segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo Quatro -

- INVERNADA -
- 04 -
SAÍDA
A saída dos agricultores para as suas casas no mato foi a maior tristeza do que podia a haver. Ninguém esperava tamanha balburdia entre os agricultores e os jagunços do coronel Malveira, senhor das terras do sertão do Rio Grande. Na verdade, apenas dois agricultores entraram da contenda. Mesmo assim, todos os demais tomaram para si no tumulto havido. Ninguém aguentava mais viver em uma terra onde não se podia ter nada além de morrer e se enterrar, se pudesse. Entre os demais agricultores seguia Miguel Palhano, sua mulher, Dalva, na carroça da frente, ele e ela sentados na bancada. E logo atrás, estavam o filho e o amigo de Palhano, o caçador Joel a conversar com o garoto sobre o fato havido na bodega. O  garoto estava curioso pela fúria do seu pai na contenda havida na mercearia.
Nando:
--- Era soco pra todo o lado. E o meu pai fazia com todos os jagunços! – dizia alegre o menino fazendo a vez de se socar a cara dos estremados.
Joel:
--- Sim. Seu pai é valente que nem touro. – respondeu o caçador.
Antes de se ir para as suas casas, o caçador procurou comprar duas parelhas de roupas, cinturão, botas e algo mais. Os atrativos para o garoto ele havia entregado quando logo começou a procura dos trajes. E por isso mesmo, sentado na traseira da carroça ele ouvia o garoto a mastigar os pirulitos e socar com força como seu pai fizera com os jagunços. A mãe do garoto estava destemida a lutar com seu marido, se fosse o caso, e não abrir mão dos seus direitos em proteger a sua família.
Dalva:
--- Eu estou do seu lado. Seja lá o que der e vier. – alertou a mulher
Palhano:
--- Quando viemos para a fazenda o Governo prometeu ajuda a todos nós. Mas até hoje essa ajuda não passou de um papel. E o Governo não disse ter um coronel a disputar esse punhado de terra. E nem se prestou a declarar na seca imensa a assolar toda a região. Se o Governo fizesse um açude aqui, até que era bem feito. Mas não tem açude. Nós temos água porque estamos em uma reserva onde o rio nasce. Não fosse o rio, nós morreríamos de sede e de fome. O gado morre sem ter o que comer ou beber. – relatou o homem a pensar no futuro.
Dalva:
--- Os índios dizem que a terra é boa. Eles vivem lutando com as águas das nascentes. E nada lhes falta. O povo, este que veio de fora, procura terras das melhores marcas, mas não sabia da seca a afligir por sete anos a fio cada um dos quais. – reclamou à senhora.
Palhano:
--- Vai precisar de muito esforço para se viver nessas terras. E nossos ossos vão ser enterrados até que tenha bom tempo- -  relatou o homem.
Enquanto isso Nando conversava com Joel em um ponto quase a cair da carroça, pois os dois estavam sentados na parte extrema e, no meio, estava o que se aventava para o consumo durante todo o mês ou a semana. E conversa prosseguia:
Nando:
--- Mas o senhor também é forte. E quem era aquele grandalhão? – indagou espantado.
Joel.
--- Um lutador. Homem de aguentar pancada. Apenas foi derrubado pela paulada que levou no pescoço. Do contrario eu esta “frito” – sorriu sem formas.
Nando:
--- Mas o senhor o surrou bem forte. Pena que ele aguentou! – disse o garoo fazendo com as mãos as tapas de Caçador.
Joel:
--- Ele nem se importava. – sorriu o caçador.
Nando:
--- O senhor aprendeu a lutar com homens fortes? – indagou assustado
Joel:
--- Não. Eu vivo da caça. E se aprendi foi com as feras. Tamanduá, jacaré, onça e bicho pequeno. No mato tem bichou pequeno que luta mais que bicho grande. – salientou.
Nando:
--- Bicho pequeno assim, desse tamanho? – indagou assustado fazendo com os dedos o tamanho.
