domingo, 15 de maio de 2011

DESEJO - 46 -


- Charlize Theron -
- 46 -
Naquela mesma tarde Armando Vidigal retornou a capital deixando a direção do veiculo na responsabilidade de sua noiva, Norma. Eles foram até a mansão da praia onde trocaram de roupas. Na saída do município, Norma Vidigal pegou um atalho para evitar passar pelo local do acidente da manhã. Eles se conservaram calados. No meio do caminho, Armando dormiu por causa do cansaço da lida vivida pelo rapaz. O automóvel corria veloz por entre a estrada a fora depois de deixar a via de atalho. Eram já cinco horas da tarde quando Norma estacionou o auto na porta de sua casa. Foi então que Armando despertou. Meio zonzo, o rapaz indagou a moça se já estava em sua casa.
--- Chegamos agora. – respondeu Norma ao descer do automóvel.
--- Eu vou para a redação do jornal fazer a matéria. – relatou Armando boqueaberto.
--- Antes vai tomar café. Eu estou cheia de náusea. – retrucou a moça.
--- Não tenho nem apetite, - disse o rapaz descendo do carro.
--- Mas tome assim mesmo. Fortalece. Depois você vai dormir. – sorriu a moça.
--- É verdade. Mas eu venho aqui, antes. – disse Armando um tanto desconfiado.
Com isso, a moça sorriu.
Logo ao chegar à redação do jornal A IMPRENSA, o rapaz notou presença no seu interior. A repórter Marta Rocha estava a fazer matéria para a segunda feira, quando nem era preciso fazer noticias para o jornal. De vestido levantado ate as coxas, mostrado bem ampla a sua formosura, ela nem ligou para o fato ao ver Armando Viana. Apenas indagou sobre sua presença naquele inicio de noite da redação.
--- Acidente na estrada. E o que fazes? – indagou Armando ao mesmo tempo.
--- Acidente na praia com um helicóptero. Canindé está revelado as fotos. – expôs Marta.
--- Ah Bom. Eu tenho também umas fotos para ele revelar. – narrou Armando.
--- Bata que ele está lá dentro. – expôs Marta.
E Armando Viana se voltou para o laboratório sem perder a oportunidade de olhar com maior afinco as pernas desnudas de Marta. A moça nem ligou para o fato, pois estava a redigir com pressa, pois logo teria de sair. Ao ver Armando se retirar do recinto, Marta ainda disse sobre o acidente daquela tarde.
--- Três mortos. Piloto, co-piloto e um cinegrafista. – relatou Marta a Armando.
--- Aqui são treze mortos de dezessete feridos. – retribuiu Armando sem sorrir.
--- Dia de cão. – conversou Marta sem se virar nem descer o vestido continuando a mostra as coxas.
E Armando bateu a porta para entregar o filme ao seu amigo Canindé. Esse veio com pressa e foi logo dizendo.
--- Estou ocupado. – falou Canindé fotografo.
--- Tem mais esse filme. – relatou Armando.
--- Ora merda! Quantas cópias? – indagou Canindé.
--- Veja qual a melhor. Vou fazer a matéria. – respondeu Armando.
--- E tem matéria? – estranhou Canindé ao receber o filme.
--- Tem. Tem. Vou bater. – disse Armando cabisbaixo.
Após algum tempo Marta terminou de redigir a sua matéria e entregou a Armando dizendo das fotos estarem com Canindé. E então, a moça saiu às pressas. Armando ainda indagou como a moça fez a cobertura. Ela nem mais ouviu e desceu as escadas dando para a rua do jornal e foi embora. Com certo tempo apareceu Canindé e entregou as fotos de Marta dizendo serem as de Armando entregues logo após.
O Jornal A Imprensa teve de fazer um extra para noticiar os dois fatos de maior importância naquela segunda feira. Na manhã da segunda feira estava Canindé e Armando a escutar as conversas no café do mercado publico. Era cedo da manhã e, como de costume, Armando já estava verificando os preços da carne verde, pois temia nova subida de preço. A mulher da banca de café era quem mais reclamava.
--- Isso é uma desgraça. Subiu de novo. – reclamava dona Gloria a todo custo.
--- Sirva rato. – relatou um consumidor a sorrir.
--- Só se for. – reclamou Dona Gloria entrando e saindo do  café.
Canindé se despediu de Armando Viana dizendo que “ia ali” e desceu os degraus da escada de trás do Mercado.
--- Aonde você vai? – perguntou preocupado Armando.
--- Te interessa? Vou ali! – disse Canindé com cara de zanga.
--- Ora porras! Interessa sim! – respondeu Armando com toda a zanga.
Logo mais tarde Armando Viana estava em seu Gabinete a despachar quando, de repente, entrou no recinto o jornalista José Fernandes. Não foi imediata surpresa para Armando, pois o Secretario havia mandado um recado para o jornalista. E queria vê-lo o mais breve possível. Os dois jornalistas começaram a conversar sobre assuntos diversos até chegar ao ponto preferido do Secretário.
--- E então? – perguntou José Fernandes.
--- Bem. Nem vou falar em ordenado. Quero você na direção do Jornal A IMPRENSA. – relatou o Secretário Armando ao seu colega.
--- É danado! Só isso? – perguntou José Fernandes.
--- Só. Eu acumulo hoje esse cargo. E tenho que por uma pessoa de minha maior confiança para dirigir o jornal. E é só isso. – falou Armando se espreguiçando na poltrona.
--- Você sabe que eu tenho outro emprego? -  indagou              Fernandes a sorrir.
--- Nem sei e nem quero saber. Você vai dirigir A IMPRENSA e pronto. – reclamou Armando.
--- E quanto você me paga? – sorriu Fernandes olhando de frente Armando.
--- Sei lá! Dois mil reis. Estamos conversados. Você vai a partir de hoje e pronto. Você tem os melhores repórteres do Estado. Certo? – indagou Armando.
--- Está bom. Mas deixa-me eu pedir demissão do seu segundo jornal. Então, eu vou para o outro. – sorriu Fernandes sem muita pressa.
--- É HOJE!!! Estamos entendidos? – falou sério o Secretário Armando.
--- Escute bem. Eu preciso de um emprego para minha esposa. Uma sinecura por assim dizer. – sorriu Fernandes.
--- Lá vem você com sua sacanagem. Vá. Vá. Eu sabia que era assim. Ponha no meu Gabinete. – relatou Armando.
--- Tá doido? Prá você devorá-la? – argüiu Fernandes a sorrir.
--- Vai dar. Pega o bonde e suma daqui. HOJE! – voltou a lembrar Armando.
--- Tá bom seu doutor, Tá bom. É hoje. E pronto. – sorriu Fernandes e se levantou para sair do Gabinete.
