segunda-feira, 9 de maio de 2011

DESEJO - 40 -


- Cristiana Oliveira -
- 40 -
O burro foi atrelado na frente do carro e o filho do carroceiro começou a puxar o animal aos gritos do seu pai, e a moça a dirigir com jeito o veiculo com a ajuda do seu noivo a empurrar o veículo. E com todo o empenho e força o carro conseguiu sair do buraco cheio de água. Mais a frente tinha mais lama deixada pela chuva caída naquela manhã, poucas horas antes do árduo incidente. Após todo o empenho do carroceiro, Norma Vidigal quis dar um pouco de dinheiro ao carroceiro, porém este recusou, ao dizer:
--- Pode deixar dona. Nós estamos aqui para servir uns aos outros. – disse o carroceiro.
--- Mas tome. Pelo menos é uma gratidão. Não é pagamento. – relatou Norma.
O homem bastante acanhado ainda assim relutando aceitou o dinheiro da Norma Vidigal e saiu em marcha com o burro, sua carroça, o filho e o cão.  Após toda essa confusão Armando ainda teve de trocar o pneu furado e Norma, exausta, cansada da vida e da lida, toda molhada de chuva e de lama, como estava também Armando, seguiu viagem rumo a sede do Município de Acauã onde teria de consertar o seu veiculo ou, pelo menos, o pneu do veículo. A moça dizia impropérios na viagem por causa da chuva e dos buracos da estrada.
--- Isso é um horror! Falta de administração! Desordens! Tudo enfim! – rezingava com ódio a moça a todo tempo e sem parar.
Após alguns minutos Norma Vidigal chegou a sede do município de Acauã, onde tinha melhor movimento naquele lugar. Por fim, a moça encontrou uma oficina de carros onde também se consertava e se vendia pneus usados, porém de boa conservação. Norma encostou o carro na oficina e disse logo ao mecânico que estava toda suja e molhada e o seu carro tinha um pneu baixo. O mecânico não contou conversa e logo foi ajeitar o pneu do Buique. Por fim ainda fez menção a moça de precisar urgente mudar o pneu traseiro, pois não merecia confiança. Norma concordou e mandou trocar o pneu traseiro também. Em seguida ela chamou o seu namorado para ir à casa do prefeito do Município onde passaria um pouco de água nos braços e na roupa. O rapaz concordou e perguntou qual o nome do prefeito.
--- Catingueira. José Catingueira. É o nome dele. E não é para mangar! – reprovou Norma.
--- Catingueira? Que nome! – fez vez Armando.
De passagem para a residência do Prefeito Catingueira, o rapaz entrou no Mercado Público da cidade de Acauã e olhou o que havia no lugar. A namorada, toda ensopada de água da chuva, ainda assim acompanhou Armando Viana mostrado a banca de frutas, a mulher fazendo tapioca, a banca de grudes e bolo pé-de-moleque e as três mesas de servir café aos clientes. Armando achou graça, apesar de também estar todo molhado e cheio de lama. No fim do Mercado tinha uma barraca de vendas de bebidas. Ele olhou curioso, mas não deu a menor importância. Então, Norma de Armando passaram na ultima porta do Mercado e rumaram para a casa do Prefeito. Havia casa de comercio aberta, porém Norma não estava interessada em saber de coisa alguma. E finalmente a moça chegou a casa do Prefeito onde havia um portão, uma passagem e um alpendre. Ela empurrou a porta de entrada e foi logo dizendo:
--- Com licença! Já vou entrando! – disse Norma a sorrir.
Duas mocinhas estavam na sala de visita. Uma das quais era filha de Catingueira, o Prefeito da Cidade. Na ocasião da entrada de Norma e o seu namorado, a mocinha não reconheceu de imediato. Porém com um segundo veio à lembrança de Norma Vidigal. De imediato a moçinha gritou para dentro de casa, assombrada até com as vestes da moça toda coberta de lama.
--- Mainha!!! Madrinha Norma! – gritou a moçinha a chamar sua mãe, dona Débora, no interior da cozinha.
A mocinha de nome Fátima se apressou e pediu a benção a Norma, sua madrinha.  Essa abençoou a afilhada e logo em seguida partiu para dentro da casa arrastando o seu namorado, Armando Viana, igualmente molhado de chuva. Ainda ouviu a pergunta da mocinha, sua afilhada, para acabar com a risadagem na sala.
--- Quem é esse, madrinha? – perguntou a mocinha muito alegre.
--- Meu noivo, não está vendo? – respondeu Norma a mocinha Fátima.