Joel:
--- Sim. Tem bicho que luta com cobra grande ou mesmo com onça pintada. Um pica-pau luta contra uma serpente quando a encontra em seu habitat natural. – respondeu.
Nando:
--- Virgem! Uma serpente grandona? – se admirou o garoto.
E a conversa progredia a todo custo. E não teve tempo de acabar. Quando seu Palhano chegou a sua casa foi o tempo de terminar as trocas de histórias entre Joel e Nando. E assim foi a conversa durante todo o percurso na velha estava de barro feita pelos próprios animais. Um relâmpago despontou no céu e assustou sobremaneira o senhor Miguel Palhano. De imediato descarregou toda a troçada e ele viu chegar nuvem carregada com chuva. Uma torrencial chuva começou a cair antes do meio dia e demorou a noite toda. Antes das oito horas da noite alguém bateu à porta de Palhano. Ainda com suspeita da briga da manhã daquele dia, na vila de São Miguel, o homem cuidou de empunhar a sua arma e, antes de abrir aporta, foi logo a indagar.
Palhano:
--- Quem bate? – perguntou a se escorar a parte longe da porta.
Voz:
--- Socorro! Acuda-me. Eu estou completamente molhada! Acuda-me! – chorava uma voz feminina.
Palhano:
--- Quem está mais a senhora? – indagou desconfiado.
Voz:
--- Eu estou só. Eu e Deus. Estou toda molhada “mode” a chuva. – destacou a voz de mulher.
Do outro lado, com o revolver suspenso e escorado na parede, estava Joel. A mulher, Dalva se postava em pé junto à mesa. O menino já estava a dormir em seu quarto. A noite de inverno nada permitia a vislumbrar de quem estava a bater a porta. Palhano fez um sinal e Dalva apagou o candeeiro, única chama a alumiar toda a entrada do casebre. Nesse ponto, Joel abriu a porta e se escondeu por trás. Uma mulher, toda molhada, adentrou com o maior medo possível. Ela não enxergava ninguém pela escuridão formada pela falta de iluminação. Já dentro da casa, toda molhada e encolhida feito um gato com as mãos a segurar suas vestes perto da garganta. Nesse ponto a mulher respondeu.
Mulher:
--- Estou só. Eu e Deus. É chuva muita. Eu vim da Paraíba, a pé. Desde que está chovendo por volta do meio dia eu corro de um lado para outro. Sem comida e sem mais nada. - respondeu suplicando.
Nesse ponto, dona Dalva acendeu o candeeiro após verifica o homem Palhano não haver mais ninguém a entrar em sua tapera. A mulher tremia por todo o franzino corpo. Não dava para verificar se era moça ou não. Após Dalva acender o candeeiro, se pode notar um frágil corpo de uma moça quase sem mostrar a idade. Joel se recompôs e se acercou da porta a olhar bem para frente, verificando também se não havia nada por falar.
Joel:
--- Está só. – falou Joel para o dono da casa.  

domingo, 15 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo Três -

- FEIRA -
- 03 -
A FEIRA
No dia da feira livre da vila de São Miguel, logo cedo havia um bom número de gente. Vendendo ou comprando, esse povo andava de um canto a outro. Os talhadores de carne de gado se misturavam com os de carnes de criação ou negociantes de tripas e fatos secos para servir um bom repasto de buchada. Havia mantas de carneiros misturadas com bodes entre as demais mercadorias servidas como as lamparinas e candeeiros. E a mistura com as frutas, legumes e porções de remédios feitos de ervas medicinais se confundiam com tamboretes e comidas de momentos iguais as tapiocas, bolos e grudes. Era o mundo todo a se aproveitar da situação do povo pobre e decadente entre panelas de barro, jarras, alguidares e coisas mais.  Por um instante, Palhano, sua mulher Dalva e o seu filho Nando entraram em uma parte onde funcionava a venda de artigos domésticos na repartição de um andar para vasculhar o de novo colocado. Joel, o caçador também estava com eles e logo entrou percorrendo a sala de modas e vestuários indo após por um pouco espaço de tempo ao balcão do bar. No rumoroso local funcionava o bar de um lado e o entreposto do outro a mostrar as novidades da capital. De tudo tinha no empório. Da seda pura à lamparina a passar pelos chapéus modernos para as jovens moças dos seus quinze anos e até mesmo os coletes bem postados para homens de fino trato. Joel, o caçador, ao ser atendido no balcão da mercearia foi cercado por um jovem  de certa altura, musculoso e bem disposto uma vez a se notar os seus braços fortes. O quase monstro se aproximar de Joel ele  falou com certeza:
Bandoleiro:
--- Moço! O patrão quer falar com o senhor! – falou forte e com voz firme a mostrar suas armas, dois revólveres.
