terça-feira, 30 de novembro de 2010

AMANTES - 10 -

- Nelly Jere -
- 10 -
Verdade pura. Vera Muniz estava encantadora mais que no tempo de adolescente ou mesmo ainda menor como garota. Sua formosura era irradiante em plena liberdade de dizer e ouvir falar. A candura de sua face se igualava com as dos seus seios e mesmo a do corpo inteiro. Seu andar parecia uma fada ao pisar por onde passava. Olhos vibrantes, cor mais que alva. Cabelos se fossem castanho era mesmo o que dizer cor de ouro. Vera Muniz caminhava para se tornar em um doce encanto de primavera igual às borboletas douradas. Já com vinte ou vinte e poucos anos de idade, Vera era capaz de ter tudo o que a uma mulher necessita. Seu veículo era um Chevrolet Corsa Classic modelo com quatro portas. De tudo o que era moderno estava aos pés de Vera Muniz. Havia tempo em que ela estava nos Estados Unidos. Em outros, era na Europa e mesmo no Japão. Quando certa vez alguém lhe falou a cerca da Turquia, ela viajou até aquele País. Foi então que conheceu a região de Capadócia, um lugar de pedras e de cavernas que o mundo todo admirava. Vera não somente conheceu como viu as gigantescas e colossais pedras perfuradas habitações dos nômades da Anatólia. O significado do nome é muito simples: “Terra de cavalos de raça”.
Quando seguiram para o trigésimo terceiro andar do edifício onde funcionava a suntuosa e elegante Agencia Pomar os dois conversaram coisas do presente, pois, naquele dia, Silas seria o novo empregado da luxuosa agência. Dormir no apartamento da vice-diretora da organização já havia sido uma vitória para Silas, apesar de conhecê-la há mais tempo. A se ver trajando roupas simples para uma nobre função, já deixara Silas um tanto decepcionado. Com isso, ele falou para Vera Muniz que ainda precisava ir a sua – dele – casa para mudar os trajes, pois a sua função exigiria trajes bem mais completos.
--- Tolice! Isso depois se observa. – sorriu a amante Vera.
--- Mas eu estou sujo!!! – exclamou com veemência Silas Albuquerque.
--- Não vejo por que. – respondeu a jovem Vera.
Com esses detalhes a cumprir Silas e Vera foram então para o escritório da vice-presidência onde ambos ficaram mais livres de olhares estranhos. Muito embora estivesse trajando roupas simples. Vera trajava roupas grã-finas. Silas ao seu lado parecia um homem despido. Mesmo assim, chegaram os dois ao gabinete de Vera por um elevador privativo. No meio do caminho, a moça respondeu ao rapaz que se ele quisesse, poderia adquirir roupas de melhor porte do próprio edifício onde ele seria então o novo auxiliar da vice-presidência. Com tal observação de Vera, ele então se sentiu completamente despido de corpo e alma. Quando Silas rumou para o apartamento de Vera Muniz, ele estava a trajar roupa simples, as mesmas que então trajava. Ele estava em aula e nada mais de suntuosidade pusera em seu corpo. Tivera apenas um telefone celular para fazer contato com a moça. Tudo isso e nada mais.
Após deixar a documentação necessária na bancada de sua amada, foram os dois amantes ao magazine da organização procurar o traje adequado para vestir o pobretão Silas. O magazine do edifício era luxo só. Silas ficara admirado com tamanha nobreza em um repleto edifício onde havia de tudo para se escolher ou comprar. Com tamanha altivez de negócios, ele se sentiu ainda menor que os próprios servidores do bazar. Após esmiuçar por demais, Vera Muniz concluiu estar completo o fardamento do seu soberbo jovem. O pagamento foi feito através de cartão de credito da própria Vera Muniz.
--- Aqui todos têm seu cartão de crédito. Você terá o seu. – sorriu Vera Muniz perante Silas.
--- Mas querida, eu nem sei quanto vou ganhar de salário? – estranhou o jovem Silas.
--- Tolice. Isso não tem importância. Depois a gente vê isso. Compras! – sorriu Vera.
Assim passaram os dois amantes o restante da manhã a comprar roupas de etiquetas famosas. Na hora do almoço Vera convidou Silas para irem fazer a refeição no restaurante do mesmo edifício, pois naquela organização tinha de tudo o que necessitassem no seu dia-a-dia de modo que os funcionários não precisassem procurar em outros locais. No espaço reservado a Vera Muniz apareceu um cidadão de seus cinqüenta anos a cumprimentar a jovem e olhar bem para o rapaz. Tímido como uma rolinha silvestre, o rapaz nem teve ao menos tal lisonjeado prazer de cumprimentar tal figura. O homem é quem veio em sua direção.
--- Prazer, senhor Albuquerque! Vejo que está em boa companhia! – soletrou o homem a Silas.
--- Muito prazer. É. Vera é uma amiga de infância. E hoje estou aqui. – sorriu sem graça Silas
--- Ele é o rapaz que eu te falei. É um grande profissional do ramo. – sorriu Vera Muniz ao seu chefe, Diogo de Lá Veja.
--- Eu admiro os jovens. Sempre graciosos. Eu sei que ele se sairá bem na sua nova missão! – relatou De Lá Veja entre sorrisos.
--- Tenho certeza que sim senhor La Veja. – respondeu Vera Muniz.
Silas apenas sorriu, pois nem sabia o que reservava para si a sua nova função. O homem parecia ser de origem espanhola. Recatado, elegante, brioso, feitio perfeito para um magnata da estirpe do velho/novo cidadão. Foi então que Silas caiu do céu, pois a organização em que se metera era muito mais além do que ele esperava. Havia conversa, sim. Porém todos fariam a sua parte. No salão de refeições conjuntas Silas pode ver como os seus futuros companheiros se comportavam com esmero e maestria. Era para ver as conversas reservadas que alguém se comportava. E naquele instante, à sua mesa, estava o presidente da organização, senhor Diogo de La Veja, um cavalheiro de escol. O refeitório em que Silas estava era por demais decente, cercado por meias paredes e onde só tinha acesso as pessoas devidamente convidadas ou aquelas que eram as das mais altas classes. O homem se esquivou em sentar ao lado de sua vice e decidiu que outros compromissos lhe assumiam, pois eles estariam em reunião às três horas da tarde.
--- Eu estarei presente. – relatou Vera Muniz.
--- E o rapaz também. – verificou o senhor De La Vega sorrindo afinal.
--- O senhor Albuquerque já está sabendo! – sorriu a moça ao patrão.
O certo é que Silas não sabia de coisa alguma e sentiu uma pontada na perna dada por Vera para ele apenas concordar.
--- Eu estarei sim senhor – sorriu sem querer ao se levantar o jovem Silas.
Logo após o presidente De La Vega sair, Silas se voltou para Vera e indagou que tal de reunião era essa. Ele não sabia de coisa alguma. E ainda teve que mentir ao dizer ao chefe que estaria presente. A moça sorriu com vagar. E respondeu:
--- Assuntos da diretoria. Com certeza para te apresentar aos novos consorciados. – sorriu Vera
--- Onde fui amarrar meu burro! – falou Silas de forma irônica.
A jovem Ver Muniz se reservou para não soltar uma tremenda gargalhada ao ver a cara de Silas amargando o seu destino. E disse ainda Vera Muniz que ela não lhe havia descrito a tal reunião para que ele não se assombrasse de tamanha situação em que a jovem moça o metera. No mesmo sentido, Silas adiantara que teria de ir a sua casa, pelo menos para tomar banho e mudar de roupa, pois a que estava usando lhe apertava por demais o colarinho.
--- Nem pensar! Troque a camisa no bazar onde comprou! – acudiu Vera Muniz com olhar tenso para o rapaz Silas..
--- Agora tem mais essa? – reclamou o rapaz a sorrir.
--- Vá se ajeitando do seu modo de agir, pois de agora em diante tudo mudou para você. – reclamou Vera Muniz com olhar severo.
O rapaz ficou inquieto. Logo pensou no Cine Clube. E pensou também em sua casa. A mãe estaria em pânico por não ter noticias suas. Então ele se lembrou de discar para casa e avisar a sua mãe que estaria então em uma nova função em um novo escritório, pois teria serviços extras a executar e, talvez apenas retornasse a casa para o jantar. A jovem Vera Muniz escutou tudo que o rapaz falou ao celular e não disse mais coisa alguma. Apenas pensou na casa em que ele morava e o velho mendigo que tanto eles corriam com medo de ser alcançados. Só então a moça sorriu numa verdadeira gargalhada. Todos a olharam com cismas. E o rapaz com temor e aturdido inquiriu a Vera:
--- O que foi? – indagou o rapaz meio cético.
--- Nada não. Eu me lembrei de Molambo, o velho de nossa infância. – respondeu ainda a sorrir a jovem Vera Muniz.
--- Que velho? Ah sim. Molambo. Dá pra se ver. O que é feito dele? – averiguou Silas.
--- Não sei. Deve ter morrido. Certamente. Molambo! – apenas cismou a jovem moça apenas a lembrar de fatos de outrora.
A noite veio, e os dois amantes deixaram a repartição. Ela seguiu para o seu apartamento após deixar o rapaz em sua casa, em ouro bairro para onde ele e sua mãe se mudaram logo depois da morte de seu pai. O velho Albuquerque foi acometido por uma leucemia e teve morte quase prematura, apesar de ter sofrido com sintomas há vários anos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

