quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Vinte -

- AVIÃO FANTASMA -
- 20 -
APARIÇÕES
O veículo de Edgar adentrou na garagem da casa onde morava a sua mãe, a irmã, o marido da irmã e mais dois filhos desse casal. O marido era aviador e não estava em casa. Seu nome era coronel França – completo Ricardo França -. A esposa Clara, irmã de Edgar. Os filhos: Lenira, de 26 anos de idade e Nestor, de 24 anos. A mãe de Edgar se chamava Ana Amélia.  Entre versos e contra versos naquele instante, Clara, a sua irmã, teceu comentário da moça ter chegado à boa hora, pois a doméstica anterior havia pedido demissão por ter de ir casar no interior. E não voltaria mais pelo fato do noivo estar a trabalhar na mina de cobre em outra região distante de Natal. Nesse momento Edgar se deu por feliz por ter feito uma boa ação na hora certa. A despeito de relatar ser a moça de boa índole, Edgar Penteado resolveu sair para tomar conta dos seus afazeres na repartição do Estado. Em sua casa, ficou a virgem moça Nair Pereira, tomando anotações do fazer e obedecendo as ordens de dona Clara, uma vez ter dona Amélia idade já tanto avançada para determinar os efeitos. A casa de Edgar ficava na Avenida Getúlio Vargas, próximo na praia do Meio e local bem chegado da moradia de Nair. Dona Clara era professora e a sua filha Lenira lecionava também na Escola Doméstica. Quanto ao rapaz, Nestor, estava a concluir seus estudos de medicina. Após acertar o que a moça deveria fazer, dona Clara saiu do local, a cozinha augusta e verdadeiramente rica, e foi ter com sua mãe a confabular casos e coisas do dia a dia. Uma vez ou outra a nova doméstica saía para indagar se o almoço era para quatro pessoas. E em resposta recebia não ser preciso tanta comida assim. E foi assim ter Nair feito às orientadas refeições para atender inclusive dona Ana Amélia. Por sua idade, a anciã já não comia tanto assim, logo imaginou a doméstica. Horas foram passadas e ao meio dia adentrou em sua casa o advogado Edgar Penteado como quase de surpresa.
Amélia:
--- Olha quem chegou? – alertou com surpresa.
Clara:
--- Bons olhos os vejam! – comentou a mulher.
Lenira:
--- Meu tio? – confessou surpresa.
Edgar:
--- Eu vim para experimentar da boa mesa da nova cozinheira. – sorriu com satisfação.
O rapaz, Nestor, nessa altura, ainda estava no banho. Já observara a moça e indagou quem era a tal. A resposta foi a de sempre. Uma nova cozinheira. O rapaz se deu por satisfeito. Nada mais comentou. O advogado Edgar penteado foi ligeiramente ao seu cômodo, um quarto do meio da casa e por lá demorou pouco tempo. De saída vestia pijama de banho e se largou para o outro banheiro da casa, vez que o primeiro ainda estava deveras ocupado por Nestor, o estudante de medicina.
Nair serviu a mesa com a devida emoção de quem nunca serviu para pessoas nobres. No seu jeito brejeiro, ela colocou nos pratos de travessas as almôndegas de carne de gado. Bifes acebolados. Fígado ao molho de cozinha. Carne de gado feita em lombo. Peixe cozido ao gosto de qualquer um. E por efeitos de sobremesa os doces de goiaba em calda. Vinhos para quem quisesse saborear na boa mesa. Foi um verdadeiro festival de augusta frugal mesa.
Edgar:
--- Tudo isso? – indagou inquieto o dono da casa.
Amélia:
--- Minha filha. Ah como eu queria saborear desses quitutes. – relatou a anciã.
Lenira:
--- Hum! Cheiroso! Despertou-me o apetite. – declarou sorrindo.
Nestor:
--- Eu vou comer até dizer basta! – arregalou os olhos o rapaz.
Clara:
--- Pois comam. Se não esfria. Só falta aqui é Ricardo, meu digno consorte – disse mais a sorrir a senhora.
Edgar:
--- Pois vou comer por ele! – sorriu o homem abocanhando um pedaço de fígado.
À noite, Edgar Penteado, quando chegou a seu solar, já encontrou o comandante Ricardo França. O homem estava a contar uma aventura por ele passada naquele dia. França vinha do Rio de Janeiro em plena manhã de sol. Pelos seus cálculos sobrevoava os Céus da Bahia. Na cabine do aviador estava apenas ele, pois o segundo piloto ou copiloto tinha saído por uns instantes, com certeza, para ir até o banheiro. Foi nessa ocasião que o comandante observou uma nuvem de aviões operando em direção à sua nave. Um deles veio de frente para se chocar em pleno ar. O comandante não teve nada o que fazer. Manobrar para um lado ou outro se tornava impossível. Ao sentir a proximidade do gigantesco aparelho de guerra a se aproximar do seu modesto avião Douglas DC-3, ele apenas baixou a cabeça e esperou o fatal desastre. O barulho ensurdecedor continuava com todo o ímpeto.