Joel, ouvindo a voz, olhou para trás e indagou:
Joel:
--- É comigo que o senhor fala? – perguntou de forma calma.
Bandoleiro:
--- Não vejo outro aqui! – relatou o bandoleiro apesar do salão está cheio de celerados.
Joel se virou e quis saber ao certo:
Joel:
--- Quem é o seu patrão? – perguntou com modos.
Bandoleiro:
--- O coronel Ernesto. Aqui todos sabem quem é o coronel. Ernesto Malveira! – cuspiu fumo para um lado.
Joel:
--- Eu não tenho conversa com nenhum coronel! – respondeu com voz altiva.
Bandoleiro:
--- Mas é melhor obedecer. Ou eu levo o senhor na marra! – respondeu com voz grossa.
Joel olhou para a marra de homem a sua frente e se dispôs a não ir virando as costas para o agressor. Nesse instante, ao deixar a bodega, ouviu o musculoso homem a tentar agarra-lo pelos os braços a enlaçar Joel com suas intensas mãos. Era então a hora de fazer algo. Joel soergueu os seus braços e se voltou de imediato para o homem forte e alto, esmurrando lhe no queixo por mais de duas vezes e vendo a resistência do bandoleiro em receber os socos sem atinar para tanto. Com todo o empenho Joel esmurrou o bestial homem e viu em seguida a terrível sanha incontida do grandalhão a se manter de pé e segurar o caçador como se fosse uma vela e soergue-lo para o alto ante a turma de outros bandoleiros a bater palmas e gritar com terrível regozijo para a ação do bandido. O indivíduo bruto pegou Joel e torceu de vez como um cisco no ar pronto para joga-lo no chão. Com o barulho ensurdecedor Palhano foi chamado pelo seu filho Nando, ao relatar:
Nando:
--- Pai! O monstro vai quebrar o caçador Joel! – chamou o seu pai com temor.  
Nesse instante, Palhano entrou no salão armando-se de um porrete achado em um canto e se pôs a maltratar o bruto carniceiro ainda com Joel preso por entre as suas grossas mãos para joga-lo por cima das bancas do bar. E de imediato, Palhano socorreu o novo amigo deflagrando uma paulada no pescoço do monstro com o intuito de tirar Joel da incomoda posição. Com a pancada recebida na nuca o bandoleiro desandou e findou por soltar o caçador de qualquer forma e cair no assoalho do bar. Nesse momento, toda a turma a estar no bar se enraiveceu e partiu para cima de Palhano armado apenas com um porrete. Foi uma contenda cruel. Joel, já recomposto, se meteu na briga. Eram apenas dois contra um turbilhão de cangaceiros.  Nem por isso Palhano se descuidou e tacou o porrete em cima dos desatinados tendo ao seu lado o seu amigo Joel. Foi luta intensa para não se acabar mais. Entre socos e pontapé a guerra já durava um largo tempo quando alguém se pronunciou de vez.
Lino:
--- Chega! Palhano venceu a batalha! Todos para seus lugares! Não precisa de mais algazarra! – disse o homem forte a se intrometer na briga.
