quarta-feira, 4 de maio de 2011

DESEJO - 35 -

- JULIA ROBERTS
- 35 -


Na segunda feira, logo cedo, após a refeição matinal, Norma Vidigal e Armando Viana se despediram de Ângela e tomaram rumo da capital. O dia amanheceu claro, sem chuva e com um sol parecendo ter um dia quente. Ângela relatou a Armando ser da próxima vida do casal ter a oportunidade de súber as pedras e conhecer o ponto destinado onde o rapaz não teve oportunidade de ver com precisão. Armando Viana relatou ter sido o temporal caído o imprudente daquela vez. E achou graça para Ângela. No caminho de volta a moça Norma teve de enfrentar a buraqueira da estrada de barro, por vezes remando para um lado e para o outro temendo ver cair o seu carro em um buraco maior. O sacolejo era tamanho onde a cada passo Armando Viana deixa o corpo sozinho a balançar. Com isso, o percurso levou mais tempo até chegar à estrada asfaltada onde carros corriam para um lado e para outro. E a moça com seu ímpeto de uma motorista acostumada a vencer obstáculo a todo custo chegou à capital. O homem pediu para Norma deixá-lo uma vez no seu apartamento.

Eram oito horas da manha da segunda feira e Armando desceu do carro após beijar suave a sua namorada e entrou no seu apartamento. Ao chegar ao próprio se deparou ainda pelo lado de fora com a figura de Canindé fotógrafo. Ele teve um susto daquela aparição e indagou o que ele estava fazendo ali no corredor de seu apartamento.

--- Nada. Só esperando você. Afinal não sei para onde se escondeu! – respondeu Canindé.

--- Ora se escondeu! Com foi por aqui na capital? – perguntou Armando preocupado.

--- Choveu sábado e domingo. - rebateu Canindé coçado a cabeça.

--- Também choveu por onde eu estava. – comentou Armando ao abrir a porta para adentrar.

--- Gil nem apareceu por lá! – respondeu Canindé

--- Não? E que ficou na redação? – indagou Armando assustado.

--- Os outros. Inanna ficou na redação. Houve somente cheias no bairro. E em outros também – relatou Canindé.

--- Ela apareceu? – perguntou Armando de forma surpresa.

--- Quem? Inanna? Apareceu. Não sei de onde. Mas apareceu. – sorriu Canindé.

--- Aquela vem quando quer. Não é possível! É filhar de um Coronel, por fim!!! – pronunciou Armando com certo amargo.

--- Eu tenho que ir para o Distrito! A moça está inquieta com a minha demora! – reclamou Canindé suando pela testa à vontade e enxugando com o dedo indicador direito.

--- Que moça? – voltou a indagar Armando ao vestir um traje mais adequado para a ocasião.

--- Marta. Não é Marta? – indagou Canindé a Armando.

--- É.  A                 munhequinha! – sorriu o Secretário naquela ocasião.

--- É. Mas “munhequinha” como você a chama, se não fosse à munheca a gente não tinha feito nem a metade do que se fez. Ela é competente! – reclamou Canindé partindo para a Ribeira torcendo mil palavras.

E Armando soltou uma bela gargalhada. O fotógrafo Canindé já estava de saída e estirou o dedo para o rapaz sem se incomodar se alguém visse além de Armando. E ele saiu direto para a Delegacia Central na Ribeira ode tudo o que acontecia era registrado no posto além de alguma notícia poder ir pelo Palácio onde Canindé já havia passado e conversado com Garcia, o sargento de plantão. Do interior só havia chegado notícias de chuvas e nada mais. Tão logo chegou à Delegacia Canindé telefonou para Marta dando as noticias. Eram casos comuns. Marta veria o relatório da segunda feira para ver se tinha algo de importante. A moça disse já haver verificado os assuntos pendentes e algo de mais a acontecer no momento era a greve dos trabalhadores do Saneamento. Canindé informou:

--- Aguarde! Estou chegado! – e desligou o telefone.

Na frente da repartição do Saneamento de Águas e Esgotos estava armada a confusão desde as primeiras horas da manhã. O líder do Sindicato falava aos gritos:

--- “Estamos em greve. A Direção não quer receber seus servidores. É greve por tempo indeterminado”. – dizia o líder na louca agonia dos trabalhadores do Saneamento. E a turba em peso gritava a uma só voz:

--- GREVE!!! ESTAMOS EM GREVE! QUEREMOS SALÁRIOS JUSTOS! – gritavam os trabalhadores.