Armando Viana ficou a olhar o rapaz a sorrir também. Nesse momento, entrou no Gabinete o seu velho amigo Canindé com as suas “novas” noticias. E foi dizendo:
--- É fogo! Muito fogo! Quero um repórter! Uma fábrica de tecido esta ardendo em chamas. As fotos eu já fiz. Manda um repórter para colhera o assunto. E depressa! – reclamou Canindé.
--- Tá bom. Você chama Jota Bulhões. Ele está ai. – declarou Armando dizendo a seguir ser o novo redator chefe o rapaz José Fernandes.
--- Ah Bom. Ele vai saber o que é bom pra tosse. – de imediato se virou para Fernandes.
--- Pois é amigo. Só me arranjam cargas d’água. Só falta me trazer um trem, pegando fogo no mar! Chama Bulhões! – relatou o novo redator do Jornal A Imprensa.
E foi assim que Fernandes começou o seu primeiro dia como chefe de redação do jornal

sábado, 14 de maio de 2011

DESEJO - 45 -


- Tamanna  -
- 45 -
No dia seguinte, um domingo, Armando Viana já tomara seus café da manha preparado ao saber da moça Ângela e servido também para a sua noiva, Norma Vidigal  e a própria Ângela. Foi uma manha tranqüila e os noivos conversaram a vontade sobre tudo. Por orientação de Norma, o melhor a fazer era tentar uma entrevista com a Abadessa. Uma matéria leve com um tempero muito especial era algo de fluente para o jornal. Sabia-se tão somente ser o Mosteiro um ambiente tranquilo e calmo com suas peculiaridades de um Mosteiro. Havia ali um local para os despejos dos dejetos e do sangue dos animais abatidos onde não raro as freiras estavam a fazer a limpeza. Eram freiras gordas as fazedoras do asseio do local. Havia também um salão onde se podiam ver as freiras mais idosas a passar todo o seu tempo a escrever os pergaminhos de um papel para outro. Era um salão lutuoso onde não se ouvia nem mesmo o bater de uma asa de mosca. As monjas faziam seus trabalhos em absoluto silencio. Norma costumava ir, quando menina, a esses locais, de mãos encruzadas para trás, e olhava cada uma as monjas a rubricar as páginas de suas brochuras em total e absoluto silencio. Disso eles – Norma e Armando – conversaram o tempo todo sem nem mesmo a menor emoção.
Após o café da manhã, com bolos, leite, pães e queijo, os dois noivos se arranjaram para sair a procura de autorização da Abadessa para poder fazer a matéria. Armando Viana seguiu logo a frente e se pôs no portão da mansão olhando o mar azul e encantos mil. Em vagas ondas acalentadoras se vislumbrava as jangadas mar a fora a pescar. Um leve ar soprava para o seu rosto e Armando lembrava as suas pecaminosas artes de feitiços. Ao estar em pensamentos tão melancólicos ele nem notara a presença de um homem um pouco baixo, pele morena, rosto redondo e roupas roídas ao de Armando se aproximar. O homem cumprimentou e passou em seguida. Com dois passos a mais, o homem voltou e se aproximou de Armando:
--- Bom dia novamente. O senhor mora nessa mansão? – perguntou o homem a Armando.
--- Bom dia. Eu não. Por quê? – indagou Armando curioso.
--- Não é por nada. Eu me chamo Djalma. Sou aposentado do Estado. Eu vim passando e notei o senhor aqui e resolvi perguntar. Sabe? Esse mar vai subir cinco metros. Aliás, ele já subiu em outras regiões do país. Engoliu parte das praias. Um farol foi tragado pelo mar. Tem casos de ruas e casas que foram destruídas. Eu vejo a hora dele subir por aqui também. – comentou Djalma meio atordoado.
--- Eu vi a noticia nos jornais. – relatou Armando.
--- É um perigo para quem mora perto do mar. Aqui deve ter uma distância de cinquenta metros da ultima maré! Não? – averiguou Djalma.
--- Deve ser isso. Não sei bem. – comentou Armando ao sentir a preocupação do homem.
--- Vou seguir. Depois nos veremos. – sorriu preocupado Djalma.
--- Certo. Tenha um bom dia. Agradeço pela sua preocupação. – relatou Armando.
E Djalma partiu em busca do desconhecido enquanto Armando o olhava a se distanciar e ao mesmo tempo verificava as ondas do mar bravio. Instante depois surgiu a sua volta a noiva Norma Vidigal, seguida de Ângela. Ao chegar ao portão, surgiu o homem do peixe trazendo dois pescados novos para entregar a Norma. Ela mandou Ângela levar para por na geladeira e agradeceu ao pescador dizendo:
--- Mais tarde eu pago! – sorriu Norma ao dizer isso para o pescador.
E então saiu pesa pelo braço do seu amado em direção ao carro do rapaz. Norma fez um aceno com os olhos ao se aproximar do carro como quem aprovara a escolha.
--- Belo. – disse Norma a sorrir.
--- Talvez. – relatou Armando em contrapartida.
O carro trafegava veloz na estrada de barro batido em direção ao Convento das Irmãs Clarissas onde provavelmente era rezada a Missa dominical vez que os sinos já repicavam por minutos a fora. Norma trajava um vestido de domingo de cor escura, mangas postas até a metade do braço e, certamente cobrindo-lhe até as pernas. Angela vestia um traje bem mais simples enquanto Armando trajava paletó. O veículo estacou por causa de um homem a se aproximar. Esse homem vinha com toda a pressa à procura do vilarejo das Três Bocas. Ao ver o carro parar de imediato o homem gritou alarmado.
--- O ônibus! O ônibus! O ônibus!. Tombou! O motorista. Ele caiu fora da estrada! Um cavalo manco está na estrada! – dizia alarmado o homem a Armando.
--- Como é? – indagou preocupado o motorista.
E a moça Norma também ficou preocupada com o dito do homem.
--- Que foi??? – perguntou alarmada Norma.
--- Como foi? – perguntou Armando ao homem em desespero.
--- Vou buscar a carroça. O senhor vá à estrada. Tem muita gente. O carro. Tem mortos! – alarmou o homem  em desatino.
Em seguida o homem correu para a vila. E Armando Viana olhou a noiva e se deparou com a missão de ir à frente até a estrada verificar o sucedido. Então, a Missa já era mais uma vez. Em destemor, Armando Viana pegou o carro de rumou para a estrada a fim de verificar o ocorrido àquela hora da manha, logo cedo do dia.