Com o rosto ensanguentado pela guerra do salão, Palhano olhou para Joel e se deu por satisfeito. O grandalhão continuava estendido no chão pela porretada recebida. O bar ficou todo ao desconforto, com suas mesas espatifadas pela ação dos cangaceiros. No salão nada ficou em plena ordem. Quem se meteu na briga ainda arrotava sangue pela boca. Foi uma carnificina total. As mulheres estavam na loja ficaram a esperar dos dois afoitos lutadores. E assim terminou o combate daquela manhã na bodega existente a feira da vila de São Miguel.
Um cavaleiro bem armado pegou em direção a fazenda do velho Ernesto Malveira e foi dar o recado do ocorrido. O cangaceiro corria mais veloz que o vento quente da manhã de sol. Por entre espinhos e cactos, o bandido sabia apenas correr em seu corcel ao custo de chegar tão breve e contar ao coronel o desmantelo havido no bar onde os jagunços brigaram para ver quem estava com mais força. O bar era do coronel Ernesto Malveira como toda a parte de comercio salvo alguns homens maltrapilhos e maltratados a negociar coisas do plantio em suas terras. Mesmo assim, esses pequenos negociantes ainda pagavam imposto aos celerados do coronel, mesmo os menores de idade, a vender cocada ou coisas típicas das feiras livres da vila. Quando bateu o portão da cancela da casa grande o bandoleiro estava exausto por demais. Quem o viu percebeu ter havido algo de desespero de onde viera. Mesmo assim, ninguém perguntou coisa alguma. O jagunço ao se portar na cancela abriu de imediato para o maior dos dois poder atravessar. E assim feito, o cangaceiro meteu os pés nas ancas do seu corcel e se estirou até chegar à casa grande onde coronel Malveira estava apojado em sua cadeira coberta com couro de bezerro e os seus pés estirados para frente. Sua pança avantajada não deixa por menos o coronel a se apoiar os braços por cima e segurar as mãos entre uma e outra.  Ao chegar à frente da casa grande, fincada em uma altura maior de quem vem, o matuto cuspidor tirou seu chapéu de sua sinagoga e mais que depressa foi dizendo:
Jagunço:
--- O homem é forte. Ele bateu com força do vosso homem. Mesmo assim, o bandoleiro Anaque levantou o homem para o alto e quis joga-lo fora. Nesse momento, Anaque foi atingido por um golpe certeiro em sua nuca por um cabo de machado desferido pelo agricultor Palhano e então começou a contenda. Só parou quando seu Lino disse “chega”. – relatou com pressa o cangaceiro.
O coronel Ernesto Malveira escutou todo o alvoroço e depois mandou o seu cangaceiro tomar banho, pois o seu suor  recendia mais do que gambá. E nesse momento o coronel olhou para o tempo colhendo de o seu pensar quem seria o tal Joel caçador. Um homem forasteiro não conhecedor da força do coronel sendo capaz de mandar executá-lo por qualquer preço.
Coronel:
--- Esse homem não me cheira bem. Tenho que pensar bem para poder atraí-lo. – disse isso consigo mesmo. 
Uma moça da fazenda veio de dentro trazendo refrescos de graviola para entregar ao seu senhor. Esse agradeceu a oferta e então teve a ideia.
Coronel:
--- É isso! Por que não pensei bem antes? – fez saber o coronel.
Mas não teceu maiores comentários a respeito da intuição do fazer.  Dias depois, uma dama da noite chegou à fazenda, por volta das três horas da tarde para confabular com o coronel Ernesto, homem forte do sertão do Rio Grande. E foi assim a conversa bem ao gosto do homem bravo temido por todos os demais sertanejos. Sem meias conversas ele propôs a dama uma rica recompensa se lhe fizesse esse favor sempre bem costumeiro aos andantes do sertão de terras quentes.
