sábado, 7 de maio de 2011

DESEJO - 38 -


- Marilyn Monroe -
- 38 -

Eram oito horas de uma noite fria e sem promessas de chuva naquele instante quando Norma Vidigal estacionou em frente ao portão do solar “Mundo Velho”. Ela e o namorado, Armando Viana. Os dois desceram do carro e começaram a levar para dentro do solar as compras de fim de semana. No mesmo instante surgiu vistosa e contente a moça Ângela. E também ajudou a descarregar toda a mercadoria que estava no auto. Menos o peixe, pois esse teria alguém a lhe trazer, com certeza do apanhado do mar. Ângela levou o mais pesado a despeito da moça Norma reclamar insistente:
--- Deixa isso aqui menina! – relatou Norma para a virgem Ângela.
--- Ora que besteira. Já estou acostumada. – sorriu a virgem moça.
E Armando ficou a sorrir com o tira teima das duas moças, cada uma querendo levar a maior quantia de produtos. E ele findou por levar a maior parte dos artigos. Coisa comum aquela de discussão para aproveitar o melhor do carregar as mercadorias da dispensa. E foi assim o tempo todo.
--- Eu levo esse! – dizia Norma.
--- Não senhora! Deixa que eu levo! – respondia Ângela.
E assim foi sendo feito o descarrego do carro. Depois de tudo feito Ângela comentou a falta de luz no vilarejo. A Companhia de Eletricidade só refez o serviço da terça feira à tarde. Ela não sabia o que motivara a falta de energia dos casebres. Mas, Ângela chegou a dizer ter ido ao casarão por diversas vezes e desligou todos os equipamentos inclusive a geladeira a querosene para limpar de algum sujo. Norma agradeceu o feito pelo cuidado dispensado pela moça. E então, Armando Viana indagou sobre o lamaçal ainda existente em toda a extensão da vila. E moça respondeu.
--- O rio ainda está despejando água. Os homens disseram estar dificultoso subir a serra. Eu penso não ter possibilidade de se ir às grutas. – rebateu Ângela.
---É danado! Mas o rio empata alguma coisa? – perguntou Armando Viana.
--- O rio, não. Mas as árvores derrubadas. Os relâmpagos derrubaram muitos pés de pau. Foi incrível. Eu não fui lá em cima. Mas teve gente tentando ir buscar lenha. – respondeu Ângela.
--- Ah sei. Agora entendo. Paciência! Se não dá esta semana, espero para outra. – sorriu Armando com o desgosto de saber não poder ir a serra.
Após o jantar, os três ficaram a conversar de tudo e qualquer coisa. Então, Norma lembrou-se de um assunto. Ela já havia se esquecido do que voltou a falar em meio da conversa. Por certo tempo Norma falou ao seu namorado da existência das Três Bocas. E para se chegar ao cimo da serra era preciso caminhar por uma extensão abaixo do chão feto por seu bisavô. E foi ai ter ela se lembrado de se ir pelo caminho subterrâneo das Três Bocas e se chegar ao topo da montanha. Armando ouviu o relato e pôs em duvida se locomover por um buraco feito em baixo de chão.
--- Não sei, não! Pode haver cobras, lagartos, escorpião. Isso é ruim. Além disso, ainda é preciso de alguém que conheça o caminho. – relatou entristecido o rapaz.
--- Alguém eu não conheço. Só tenho a mim. Eu era pequenina quando meu pai me levou a certo trecho das Três Bocas. Isso eu me lembro. – relembrou Norma.
--- É difícil. É melhor esperarmos por um bom tempo. É melhor! – refez Armando.
O silêncio pairou por instantes reinantes por todo o ambiente do casarão. Era uma calma profunda onde somente Armando matutava sem nada dizer. Ângela saiu da sala e foi cuidar dos afazeres domésticos. Norma, quieta, ficou a meditar serena e taciturna. Em um dado instante, após tão longa paz, o jovem Armando então voltou a falar de modo simples. Simples como tudo o que havia no casarão. Apesar de ser um rico casarão, o solar não deixava de ser bucólico. E com seu bucolismo foi Armando a falar.
--- O Convento! – declarou Armando sem mais dizer coisa alguma.
--- Que Convento? – indagou Norma como a sair de uma profunda letargia.
--- Das Freiras. Mosteiro ou coisa assim. – relatou suave o rapaz.
--- O que é que tem o Convento?  - indagou sem perceber algo no que o rapaz falava.
--- É isso. O que tem ali. Eu penso em fazer matéria sobre o Convento. – expôs Armando.
--- Ah sim. O Convento. E quando será feita a reportagem? – indagou Norma.
--- Não sei. Talvez amanhã. É preciso saber da Abadessa. – relatou sombrio o rapaz.