A estrada estava cheia de gente de um lado e do outro. Carros a buzinar frenéticos como se a pedir passagem. Um cavalo já quase morto agonizava a todo instante. Era o cavalo manco. As pessoas procuravam dar assistência aos feridos e mortos do ônibus virado de ponta a cabeça. O prefeito do município de Acauã, José Catingueira, procurava dar a sua ajuda a retirar mortos e feridos do interior de veículo tombado em baixo da ribanceira. A zoada era enorme das pessoas querendo dar ajuda aos enfermos. Norma Vidigal ao ver tanta gente relutou alarmada e pediu ao noivo Armando para sair do local.
--- É melhor.  É melhor. Vá para a sede do município. A casa do prefeito. – respondeu Armando a moça.
--- No seu carro? – perguntou Norma alarmada.
--- Sim. Pode ir. Com Angela. Eu me viro. – respondeu Armando atrás do começo da noticia.
O motorista do ônibus vinha em sua mão quando se deparou com o cavalo manco. No momento, o motorista não teve outra opção, a não ser puxar o carro para fora da estrada e cair no barranco levando todos os que estavam no veiculo de ladeira a baixo. Trezes pessoas morreram e dezessete outras ficaram gravemente feridas. No acidente, o motorista perdeu a vida. Ambulâncias de outros municípios acudiram o chamado do prefeito de Acauã e partiram em busca de feridos para levá-los ao hospital da Capital. Outros veículos particulares também fizeram o mesmo atendimento. Todos os carros chegados abriam portas para socorrer os doentes. O prefeito José Catingueira se preocupava em retirar mortos e feridos. Pouca atenção o teve para dar ao secretario de Governo, Armando Viana. O rapaz arregaçou as mangas e tocou a retirar os feridos do meio dos escombros do ônibus. Era um desatino total.
--- Ajuda aqui!!! – gritava alguém.
--- Esse está morto. – dizia outra pessoa.
--- Tem uma mulher grávida dentro do carro. – era outro a reclamar.
--- É incrível. Tem gente toda enroscada. – lamentava um prestador de socorro.
O tumulto do pessoal prosseguiu por horas a fio ate o inicio da tarde. Armando estava todo molhado de sangue e de barro pelo fazer de retirar os corpos dos mortos e machucados. As ambulâncias saiam em debandada com as vítimas feridas para o hospital da capital. Os pingos de óleo do carro virado era um risco de explosão a todo instante.
--- Cuidado com o óleo. O carro pode explodir. – gritava alarmado alguém.
Após intenso trabalho de duração continua, Armando Viana seguiu na companhia do prefeito de Acauã, José Catingueira, até a sua residência onde estava a sua noiva, Norma Vidigal para poder levar a moça até a sua residência na praia. Ele então olhou bem a sua roupa e viu tudo encharcado de lama, barro e sangue. Assim mesmo estava o prefeito do lugar. O suor a descer de sobre a testa e o corpo, deixava Armando completamente sujo. Pouco ou nada conversava ele com o prefeito. Apenas Armando estava alarmado com a prestação de socorro as vítimas do trágico desastre.  A população do lugar continuava a retirar pertences de alguém deixados de qualquer forma. O sol quente da tarde emplacava o mal estar na fisionomia de Armando Viana.
--- Vamos pra casa! – disse ele a sua noiva ao chegar a casa de prefeito.
--- Que imundice! – relatou alarmada a jovem moça.
--- Foi fogo se tirar aquela gente dos escombros. – relatou o prefeito quase a chorar.
--- Vou trocar de roupa em casa. – descreveu Armando ao prefeito.
--- Aquí tem roupa. – relatou o prefeito de Acauã.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

DESEJO - 44 -


- Sarita Montiel -
- 44 -
O Circo Garcia estava repleto de gente naquela noite de estréia. Palhaços, trapezistas, globo da morte, motociclistas, domadores de leões e tigres, elefantes, cavalos amestrados, ilusionistas, acrobatas, contorcionistas. Uma enormidade de figuras estranha para o seleto grande público. Aplausos e assobios eram a constante de todo aquele número de espetáculo a se apresentar. Entre as artistas, cada qual mais encantadora. E tinham meninas trapezistas fazendo números excepcionais com maestria e desenvoltura. Essas infantes foram a que mais aplausos receberam do publico delirante. O espetáculo de estréia foi o inicio da breve temporada na Capital do magistral Circo. Do lado de fora do circo havia a venda de pipocas, chocolates, roletes de cana, açucares enfeitados e grande parte de outros produtos. No circo havia quatro mastros demonstrados a graciosidade de seu magnífico esplendor. Sua extensão era de mais de trinta metros. Além do mais havia orquestras de músicos e para completar o cenário, um picadeiro circular onde se armavam redes, passeavam acrobatas e se divertiam palhaços. Na verdade, o circo era um mundo ao sabor das lonas azuis e multicoloridas. A orquestra marcava o inicio do espetáculo. E a cada passo do show, quando os maravilhosos artistas circenses se apresentavam, a orquestras tocavam o inicio e o fim dando especo para os palhaços a entrar em cena em seus calhambeques pequenos e cheios de fuligem. Para Norma e Armando aquela foi uma noite inesquecível. Ao voltarem para a casa, o homem resolveu dizer. No dia seguinte, ao cair da tarde, ele estava pronto para pedir a mão de sua namorada em casamento.
--- Amor!!! Você é louco? Tão cedo ainda!!! – declarou Norma ao cair no seu ombro.
--- É verdade. Tão cedo. E vai dar tempo para você se vestir a decoro para o nosso casamento. – retornou Armando a sorrir.
No dia seguinte, um sábado, Armando chegou à casa de Norma Vidigal, por volta das quatro horas da tarde. As conversas eram as mais triviais e amenas entre o rapaz e o pai da moça. O senhor Teodomiro Vidigal não se fazia plenamente de contente. E às cinco horas, Norma surgiu na sala com suas vestes esplendorosas. Um cetim de seda bordado elevando todo o seu corpo de mulher, levas brancas a metade do braço e o colar de brilhantes, tendo na mão esquerda um cacho de rosas vermelhas. A sua mãe, dona Maria Helena não se conteve a chorar. As duas outras irmãs e seus esposos estavam irradiantes. O noivo, mais acadêmico, não se conteve em poder olhar aquela deusa emplumada. De imediato, o fotógrafo Canindé, fez a s fotos da moça a adentrar a sala e a repórter Marta Rocha a anotar todos os segmentos do noivado. Quando o rapaz pediu a mão da noiva em casamento, até Marta ali chorou de emoção. Foi um momento comovente. Logo após, serviu-se canapés, bebidas e champanhe ao dizer do senhor da casa:
--- Bebam todos! Não que digam depois que não beberam nada. – declamou Teodomiro.