AMANTES - 09 -

- Noomi Rapace -
- 09 -

E os dois fizeram o acordo de se encontrar às duas horas da tarde do dia seguinte.  Após o telefonema, Silas ficou a tremer e a suar por ter encontrado a sua doce e querida amada de velhos carnavais. A sua mente delirava de tanta emoção. Ele avistara Vera na sessão de cinema de um domingo. Ela estava de braços com o noivo ou namorado. E então pensou Silas em tudo isso que lhe afetara sobremaneira o espírito de jovem. Os colegas de redação estavam a trabalhar freneticamente. O Chefe de Redação estava a buscar as matérias policiais do dia. E Silas ainda não tinha posto em ordem todo o seu material que recebera da reportagem. Nesse espaço de tempo, ele procurou reaver o que se perdera em tal momento, colhendo as matérias mais preciosas do dia para dar ao Chefe de Redação. Silas ainda tinha aula no período noturno e tudo que fazia era pensar em Vera, a doce e inigualável amada.
Quando o relógio da Matriz marcava às duas horas da tarde, Silas entrava na Agencia Pomar em busca da vice-diretora da entidade. Ele tinha que preencher um catatau de documentos, deixar a sua Identidade para reaver depois e tudo isso e tudo a mais não fora a presença da vice-diretora a lhe chamar orientando a portaria que estava um seu amigo. O porteiro então deixou seguir o rapaz.  Ela era deslumbrante e luxuosa. Silas olhou bem os seus dedos para investigar se tinha aliança de noivado ou não. E depois de apertar-lhe a mão direita notou que Vera não tinha aliança. Com certeza, aquele rapaz era só um namorado ou coisa assim. Ao entrar no gabinete da vice-presidente Vera, foi aí que notou o seu sobrenome, coisa que nunca tinha observado: Muniz. O seu nome era Vera B. Muniz. Muito embora tivesse visto um “B”, Silas não teceu maiores comentários. Então, os dois começaram a conversar sobre o passado de ambos e até chegar a pretensão de Vera Muniz.
--- Bem. Você termina o curso este ano. Dois meses faltam. E eu quero você aqui, comigo. Eu sou, no momento, a vice-presidente da organização. Essa agencia é um império. Rica até demais. Tem agencias por boa parte do mundo. Hoje, eu estou aqui. Amanhã poderei estar em outro local. E quero ter você comigo! – sorriu Vera com a sua suave tez aveludada e untada de carmim.
--- É danado. E eu vou fazer o que? – sorriu Silas com a conversa de Vera.
--- Aceita? – indagou Vera para sentir a reação do rapaz.
--- Pelo salário nem se fala. Mas tem um, porém: eu sou amador. Foca. Ainda falta muito para aprender. E isso só se aprende fazendo. Eu assumo um cargo nessa organização. Agora; faço o que? – averiguou Silas cheio de duvidas.
--- Bem. Boa questão. Fazer o que? Você já ouviu falar em Capadócia? -  perguntou Vera Muniz
--- Ca o que? – estremeceu o rapaz com o nome dito pela jovem moça.
--- Não faz mal. Capadócia é uma região da Turquia. Bem longe daqui. Só tem pedras. E balões também. Balões. Sabe? (sorriu Vera) Desses que o povo faz. Mas, é o seguinte. Se você aceitar a tarefa, tem uma região no coração desse país – o Brasil – que é semelhante à região de Capadócia. Eu tenho a missão de fazer uma excursão para trazer gente de fora. De fora mesmo e deixar esse povo “navegar” por essa região. E o que você faz? Viaja comigo para a nossa Capadócia. – sorriu a moça encantada com a presença de Silas.
O rapaz ficou pensativo como a cobrar de si os anos dourados que passaram os dois em pleno amor sem saber o que faziam. Ele olhava para a face de Vera e sorria sem parar. Apenas sorria para o encanto de Vera Muniz àquela hora da tarde. Não sabia ele porque sorria. Se de alegria ou de emoção. Sorria apenas. Horas de recordar a praia distante que certo dia eles foram para tomar banho e fazer casos indecentes. Naquela hora eles não sentiam o prazer ou o dizer de indecentes. Apenas eles brincavam na praia deserta de amor sem atração. Amor porque queria fazer sem emoção ou desvario. Na praia vazia de gente, eles chegaram a torno das oito horas de um domingo qualquer e de um ano qualquer. O sol brilhava no firmamento em um mês de novembro, talvez dezembro. Eles, inteiramente despidos, nem timidez sentiam um do outro. Era apenas os amantes desnudos a brincar de correr, fazer amor, tomar banho, namorar sem prestar atenção às horas e ao tempo. Era um verdadeiro frenesi o que os dois faziam. E disso ele lembrou em todos os detalhes. Das ostras, das pérolas marinhas, dos peixinhos brilhantes, pequeninos, porém ágeis em escapar das mãos arteiras da garota, dos sargaços de cores diversas, amontoados uns sobre os outros, das caravelas reluzentes e queimantes iguais brasa, águas salgadas, espumas alvejadas a se desmanchar na areia da praia. De tudo isso Silas se lembrava, como notava igualmente dos rochedos entre o mar e a areia do mar. Gigantes tais rochedos como se fossem tragar para sempre os dois infantes. Bocas abertas entre a terra e o oceano tais rochas negras, talvez marrons. Entremeios de um para outro lado como fossem horrendas cavidades abertas ao céu marinho. E de tudo isso Silas não esquecera.
No instante que Vera Muniz falou mais forte, Silas de imediato ouviu. Estava atônito em seu pensar, recordar as melhores fazes de sua vida infante que nem mesmo ouvira a sua amante a dedilhar o que ele havia a fazer. De repente, sem tirar os olhos atentos do crepuscular ornato de esmeralda a descer pelo aberto decote da moça ele sentiu o que estava a delirar naqueles momentos de desafios e de distração:
--- Estás a ouvir rapaz? – indagou a moça a Silas tão meio tonto a cismar a doce candura.
--- Estou. Certo! Capadócia. – sorriu Silas procurando decifrar o que Vera Muniz havia dito.
--- É. Capadócia. Mas não foi isso que eu falei. Você aceita em ir comigo? – indagou a jovem.
--- Mas é claro. Mas eu tenho que pedir demissão do meu emprego. Assim, eu venho para onde você quiser que eu esteja – falou de modo amoroso o rapaz.
A jovem Vera Muniz sorriu de encanto, pois sentia ali a doce primavera de um antigo e eterno amor. O pavimento onde estava Silas no edifício onde funcionava a Agencia Pomar, era bem amplo e a agencia ocupava o trigésimo terceiro ou trigésimo quarto andares do edifício. Tal hipótese fora levantada por Silas naquele instante, vez que a jovem moça lhe avisara estar na vice-presidência da Agencia Pomar e sendo assim, ela estaria no trigésimo andar junto com o presidente da organização. Acima, no trigésimo quarto andar devia ser para reuniões a portas fechadas onde se tomaria decisões ou para fazer conferências. De tal forma era que Silas já estava a um passo do sucesso. Isso dependeria apenas de sua decisão em aceitar a oferta de operar ao lado de Vera Muniz. Uma vez a decisão fosse aceita, era o progresso para a fama. Quase a concluir o curso de Jornalismo e já estando com a sua ocupação garantida, Silas estava então a ser visto por outra forma aos olhos de sua amada companheira. Ao sentir o delicado afago da doce Vera Muniz ele foi a fundo a tomar tal decisão.
--- Está bem. Você me aguarde, pois estou já a pedir demissão do meu atual trabalho. – ressaltou Silas. À embriagues do sucesso.
--- E hoje â noite? – indagou Vera com um sorriso na face.
--- Tenho aula. – sorriu também o rapaz.
--- Ah bom. Mas, de qualquer forma esse é o meu telefone. – disse a moça lhe entregando o cartão com o número do telefone celular.
A noite veio depois que Silas voltou ao trabalho de copy-desc no seu primeiro emprego. Ao chegar ao seu balcão ele redigiu um pedido de demissão argüindo motivos superiores. Nada fez para completar a sua derradeira missão de ajudante de jornalismo. O jovem moço tinha o progresso pela frente. Era tamanha a alegria que o atentava, pois nada mais havia de lhe acomodar daquele instante para frente. Ele seria no dia seguinte um auxiliar da vice-diretoria da Agencia Pomar. Por tudo isso, ao se despedir dos companheiros de redação nem disse que estava seguindo para uma nova e longa missão de estafante progresso. A certo tempo ao finar a aula, ele ligou para a jovem Vera Muniz para dizer-lhe apenas um olá. A moça o atendeu, do seu apartamento e lhe chamou para então celebrar a decisão em comum apenas os dois. Silas esfregou as mãos e partiu para o apartamento de Vera Muniz. Foi uma noite de plena orgia e acertos de tempos passados.
Silas e Vera eram dois em um amplo aconchego. A noite era calma onde a moça residia. Do alto do seu Edifício Lego, onde a nobreza habitava e de onde coisa alguma se podia ouvir, eram os dois amantes em um só delírio. A lua enchia o céu moreno com afago e esplendor. Na avenida, viam-se as luminárias dos veículos a transitar. Eram fios de luz de variadas formas e cores.  Violetas, azuis, vermelhas, amarelas e de tonalidades quase ofuscantes para os ébrios notívagos a percorrer as calçadas dos hotéis de luxo como era o apartamento de Vera Muniz àquela hora da madrugada.  Na sala ampla do complexo notavam-se quadros de famosos artistas de tempos medievais como também estatuetas de porcelana e bronze das figuras distintas de um passado distante e bem remoto. A luz que iluminava o restante do complexo eram tênue e quase fosca. Um gato de porcelana dormia o seu sono sem alvoroço e mudo. Um bêbado caído ao solo encostado em torno de uma parede estava a dormitar embaixo de todos aqueles contornos de ferro e massa. O mar espraiava-se ao destemor de todos os cantos da divina Cibele ao encanto da Frigia. A luz do cabaré enfeitava-se de plumas como a noite de eternos lampejos.
--- Oito horas amor. Estas a dormir? – indagou Vera Muniz ainda sonolenta.
--- Que? Oito horas? Mas que vamos fazer? - inquiriu Silas a um só tempo.
--- Vamos ao trabalho. Você está em um novo emprego. – sorriu a moça toda despida

