- DESASTRE -
- 17 -
- MISTÉRIO -
No sábado, Edgar Penteado já estava
na fazenda verificando os negócios feitos durante a sua ausência na recente
semana. Porém não se esqueceu da conversa tida no dia anterior com o ancião
Melchiardes em evidencia o caso relacionado com o chamado poltergeist ou ruídos
dos espíritos. Menina de 13 anos
impressionava pais e amigos ao relatar fatos os quais teriam de acontecer muito
antes de se ouvir falar. Em Acari, município do Rio Grande do Norte existia uma
garota bem precoce a anunciar casos a ocorrer. Muitas vezes não ninguém dava a
menor importância. Contudo, sempre o acontecido vinha à tona horas depois.
Professores, pastores e até mesmo o sacerdote do município foi chamado para
conversar com Iraci, a menina que adivinhava de forma inocente os
acontecimentos, muitos dos quais, eram desastres com vitimas fatais. A menina
dizia simplesmente que era certo o que via ou ouvia nas suas visões. Os
acontecimentos a menina pensava ainda quando era uma menor de três anos de
idade. Um vaqueiro que seria morto nas suas andanças. Cobras a surgir em uma
residência ou uma queda de um buriti viçoso e forte. As pessoas não dava muito
crédito ao sugerido. Quando não mais se esperava o desacerto estava feito.
Visões como lamparinas a se apagar de um momento para outro. Esse era uma visão
tão comum da menina e, não raro, as pessoas procuravam sorrir e mandar dizer a
Iraci. A falta de chuva por sete anos era o comum de Iraci prognosticar.
Iraci:
--- Só chove daqui a sete anos. –
dizia a menina quando ainda tinha cinco anos de idade.
Na verdade, o sacerdote da paroquia
começou a levar em consideração tal ocorrência. Mesmo os estudiosos confirmavam
a seca no sertão de Acari e outros municípios. Uma vela a se apagar, uma
estrela a mudar de posição. Eram casos normais para uma menina de pouca idade a
acertar.
Comuns:
--- Ela tem parte como demônio! –
relatavam assombradas as mulheres que faziam rezas para tirar os maus espíritos
da menina.
O tempo foi passado, a idade
avançando, e a menina, com seus sete anos enxergava tudo de bom ou de mal a
ocorrer. Certa vez, um caminhão passou pela cidade e Iraci olhou bem para o
carro e diagnosticou:
Iraci:
--- Vai virar naquela curva. – disse
a menina a sorrir.
As outras meninas continuavam a
brincar com as suas bonecas sem dar atenção qualquer ao falar de Iraci. Com
poucos instantes, chegava a noticia da capotada do caminhão. A menina não se
importava e continuava a brincar com as suas bonecas. Nessas brincadeiras,
tinha uma boneca de Iraci um pouco diferente. A boneca adivinhava o que a
menina falava, pois tudo o que Iraci dizia era a boneca quem informava com
antecedência. E a menina com seus cinco, seis, sete anos ou mais guardava a
“bruxa” em seu dormitório particular. Ruídos e espíritos eram o comum da menina
já com seus oito ou dez anos relatar. Nas brincadeiras de infância ou mesmo nos
estudos, não se ouvida falar Iraci de casos anormais. Apenas a garota contava
sobre as ocorrências sempre a acontecer fora da sua vontade, como pedras
rolando, chinelos andando, vassouras voando. Ela sempre dizia casos angustiantes.
Porém Iraci falava de uma forma sorridente. Na escola Iraci sabia mais que as
outras crianças. De modo o que estaria a acontecer na aula daquele dia. Eram
fenômenos sobrenaturais aqueles de Iraci. Até mesmo quando estava sadia, a
moça, já estando com 17 anos, relatou as suas companheiras que era a ultima vez
das suas conversas, pois naquela noite ela teria morte natural. As moças se
assustaram e fizeram rezas para Iraci. No entanto, quando chegou o dia
seguinte, Iraci tinha morrido em seu leito e ninguém soube a razão. Eram casos
dessa natureza da mocinha. Certo tempo, Iraci apareceu com um ancião e disse a
uma de suas amigas:
Iraci:
--- Esse é o meu pai da geração que
eu vivi. Eu voltei para junto dele e estamos cientes que as minhas premonições eram
de fatos elementares. Eu espero que vocês instalem um centro na cidade e
dediquem seus tempos livres a lecionar as crianças pobres. À noite, vocês façam
reuniões abertas a todos os habitantes. Eu estou com vocês. Eu, mau pai e todos
os entes que podem ajudar a vocês. Não se admirem. Eu estou muito bem. – foi o
que disse a moça já desencarnada.