Rosas em profusão marcavam o inicio de um noivado cujo tempo diria o seu final. A festa durou até altas horas da noite com alegria e graça. Na casa de Norma deviam estar cerca de trinta pessoas. Apenas familiares e pessoas mais intimas. Nada houve do formal. O bolo, feito em uma confeitaria de Dona Laura era o mais nobre possível. Com suas alianças nos dedos, os noivos aceitaram os cumprimentos que todos os convivas lhes apresentavam. Após o jantar, os noivos cortaram o bolo ao som de:
--- Viva os noivos!!! – gritavam todos a uma só voz.
--- VIVA! – voltavam a dizer os que gritaram na primeira vez.   
Desobedecendo a norma oficial do noivado, Norma Vidigal vestia branco. Ao passo que o noivo trajava um estilo esporte. Na lauta mesa, além do bolo de noiva, havia também uma mesa de frios e sanduiches, crepes salgados e doces, pizzas, churrasco, queijo e vinhos. As fotos tiradas seriam para ser feito um álbum do noivado. Algumas das fotos Canindé tirou para o Jornal A IMPRENSA, onde publicaria na coluna social da cidade.
Na segunda feira, Marta Rocha cuidou de fazer a coluna social da cidade. E isso foi o seu principio de colunista social, pois dessa vez todo o evento social ele estaria colocando na sua coluna. E, por fim, a moça passou a ser conhecida como a colunista do Jornal. Criava-se então a Coluna da Marta. Eventos, festas, casamentos, teatro, cinema, noivados, pessoas partindo ou chegando eram tudo na Coluna da Marta. Moça simples, Marta continuou os seus estudos na Faculdade como profissional de Jornalismo. E para Armando Viana ela era uma “foca” de muito futuro na imprensa. Logo enfim se arranjou uma mesa para Marta, pois teria ela de guardar os avisos, convites, fotos e tudo mais no seu birô. Ao mesmo tempo, Armando Viana conseguia o contrato do Jovem Ênio Garcia, um concluinte de jornalismo para ser uma espécie de repórter policial.
Na segunda-feira depois de ser noivo com Norma, o rapaz foi procurar o mecânico Mota para acertar com ele as aulas de direção em um automóvel. Ao ser indagado se ele já possuía um carro, Armando disse negativo. Com isso, o mecânico coçou a cabeça pois teria de arranjar um carro emprestado para dar as aulas.
--- Não faz mal. Eu arranjo um carro – declarou Mota.
--- Arranje! Arranje! – respondeu de forma branda o novo estudante de direção de carro.
--- Mas você sabe alguma coisa de direção? – perguntou Moto.
--- Alguma coisa eu sei. Mas, muito pouco. Muito pouco. Eu vi uma Caravan e fiquei abismado, pois é o carro que eu gosto.
--- É bom. O carro é bom. – falou o mecânico de roupa suja de óleo e graxa.
--- Quando vale um carro desses? – indagou Armando preocupado.
--- Depende! Depende muito! – disse o mecânico ao aluno.
--- Certo. Certo. Mas, nós podemos começar hoje? – perguntou Armando alegre.
--- Já? Espere! Amanhã! Eu falar com o dono do carro que vou te ensinar! – sorriu o mecânico.
Com essa conversa o negocio ficou acertado para o dia seguinte. E Armando levou um mês para saber de tudo na direção de um automóvel. Ou quase tudo, pois um carro se leva muito tempo para poder saber as manhas que ele tem. E enquanto isso, Armando conseguiu comprar uma Caravan cor laranja. Como Secretario do Governo, conseguiu tirar a Carta de Motorista sem nenhum atropelo. Com as aulas de Mota e um carro na porta, Armando logo começou a dirigir sem medo algum pela cidade. E quando passou um mês, já sabedor muito amplo do oficio de motorista, o Secretario pode ir à casa grande de Norma Vidigal, duas horas de estrada sem temor. Foi em uma dessas viagens que Armando pode ir até a casa da anciã Carmozina. Após os cumprimentos habituais, Armando foi logo ao assunto principal: a questão da visita ao campo da serra. E o aparecer de uma figura estranha de um homem parecendo uma aparição de um ser mortal ou de outro mundo. A anciã ouviu bem a estória e disse logo ao final.
--- Essa pessoa é tua amiga? – indagou a anciã querendo saber mais.
--- Sei lá. Foi o que a aparição disse. – reclamou o rapaz meio afobado.
--- É. Uma coisa eu digo. Ele não era o bisavô de Norma. – respondeu a anciã.
--- E quem era então? – perguntou alarmado o rapaz.
--- Deve ser um Homem das Estrelas. – fez ver a anciã Carmozina.
--- Virgem Maria!!! E eles estão aqui? – quis saber alarmado o rapaz.
--- Têm muitos. – sorriu a mulher dando baforada no seu cachimbo.
--- MUITOS??? Tô lascado! – relatou Armando a anciã.
E a anciã começou a sorrir de uma forma amena. Logo após os sorrisos ela voltou a dizer ter sido informada pelo Coronel Epaminondas ter sido seres extras terrenos. O coronel disse até ter visto o encontro do Homem das Estrelas com o rapaz Armando Viana naquela madrugada, porém não disse coisa alguma. Diante de tais circunstâncias o rapaz falou de  repente.
--- E por que a senhora não me falou? -  perguntou alarmado Armando.
--- Ele está aqui, agora. O senhor pode não vê-lo. Mas o Coronel está do meu lado. – sorriu a anciã ao relatar tal fato.
--- Ele está aqui? Como é que pode? E por que eu não estou vendo? – perguntou alarmado o rapaz Armando Viana.
--- Questão de vibrações. O senhor está em outra vibração. – relatou a anciã.
--- E como eu faço para entrar na mesma vibração? – indagou o rapaz.
--- O senhor não faz. Ela vem quando for o tempo. – disse a anciã a cachimbar.
O rapaz voltou a meditar sobre a aparição da madrugada de um mês passado e se lembrou também do Homem das Estrelas. Tudo era tão confuso. E ele não podia acreditar no assunto das vibrações, por certo, mediúnicas. Assim ficou a pensar de olhos fixos na anciã como queria saber o que eram aqueles Homens das Estrelas e o que estariam a fazer na serra onde havia uma noção para pouso de aeronaves ou discos voadores pelo que dissera a moça, neta da anciã chamada Ângela. Diante de tanta confusão mental, Armando se levantou da cadeira de vime e foi observar o ambiente da serra, mesmo de baixo, de muito longe onde estavam as pedras de inscrição.