domingo, 28 de novembro de 2010

AMANTES - 08

- Natalie Wood -
- 08 -
O rapaz foi pego de surpresa. Alguém estava a lhe procurar. De imediato, sem contemplação, ele guardou os ingressos vendidos e, pôs a caminho. Poderia ser qualquer uma das lindas e exuberantes moças que ele as conhecia. Como poderia ser alguém que pela primeira vez teria meios de conhecer. Com a mente presa nos talões de ingresso vendidos, Silas chegou até fora onde alguém dissera querer lhe falar. Ele e o rapaz que com Silas caminhou. Àquela hora, perto do almoço, já nem podia pensar em alguma fada, maga ou mesmo Cinderela. Talvez alguém acompanhada do seu elfo, mito dos célticos, germânicos ou nórdicos.  A rua do Cinema  Olímpia estava quase deserta. Um carro passava a toda velocidade a buzinar para ninguém, cheio de moças a gargalhar. O motorista era outro charmoso rapaz. Esse dizia pilherias a toda prosa. Um bar existente em um beco estreito onde poucos automóveis se aventuravam passar estava repleto de bêbados àquela hora da manhã ou tarde. Dos ébrios se ouvia pilherias sem graça a que todos achavam airosas. Do mictório do Cinema Olímpia saía um dos que estavam atrasados para chegar a sua casa na hora do almoço. O aficionado de filmes saiu tão depressa que nem se desculpou a Silas naquela hora quando foi de encontro ao rapaz. E no instante derradeiro, Silas recuou um passo para o azougado passar. O homem era baixo, tinha cerca de 30 anos, quase careca, branco que nem uma lesma e usava óculos de lentes para míopes. E foi Silas quem pediu desculpas pelo acidente incontinente.
Ao chegar ao salão de entrada do cinema, Silas e o homem que o chamou, não encontraram mais ninguém. Silas ainda entrou no salão de exibição de filmes, porém não havia alma. O rapaz ainda foi fora e procurou em uma sorveteria que funcionava ao lado do cinema, porém não havia mais nem sinal da pessoa. Era uma moça jovem e, aparentemente estava só, pois o rapaz não vira outra companhia ao seu lado. No mesmo instante, Silas caminhou até a esquina de uma rua próxima onde havia uma farmácia, e ali também não encontrou a tal figura. Ainda olhou ao correr da pracinha cujo setor se aproximava a certa distancia, e lá entre pessoas que transitavam também não vira nenhuma pessoa que pudesse ser alguém familiar ou mesmo conhecido de tempos passados. Mesmo pessoas da Faculdade de Jornalismo. Colegas, entre muitos conhecidos. O que ele notou foi à presença de um mendigo que se aproximara dele a pedir esmola. A esse indigente Silas só teve um dizer:
--- Perdoe!. – falou Silas ao esmoler que se pôs a caminhar.
--- Porras! Será uma alma! – falou o rapaz do cinema que se aproximou de Silas.
Silas olhou para o rapaz do cinema e teve vontade de dizer um desaforo, porém de quase nada respondeu voltando para ver o mapa dos ingressos vendidos. Na hora, ele não cogitou ser alguém da Faculdade ou da associação do Cine Clube. Bem que podia ser alguém querendo tomar informações sobre o filme que havia sido apresentado no horário matinal. O certo é que, de cabeça totalmente inchada de tanto pensar, Silas resolveu esquecer tudo que passara de uma só vez.
--- Os ingressos? – indagou Silas ao rapaz da cabine.
--- São esses. – respondeu o rapaz olhando para Silas.
Dias depois Silas estava no seu trabalho como aprendiz de jornalismo porque o seu curso teria conclusão no final do ano. Então ele passaria de vez da condição de simples “foca” para jornalista categoricamente profissional. Mesmo assim, ele já estava safro em muitas matérias apesar de ser um revisor de matérias policiais. Silas já estava no jornal há cerca de um ano gozando do maior afeto da diretoria. Nesse dia, pouco tempo depois da sessão de cinema, ele foi chamado pela secretaria do jornal para atender ao telefone, como era de costume quando havia ligação externa. No seu birô tinha um telefone de ramal e ele pediu para a secretaria ligar para o seu telefone. A moça concordou e foi feita a ligação. Pensava Silas ser mais um caso de polícia de última hora que estava a chegar. O rapaz pegou lápis de papel, como era costume e atendeu ao telefone. Mesmo assim, não era um telefonema da polícia. E sim de alguém de fora, sendo da mesma área de jornalismo ou mídia. A voz era de mulher. E Silas respondeu.
---- Sabe quem está falando? – indagou a voz a sorrir.
---- Não. Quem fala? – sorriu Silas a imaginar quem podia ser.
--- Nem advinha? Conto até dez! – sorriu a voz ao telefone.
--- Não faço a menor idéia. – sorriu Silas a imaginar alguém do curso de jornalismo.
--- Mas dos cajus você se lembra? – indagou um tanto maliciosa a voz ao telefone.
--- Cajus? Que cajus? – e a mente de Silas passou a percorrer outros rumos.
--- Já sei que não se lembra da cobra! – sorriu a voz do outro lado do fone.
--- Bati. É Vera!!! – sorriu Silas em verdadeira emoção de menino travesso a dizer o nome.
--- Ah. Agora se lembra, não é seu safado? – sorriu Vera contente da vida.
--- Ora. Mas você está aonde? Que saudade. Há quanto tempo! Imagine. – chorou de emoção o jovem Silas de alegria e contentamento.
E os dois “amantes” conversaram por um longo período. Ela recordando dos cajus e do sítio do velho Heráclito, e ele a se lembrar das cobras e do banho de mar que os dois infantes, certo dia foram tomar em uma praia distante. A cabeça do rapaz rodava em seu pensar como teria sido a vida de dois amantes como eles algum tempo da vida tinham sido. Questões de arengas e má querência, acertos e desacertos. Quantos acontecimentos a se lembrar no meio de um simples telefone. Mas o tempo passou rápido quando Vera chamou Silas para conversar mais a miúda no dia seguinte. Vera teria aula na parte da manha. À tarde, seria mais propicia. Caso ele tivesse interesse em um bom emprego, deveria ir a Agencia Pomar onde Vera estava a ocupar o lugar de vice-presidente da organização. Silas tremeu nas bases.
--- Mas logo eu? – exclamou Silas de modo muito surpreso.
--- Sim. É você. Eu estive consultando os jornais da cidade e vi o seu nome no que você está. Eu quero você comigo. Para sempre. – sorriu Vera ao lhe enviar um beijo pelo telefone.
--- É danado. Eu vou até você amanhã de duas horas. Certo? – indagou Silas a tremer.