A amiga de Iraci, a senhora Maria do
Carmo, procurou fazer orações para o espírito da jovem e nunca procurou abrir o
Centro Espirita com temor de ser chamada pelos convivas da mulher do ser
misterioso. Com o tempo, dona do Carmo pediu transferência do emprego, na
repartição do Estado e foi morar da Capital. Certo dia, ao cruzar a rua do
centro da cidade, Do Carmo topou com a figura de Iraci. E essa, de modo delicado,
teve de lhe dizer a procurar o Centro Vitor Hugo, pois naquele local
encontraria paz de espíritos para as suas aflições. Do Carmo sofria com o
casamento desfeito, a morte de uma filha, a embriaguez de outro filho,
perseguição no trabalho e coisas normais de uma cidade grande. A senhora olhou
bem a moça sempre a sorrir a sua frente. E de um momento para outro a aparição
sumiu de vez.
O Doutor Edgar Penteado estava
imbuído em tais pensamentos quando adentrou em seu escritório, na fazenda, o
homem de confiança, Manoel Carrapicho para prestar contas do apurado da semana
com a venda de frutas, leite, gado dentre os mais. O dia avançava e dona Deodora
cuidava da fazenda, almoço dentre os mais. O seu marido, Carrapicho, bateu a
porta do escritório, entregou os recibos de venda e por ali ficou. Ele estava
de pé e assim ficou. Por pouco tempo, pois o doutor Edgar o mandou se sentar.
Colhia umas e outras informações e respondia Carrapicho de tudo o que sabia. A
certa altura, o capataz fez uma careta colhendo o rosto para a direita e então
o advogado teve a impressão de notar certo temor. Foi aí a indagar com
paciência.
Edgar:
--- Algo de anormal? – perguntou o
doutor.
Carrapicho:
--- Nada não. Apenas não matei o
sono. Eu durmo às sete da noite e acordo às três da manhã. Mas, de um tempo
para cá, não tenho mais sono. Não seu o que deu em mim! – falou de modo como
quem não queria dizer algo mais resguardado.
Edgar:
--- É a vida. A gente vai ficando
mais velho e tudo ocorre. Até o sono se perde. – confessou o advogado.
Carrapicho.
--- Pode ser a idade. Eu tenho tido
um sono que me acorda no meio do acontecido. A mulher diz que eu falo demais.
Coisas que eu nunca sei o que foi. – relatou o homem a coçar a cabeça.
Edgar:
--- E Deodora não sabe de nada
também? – indagou o advogado.
Carrapicho:
--- Não. Mas presente que eu falo de
coisas estranhas. – disse mais o serviçal
Edgar:
--- Eu sei. Quer dizer. Eu
compreendo. O sonho sempre é o passado. A gente vive mais de uma vez. Às vezes
se sonha com o passado distante. De outra existência. – falou de forma
tranquila
Carrapicho:
--- Sei não. Eu tive outra vida? –
indagou o capataz.
Edgar:
--- Todos nós tivemos. Um, duas,
três. É se morrendo e tornando a renascer. – explicou.
Carrapicho:
--- Renascer? Como assim? Não entendo
nada. Pra mim, quem morre acaba. – disse
Edgar.
--- É verdade. O corpo. Mas a gente
tem o espírito. Esse não morre. Sai por uns tempos e procura outro corpo para
se reencarnar. – falou com jeito de falar.
Carrapicho:
--- Como? Não entendo. Isso é pura
ilusão. – respondeu o capataz.
Edgar:
--- Você já ouviu falar em
assombração? – indagou o advogado.
Carrapicho:
--- Isso é pra quem é fraco.
Malassombro! Não acredito nessa coisa! – respondeu o homem.
Edgar:
--- Está bem. Quando você acreditar
nesse tal de Malassombro, então nós podemos conversar! – sorriu o homem a fazer
seus apontamentos.
Carrapicho:
--- Mas me diga uma coisa? O senhor
já senhor com um parente? – perguntou sem alarme.
Edgar:
--- Muitas vezes. Uns que eu nem
conheci. Mas eles me procuram. – relatou
sem pressa.
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