DESEJO - 43 -


- Kristen Stewart -
- 43 -
No dia seguinte, sexta-feira, de manhã logo cedo, no café do Mercado, a conversa geral era em torno da ação policial e a derrubada do helicóptero com a morte de seus dois ocupantes, o piloto e o cinegrafista e mais doze outros delinqüentes. Os jornais da Cidade nada trouxeram a esse respeito. E Armando Viana se sentia satisfeito por ser o chefe de reportagem ou editor geral do jornal e naquele dia não se tinha outro assunto a não ser o do Jornal A IMPRENSA. Ao seu lado estava Canindé fotógrafo, com o pensamento distante, ao que parecia, muito embora estivesse ao par da situação. Com a cara sisuda, lábios grossos, pouca estatura, mochila ao  lado e a máquina de fazer retratos, Canindé ouvia muito bem os assuntos ditos por cada qual dos freqüentadores do Café de dona Gloria. De momento para outro o fotógrafo se afastou. Armando olhou para Canindé e estranhou seu afastamento. Então, perguntou:
--- Ei! Para onde está indo? – perguntou Armando Viana torcendo o rosto para ver Canindé.
--- Vou ali! – respondeu o fotografo em dar maiores explicações.
--- Para onde, pô?!! – diz saber Armando de modo mais seguro.
--- Ali! Posso? – disse Canindé um tanto malcriado.
--- Volta aqui, homem! Tenho um negócio a te perguntar!! – fez vez Armando.
Canindé parou no meio do caminho com quem diz:
--- “Então pergunte”! – olhando para Armando sem falar.
Nesse ponto Armando Viana se levantou da banca e se dirigiu onde estava Canindé. No caminho passava um homem com uma camiseta com a propaganda do célebre “Circo Garcia”, cuja estréia era nessa sexta-feira. Armando olhou a propaganda estampada na camisa do rapaz e teve uma idéia. Porém não disse nada. Ao chegar próximo de Canindé, ele perguntou outra coisa.
--- Você sabe quem ensina a dirigir carro? – quis saber Armando de forma bem particular.
--- Ensinar? Não! Agora, tem um mecânico que se falar com ele, pode até ensinar. – comentou o fotografo.
--- Quem é ele? Você conhece? – indagou Armando bem mais preocupado.
--- Ele trabalha nas oficinas no beco da delegacia! – respondeu Canindé já um tanto apressado.
--- Você fala com ele? – perguntou Armando já cheio de esperança.
--- Posso falar. Quem vai dirigir carro? É você? – investigou Canindé sobre o assunto.
--- Sim. Tenho a intenção! – proferiu Armando ainda cheio de dúvidas.
--- Agora tem mais essa. No começo quis ser fotógrafo. Agora é motorista. Só peia! – comentou o fotógrafo sem sorrir.
--- Fala homem. É sério. A gente fica a depender de um motorista. Então eu quero aprender a guiar carro. – choramingou Armando.
--- Falo! Falo! Não precisa chorar. – declarou Canindé tomando o seu caminho.
--- Fala mesmo? Jura? Hoje? – fez as perguntas em cima da hora.
E Canindé fotógrafo já nada respondeu. E assim, ele foi com seu andar banzeiro em busca de alguma coisa em algum lugar.
Horas após, Armando Viana já estava no seu Gabinete onde passava as informações para os repórteres de jornais a Capital ante de consultar a programação eventual do dia do Governado do Estado, se bem que não havia outras repercussões favoráveis. O certo era as melhores informações cujo texto daria boa matéria por parte dos jornalistas. Naquele instante o telefone tocou em seu Gabinete. Era o Governador a lhe chamar urgente. O rapaz se desculpou aos demais jornalistas e subiu o primeiro andar do Palácio onde, de imediato estava reunido com o Governador. No Gabinete do Governo estavam ainda o Secretário Adjunto e o recém Secretário empossado para Assuntos Especiais, o Doutor Gilgamés Soares de Morais.  Então o Governado, com todos os três secretários presentes, declarou ter uma entrevista a dar aos jornalistas da impressa local. A conversa girou em torno do assunto, porém o Governador não adiantou em nada o dizer de sua fala. A entrevista seria dada as onze horas da manha daquela sexta feira. Então, o Governador despachou os Secretários esperando à hora marcada.
O Secretário de Comunicação do Governo logo que desceu as escadas, foi avisando aos jornais da cidade, inclusive ao próprio jornal A IMPRENSA sobre a inesperada entrevista marcada pelo Governador solicitando enviar repórter para o Palácio, no caso Cione Damásio, entre outros a mais experiente. Minutos após, Armando Viana foi ao Gabinete do Governado se inteirar do teor da entrevista. O Governador lhe disse ser para lançar a candidatura ao Governo. Ainda Armando indagou do nome:
--- Como eu já havia dito, vou lançar Gilgamés Soares. – relatou o Governador.
--- E o senhor sai para que? – indagou Armando.
--- Eu ocupo a vaga de Senador da República. – expos  o Governador.
--- Bom. Assim é bom demais. – comentou Armando Viana.
--- E você, pode se preparar. Eu ganhando, e não há dúvidas, você vai para  a Capital Federal. E não quero nem ouvir queixas! – expôs o Chefe do Estado.
--- Mas eu, Governador? E o Jornal? E minhas outras atividades? – respondeu Armando assustado.
--- Ora. Ora. O Jornal tem outro. Arranje alguém que sirva de sua inteira confiança. E pronto! – arrazoou o homem forte.
--- O senhor me pôs em uma sinuca. – sorriu Armando para o  Governador.
--- Vamos a luta meu jovem. Vamos a luta. – comentou o Governador.
A entrevista se deu às onze horas em ponto. Estavam presentes os Secretários Gilgamés Soares entre os demais Secretários e Chefes de Gabinete além dos ilustres representantes da imprensa da Capital. Armando Viana se pôs em um canto da sala onde podia ver e ouvir as declarações feitas pelo Governador. Ao cabo de meia hora, o Governador deu por finda a entrevista e os repórteres enveredaram em cima do futuro Governador, Gilgamés Soares a indagar sobre comícios, passeatas, adesões de outros temas. De mansinho, Armando deixou o Gabinete do Governador e foi em busca da residência de Norma Vidigal onde faria refeição e lhe daria as novidades com relação ao seu respeito.
--- Ora viva!!! O homem da Capital Federal. – disse a moça na oportunidade.
--- Não é bem assim. Acontece que isso modificou os meus planos. Eu tenho coisa mais importa no momento. Eu não sei não. – falou Armando à namorada.
--- Meu amor escute! Uma vez eu te disse ter nada a ocorrer sem alguém mais forte por trás. Se bem que o seu caso não diz muito. Mas o do Governador, ah, isso tem. Ele vai ser eleito Senador, não tem nem duvidas. Porém, alguém por trás empurrando é sempre isso. – sorriu Norma.
--- Como assim? Eu não entendo! – falou Armando atento ao que disse a moça.
--- Eu não vou te dizer agora. Por si só você descobre. – sorriu Norma.
