edgar:
--- Eu vim para experimentar da boa
mesa da nova cozinheira. – sorriu com satisfação.
O rapaz, Nestor, nessa altura, ainda
estava no banho. Já observara a moça e indagou quem era a tal. A resposta foi a
de sempre. Uma nova cozinheira. O rapaz se deu por satisfeito. Nada mais
comentou. O advogado Edgar penteado foi ligeiramente ao seu cômodo, um quarto
do meio da casa e por lá demorou pouco tempo. De saída vestia pijama de banho e
se largou para o outro banheiro da casa, vez que o primeiro ainda estava
deveras ocupado por Nestor, o estudante de medicina.
Nair serviu a mesa com a devida
emoção de quem nunca serviu para pessoas nobres. No seu jeito brejeiro, ela
colocou nos pratos de travessas as almôndegas de carne de gado. Bifes
acebolados. Fígado ao molho de cozinha. Carne de gado feita em lombo. Peixe
cozido ao gosto de qualquer um. E por efeitos de sobremesa os doces de goiaba
em calda. Vinhos para quem quisesse saborear na boa mesa. Foi um verdadeiro
festival de augusta frugal mesa.
Edgar:
--- Tudo isso? – indagou inquieto o
dono da casa.
Amélia:
--- Minha filha. Ah como eu queria
saborear desses quitutes. – relatou a anciã.
Lenira:
--- Hum! Cheiroso! Despertou-me o
apetite. – declarou sorrindo.
Nestor:
--- Eu vou comer até dizer basta! –
arregalou os olhos o rapaz.
Clara:
--- Pois comam. Se não esfria. Só falta
aqui é Ricardo, meu digno consorte – disse mais a sorrir a senhora.
Edgar:
--- Pois vou comer por ele! – sorriu o
homem abocanhando um pedaço de fígado.
À noite, Edgar Penteado, quando chegou a
seu solar, já encontrou o comandante Ricardo França. O homem estava a contar
uma aventura por ele passada naquele dia. França vinha do Rio de Janeiro em
plena manhã de sol. Pelos seus cálculos sobrevoava os Céus da Bahia. Na cabine
do aviador estava apenas ele, pois o segundo piloto ou copiloto tinha saído por
uns instantes, com certeza, para ir até o banheiro. Foi nessa ocasião que o
comandante observou uma nuvem de aviões operando em direção à sua nave. Um
deles veio de frente para se chocar em pleno ar. O comandante não teve nada o
que fazer. Manobrar para um lado ou outro se tornava impossível. Ao sentir a
proximidade do gigantesco aparelho de guerra a se aproximar do seu modesto
avião Douglas DC-3, ele apenas baixou a cabeça e esperou o fatal desastre. O
barulho ensurdecedor continuava com todo o ímpeto.
França:
--- Eu não sei. Parecia-me um gigante
como um B-29 Superforttress ou um Lockheed ou mesmo um Comet. Eu sei do barulho
que o aparelho fazia. Eram tantos que o Céu coalhou de aviões de aparelhos.
Parecia uma guerra. Eu me perguntava:
França:
--- Para onde seguem tantos aviões? Cada
qual gigante! – dizia o comandante em sua cabine.
E o avião gigante veio em frente do seu
modesto Douglas como estar a engolir todo o aparelho e, de imediato,
desapareceu como por encanto. E todos os outros aparelhos de guerra também
sumiram. O comandante apenas disse ter estado em uma guerra que não existiu. O
seu aparelho, por sorte ou por sonho, não foi tragado pelo outro gigantesco
avião. O comandante estava em delírio por não saber explicar coisa alguma. Quando aterrissou no aeroporto de Salvador,
pediu ao copiloto assumir o controle,
pois estava passando mal. Porém não falou nada mais da sua saúde. Ainda
em delírio, continuou com o copiloto até chegar a Natal. Desde então nada
respondeu sobre a invasão do Céu brasileiro por outras aeronaves nem tão
visíveis. França pesava apenas em fraqueza mental. A desembarcar do aparelho, o
comandante tomou o seu carro e rumou para a sua residência para então repousar
qualquer tempo. Ele sabia se falasse algo demais, ficaria retido para maiores
explicações. Como estava apenas como piloto do Douglas, ele foi o único a
observar o enxame de aeronaves inexistentes no céu da Bahia. E desse exame,
apenas um gigantesco avião engoliu o seu modesto Douglas.
França:
--- Eu não posso acreditar no que vi.
Estou contando agora, pois sei de da nossa casa não vai sair coisa alguma. –
refletiu o homem pedindo clemência.
Clara:
--- Ora querido. Isso foi apenas uma
sugestão. Você está cansado. É preciso repousar. – disse-lhe a sua esposa.
Edgar:
--- Veja bem, caro cunhado. Durante a II
Guerra, recentemente finda, muitos acidentes aéreos ocorreram provando a existência de evidencias
ligando nosso mundo a outro. São portais. Na Europa se chocaram inúmeros aviões
de combate causado a morte de centenas de pessoas. Agora, relatos sobre
aparições fantasmagóricas de aviões misteriosos têm sido contados por diversas
testemunhas. Tem casos de aviões que passam sobre pessoas e se chocam contra um
morro ou desaparecem no ar. Aviões de cargas modelo Hércules aparecem e
desaparecem do nada voando baixo. Fatos ocorrem e por mais que se tente estudar
não se chega a nenhuma explicação. Vultos misteriosos. Sons estranhos,
calafrios, névoas que desaparecem em algum lugar. Visões de pessoas que já
faleceram. Objetos que desaparecem e reaparecem sem explicações. Aviões e
navios a desaparecer sem deixar rastro. Seres bizarros são vistos por inúmeras
pessoas. Vultos onde não há ninguém. Isso é uma prova de que não estamos sós. –
explicou pacientemente o seu cunhado.
França:
--- E agora? O que eu faço? –
perguntou-lhe a tremes as pernas.
Edgar:
--- Dê o seu depoimento. Isso é
sigiloso. Mas o meu conselho é esse. Conte tudo o que viu e ouviu sob o céu da
Bahia. – recomendou o cunhado.
França:
--- Mas eu posso perder o emprego! –
relatou o homem a tremer.
Edgar:
--- Então não conte. Mas, veja bem. Não
é só você que já tem visto esses fantasmagóricos aviões a voar noite e dia. São
muitas as pessoas. Por isso eu digo: dê o seu depoimento. Que perca seu
emprego. Mas você ficará famoso como o homem que esteve na imaginária guerra. –
e sorriu o seu palestrante.
Clara:
--- Sendo eu não contaria. – disse a
mulher comum pouco de dúvidas.
França:
--- Eu vou dar o meu testemunho. Seja o que
Deus quiser. Amanhã vou ao aeroporto e busco as autoridades do setor. Pode ser
que alguém tenha visto também. Eu vou contar. – relatou com bastante ênfase.
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