sábado, 27 de novembro de 2010

AMANTES - 07-

- Mariana Ximenes -
- 07 -
O tempo passou. Silas era um rapaz de seus vinte anos. Muita coisa aconteceu no roteiro de sua vida. Então, já bem disposto e fagueiro, presidente de um clube de cinema, certa vez teve oportunidade de ver aquela menina então senhorita acompanhada de um rapaz, com certeza o seu noivo ou namorado. Ele, de muito perto, notou a presença de Vera. Ela, por sua vez, nem notou a presença de Silas. Vera caminhava com seu noivo ou namorado para assistir ao filme exibido naquela manhã de domingo no Cinema de Arte, promoção do Cine Clube. Era tanta gente a entrar no recinto de projeção que Silas mal vislumbrava a presença de Vera. Para o rapaz foi um desacerto total por ver a sua amante aos braços de outro qualquer. Ele então pensava no que eles fizeram de estranho amor no tempo em que eram mais jovens. O mundo rodou em torno de sua mente ao relembrar todos aqueles ébrios instantes quando os dois passaram juntinhos ao bel prazer. Em lembrou de certa vez que os dois amantes (Silas e Vera) caminharam até o Morro da Torre, local ermo e sem habitação onde pudesse se notar alguém para ir buscar cajus e mangas. Foi um verdadeiro momento de terror. Ao chegarem ao Morro da Torre, eles colheram um cesto de cajus. As mandas, verdes por sinal, ele não colheram.
--- Estão verdes!  Olha! – fez ver a garota Vera ao seu amante.
--- Assim não presta! Têm outras mais lá adiante! – recomendou Silas.
--- Lá em baixo? – indagou Vera ao garoto.
--- É. Vamos depois buscar mangas nos pés! – respondeu aperreado Silas se livrando das moscas pequenas que zoavam por todo o caminhar.
A mocinha sorria de mais por conta do aperreio de Silas angustiado com as moscas pequenas que lhe azucrinavam a todo o momento. O garoto olhava a sua companheira e sorria para dizer que estava sendo comido pelas moscas.
--- Elas estão me comendo! – respondeu Silas entrechocado com as malditas moscas.
E a garota sorriu para se acabar. Era uma gargalhada só. E Silas também sorriu com seu cesto de cajus pendurado no braço esquerdo. Foi então que a garota de repente se assombrou ao notar a presença de uma cobra verde entre os galhos do arvoredo. Foi um grito só:
--- Olha a cobra!!! – gritou a garota pegando a estrada de volta para fugir da serpente.
--- Onde? – indagou alarmado, com um brutal temor o garoto Silas.
Não deu nem tempo de o infante se virar e ver a tamanha cobra que ele pensava. Era uma cobra e tanto, supunha o infante. E então correu também em busca da sua namorada. A menina se soltou na frente a gritar terrível temendo a ação da serpente a lhe alcançar. Apenas gritava para o garoto que estava bem aos seus pés.
--- Olha ela! Olha ela! Olha ela! No galho! Ela te pega! – gritava a garota correndo em direção a Torre. Aquele era o único local onde havia presença de um homem. O certo senhor bem moço ainda estava sentado em uma cadeira de vime em frente a um birô no interior de um quarto a consertar rádios.
Quando a garota entrou no quarto, espavorida, o homem se alarmou. Queria saber do que se tratava para tanto espanto. Em seguida, entrou o garoto Silas que vinha atrás da atabalhoada mocinha. Ele corria temeroso apenas. Mesmo assim, com as narinas soltando brasa. Apenas a garota Vera traduzia alarme em pânico.
--- É uma cobra! É uma cobra! É uma cobra! – gritava a garota se abraçando com o rapaz da Torre.
E o garoto, em seguida, acrescentou temeroso de receio que a enorme serpente estivesse aos seus pés e trancou a porta de entrada da casinha.
--- É uma cobrona enorme! – alarmou o garoto ainda com o seu cesto de cajus, à tira-colo.
O homem cujo estado era o de consertar rádios de seus donos, moradores em casas distantes, igualmente entrou em pânico a dizer aos garotos que tivesse calma. Ele, por sua vez, agarrou de uma espingarda de soca e evitou ser agarrado pela garota, desvencilhando por fim, e se levantou da cadeira de vime para poder sair do lugar com a sua atiradeira. Enfiou mais pólvora no cano da arma e perguntou aos dois infantes.
--- Onde está essa cobra? – indagou ao se levantar o homem que consertava rádio.
A menina, com seu vestido todo rasgado pelas estacas da porteira da casa, quando foi entrar, apenas disse:
--- Ali! Ali! Ali! No mato! – cheia de medo e de terror emendada pelo seu amante.
--- No mato! Tem uma ruma de cobra! – acrescentou o garoto Silas com o calção quase a cair.
O homem que consertava rádio e tomava conta dos aparelhos eletrônicos de uma radio que enviava o seu sinal de um bairro para o outro, pediu aos garotos que lhe deixassem ir ver tamanha cobra. E seguiu o homem a devassar o terreno até ao pé do morro procurando ver se tal cobrona existia de verdade. Pelo que dissera o menino, era mais de uma. Um monte. Com certeza era um ninho de cobras. Alí onde estava a Torre, sempre apareciam serpentes e vez por outra o homem dava cabo dessas cobras. Eram às vezes Coral, Caninana e mesmo papa-ovo, jararaca e cascavel. A Torre ficava em um terreno plano, porém era um cerco de mato ao redor vez que as serpentes habitavam aquele local de há muito. Os garotos – Vera e Silas – seguiram de longe o rádio-técnico temendo uma represália das cobras. O garoto perguntou a Vera um pouco baixinho:
--- Você viu o cobrão? – indagou Silas a Vera tremendo de medo com o seu cesto de cajus.
--- Eu vi! Ora! Era uma cobrona! – retratou a mocinha com todo o seu medo de cobra.
Enquanto isso, o homem vasculhou por todos os cantos no pé do Morro, já distante do local da Torre e nada ou nenhuma cobra ele pode observar. Com certeza a serpente já teria saído do seu local. O rádio-técnico vasculhou por ampla região a procura de ninhos de cobras e nada mais foi encontrado.  Para não perder a viagem o homem usufruiu de um caju tirado no pé. Era um caju doce e travoso, grande e suculento cuja emoção era de dar água na boca. Para afagar os desesperos dos dois garotos – Vera e Silas – o homem disparou a sua espingarda para cima do cajueiro e assim ele acabou com a fama da serpente para todo o sempre. Muito embora ele não tivesse visto nem sinal de cobra nos aceiros do local onde existiam melancólicos os cajueiros, mangueiras, umbuzeiros, pitombeiras e outros tantos. Para além do morro era mata virgem e apenas eram tomados pelos caçadores de cotias, veados, raposas e outros animais pequenos e apanhadores de lenha. Esse pessoal era acostumado em conhecer animais e repteis por onde passasse. Com o disparo, o rádio-técnico acreditava ter amedrontado o réptil que por ventura alarmou os dois amigos, infantes ainda, talvez irmãos, pois ele desconhecia o passado de Vera e Silas. Ao retornar a oficina, o homem preveniu aos dois garotos que aquele local era “assombrado” e só os homens que tiravam guarda por aquela região podiam ter acesso.
--- Mas tem um homem que mora dentro da mata! – respondeu Silas ao técnico em rádio.
--- É. Seu Heráclito. Ele vive nas matas. É conhecedor de toda aquela região. Mas eu recomendo a vocês não irem atrás dele. Dizem que ele é meio “maluco”! – sorriu o homem querendo fazer mais medo aos dois garotos.
Silas olhou para Vera e sorriu como quem dissesse.:
--- É para lá que nós iremos. Afinal. ... .- quis dizer Silas à mocinha.
Vera sorriu em troca compreendendo o que Silas quis informar naquele instante. Afinal, as cobras já haviam de se acabar, certamente.
Esse pensar Silas recordou ao ver Vera de braços com o seu noive a entrar na sala ampla do cinema naquela manhã de domingo. Aqueles braços dados um dia foram seus, apesar das brigas do Grupo Escolar e dos ciúmes de Ana sempre fazia aos dois amantes. Era uma luta constante entre Silas e Vera. Logo, Silas se lembrou do velho e louco Molambo cujas vezes o fazia temer. Silas tinha momentos de reflexão dos tempos mais remotos o qual passara ao lado de Vera. E se lembrou de Helena e de outra amiga de Vera de nome Racilva. Essas duas amigas eram alunas do período da tarde do mesmo Grupo Escolar que eles freqüentavam pela parte da manhã. Com o passar do tempo, Silas se encontrou com Racilva, na Universidade. Os dois estudavam em cursos diferentes. Quando havia festa e eventos, Silas sempre encontrava Racilva, já com um rapaz que talvez se dissesse ser o seu namorado. Racilva era alva, cabelos encaracolados. Era uma meiga senhorita naquela fase da vida.
Quando a sessão terminou Silas não viu nem sombra de Vera. Era gente demais para assistir a sessão de cinema. Ela e o noivo com certeza tinham seguidos outro rumo, da esquerda, pelo menos. Com certeza, Silas se lembrou do ancião Molambo cujo feitio era de um homem já velho, feito um traste e quase acabado. Roupas em trapos, iguais as que estavam a trajar os homens do filme que naquele dia foi projetado. Mesmo assim, Silas ainda procurou ver se encontrava Vera, a bela jovem irrequieta que um dia fora uma pequena travessa em buscas de seus amores juvenis. Por mais que antever a procurando, Silas enfim retornou a sua labuta. Era hora de conferir os ingressos da sessão matinal do Cinema Olímpia onde acabara de projetar o filme daquela manhã de setembro. Nesse instante, um rapaz chamou Silas apressado:
--- Silas! Tem alguém a tua procura! – orientou o rapaz apressado.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