--- Como eu vou descobrir um negocio tão estranho? – indagou Armando Viana como  se não entendesse de nada.
--- Esse é o segredo maçônico. Tem alguém por trás de tudo. – relatou a moça.
--- Só sendo Maçonaria mesmo. – disse Armando por não entender de nada.
Após tão longa conversa dona Maria Helena, mãe de Norma, chamou o rapaz para o almoço. E Teodomiro Vidigal, alegre por saber o resultado da reunião do Palácio, não se fez de rogado e acompanhou o rapaz para o almoço. Na hora do repasto o homem ofereceu ao Secretário um cálice de vinho.
--- Eu vou aceitar. Apesar de não estar bebendo na oportunidade. – relatou Armando a sorrir.
--- O vinho após o almoço tem uma qualidade digestiva toda especial. – informou o homem.
--- Ah. É verdade. Certas bebidas alcoólicas aceleram o esvaziamento de alimentos do estômago e estimulam o ácido gástrico. – completou Armando a sorrir.
--- Mas não vá encher a cara! – refreou a moça ao seu namorado.
--- Não. Não vou beber demais. Alias os senhores estarão dispostos a ir hoje à estréia do Circo Garcia na cidade? – indagou Armando aos demais.
--- Se bem me faz o convite, transfiro a oferta para Norma. – sorriu Teodomiro.
--- Mas logo eu? – sorriu a moça com espanto.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

DESEJO - 42 -


-  Lupe Vélez -
- 42 -
Quase uma semana depois, Norma Vidigal já em sua casa a repousar tranqüila. A ansiedade havia passado. Ela deixou o Hospital da terça feira por recomendação médica. Desde o sábado Norma ficou internada e o seu médico foi o Doutor Jordão, competente e agradável, amigo da família. Depois de um exame criterioso o medico chegou ao diagnóstico para muitos de sua família o esperado. A moça havia tido uma menstruação onde foi o responsável o esforço feito no governar do automóvel e de pronto a chuva apanhada naquela ocasião. Por isso mesmo, o médico recomendou repouso absoluto por uma semana. Com isso, o pai ficou feliz de ao haver maiores complicações. Com relação ao namorado, este após trocar a roupa molhada no seu apartamento naquele sábado, ele voltou para o hospital ficando por tempos infindos. Era evidente ter Norma cair no sono sob efeito de sedativo. Porém, no domingo, Norma despertou mais alegre e com bastante fome:
--- Sou capaz de comer um elefante! – sorriu Norma ao pedir o seu café da manhã.
A auxiliar de enfermagem, muito amável e delicada começou a sorrir.
Apesar de Norma querer já sair do hospital, o seu pai lhe recomendou a ter paciência, pois então só o médico poderia lhe dar alta. A moça, no domingo, fez cara e choro, contudo logo  se refez. O tempo era normal no domingo e nos dias subseqüentes. Quando Norma deixou o hospital, logo cedo da manhã, Armando se despediu ao chegar com ela a sua casa. Com tudo para fazer, o rapaz pegou firme no trabalho de Secretario do Governo. Ainda se lembrava do homem José Catingueira e da conversa mantida com o mesmo a respeito da chapada da serra onde talvez houvesse um campo de pouso de aeronaves.  E Armando ficou sabendo do fato com pormenores ainda não obtidos; Na conversa mantida com o Prefeito Catingueira no seu apartamento, o jovem Secretário ouviu desse historias mirabolantes de quando o homem era então menino. Em rápida palavra Catingueira disse ter ido à chapada por muitas vezes a procura de frutas e ali pode observar uma espécie de Oráculo montado nas pedras e uma fortaleza se bem pudesse dizer assim, após o Oráculo. Não havia por lá mais ninguém a tomar conta a não ser o povo da mata. Depois dessa conversa nada mais Catingueira falou. E quando Armando Viana tomou conta do seu trabalho de Secretário de Comunicação nada mais pode rascunhar a respeito da historia do chapadão.
De forma inesperada, um rapaz procurou falar com Armando Viana, na quinta-feira a respeito de cadilaque Plymouth da Chrysler, modelo moderno que estava posto à venda por preço abaixo da média dos automóveis. Aquele assunto despertou a memória do rapaz. Apesar de ter noções básicas de direção, Armando sentiu-se como um verdadeiro rei ao saber da história do Plymouth. E então indagou ao vendedor:
--- Onde o carro está? – perguntou Armando ao vendedor muito alegre.
--- Eu estou com ele. Deixei-o estacionado sob uma mangueira na Praça do lado. – respondeu o vendedor
--- Eu posso vê-lo? – indagou Armando Viana.
--- Claro. O carro é todo seu. – sorriu o vendedor ao dar a chave a  Armando.
Na verdade, o automóvel era um requinte de beleza e nostalgia. O veículo era usado, com certeza. Porém, seu aspecto era de um auto pouco usado. Com azul celeste, cambio na direção, assentos confortáveis, largura e comprimento soberbos, pneus novos, cobertura descoberta quando se queria. Motor de oito cilindradas, transmissão automática, usa a gasolina e tudo de um carro moderno e singular.
--- A Polícia americana usa desses carros. – relatou o vendedor.
--- Mas um carro desse não tem cidadão que possa comprá-lo. – destacou Armando.
--- Ora. Ora. Esse é um carro para um Estadista como o senhor. – sorriu o vendedor querendo fazer negocio de qualquer jeito.
--- Estadista! Estadista! – (sorriu Armando) – Estadista! É. Eu não vou comprar esse carro de Estadista. – sorriu novamente Armando e dispensou o vendedor.
--- Mas senhor! Olhe aqui! Veja como é bom o automóvel! – disse ainda o vendedor enquanto Armando já entrava no palácio achando graça por ter sido chamado de estadista.
Logo após ele dispensar o vendedor, saiu em direção da casa de Norma pensando em qual carro ele compraria e sem saber ainda dirigir, por certo. Podia comprar um Corcel, um Opala ou mesmo um Del Rey. Esses eram carros da moda e o preço era compatível com o dinheiro que possuía. E foi Armando Viana matutando com os seus botões quando bateu à porta da casa de Norma e passou a esperar um pouco. Cogitava em seu dinheiro depositado no Banco para ver o quanto tinha. O céu era de uma brisa suave apesar de serem três horas da tarde. O vento soprava de uma forma a levantar as saias das moças quando estas passavam em frente a um prédio existente na região. Ouvia-se os gritinhos de assombros das senhoritas cuidando de suas vestes pela frente ou por trás. E assim, a sorrir, elas corriam para um lado mais tranquilo da praça onde havia mulheres vendendo peixe frito no dendê. Aquele alarme pôs Armando feliz da vida ao ver as peças íntimas das moças.