Um tumulto se formava enquanto quatro camburões, motos e policiais armados de escopeta postavam guarda na porta do edifício com suas caras rudes. Tudo isso formava uma grossa e eterna confusão. Os trabalhadores eram um pouco mais de cem a gritar palavras de ordem no tumulto gerado diante do prédio da Companhia. Uma bomba de efeito moral espocou no meio da multidão ensandecida. Correria para todos os lados. Um operário ensangüentado e quase  morto era levado pelos seus companheiros para baixo de uma mangueira existente no local do comício. A bomba foi atirada por uma unidade da Polícia. E ao cabo de alguns minutos, outra bomba e mais uma foram espocadas no meio da multidão de operários. Outros operários feridos de morte. A zoada infernizou toda a classe. De porretes das mãos eles partiram para enfrentar a Policia enquanto no carro de som o líder pedia:

--- Peço calma companheiros! Calma! Não se alarmem!! – dizia o líder aquela multidão.

A polícia não se conteve com o tumulto e avançou para cima da aglomeração de operários com bombas de gás no meio de tiros reais por escopetas.  Houve corpos caídos ao chão e a correria se debandou em todas as direções. A repórter Marta se guardou por trás de um automóvel  quebrado pertencente a Companhia de Saneamento do Estado. Enquanto isso o fotógrafo Canindé fazia suas fotos de vários anglos mostrando a azáfama da Polícia e o espocar das bombas no meio da multidão. O carro de som foi tomado pela Polícia e o líder dos operários preso.  O cruzamento das ruas onde se situava a Companhia ficou entumecida de operários e gente. As pessoas acompanhavam de perto o acontecimento. Ao cabo de algum tempo se fez a contagem dos corpos de operários mortos da carnificina havida:

--- Três mortos e vários feridos. – relatou o fotografo Canindé.  

De resto, as vidraças do edifício estavam todas estilhaçadas pela ação violenta dos vândalos do aglomerado de gente. Camburões foram com os presos enquanto outros chegavam para o cerco ao edifício. Motos zuniam a todo instante cercando os demais operários. Alguém gritou   alto e forte para todos ouvirem:

--- Comunistas!!! Comunistas!!! Comunistas!!! – gritou alguém por perto da multidão.

O grito retumbou aos ouvidos de toda a gente. E se supôs ter sido em favor dos enfurecidos operários. “Comunistas” deviam ter sido a Polícia. Enquanto os camburões da Policia se enchiam de operários os agentes policias tomavam conta de todo o prédio onde havia vidros partidos das janelas e das portas com um prejuízo enorme para a Companhia de Saneamento. Operários em debandada corriam à solta como podiam desocupando o pátio da repartição. Alguns se esconderam nas oficinas de montagem da companhia de Saneamento. Alguém falava para seu companheiro:

--- Eu não disse que ia gerar confusão? – dizia um homem sem maiores alarmes.

--- É. Eles estavam bem armados. Da próxima vez. .... – reclamou o outro companheiro escondido entre as máquinas.

--- Que outra vez? Que outra vez? – declarou o primeiro.

--- A outra! Isso não termina assim. Você vai ver o que José Pereira tem a dizer. – refutou o homem agoniado.

--- Zé Pereira? Ele está preso como insubordinado! – relatou o primeiro homem.

--- É. Mas não fica assim. Têm mortos espichados da rua! -  falou o homem tremendo de medo.

Os cadáveres dos três homens foram examinados pelo médico do Instituto e liberados para a autópsia no necrotério da Policia.  A matéria de Marta Rocha estava feita. Apenas faltava o enterro das vítimas tão logo os corpos fossem liberados. No Instituto Médico os parentes dos das vitimas choravam ao desespero pela perda dos seus pais. Eram quatro horas da tarde quando houve a liberação dos corpos. Na repartição estava tudo fechado. Apenas a Guarda protegia o prédio contra a ação de algum vândalo. A Direção do Departamento de Águas nada comentou de imediato. Apenas uma nota lamentando o incidente foi publicada na imprensa. Na Secretaria de Comunicação, ninguém falava sobre o infausto acontecido. Armando Viana, côo chefe de Reportagem do Jornal A IMPRENSA teria que ser comedido em sua reportagem, pois  o jornal tinha cabal apoio do Governo.

--- Isso é uma merda!!! – relatou Armando ao final da tarde.

--- Mas é um fato, amigo!! – relatou o fotógrafo Canindé.

--- É. Por isso mesmo vou pedir demissão do trabalho de Secretário. E se não me quiserem aqui não tem importância. Peço demissão também. – relatou Armando Viana.

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