- Sally Field -
- 06 -
Ao final da tarde Silas Albuquerque entrou em sua casa. Sua mãe, Lindalva, estava uma fera. Quando o garoto chegou foi logo recebido a bofetes, gritos e puxavante de orelha. A mulher, desesperada, procurava saber o que o filho tinha feito na parte da manha que sumira da aula e do grupo escolar para ninguém mais poder vê-lo. O garoto não corria. Apenas esperava as pancadas de sua mãe. Com um azedo na boca a mulher reclamava pelos cotovelos a sorte que Deus lhe deu em ter um filho tão malvado como aquele. Silas nada respondia diante da ação intempestiva de sua mãe. Ele apanhou de tapa e por fim, de palmatória que a mulher guardava suspensa no interior da cozinha para o emprego em horas incertas. Três bolos de palmatória em cada uma de suas benditas mãos. A tagarelice de sua mãe infernizava muito mais ao garoto que os próprios bolos da famigerada palmatória, em pedaço de madeira de trinta centímetros de comprimento por uma espessura de duas polegadas feita especialmente para bater com força em preso nas cadeias da cidade.
--- Vai dizer ou não onde se escondeu???? – indagou a mulher com a maior valentia que podia ter em hora quase da Ave Maria.
--- Eu estava no mercado! – foi só isso o que o garoto Silas confessou, mais por medo da palmatória do que pela valentia de sua mãe.
--- E por que saiu da escola?? – perguntou a mãe Lindalva com a mão nos quartos, palmatória vibrando e olhos esbugalhados.
--- Eu saí para não levar castigo! – respondeu o garoto em boas intenções.
--- Castigo é??? E eu feito uma maluca respondendo a diretora o que não sabia!!! Vá já para o quarto!!! Está de castigo!!! – gritou a mãe de Silas desesperada com o sossego do garoto.
No dia seguinte bem cedo, sem pedir a bênção à mãe Silas saiu para o Grupo para assistir a aula. De Vera nem quis saber. Para o infante, Vera não passava de uma “doida” e ele não queria mais saber conversa com ela. Na metade do caminho ele viu de perto o “louco” que o povo chamava de Molambo. Apesar de tentar escapulir, ele não saiu do lugar em que estava. O “louco” olhou bem para Silas e depois, entre barbas espessas no rosto, cabelos da cabeça grande e retorcidos achatados por um chapéu de panamá todo roto, mas velho que nunca, sorriu como quem não queria formar um desafeto com o infante.  Tenso por todos os meios, Silas não falou coisa alguma. Apenas olhava para o “louco” Molambo, postado a sua frente no caminhar da escola. O que pensava o infante era de que se fugir, o “monstro” pegava lhe na certa. Se tentasse passar, seria do mesmo jeito. Então, resolveu ficar parado como uma múmia dos tempos remotos. Silas em nada podia vislumbrar no que poderia Molambo está naquele momento a sorrir vagamente. O pessoal saía das suas casas para o trabalho ou para o Mercado Publico e mesmo para qualquer bodega da região. Ninguém notava o medo que sacudia Silas naquele terrível instante. Os garotos do Grupo passavam por Silas a chamar para a aula do dia, porém o garoto estava estático. Apenas ele estava a ver as longas barbas de Molambo, suas vestes rotas, encardidas, remendadas com pedaços diferentes de outros trapos, saco às costas que o velho segurava com a mão direita. Saco velho todo furado, mostrado os trapos que nele estavam. Mochila comprida para se possuir para levar qualquer caso. Apenas a sombra de um sorriso fazia o pavor ao garoto naquele momento. De repente, deu-se uma brecha ao velho olhar em torno e ver alguns garotos a chamar:
--- Molambo!!! – vozes dos meninos a gritar e a correr.
Aproveitando a volta de olhar que Molambo fez, então Silas pegou o caminho e partiu em vertiginosa disparada deixando para trás todos os colegas do Grupo. Com o coração a bater, quase a sair pela boca, o infante penetrou no terreno do Grupo e se escondeu na privada por um bom pedaço de tempo. Ao soar a sineta do velho Mousinho, então Silas partiu em direção a sala de aula, passado por entre todos para chegar a primeiro lugar. Assim, passou Silas por Vera e Ana e nem as duas cumprimentou.
--- Raça ruim! – foi o que pensou ao passar pelas duas alunas.
Quando a professora Margarida começou a fazer a chamada dos alunos presentes, Silas estava no mundo da lua a se lembrar da figura de Molambo por vezes inquietante. Ele deitou a cabeça na carteira como se quisesse chorar. O mundo aos seus pés se transformou em uma gigantesca pirâmide. Ele nem notou as lágrimas a descer pelo seu rosto. Em determinado instante, uma colega de escola o chamou,  pois a professora acabara de recitar o seu nome.
--- Estás doente Silas? A professora está chamando você. – comentou a garota em voz baixa.
O infante então se levantou da cadeira e respondeu que estava presente. A mestra vislumbrou o seu rosto e teve compaixão do garoto por causa do dia anterior. E lhe perguntou:
--- Você está bem? – indagou dona Margarida olhando por cima dos óculos.
--- Sim senhora. – respondeu o infante à professora enxugando as lágrimas.
--- Venha até aqui que eu quero você de perto. – foi o que disse a mestra.
O infante deixou os livros na mesa da carteira e seguiu até ao birô da professora com seu jeito todo desarticulado de andar. Ao passar pelos os colegas de aula nem reparou os olhares que lhe lançaram naquele momento de desacerto. Apenas ele seguiu de modo firme e resoluto até onde estava a mestra. Ao chegar ao local à mestra olhou o garoto de cima abaixo. E ela notou as mãozinhas do infante todas as duas inchadas. A mestra chamou o meigo e inquieto garoto até onde ela estava. Pegou-o no colo e lhe perguntou baixinho:
--- O que foi isso em suas mãos? – indagou a professora o acalentado. 
--- Nada não. – respondeu o aluno ainda a chorar.
A professora passou a mão nos seus macios cabelos e o olhou de frente enternecida. Nesse momento ela chamou o infante para ir com ela até a diretoria e recomendou calma em toda a classe, pois voltaria em um instante. Margarida, a mestra, seguiu com o garoto até a diretoria e chegando lá mostrou à diretora como as mãos de menino estavam deliberadamente inchadas, pois ele, apesar do silencio, teria levado uma sova de palmatória porque não assistira freqüentar a escola no recente dia passado. A diretora, dona Eunice se lacrimejou como uma mãe ao ver as mãos do infante todas intumescida. Após assuar o nariz pediu ao garoto que dissesse o que levara a fazer tal agrura.
--- Foi só uma brincadeira de mau gosto! – explicou o menino chorando.
--- Que brincadeira foi essa? – indagou a diretora Eunice.
--- Eu disse que a aluna Vera não estava porque tinha sofrido dor de barriga. – comentou o garoto.
--- E ela faltou mesmo? – averiguou a diretora a olhar as mãos inchadas do infante.
--- Não. Ela estava presente. Mas a minha professora disse que me punha de castigo. Então eu fugi da escola. – chorou o garoto Silas.
Dona Eunice novamente assuou o nariz e depois pegou o menino e pôs ao colo a tecer palavras de carinho a lhe dizer que ele não faria outra vez brincadeira desse estilo. E que ele fosse pedir desculpas a sua colega Vera por ter posto em humilhação perante a classe.  O garoto ouviu tudo o que recomendou a diretora e se comprometeu em pedir desculpas. De volta à sala de aula, ele e a professora Margarida foram tomar o seu assento. De imediato, a professora fez ver a ele que havia de pedir desculpas a sua colega de classe pelo vexame que ele fez. O garoto então seguiu até a carteira de Vera e apresentou seu pedido de desculpas. A menina aceitou embora tenha ouvido de Vera uma demonstração de que para ela não tinha desculpas ao proferir a palavra:
--- Monstro! Asqueroso! Palerma! – foi o que disse baixinho a aluna Vera.
O infante então voltou para a sua carteira sob os olhares de dona Margarida, a professora.
O período letivo encerrou no final daquele ano com a conclusão da aula para todos os alunos da quinta série. Nesse ponto concluíram o curso todos os alunos ali matriculados, inclusive Vera, Silas e Ana. Houve festa entre os estudantes e quase todos participaram. Foi uma festa realizada na parte matutina com atrações bem diversas. Cantos, recitais, negócios do gênero da cultura de onde os garotos moravam ou viviam. Foi mesmo uma manhã de muita alegria e contentamento. Silas foi um dos que participaram de brinquedo animado onde todos os alunos gostaram dos esquetes apresentados, inclusive Ana e Vera, extasiadas com o popular da garotada, as duas de modo a sorrir. Os trajes dos garotos eram típicos de pescadores e eles entoavam cantos alusivos à pescaria. Quando terminou a festa foi servido um almoço para a garotada. Eram mais de cem alunos a presenciara festa. As senhoras professoras eram as que mais entusiasmo sentia. A alegria da garotada foi mais tempo que a previsão do que esperava da a direção do estabelecimento de ensino. O Secretario de Educação esteve presente à jovial formatura dos novos alunos concluintes. A debandada se deu em meio ao tumultuoso fervor de brilhante entusiasmo com cada qual se despedindo com abraços dos amigos e professoras cuja presença sentiria a falta para os anos seguintes. Em determinado instante, Vera se aproximou de Silas dizendo que tudo que ele fez foi por demais espirituosos. E sorriu com ele. Ana, por sua vez, trouxe um ramalhete de rosas para dar de presente a Silas agradecendo pelas belas risadas tidas durante toda a festa de encerramento. O garoto sorriu também agradecendo a Ana pelas rosas ofertadas.
--- Nem precisava. Bondade sua. – sorriu Silas delirante de contentamento.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