Coronel:
--- Faça isso e eu apresento as minhas recompensas. O nome da virgem é Elvira. – relatou o coronel ao falar murmurando.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo Dois -

- A SECA -
- 02 -
DESTINO
O homem Euclides já estava decidido e os argumentos apresentados por Palhano não o convenceram de forma alguma. Ele havia se esforçado em ir para o Goiás ou Mato Grosso, ainda mais distante de sua habitação. Essa era a sua sina. Morar distante onde pudesse plantar e colher sem maiores sacrifícios. O homem que ateou fogo em sua casa, Ernesto Malveira era um indivíduo bruto e astucioso sendo capaz de matar a todos os agricultores de perto para cuidar do seu gado o todo de mais precioso a existir.
Euclides:
--- O gado morre com a seca. Quando chega a seca, mata tudo. Eu vou embora para o Goiás ou Mato Grosso. Se essa é a minha sina, Deus que me forneça melhor lugar. – falou sentido de raiva e comoção.
Palhano:
--- Quem sabe mais de tua partida? – indagou preocupado.
Euclides:
--- Eu falei apenas com vossa senhoria. E mais ninguém. – relatou de vez.
Palhano:
--- Hoje nós temos uma reunião na minha casa. Eu direi a todos que o senhor teve que ir. Mas, se o senhor puder, peço que espere para logo mais. – falou com amargura.
Euclides:
--- Não. Não. Eu vou seguir o rumo por essa estrada da vida. – resolveu de uma vez o homem.
E a carroça partiu rumo ao desconhecido. Via-se nos olhos de Euclides as lágrimas a descer pela face angustiada. Ele não suportaria mais um revés da sorte. No terreiro de Miguel Palhano se ouvia o cantar do galo como se fosse o adeus para sempre ao abatido agricultor. Enquanto a carroça partia, em seu lugar, Miguel Palhano tecia conversa com seu novo amigo Joel Caçador a ditar ser aquela mais uma vitória do injusto homem do gado pelos lados do sertão do Rio Grande.
Palhano:
--- É isso que o infeliz quer! Mas a mim ele não abate! – relatou com raiva.
Joel:
--- Quem é esse homem? – indagou por sua vez.
Palhano:
--- Ele se diz um “ricaço” por essas terras. Criador de gado. É só o que ele sabe fazer. – declarou embrutecido.
Joel:
--- E o pessoal que trabalha com ele? – quis saber.
Palhano:
--- Tem de toda a sorte! Até mesmo bandidos sanguinários! Gente bruta igual ao extremado! – relatou com ira.
Joel:
--- Eu posso dar uma espiada nos homens dele? – indagou o homem caçador.
Palhano:
--- Claro que pode. Amanhã tem feira no povoado. Os asseclas estão todos pela cidade. Principalmente no bar da bodega. Essa fica na esquina da rua principal. E o senhor pode ir até a bodega. – falou com cautela o homem da terra.
Durante  a reunião da noite na casa de taipa de Palhano, os demais fazendeiros alegaram que se tem de viver ao Deus dará, era um caso perdido.  Outro fazendeiro também havia decidido partir do lugar naquelas eras de vidas estranhas. Esse episódio balançou de forma cruel o fazendeiro Palhano. Ele não aceitava desistência de mais nenhum posseiro.
Aquino:
--- A vida é minha! E eu não vou sacudir a minha vida em vão! Eu vim para essas terras quando o Governo garantiu melhores dias para todos! – falou alto o pequenino Aquino. 
Calorosa discussão se seguiu a todo instante. Nesse momento, Joel Caçador teve a entrada permitida pelo senhor Palhano. Um deles indagou a estranhar pela presença de um forasteiro aquela altura dos acontecimentos.
Palhano:
--- Ele é meu amigo. Não fala, mas pode ouvir os que os senhores disserem. Joel Caçador é o seu nome. – e apresentou.
Aquino:
--- O senhor conhece o bastardo Ernesto Malveira? – indagou em suspeita.
O caçador olhou para Palhano e recebeu a ordem de responder.
Joel:
--- Não. – disse apenas o demostrado.
Palhano respondeu falar em lugar de Joel Caçador.
Palhano:
--- Ele trabalha comigo! Mais questão? – perguntou com as mãos nas ancas.