França:
--- Eu não sei. Parecia-me um gigante como um B-29 Superforttress ou um Lockheed ou mesmo um Comet. Eu sei do barulho que o aparelho fazia. Eram tantos que o Céu coalhou de aviões de aparelhos. Parecia uma guerra. Eu me perguntava:
França:
--- Para onde seguem tantos aviões? Cada qual gigante! – dizia o comandante em sua cabine.
E o avião gigante veio em frente do seu modesto Douglas como estar a engolir todo o aparelho e, de imediato, desapareceu como por encanto. E todos os outros aparelhos de guerra também sumiram. O comandante apenas disse ter estado em uma guerra que não existiu. O seu aparelho, por sorte ou por sonho, não foi tragado pelo outro gigantesco avião. O comandante estava em delírio por não saber explicar coisa alguma.  Quando aterrissou no aeroporto de Salvador, pediu ao copiloto assumir o controle,  pois estava passando mal. Porém não falou nada mais da sua saúde. Ainda em delírio, continuou com o copiloto até chegar a Natal. Desde então nada respondeu sobre a invasão do Céu brasileiro por outras aeronaves nem tão visíveis. França pesava apenas em fraqueza mental. A desembarcar do aparelho, o comandante tomou o seu carro e rumou para a sua residência para então repousar qualquer tempo. Ele sabia se falasse algo demais, ficaria retido para maiores explicações. Como estava apenas como piloto do Douglas, ele foi o único a observar o enxame de aeronaves inexistentes no céu da Bahia. E desse exame, apenas um gigantesco avião engoliu o seu modesto Douglas.
França:
--- Eu não posso acreditar no que vi. Estou contando agora, pois sei de da nossa casa não vai sair coisa alguma. – refletiu o homem pedindo clemência.
Clara:
--- Ora querido. Isso foi apenas uma sugestão. Você está cansado. É preciso repousar. – disse-lhe a sua esposa.    
Edgar:
--- Veja bem, caro cunhado. Durante a II Guerra, recentemente finda, muitos acidentes aéreos  ocorreram provando a existência de evidencias ligando nosso mundo a outro. São portais. Na Europa se chocaram inúmeros aviões de combate causado a morte de centenas de pessoas. Agora, relatos sobre aparições fantasmagóricas de aviões misteriosos têm sido contados por diversas testemunhas. Tem casos de aviões que passam sobre pessoas e se chocam contra um morro ou desaparecem no ar. Aviões de cargas modelo Hércules aparecem e desaparecem do nada voando baixo. Fatos ocorrem e por mais que se tente estudar não se chega a nenhuma explicação. Vultos misteriosos. Sons estranhos, calafrios, névoas que desaparecem em algum lugar. Visões de pessoas que já faleceram. Objetos que desaparecem e reaparecem sem explicações. Aviões e navios a desaparecer sem deixar rastro. Seres bizarros são vistos por inúmeras pessoas. Vultos onde não há ninguém. Isso é uma prova de que não estamos sós. – explicou pacientemente o seu cunhado.
França:
--- E agora? O que eu faço? – perguntou-lhe a tremes as pernas.
Edgar:
--- Dê o seu depoimento. Isso é sigiloso. Mas o meu conselho é esse. Conte tudo o que viu e ouviu sob o céu da Bahia.  – recomendou o cunhado.
França:
--- Mas eu posso perder o emprego! – relatou o homem a tremer.
Edgar:
--- Então não conte. Mas, veja bem. Não é só você que já tem visto esses fantasmagóricos aviões a voar noite e dia. São muitas as pessoas. Por isso eu digo: dê o seu depoimento. Que perca seu emprego. Mas você ficará famoso como o homem que esteve na imaginária guerra. – e sorriu o seu palestrante.
Clara:
--- Sendo eu não contaria. – disse a mulher comum pouco de dúvidas.
França:
--- Eu vou dar o meu testemunho. Seja o que Deus quiser. Amanhã vou ao aeroporto e busco as autoridades do setor. Pode ser que alguém tenha visto também. Eu vou contar. – relatou com bastante ênfase.

Nenhum comentário:

Postar um comentário