Logo depois da visita a Norma Vidigal, o rapaz saiu para o seu trabalho de redator chefe no escritório do jornal A IMPRENSA. Já em seu manuseio das noticias viu chegar à redação todo suado o homem Canindé fotógrafo. Após o homem chegava também a repórter Marta Rocha igualmente cansada a ponto de desmaiar. Armando observou bem os dois e logo pôs, a saber, de onde eles estavam chegando.
--- As fotos estão aí. Marta fez a matéria. – respondeu o fotógrafo
--- O que vocês fizeram? – indagou Armando.
--- A queda de um helicóptero. – respondeu a moça afogueada.
--- Helicóptero? Como eu não sabia? – falou meio engasgado o chefe de reação.
--- Foi a tarde inteira. A polícia descobriu um “aparelho” dos marginais, traficantes de drogas. Os marginais atiraram contra o helicóptero e acertaram em cheio no motor do aparelho. – comentou Marta Rocha.
--- Matou alguém? – perguntou desesperado o redator.
--- Ora se. O helicóptero despencou ao chão e morreram o piloto e um soldado cinegrafista. – prontificou-se em dizer a moça.
Nesse ponto, toda a redação veio à cima da repórter para saber os detalhes da ocorrência, fato não sabido por ninguém da reportagem. Após várias perguntas como:
--- Você viu os bandidos?! – perguntaram todos a uma só voz.
--- Espera gente. Eu vou bater a matéria. Então vocês ficam sabendo. – sorriu a repórter Marta.
E o caso foi encerrado e posto de lado apenas com alguém a perguntar do fotógrafo.
--- Você tirou as fotos dos mortos? – perguntou alguém a Canindé.
--- Espera eu revelar o filme. Tinha gente morta por todos os recantos da vila. – respondeu Canindé meio abusado.
Ao final das contas, o acidente causou a perda de um helicóptero com dois mortos, sendo o piloto e o soldado cinegrafista, doze contrabandistas de drogas e a prisão de oito elementos envolvidos no refino da droga. E participaram da operação três helicópteros além de diversas viaturas policiais cercando o local apontado como o ponto estratégico do refino de cocaína. Entretanto, outros elementos envolvidos no tráfico de drogas conseguiram fugir do cerco policial se embrenhado mato adentro na Vila das Perdizes. Esta foi uma intervenção chamada de Operação Coca. A polícia já atuava a três meses nesse caso e apenas naquele momento desfecharam o ataque decisivo. Após ser feito todo o levantamento do ataque, a moça Marta foi a primeira a dizer a seu chefe de reportagem ter sido graças a Canindé descobrir a chamada Operação Coca. Canindé foi ouvido por Armando e negou tudo. Disse apenas ter sido um passarinho quem lhe soprou no ouvido.
--- PÔ!!!Mas diga o nome desse pássaro!!! – exigiu Armando Viana aborrecido com tamanho segredo.
--- Um pássaro! – disse de vez Canindé.
--- E não tem nome não? – perguntou exasperado o chefe de redação.
--- Tome as fotos. São exclusivas. Outro jornal não esteve no local. – relatou Canindé ao se despediu da galera saindo devagar a descer os degraus da escada da redação do jornal.
--- Espere ai homem. Mas me diga o nome!!! – gritou o chefe de reportagem a Canindé.
--- Ele não diz chefe. Ele chegou aqui, apressado, no carro da Assessoria e me chamou para ir com ele a um lugar. Quando em percebi já estava na Vila das Perdizes. Eram soldado e agentes da polícia civil para tudo que é canto. Eu nem sabia o que fazer. Só quando detonaram o aparelho da Polícia e os homens mortos no chão. Em estava com o crachá do Governo e então pude observar tudo de perto. A retirada dos corpos dos dois mortos, a perseguição aos demais traficantes. Era tudo um inferno. Eu vi a morte passar por perto. Era bala para todo o lado. E no contar geral foram catorze mortos, incluindo os dois militares. Muitos escaparam do cerco policial.  Eu não sei quantos. Talvez oito ou dez. – relatou a moça Marta.

terça-feira, 10 de maio de 2011

DESEJO - 41 -


- Susannah York -
- 41 -
Com o alvoroço da mulher houve correria geral. As moçinhas chegaram com pressa. O Prefeito foi empatado de entrar no banheiro, pois a moça ainda estava despida. O namorado de Norma se assustou febrilmente e correu para o banheiro onde estava Norma. Esse também não pode entrar. A mulher, dona Débora clamou por ajuda de dona Josefa sua vizinha, mulher parteira. A filha de Débora saiu correndo a procura de dona Josefa. A outra moça ficou acocorada junto à dona Débora procurando vestir Norma Vidigal. E diante de tudo isso, dona Débora não tinha sossego apenas a chamar a filha, a qual fora chamar dona Josefa. O tempo passava e a mulher gritava mais por sua filha. Esta chegou incontinente trazendo a senhora parteira. O rapaz, Armando Viana, estava agoniado para entrar no agitado banheiro onde estava inconsciente a sua namorada. Por seu turno José Catingueira procurava tranqüilizar o rapaz ao dizer:
--- Tenha calma! Tudo se ajeita! – respondia o Prefeito procurando acalmar Armando
E o Secretario do Governo não se conforma ajeitando as calças frouxas e compridas.
--- Eu quero saber o que houve!!! – dizia alarmado o jovem Secretário.
--- Foi um mal estar, parece! – comentava o Prefeito também desesperado.
Os secretários municipais estavam aflitos e um disse, na oportunidade, ser propício se chamar um médico. Ninguém prestava atenção ao que dizia o secretario municipal. A mocinha vestiu a roupa de forma desajeitada em Norma Vidigal e a mulher, dona Josefa parteira pretendia levar a moça até o quarto de dormir onde poria numa cama.
--- Ela teve as regras. – falou a mulher parteira.
--- Mas ela falou em aborto!!! – respondeu dona Débora alarmada.
--- É preciso de um médico. Ou levar ela para um posto. – respondeu a mulher parteira.
--- Mas ela está desmaiada!!! – alarmou Debora esfogueada.