AMANTES - 05 -

- Irene Jacob -
- 05 -
A garota Ana foi incumbida pela professora, ao sair do Grupo ir até a residência de Silas avisar à mãe do estudante para vir ao estabelecimento de ensino ainda naquele dia para tratar de assuntos pendentes com relação ao seu filho. A moçinha afirmou que estaria a passar na moradia de Silas e avisaria a dona Lindalva, mãe do garoto que ela deveria ir de imediato ao estabelecimento, pois aquele era o seu caminho de casa. A garota Vera não disse coisa alguma a respeito de Silas. Apenas a professora lhe perguntou se havia desentendimento entre os dois e a mocinha respondeu:
--- Não senhora. – disse isso e calou.
Ao fim da aula, Ana foi direto à residência de Silas dar o comunicado dá professora Margarida apenas dizer para que dona Lindalva estivesse na Diretoria na tarde daquele dia. Era isso o que a mocinha teria que o dizer. Com exatidão a mocinha não responderia mais questão para não ter complicações com garoto Silas. Se alguém comentasse algo, Ana diria não saber por acaso tal fato. Ao se envolver o nome da garota Ana, era de se saber que entre ela e o garoto pairava uma terna amizade, mesmo de longe. Ana sempre olhava Silas com doces visões acalentadoras e muito embora não houvesse progresso em tal sentido, mesmo assim, não poderia haver assim um inegável retrocesso. Ao sabor do destino, a mocinha deitava imenso carinho por esse impetuoso garoto, um verdadeiro menestrel de ávidos tempos.
Quando Ana chegou à moradia de Silas encontrou o garoto que estava naquela hora a chegar, provavelmente de algum lugar onde passara fazendo tempo até bater a sineta da escola. A garota olhou surpresa o seu amigo Silas e até admitiu ter lado tremendo susto com a sua presença inesperada. O garoto apenas sorriu e ao mesmo tempo perguntou o que fora a aula daquele dia.
--- Geografia. Eu vim aqui trazer um recado pra tu mãe. – falou com receio a adolescente.
--- Ah bom. Não perdi grande coisa. Tu vens falar com minha mãe? – indagou o garoto cismado com a presença de Ana após a aula que ele gazeara.
--- A professora pediu para ela ir ao Grupo hoje à tarde. É isso que eu vou dizer. – sorriu Ana contemplando a face do garoto.
--- Lá vem bomba. Eu! Nem me importo! Entre! Espere. Eu posso estudar hoje na tua casa? – indagou o menor.
--- E Vera? – sorriu Ana cautelosa com a outra garota.
--- Ah. Ela não quer que eu vá! – respondeu Silas quase mentindo.
--- Então eu espero. Minha mãe não está em casa. Vai ao médico. Mas, isso não importa. – sorriu Ana para o garoto.
--- Está bem. Às três horas? – indagou o garoto com um jeito a cismar.
--- Às três, tá bom. – sorriu Ana abrindo o portão da casa de Silas para poder entrar.
Tão logo deu às três horas da tarde Silas chegou à moradia de Ana. A casa não tinha viva alma a não ser a própria Ana que já estava esperando a visita do moço. Silas entrou na casa de Ana com cuidado para não tropeçar em algo. O sofá de vime estava todo arrumado juntamente com o centro e as demais cadeiras enrolando a sala. Uma banca mostrava um rádio àquela hora desligado. Uma estante de livros e um birô onde a mocinha guardava os seus livros da escola. Algo despertou a atenção do garoto. Ao passar pelo quarto da mãe de Ana notou tudo fechado. Não raro Silas supôs que dentro do quarto guardava segredos infindáveis de amor ao luar como ele já observara na casa de Vera. Uma ereção tenaz se aprofundou do garoto e logo pensou na também sua Ana. Aquele local seria o ideal para um coito a dois. De fato, Silas nutria quimeras por aquele azogado ser. Sempre em sua moradia ele a observava. Tinha medo de sua própria mãe em fazer rodeios em torno da mocinha. Acabara-se com fazer sozinho o seu ato solitário em pleno quarto de dormir. Dessa vez, mesmo temendo alguém, ele estava sozinho em um local de domínio da sua pretendida.
--- Queres água? – indagou a donzela voltando-se para Silas ao caminhar para a sala de jantar onde tinha posto seus livros.
--- Não. – sorriu Silas olhando as ancas da donzela a rodopiar sacolejante.
--- Meu quarto é esse. – apontou a donzela para o quarto quando Silas passava a sua frente.
Era um quarto normal. Cama de solteiro, guarda-roupas, penteadeira, perfumes, talco, objetos vários por cima do móvel e um criado mudo no canto da parede do quarto.
A lição do dia foi a de Geografia. Para Silas isso de pouco importava. Ele observou o vestido de Ana e sentiu ereção. Silas teve que cruzar as suas pernas para evitar mostrar algo que a jovem mocinha ainda não tinha o costume de observar. O calor era demais àquela hora da tarde. Não era propriamente um calor natural, porém algo mais que fazia ferver os sentidos do garoto. Ele estava a ponto de partir para cima de Ana. Mesmo assim se conteve. Dentro da moradia de Ana estava o gato a dormir como todos os gatos costumavam fazer. No quintal da casa vizinha um cão latia parecendo pedir algo para comer. Nas mangueiras do quintal de Ana vinham o cantar dos pássaros. Um papagaio preso em seu poleiro era a única testemunha da volúpia do garoto. A todo tempo o papagaio soltava os seus grunhidos alarmantes e tagarelas. Em determinado instante a garota pediu licença e se levantou. Ela saíra para o seu quarto.  Silas ficou apenas a observar o que se passaria depois. Foi aí que Ana lhe chamou. Meio escondida, da porta do quarto ela fez um chamado de modo delicado:
--- Vem cá. – sorriu Ana quando chamou o garoto.
Esse se levantou da cadeira onde estava e caminhou até o quarto. Ana já estava sentada na cama a sorrir lentamente. O garoto então chegou até onde estava Ana. Ali encontrou o que não esperava. O amor para todo o sempre. A mocinha chamou o garoto para deitar com ela em cama Patente Faixa Azul, aquelas que eram então as mais modernas da época. O garoto tremeu de medo, pois não era o seu costume ficar com aquela garota. Porém, pela insistência da mocinha ele então cedeu. Entre caricias e beijos o céu foi se encobrindo e as paredes do quarto não tinha mais cor. O encanto era o frenesi dois sem prática, por parte da mocinha e menos por parte do garoto. Ana estirou-se na cama e mandou o garoto se deitar em cima.
--- Mas não é assim. É de outro jeito. – reclamou o garoto um pouco temeroso.
--- E como é então? – indagou a mocinha assombrada.
--- Tire a roupa. Tudo. – reclamou o garoto meio sem graça.
--- Eu ficar despida? Nunca! Se quiser é assim! Pronto! – rezingou a mocinha já tremendo de medo por não ter acertado a primeira vez.
--- Mas assim não presta. Como eu vou ficar? – indagou o garoto coçando a cabeça.
--- Não sei. Você fica em cima e pronto! – declarou Ana já um tanto aborrecida.
--- Vamos ver o que eu faço. Pelo menos tire a calcinha. – reclamou o garoto sem noção de como se fazia ao certo.
--- Minha roupinha. Nunca! – fez finca-pé a donzela cuja atitude era mais alvoroçada.
Após algum tempo passado, Silas fez como Ana tanto insistiu, por cima da roupa de casa que a estudante estava a vestir. O negócio era bastante ruim por demais. A mocinha agoniada sacudia a cabeça para um lado e para o outro sem nenhum acordo a chegar. O garoto, com um pouco de jeito foi tirando as calcinhas da mocinha e até que enfim penetro no seu corpo. Era assim que ele imaginava ser de fato. Ao penetrar, a garota estremeceu de dor e gritou de maneira assombrada, vez que Silas largou a moçinha e saiu de cima ficando a tremer ao lado do armário. Nesse instante de dor e desassossego a mocinha a chorar procurando remendar as calcinhas de cambraia toda suja de sangue disse ao garoto:
--- Bruto. Você nem sabe fazer! Minha mãe não grita e nem chora! Bruto! – lamentou a mocinha pelo que o garoto tinha feito com ela.
Em seguida, banhada em prantos, Ana mandou que o garoto se retirasse de sua casa, pois não queria mais vê-lo tão cedo. E correu para o banheiro onde lavou a sua peça de cambraia com todo o esforço do mundo para retirar aquela mancha se sangue ainda umedecido. A mocinha chorava e olhava para fora vendo se o garoto tinha saído ou se a sua mãe já havia chegado do médico, pois a mulher não tinha hora para retornar. E ela pensou por mais tempo que ao manter relações sexuais com Silas era um fato temeroso,  pois a sua mãe podia ter chegado e a mocinha estava desprevenida até mesmo de roupa.
--- Isso é loucura. Bosta! – comentou Ana ainda a chorar de raiva ou de dor.
O garoto não havia saído de casa. Ele estava postado na cama de Ana procurando por as idéias em ordem. Foram passados tempos e de repente Ana chegou a seu quarto pegando Silas todo desarrumado e a meditar sozinho. A linda jovem esquentou o facho e pos para fora o garoto uma vez que já o tinha feitos minutos atrás. Com imensa ira ela levantou o rapaz pela pescoço e mandou ir embora de qualquer jeito.
--- Vá embora. Vá embora. Minha mãe não tarda a chegar. Suma daqui! – prognosticou Ana com bastante raiva por conta da peça molhada de sangue que ele fizera.
O garoto partiu sem ao menos dizer adeus.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