Um –
--- Ele parece ser de longe. – replicou outro agricultor.
Aquino:
--- O senhor veio de onde? – indagou cismado.
Joel.
--- Pernambuco. Atravessei todo o território da Paraíba. E agora estou a trabalhar com o senhor Palhano. -  lembrou o caçador.
Dois –
--- O senhor conhece Jeremoabo? – indagou outro fazendeiro.
Joel:
--- Sim. A terra do Jerimum. Difícil de viver. – declarou o caçador.
Um. –
--- Por que difícil? – indagou cismado.
Joel:
--- O senhor conhece a região? – quis saber.
Um. –
--- Claro que não. Por isso eu quero saber. – relatou com modos.
Joel:
--- Além da seca tem o fogo. Antigas aldeias indígenas. A terra do Monte Santo. – respondeu.
Aquino:
--- Monte Santo é onde houve a Guerra de Canudos há pouco tempo. – declarou o agricultor.
Um. –
--- O senhor é de lá? – perguntou um agricultor.
Joel:
--- De mais longe. – falou o caçador

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo um -

- SERTÃO -
- Capítulo Um -
A CHEGADA
Eram mais de três horas da tarde quando o caçador Joel desceu a íngreme ladeira vindo do cimo da serra. Ele nunca tinha viajado por aquele lugar. Após um dia estafante em busca da caça o homem um tanto exausto procurou descer em seu corcel pela colina vendo de longe a cabana de alguém, talvez, pois tinha a sua chaminé a lançar fumaça naquele fim de tarde. A descida era íngreme com arbustos por todo o canto entre árvores um tanto carcomidas pela ação do insólito tempo. Do alto da colina podia-se enxergar ao longo o campo repleto de pequenas plantações e um rio alagando bom pedaço e terra. O vento morno soprava constante por toda a ravina sem fim. Ao descer mais ainda o caçador notou a presença de outro homem talvez dono do imenso e franco. Terra a se perder nos confins do horizonte.  Para o lado esquerdo de Joel, havia imensas ravinas. Para o seu lado direito, continuava o barranco já em lugares em ascensão até se perder de vista. O rio a correr constante provinha de um leito bem mais ao alto pelo lado esquerdo por Joel a avistar constante. Após enxergar o homem, com certeza a trabalhar na derrubada de um pé de pau, Joel Caçador pode ver mais ao longe um garoto a espantar alguns bezerros. Os animais eram criados no aceiro da cabana construída em estacas de madeira entrelaçadas com outros a se fazer as taipas. De um determinado instante um cão latiu. Era a chegada ainda distante do caçador. Ele trotava aos cuidados do vento sem ligar para os latidos do cão. Era já o entardecer do dia e Joel caminhava do Estado vizinho da Paraíba e começava a descer a serra distante a separar os dois territórios: o do Rio Grande com a Paraíba. Tempo difícil aquele onde um estranho podia ser morto de tocaia ou não. O garoto ouviu o cão latir e foi aos poucos observar quem era o qual. O cão latia sem cessar e o homem com um machado de corte olhou bem para Joel ainda ao longe. Esse já estava dentro de suas terras. De momento, o homem agricultor se escorou no cabo do machado e esperou a chegada do estranho. Esse homem não reconhecia Joel e nem Joel o conhecia tão bem.  As águas do rio dificultavam a passagem de Joel. Contudo, mesmo e de qualquer forma ele atravessou a corrente. O menino, dos seus dez anos, ficou atento ao estranho temendo ser alguém mandado pelos criadores de gado a infestar a região dominada.
Nando;
--- O senhor o conhece? – indagou o menino, a saber, do pai.
Palhano:
--- Nunca o vi por essas bandas. Mas deixa chegar. Se for por bem, a gente sabe logo quem é. – respondeu com incerteza.
Nando:
--- Ele vem das bandas a serra. – comentou o garoto.