Dona Débora já vinha apressada da cozinha, enxugando as mãos com um pano com um pano de saco de farinha e ao chegar na sala de jantar, muito alegre, chamou ainda o marido, ele já se levantado da cadeira onde estava reunido com três secretários da Prefeitura. Cheio de graça veio Catingueira em busca de um abraço de Norma enquanto a sua mulher mais que depressa havia chegado primeiro tendo a seus pés a filha Fátima cheia de orgulho por ter em casa a sua madrinha e o seu noivo.
--- Olá comadre! Como vai você? – veio dizendo dona Débora assaz contente.
--- Eu vou bem. Este é meu noivo, Dr. Armando Viana, secretario do Governo! – respondeu a moça ao apresentar o seu namorado a que pôs a alcunha de doutor.
--- Muito prazer. Seja bem vindo! – respondeu a mulher.
Por seu lado o Prefeito José Catingueira já estava ao lado da comadre e escutou quando disse ser o homem o doutor Armando, Secretario do Governo. Com isso, Catingueira teve o maior prazer de cumprimentar o rapaz, pois ali estava uma autoridade do Governo do Estado, ele pensava assim.
--- Prazer doutor! Não faça cerimônia! Chegue pra cá! – falou com alegria o prefeito José Catingueira.
E a mocinha Fátima ao lado fazia a maior algazarra. Ela era toda contente com a presença da sua madrinha àquela hora da manhã de sábado.
E Norma então falou com pressa de estar suja de lama por conta do carro quebrado e precisava urgente de um banho. Para ela e para o seu noivo. E carecia de roupas emprestadas tanto para o rapaz como para Norma.  E ouviu a mulher a dita ter roupa até demais, apesar de o seu marido vestir roupas mais curtas pelo seu tamanho e não devia servir bem para o rapaz.
--- Vai ficar pega bode. – sorriu a mulher ao olhar o tamanho do rapaz em comparação com seu marido.
--- Não se assuste. É quando eu chego à casa grande e troco de roupa, pois eu tenho muda na mansão. – disse Armando todo encharcado de lama.
Enquanto isso, a moçinha Fátima sorria a valer por entender das roupas do seu pai ser mais curtas e não deviam servir para o rapaz bem mais alto do que o Prefeito. A mãe da mocinha, dona Débora, fazia severa repreensão para a menina calar a boca. A mocinha saiu de perto e foi para a sala de visita confabular com sua amiga. Enquanto isso, Norma foi para um dos dois banheiros e o seu namorado ficou no outro, tirando a sujeira do corpo. E o Prefeito sempre a dizer para o rapaz:
--- Pode se lar. Água aqui é não falta. – sorria o Prefeito José Catingueira.
Quando estava no banho, Norma Vidigal notou uma coisa estranha a sair por entre as suas pernas. Era sangue. Apesar de ter menstruado há uns dois meses ou menos, ela notou o sangue como um alerta pavoroso. Com certeza ela estava grávida de pouco tempo e não sabia. O sangue a jorrar fez a moça temer de medo e chamar dona Débora para lhe alertar quanto aquele despejar de menstruação de forma intermitente. A mulher correu as pressas ao banheiro onde estava Norma, bateu na porta e entrou tão logo a fechadura abriu a tranca. E de imediato a mulher olhou a menstruação e logo fez questão em dizer.
--- Mas isso é normal! – falou Débora com espanto
--- Normal que nada. Havia um feto entre o sangue. Negócio de um mês. Eu vi. Esta ainda no aparelho. – relatou a moça se tremendo de medo.
Débora foi ao sanitário e viu apenas uma poça de sangue. Mesmo assim, alertou à moça ter o cuidado quando fosse ao sanitário da próxima vez.
--- Que próxima vez? O negocio saiu todo! Não tem mais nada a sair! – se alarmou a moça com aquele acontecimento inesperado.
--- Então é preciso ir ao médico. E tomar chá de vez em quando. – recomendou a comadre.
--- Chá que nada. Eu preciso de um médico! – gritou sem alarme Norma Vidigal.
--- Espere aí. Você já vai. Vou pedir a Catingueira para arrumar um carro para levar você. – recomendou a mulher já um tanto desesperada.
E nesse ponto a jovem Norma procurava se vestir com a roupa de comadre com um medo profundo de algum negócio acontecer de pior com ela. O sangue lhe faltava na face e com um pouco a moça desmaio no interior do banheiro. Isso foi quando a mulher, dona Débora já regressava do encontro com o seu marido e encontrou desacordada no chão úmido do banheiro o corpo inanimado da jovem Norma Vidigal.
--- Me acudam pelo amor de Deus! A moça está desmaiada aqui dentro! – gritou a mulher ao desespero incontido.  

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