AMANTES - 04 -

- Kristen Stewart -
- 04 -
O caso dos amantes estava fora de comentários. Após urinar por si só sobre a roupa, Silas agarrou um punhado de folha de carrapateira tirada no pé do morro e pôs em baixo do calção fazendo daquilo uma espécie de cueca para enxugar um pouco o que estava urinado. Com isso a garota estranhando um tanto sorriu igualmente desavergonhada mangando de Silas querendo fazer da moita de folhas uma cueca. E os dois sorriram como nunca. Após tudo isso, eles foram chupar os cajus tento o cuidado de guardar as castanhas. Solitários e sonolentos os amantes se deitaram na relva olhando o céu de verão sem nuvens para atrapalhar. De outro lado tinha um muro bem alto que fora de um Quartel do Exercito a uns tempos remotos. Do muro eles aproveitavam a sombra tranqüila e ali mesmo fizeram amor. Amor sem penetração como se fosse apenas uma brincadeira de garoto e garota. O sol já cobria as copas das arvores àquela hora da tarde. Era então a vez de se ir embora. O garoto disse a Vera que em outro dia eles teriam que ir ao morro da Torre, um pouco mais distante.
--- É longe? – indagou a menina de sobressalto.
--- Não. É não. Mas é mais distante que aqui. – sorriu Silas a tirar tudo que era de mato de sua roupa já velha.
De modo vagaroso os amantes voltaram a pé para as suas casas. Silas residia um pouco mais distante que Vera. Porém era o mesmo caminho. Quem ouvisse dizer na casa da mungubeira na frente, pois era ali que Silas residia. Por sinal, naquela artéria nem tão distante tinham outros pés de mungubas. Mesmo assim, a de Silas era a mais frondosa. Perto de um terreno baldio havia um pé de aroeira. Esse ficava bem mais distante que o pé de munguba da casa de Silas. Pelo lado da frente da sua casa, Silas contava os pés de fruteiras existentes em um amplo terreno ali existente. Tinha de tudo: cajueiro, goiabeira, pitombeira, mangueira e o mundo todo para bem dizer. As fruteiras ficavam dentro de um cercado amurado por todos os lados num extenso terreno que dava fé.
Quando os dois amantes chegaram perto de casa de Vera, uma coisa eles viram: a figura do maltrapilho velho chamado Molambo. Nesse instante os garotos estremeceram de medo. E foram pelo outro lado da rua todos os dois falando baixinho ao dizer que estavam com medo. Temerosos pela presença de Molambo àquela hora finda da morna tarde. O velho estava sentado em uma calçada organizando seus apetrechos desorganizados por natureza e falando qualquer coisa sem sentidos para quem passasse. A calçada era alta que o velho, sentado na ponta, juntava os pés sem mesmo tocar no chão.  Lá estava Molambo e cá estavam os dois amantes. Por medida de segurança e por cuidado, os garotos até pouco tempo sapecas  – ele e ela – partiram numa carreira desembestada que nem Deus pegava. E gritaram a uma só voz:
--- Aaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! – gritavam os dois de uma única vez.
Nesse instante, uma mulher abriu a porta da casa onde o velho estava sentado e trouxe um prato de refeição para ele. E disse em seguida:
--- Ponha o prato no batente da porta. – e entrou a seguir sem mais conversa. 
Logo a seguir, em carreirão desembestado Vera entrou em sua residência nem esperando a vez de Silas também entrar. Ela empurrou a porta de supetão e fechou com força total fazendo um bac-bac estremecedor assustando até a sua mãe que perguntou de imediato o que era aquilo tudo que estava havendo. A garota com os bofes pela boca se engasgou para dizer:
--- O monstro! É ele! Eu vi! Está lá fora! Monstro!!! – respondeu a garota com seus olhos plenamente esbugalhados e tremendo de medo. 
--- Foi sim, dona Cora. Ele está lá fora! – confessou o garoto que acompanhou Vera em sua desandada correria.
A mulher saiu para ver o que estava acontecendo seguida dos garotos. Vera se escondia atrás da saia de sua mãe a espera de uma decisão concreta a tal respeito. A mulher olhou para e para o outra da rua e só avistou o velho Molambo que estava a refestelar a sua refeição de fim da tarde dada por alguém que morava na casa bem mais distante. Enfim, dona Cora voltou-se para os dois e afinal declarou:
--- Que monstro que nada. É o velho Molambo. Ora! E vocês aonde andavam?! – indagou a mulher irada de olhos bem abertos com tamanha confusão.
--- Eu? Estava ali. – respondeu Vera assustada com o velho e com o que fizera.
--- Ali aonde? Você pensa que me engana? – falou dona Cora mais afogueada ainda.
--- Apanhando caju. Tem aqui as castanhas. ...E os cajus! – sorriu Silas ao dizer onde estavam com a cara mais deslambida deste mundo.
--- Eu vou acreditar. Mas que seja a última vez. Está ouvindo magrela? – respondeu dona Cora a sua filha Vera.
--- Hum! Magrela! – sorriu Silas pela maneira como a mãe de Vera a tratou.
--- Cala tua boca verme. Ela disse comigo. E você pode ir para casa. – rebateu Vera fazendo finca-pé para sair até ao banheiro onde faria suas necessidades costumeiras.
--- Volte aqui, menina! Peça desculpas ao seu amigo! – contestou dona Cora em busca da filha.
A essa hora Vera já estava trancada no banheiro e nem queria saber de coisa alguma.
No dia seguinte eles – os dois – seguiram para o Grupo onde a turma estava em ampla algazarra tremenda antes do inicio das aulas. De mãos dadas Vera foi logo entre afagos e beijo de uma colega recomendar que eles devessem sempre andar assim a toda hora. Tal garota disse isso, sorriu e saiu correndo para pegar um os primeiros lugares da fila de entrada. Vera se aborreceu e largou a mãe de Silas. Este não deu a mínima importância, pois sentada no batente da escola estava Ana, uma colega que sempre visitava a sua casa. A mocinha, de mão no queixo, pernas ligeiramente entreabertas que todos os alunos da escola notavam bem as suas calcinhas, olhou para a cara de Silas e disse então.
--- Tua namorada já entrou! – declarou a Ana com espécie de ciúmes.
--- Ela não é minha namorada. Só colega! – respondeu Silas se ajeitando para se encostar-se a Ana e ver de perto as calcinhas da garota.
--- É nada! Quem te compre é quem te diga! – disse a garota fazendo um gesto na boca.
O garoto sorriu sem perder a oportunidade de olhar bem mais as calcinhas da jovem. Ele, muitas vezes esperava que Ana ficasse por mais tempo a conversar com a sua mãe, Lindalva, para aproveitar de veras a ocasião de cima da parede, trancado no seu próprio quarto então a se esvaziar por completo daquele líquido sedoso que ejetava pelo seu genital. Silas se mantinha relação sexual por intenção na plena parede de quarto botando apenas uma parte da sua cabeça pelo lado de fora e ali se satisfazia em pleno gozo. De cima da parede ele podia ver a jovem morena a cruzar as suas delicadas pernas enquanto conversava com a sua mãe. Para o garoto, aquilo era o máximo.
A sineta tocou e a turma toda entrou para seguir a fila e assistir a primeira aula da manhã. Silas notou a ausência de Vera em seu canto favorito, na mesma carteira que ele. Dessa vez ela estava no outro lado da sala, apenas só. O garoto olhou para Vera e fez um bochecho tirando um “bloc” com uma tapa da mão no seu próprio rosto. Ela se virou para a parede fazendo que nem queria saber. Feita a chamada, quando a professora Margarida chamou o nome de Vera o seu companheiro Silas se levantou e disse:
--- Ela faltou! Está com dor de barriga! – respondeu Silas onde toda a classe caiu na gargalhada
A mocinha se levantou de sua cadeira e declarou a professora.
--- É mentira desse verme. Estou presente professora! – rebateu Vera com muita raiva de Silas
A professora olhando os dois e a classe inteira por cima dos óculos contestou de imediato.
--- Estou vendo. E vamos acabar com essa briga na hora da aula. Se não eu ponho Silas de castigo. Ora essa. – comentou a professora em cima da hora.
Então o garoto arrumou os seus livros e partiu sem mais conversa. A professora ainda de cabeça baixa nem viu a saída do aluno. Quem falou foi Ana, a sua companheira de sala ao declarar que Silas tinha ido embora.
--- Chame-o pra sala de imediato. – respondeu a mestra Margarida com toda a sua gordura.
--- Sou eu? – indagou Ana a professora.
--- Logo! Se não eu o ponho de castigo. – replicou a mestra ajeitando o seu vestido.
A mocinha Ana saiu na carreira em busca do colega Silas, passando pelo interior de Diretoria e chegando ao portão de fora. Pelo rumo que tomou só era possível ele ter saído pela frente do Grupo e então debandar para a sua casa. No entanto Ana não viu viva alma. O garoto parecia ter sumido da voragem da vida. Ana ainda saiu para ver na rua ao lado e nem sinal do garoto. Então, o velho Mousinho veio em auxilio da estonteada e absorta garota advertido que foi pela professora Margarida. Esse também não viu mais nem um rastro de Silas. O garoto sumira de uma só vez.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