E o cão latia cada vez mais. Há certo tempo o menino mandou calar para ouvir melhor o que o homem havia de reclamar ou dizer. O tempo não prometia chuva por aqueles dias em toda a região do sertão do Rio Grande. Borboletas dominavam a área rural do imenso sertão a depositar seus ovos a cada vez de flor em flor. Apesar da terrível seca, Palhano não levava a mal o ocorrido, pois no seu recanto ainda estava o rio a se estender desde o nascente das pedras pela profunda mata virgem. O carneiro estava a mordiscar o plantio de ervas e o menino açoitou para fora. Nesse momento, Joel chegou mais próximo do cercado e comprimentou o dono da casa. O sol do final de tarde não afetava enfim o caçador. Vestindo roupa de brim, um revolver na cintura, preso na cela um rifle e ainda coisas de um puro caçador arranjadas na traseira de montar no cavalo. E o caçador enfim indagou:
Joel:
--- Boa tarde meu senhor. Por que bandas eu sigo para poder chegar ao Piauí? – indagou com duvidas em seguir.
De mão no machado escorado no chão, Palhano teve a declarar ser o Piauí lugar bem distante a percorrer por aqueles sertões da região nordestina.
Palhano:
--- Boa tarde.  O senhor poder seguir pelos lados da serra. Mas vai demorar muito para se alcançar aquela terra seca de chão batido. Mas, a propósito, o senhor conhece o homem chamado Malveira? – indagou para ouvir a resposta.
O caçador pensou um pouco antes de responder com firmeza:
Joel:
--- Não senhor. O que ele faz? – indagou sem muita preocupação.
Palhano:
--- Eu suponho que o senhor tenha sido mandado por esse sicário, apesar de ter vindo das bandas da Paraíba. Ele compra tudo o que lhe interessa. E falta apenas adquirir a minha propriedade e as de outros posseiros. – cuspiu fumo para as costas e olhou atento o caçador.
Joel:
--- Não. Não. Jamais vi tal pessoa. E mesmo que eu tivesse visto, ele não faz o meu oficio. Eu ando só para um lado e para outro. Como o que  terra dá. – falou suave o caçador.
Palhano:
--- Pelo que eu observo o senhor anda bem protegido. – e apontou para as armas do caçador.
O caçador Joel sorriu e respondeu apenas.
Joel:
--- Isso é a minha ferramenta. Tenho uma arma para me defender de onças ou cobras. A maior é apenas para caçar o que está longe. – sorriu o caçador.
Palhano buscou maior assunto, mas não teve meios. Ele viu na figura de Joel o homem franco e o seu falar era conciso. Afinal, se ele era um caçador das estepes bem podia ser aquele andarilho solitário a procura apenas de caçar onça, mocó ou veado. E ao topo de algum tempo Palhano fez o convite para se postar a sua fazenda.  Joel aceitou a oferta, pois afinal a noite não tardaria a chegar e para onde o homem desejava ir, ficaria muito longe. Com isso, Joel se apeou buscando água em uma bomba de extrair o líquido do próprio chão. O corcel bebeu água na manga feita para os outros animais. Em seguida, Joel tratou de guardar no celeiro todo o que se podia tirar do lombo do cavalo. Ao final das contas o caçador foi até a sala do casebre onde encontrou dona Dalva, mulher de Palhano. A mulher lhe ofereceu a comida pronta àquela hora tardia enquanto os homens conversavam dos problemas surgidos no decorrer do tempo.
Após a refeição do fim da tarde, Joel Caçador aproveitou o vestígio de sol e procurou derrubar a árvore ainda restante com o machado cortante e, em seguida, veio também o dono das inóspitas terras. Os dois musculosos homens fizeram finca-pé até a derrubada da arvore de angico já sem vida e estar a apodrecer de pé como ente mortal. Já era noite quando os homens acabaram com o seu oficio. Pela manhã, ainda cedo, Joel estava deitado na estrebaria e notou a presença do garoto Nando a pesquisar com seu olhar se Joel ainda dormia. O caçador estava deitado e comprimento o garoto, tendo esse um susto terrível, pois não esperava Joel acordado.