--- A Abadessa? – perguntou Norma como a sair de um sono.
--- É. Ela é quem pode falar. – proferiu o rapaz.
--- E o que é que você quer fazer? – perguntou a namorada de Armando.
--- Tenho que ver. Primeiro: tenho que ir ao Convento com alguém. E eu penso ser você. – falou Armando silente.
--- Ah bom. Eu não sei dizer se a Abadessa fala. Mas eu vou e pergunto a alguma Religiosa do Convento. Eu direi que é uma matéria sobre o Convento. Eu acredito ter a Abadessa o cuidado em falar. – disse a moça com suavidade.
--- Ah bom. – disse Armando.
O restante da noite veio com bastante calma. Os pegadores notívagos chegavam do mar e trocaram conversas simples cujos pescadores apenas conheciam. O mar batia nos arrecifes e voltava para logo a seguir voltar a bater em um marulhar contínuo. Na velha casa grande havia silencio tumular. A luz foi desligada e se deixou acesos apenas dois candeeiros a querosene. Tudo parecia um lamento cruel no devagar da noite. Sombrios morcegos transitavam pelo recinto dos cômodos. Passos de modo firme Armando ouviu ao longo da madrugada a rondar o interior do casarão, apesar do sono inquieto acordá-lo a cada instante. Os passos talvez fossem do ancião Epaminondas a vasculhar o seu velho império esquecido. O tempo rugia ao som o mar profundo para alguém a dormir vencido ao leu. Teve um instante onde Armando Viana se levantou nas pontas dos pés e procurou verificar para onde caminhava o homem morto há um punhado de tempo. E ele não viu nada que pudesse identificar a pessoa viva ou morta onde pelo recanto andara. Armando foi até a cozinha e não viu ninguém. De volta, passou pelo quarto onde dormia Ângela e essa estava a repousar profundamente. Armando entrou em seu quarto e viu Norma apenas a cair no sono. E então mudou de roupa, vestiu um, sobretudo e andou para a saída do casarão. Destrancou Armando, bem devagar a chave da porta e saiu de leve para tomar um pouco de ar da madrugada. Ele olhou o mar a quebrar nos arrecifes e então saiu da casa grande e rumou direto para a beira da praia. E ali ficou a pensar nos passos do ancião Epaminondas, já morto há diversos anos. O mar batia firme na areia da praia onde Armando findou por sentar. A lua estava em derradeiro minguante e nada se podia ver nas casinhas circunvizinhas a do solar. De momento, Armando ficou a pensar no Mosteiro das Irmãs Clarissas. Num instante como esse, um vulto de um homem alto e forte apareceu solene ao derredor de Armando Viana. Passado um ligeiro tempo Armando viu a figura ao seu lado. De inicio, ele pensou ser um pescador. Porém o vulto o chamou para lhe dizer não buscar mais o que estava na serra.
--- Quem é o senhor? – perguntou Armando ao vulto incomum.
--- Sou o teu amigo. – respondeu o vulto sem se apressar em responder quem era.
--- Amigo? Mas que amigo? – indagou com suspeita o rapaz.
--- Você está à procura de uma gruta. Eu digo que não olhe para a gruta, pois dela nada verás. – relatou o vulto com a cara séria.
--- Mas como o senhor sabe o que eu procuro? – perguntou Armando alarmado.
--- Tudo o que foi descoberto nada agora pode ser visto. – relatou o vulto do homem alto.
--- Como o senhor sabe do que está falando? – fez ver Armando.
--- Em cima da serra nada tem para oferecer a você. – reclamou o vulto do homem alto.
--- Mas eu preciso ver as inscrições deixadas por alguém! – relatou o rapaz em cima da hora.
--- Eu te digo que não busques! – fez ver o vulto e, de repente desapareceu.
Armando Viana ficou perplexo com a aparição do homem e logo desapareceu após dizer tudo o que sabia a respeito da caverna. A aparição deixou por um momento o rapaz intrigado em poder ver o homem alto. Ele pode observar no vulto ter os cabelos longos, batendo quase nos ombros, a pele clara, mas tão clara como a luz da lua, a altura de 2,20 metros, o corpo bem volumoso e forte, mãos ativas, pés alongados. O vulto estava vestido de uma roupa púrpura e bem escura lhe encobrindo todo o corpo. Uma túnica vestia a pessoa de aparência nobre.
Com o tempo, Armando Viana voltou à mansão e deitou-se no sofá alcochoado a pensar em tudo aquilo que o vulto lhe disse a nada fez para esquecer. A noite de brisa fria prosseguiu calma e  suave  tecendo os enfeites para cada qual.

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