Por uns instantes ainda no banheiro, a mulher Josefa resolveu chamar o Prefeito e mais o namorado da moça e outro rapaz, - Secretario do Municipio também – para levar a moça até o quarto de dormir. E todos os moços e o homem Catingueira se prontificaram em levar Norma Vidigal para um dos quartos de dormir. A amiga de Fátima, filha de dona Debora, já estava com um vidro de álcool nas mãos, pois não sabia quem pedira o tal remédio. Os homens levaram Norma para o quarto e deitaram em uma cama, saindo de perto e deixando tudo por conta de dona Josefa parteira. Enfim, a mulher Josefa pediu o álcool e esfregou nos pulsos de Norma enquanto chamava uma de suas filhas. A moça também chegou apressada para atender a sua mãe e logo viu Norma desacordada. Então a sua mãe Josefa, mandou preparar um chá de ervas e cuidou de proteger a enferma. Um dos Secretários do Prefeito, depois de orientado, foi depressa chamar a ambulância do posto de saúde para vir socorrer uma enferma. Era um caldeirão fervente a casa do Prefeito José Catingueira. Um entra e sai de pessoas a procura de ajudar dona Josefa e as demais mulheres que estavam a necessitar de ajuda. O rapaz Armando notou ser imprudente se socorrer a sua noiva naquele quarto de dormir. Havia gente demais. O rapaz não sabia o certo para se ordenar uma evacuação de tanta gente.
Com pouco tempo chegou à casa do Prefeito José Catingueira uma ambulância com uma enfermeira e dois auxiliares. A enfermeira veio na frente seguida pelos auxiliares trazendo uma maca. Norma Vidigal ainda estava desacordada. E a gorda enfermeira perguntou o que tinha ocorrido. E foi dito tudo o que se passara. A enfermeira tirou um frasco com certa substancia de dentro de seu avental e pôs no nariz da paciente. Tudo foi tão rápido e logo a moça Norma retomou o sentido.  Débora, Fátima, a parturiente Josefa e a outra filha, o rapaz, o Prefeito e todos os outros Secretários derrubaram em pranto.
--- Até que enfim! Despertou! – relatou o Prefeito.
--- Ela é uma médica. – disse um dos secretários.
E a moça tranqüilizou a todos ao afirmar ser preciso levar Norma Vidigal para uma casa de saúde, pois o acometido era sério. Por isso mesmo, alguém pegasse a paciente e a levasse para a capital, pois no município, naquele dia, não tinha médico.
--- Não tem médico?! – perguntou o Prefeito.
--- E o doutor Duarte? – indagou Debora, mulher do Prefeito.
--- Ele está fazendo um curso fora do Estado. – relatou a enfermeira.
--- E não deixou ninguém no lugar dele? – quis saber o Prefeito muito atormentado.
--- Não. De qualquer jeito é um caso de hospital. – relatou a gorda enfermeira.
Dona Débora, a mulher Josefa, a sua filha e outros mais trataram de ajeitar Norma Vidigal e o seu noivo Armando Viana ao olhar por trás da porta, no corredor, quase louco de ver tudo aquilo acontecer de um momento para outro. Ele nem pensava em aborto, pois a moça nada lhe dissera. Alguma coisa a fez verter sangue. Talvez o carro, talvez a vertiginosa raiva ou tudo em completo fez a moça adoecer. Alguém lhe perguntou se ele teria condições de ir a capital e ele respondeu:
--- Claro! Posso! Por quê? – indagou o rapaz de forma quase desesperada.
--- Tem a ambulância! – disse o rapaz da maca.
--- Eu vou de ambulância perto de Norma! – relatou o rapaz sem compreender tudo.
--- Pode ir doutor. Pode ir. Se for o caso eu levo o carro de vocês. – declarou o Prefeito.
--- Ah sim. O carro. Eu nem me lembrava. – fez questão em dizer Armando Viana um tanto lacrimoso.
Norma já desperta, mas um tanto nauseada e chorosa ainda perguntou o que de momento estava a acontecer no recinto com tanta gente ao seu redor. Ela nem se lembrava do seu carro e muito menos do namorado. Parecia ter havido uma pane geral no seu consciente a despeito do medicamento injetado na sua veia pela gorda enfermeira por precaução, uma vez ter a moça perdido a consciência de um modo rápido. E nesse momento, depois de ajeitar à jovem Norma Vidigal, a enfermeira orientou o motorista a seguir viagem para o hospital da capital.
Na viagem, Norma Vidigal reconheceu o seu noivo. Ele estava também sentado do outro lado de Norma, atada nas pernas e abaixo do busto. E perguntou afinal para onde a estavam a levar naquele carro de buzina ensurdecedora.
--- Nós vamos ao hospital. Você sofreu um desmaio. Nada de mais. – relatou o seu namorado.
--- Que hospital? – indagou Norma.
--- Creio ser o hospital geral. Quem sabe é a enfermeira. – relatou o rapaz de forma calma.
--- E eu vou ser internada como indigente? – voltou a indagar Norma.
--- Eu acho que não. – sorriu Armando para a sua doce amada.
--- Agora eu me lembro. O meu carro. – lembrou Norma do carro.
--- Ele vem logo atrás. O prefeito está trazendo. – relatou o rapaz.
Com duas horas de viagem a ambulância chegou ao hospital geral da cidade onde foi posta em um apartamento a jovem Norma Vidigal até o médico de plantão a receitar anotando o seu verdadeiro sentido de saúde. E isso levou cerca de trinta minutos. Para norma foi um tempo imensa não acostumada com a espera no hospital central onde paciente levava duas ou três horas para ter uma consulta de urgência. Quando não era de urgência, o paciente desprovido de recursos podia esperar três meses e até um ano. Esse era o quadro da saúde publica do País quando o Governo prometia melhor assistência ao povo pobre. Norma foi atendia e na ocasião relatou ter o seu médico particular. O medico de plantão ouviu a informação da moça e não disse nada. Apenas receitou para que fosse encaminhada a um ginecologista e deu o caso por encerado saindo do seu consultório.
Em contra partida o namorado de Norma, o jovem Armando, pediu autorização para deslocar a paciente para outra sala melhor aparelhada onde ela pudesse repousar com melhor estado de satisfação. Em seguida, o namorado deixou Norma aos cuidados do Prefeito Catingueira e foi de imediato a casa de Norma avisar a família sobre o estado de Norma. Daí então se deu uma correria de louco.  O pai, mãe, irmãs, cunhados e outros parentes de Norma alucinados com a informação por parte do Secretario do Governo. Todo o pessoal se encaminhou direto para o Hospital Geral da Cidade.
--- Moço onde está minha filha! Onde está minha filha! – proferia a mãe de Norma ao entrar na enfermaria. 
--- Tenha clama mulher. Eu procuro saber melhor. – dizia o pai menos preocupado.
Nesse ponto, o Secretario Armando Viana orientou a todos se encaminhar com precisão para o segundo andar do edifício onde estava internada a moça.  E a corria não se arrefeceu com todos os parentes querendo chegar primeiro ao andar onde estava internada Norma Vidigal. E o tumulto não parou até a sua mãe abraçar a filha deitada no leito do hospital.
--- Onde está o doutor Jordão, minha mãe? – indagou a moça Norma.