AMANTES - 03 -

- Julie Delpy -
- 03 -
Molambo era um mendigo. Dizia-se que em algum dia ele fora homem de posses. Em outras palavras: um homem rico. Porém, isso ninguém tinha prova. O homem tinha a pele alva, se alguém chagasse perto e olhasse. Contudo, maltrapilho como estava, era até difícil de dizer. Podia-se ver um apenas homem sujo. Ele morava em um barraco feito de papelão em um terreno que fazia esquina com outra rua sem nome e também com a Rua São Jose. Para final de conversa, ele morava em frente à casa de Vera. Apenas um terreno amplo que outrora foi uma vacaria. O dono da terra morreu e ficou devoluta. Naquele tempo só havia matagal com pés de jurubeba, carrapateira e outro matagal. No fim de todo aquele terreno ficava a tapera do velho Molambo. O velho aparecia de manhã logo cedo, resmungando da vida e levando seu saco de esmolas cheio de molambo. Quando Vera acordava logo cedo, podia ver muito bem o velho Molambo a sair através do matagal para ganhar a rua.
Em certa tarde, Vera combinou com o seu amigo Silas para ver de perto o que havia dentro da tapera de Molambo. Eram três horas da tarde quando os dois amantes surtiram efeito do combinado. A choupana era feita de papelão, era a pura verdade. Os dois amantes chegaram próximos e temeram em entrar, pois o Molambo podia chegar a qualquer instante. Entre medos e empurrões eles agüentaram um pouco mais olhando através o matagal de jurubeba, carrapateiras e até manjericão em meio a o mato rasteiro para saber se o velho eremita não vinha naquela hora. O certo é que depois de um breve instante, a garota resolveu entrar na tapera de Molambo, o ermitão. No interior do cubículo havia de tudo em termos de lixo. E um catre que de veras servia para o velho esticar os ossos, por assim dizer. Era tão escabroso o pequeno interior do aposento que dava para atravessar em dois passos. Panelas velhas feitas com cobertura de ágata disputavam lugar com caçarolas, bacias grandes e pequenas além um mundão de copos retorcidos e amassados todos eles postos ao desarrume total por entre os outros molambos que agüentavam as paredes de papelão do barraco.
Os garotos bisbilhotavam tudo o que viam, alarmados e boquiabertos com tamanha sujeira onde o velho e corroído Molambo passava as suas noites quase a céu aberto, pois a cobertura carecia de um melhor amparo. Entre os trapos corroídos estava um velho vestido de noiva, guardado em um caixote todo arrebentado que se podia ver o que dentro dele existia. Aquilo, de fato, assustou a garota. Ela fez um sobressalto, pulando para trás e deixando escapar um leve gritinho.
--- Noiva? Ele? – clamou a garota Vera a perceber o tal vestido todo amarrotado.
---Quem é noivo? – indagou Silas que ainda não notara o tal vestido.
--- Ele! Molambo! – replicava baixinho e temeroso com o tal vestido que ela acabara de ver.
Os olhos esbugalhados da garota e a sua mão na boca era um sinal que nada saíra bem. A menina tentou correr do local, porém foi de imediata sustentada pelo garoto Silas o qual não queria ficar sozinho naquela espelunca. Se um fugira o outro também queria fugir. E foi o que deu. Uma gritaria solene alarmava a quem pudesse ouvir.
--- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiii!!!!!! – foi tudo isso que fizeram na correria desenfreada.
Com um coração batendo pela boca os dois amantes fugiram de vez e por força solenemente do local onde estavam.
Em certa ocasião, os amantes resolveram migrar até ao pé do morro que ficava não muito longe de suas residências, porém levaria uns bons tropeços para se chegar. Havia matagal por todo o caminho. Arbustos pequenos e médios para não se falar nos grandes cuja existência era no morro mesmo. Urtiga tinha até demais. Isso levava o garoto a advertir a sua companheira para não encostar-se aos pés das famigeradas urtigas. Ora essa! As urtigas eram uma planta baixinha e não fazia mal a ninguém. A não ser que alguém as pisasse. Então era uma coceira dos infernos. Daí, a viagem do moleque acabava de vez, pois só em casa é que ele untava álcool para ver se podia passar a comichão. A par disso, os amantes trafegaram direto para o morro onde tinha os pés de pitomba saborosa. E antes das deliciosas pitombas, eles passaram por pés de umbu, de onde tiraram frutas azedas e muito verdes.
--- Não presta, mas é bom. – dizia Silas a sorrir.
Adiante tinhas os pés de mangas saborosas, muito embora estivessem verdes. Eles olharam para cima e não viram mangas maduras. Com isso seguiram em busca das pitombas que era o “fraco” dos amantes. Partiram depois que provaram azeitonas tiradas do pé e então notaram uns cajueiros repletos de cajus. O garoto olhou para a adolescente e logo foi dizendo:
---É melhor a gente ficar aqui. As pitombas que esperem. – sorriu Silas bastante animado.
--- E têm caju as pampas. – respondeu Vera a sorrir.
--- Aqui é dos amarelos. São bons. Eu prefiro caju amarelo. – destacou Silas se preparando para subir no cajueiro.
--- Tu sobes e eu fico em baixo para aparar. – respondeu a adolescente Vera.
--- Tais de calcinha? – indagou Silas a sua amante com cara cínica.
--- Vá prá merda seu bosta. Eu estou. Não vês? – rebateu zangada a garota.
--- É. Porque você sabe. Lá em cima têm moscas, mosquitos, formigas. ... – respondeu Silas a amante com a cara mais cínica do mundo.
--- É melhor você ir pra merda. Avia. Sobe logo! Tira aquele grande pra mim! – gritou muito brava a garota Vera com a cara trancada.
--- Olha ela? Inda manda? Vai tu! – respondeu Silas já subindo no cajueiro e se livrando das formigas pretas que picavam demais.
A garota olhou para Silas a subir no cajueiro e não teve outra. Soltou uma bela gargalhada dessas que ninguém está prestes a ouvir. O soar da gargalhada de Vera enveredou mata afora para quem tivesse por perto ou por longe suspeitasse o que estaria a se passar em certo ponto do vasto morro.
--- kkkkkkkkkk. – gargalhou a sensual jovem.
Por certo temeroso com as imediatas e imprudentes risadas de Vera, o garoto se assustou enquanto largava a mão nas pernas e nos braços, pescoço e em outros locais para se livrar das formigas pretas. Com certo tempo de pancada e desvio ele por fim perguntou a Vera o que havia acontecido para se achar tanta graça daquela forma.
--- Teu calção. – gargalhou a garota a sorrir demais.
--- Que tem o meu calção? – indagou  Silas amedrontado com as formigas para não se falar nas abelhas que já estavam a zoar.
--- Eu vejo os teus “troços”. – gargalhou Vera sem ter como parar.
--- Vá prá merda. Vem tu subir, vem!!!! – apoquentou-se o garoto.
--- Eu não. Se eu tenho quem suba! – sorriu Vera de forma desregrada.
Cheio de raiva das formigas, abelhas e então da sua amante, o garoto subiu mais que depressa para apanhar um caju amarelo cujo sabor era travo. Mesmo assim, ninguém podia dizer que aquele caju era indiferente para Silas. A mocinha, que estava em baixo do cajueiro, apontou outra fruta mais sedenta que a de Silas. O garoto fez finca-pé no galho e a fruta balançou para um lado e para o outro terminando por cair quando Silas gritou;
--- Lá vai! – gritou o garoto ainda atormentado com as formigas pretas.
Vera se portou no pé do cajueiro a pegar todas as frutas caídas ao esforço do garoto em balançar galhos e mais galhos onde havia caju verdes, de vez, e maduros ou quase maduros. Em baixo, no chão, havia mais frutas e o garoto orientava a Vera tirar as mais novas e puxar as castanhas das mais antigas. A garota fazia de tudo o que o seu amante mandava. Com a saia, juntou uma porção de cajus e de castanhas para guardar em um ponto toda aquela safra de saborosas frutas enquanto consumias as que podia aproveitar ainda ao cair do pé.  De repente, a menina correu para longe sacudindo os cabelos. Eram as abelhas que zoavam atrás para ferrar a mocinha a qualquer preço. E a menina gritava por socorro para que o seu amante descesse e espantasse as abelhas. Mesmo assim, o menino trepado no cajueiro, sorria e dizia;
--- Pega ela abelhas!!! – sorria o garoto ao ver Vera apoquentada sacudindo os cabelos para um lado e para outro.
Após breves instantes de aperreio a garota pode ver que não tinha abelha nenhuma em seus cabelos. Enfim, Vera se desassombrou pode discutir com seu amante, uma vez de descer do cajueiro para acudir a menina ficava apenas a sorrir com o seu modo descarado de ver de longe a desgraça alheia. Ao descer do cajueiro Silas procurou juntar o que estava montado em diversos locais e ele perguntou a Vera onde ela havia postos todos os cajus que caíram de pé.
--- Sei não, seu bruto! Estúpido! Sem vergonha! Miserável! – respondeu com supremo nojo a jovem Vera ainda a se limpar na saia e blusa.
O menino olhou Vera e sorriu desavergonhado como todo o susto por que a garota havia passado naqueles momentos de desespero, angustia e ódio. No fim de tudo, vendo a amante completamente com seus cabelos assanhados Silas se urinou no calção.