Nando:
--- Que susto! Eu não vi o senhor acordado! – teve medo o garoto.
Joel:
--- Eu estava apenas deitado e vi sua sombra penetrar pelo estábulo. – sorriu o caçador.
Nesse momento, chegou à casa de Palhano o outro posseiro, Euclides com toda a sua família para dar a noticia de ter de sair em busca de outros lugares. E dava como exemplo o feito em suas terras com a queima de sua casa a mando do senhor fazendeiro Ernesto Malveira, homem bruto e grandalhão com sua pança enorme, cabelos assanhados a parecer nunca cortados. E respondia Euclides não ter forças maiores para ficar na sua propriedade, pois os homens de Malveira tocaram fogo em tudo.
Palhano:
--- Não faça isso. Nós ajudamos e reconstruir sua casa. É isso o que o sicário quer. Nós éramos vinte. Hoje temos a metade dos posseiros. Essa terra a ele não pertence. Não adianta ir para outro lugar. Eu peço a voce ter de ficar mais um pouco. Assim, unidos nós podemos soerguer a vossa casa. – rogou o homem ao desabonado companheiro.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Cinquenta e Quatro -

- TEATRO -
- 54 -
TRÁGICO
Dia de sexta-feira, noite, Teatro repleto de gente. Cortinas fechadas. As ovações são ouvidas. Extasse total. No ambiente da casa de espéculo “Carlos Gomes”, o teatro, movimento intenso. Pessoas a rodear um ao outro. Entre coxias, pessoas voltam e passavam apressadas. Um piano de Calda Inteira Steinway. Uma pequena moça a se sentar. Um meio rapaz com seu violino ainda na espera. Eles: Emma e Joel. Filhos enfim de Nair e Edgar. Aflição total para o início do espetáculo. A sua mãe, Nair, bem mais conhecida por Ramona Pêra ainda estava no camarim. Na plateia: Odessa e o noivo Dimas entre muitas outras pessoas, inclusive o esposo da cantora Edgar e seu amigo leal Ricardo França ou simplesmente França e a esposa Clara, irmã de Edgar. Um caso especial: Lenira estava na coxia. O Governador do Estado já no seu Camarote Oficial estava presente no seu magnifico lugar. Ele a esposa e filhos, o Ajudante de Ordens e mais secretários especiais acima de todos os das poltronas nos balcões. Frisas repletas de assíduos frequentadores. Camarotes em igual proporção. Os ostensivos homens de fardamentos briosos e estilo nobre também estavam rigorosamente presentes a orientar os demais frequentadores onde tomar assento. O Salão de entrada ostentava entre meios com seus habituais frequentadores a conversar futilidades. Ao lado direito tinha o bar a vender o que mais se precisasse. Nas galerias: públicos e silenciosos homens fardados em estilo formais. No salão de entrada entre três grossas portas de ferro havia exposição de Ramona Pêra, com suas fotos e brindes especiais. Os fotógrafos faziam suas artes e esquemas de alumbramento com aqueles quadros em tamanho natural. Era esse o clima do Teatro a um quarto da noite.
Quando se abriu a cortina após um terceiro aviso, surgiram as brilhantes duplas: – moça e rapaz - a agradecer com todo o esmero o seleto e excelente público. No salão foram apagadas as luminárias em estilo de candelabros. Apenas o palco era iluminado. A plateia em deslumbre se comportou em absoluto silencio. Do piano se ouviu o som de um concerto de Bach. Magistral e esplendido pianíssimo a dedilhar por uma infante. Em seguida, ouviram-se em silencio os acordes de um violino a executar uma peça de Mozart de número 3 algo muito bem composta para Reis, Rainha e autoridades eclesiásticas, como o Santo Padre, o Papa. E o auditório caiu em deslumbre quando surgiu a mágica sonora Ramona Pêra. Eram demais aplausos em arrebatador fragor. A plateia queria ouvir o soar da soprano tão elegantemente em trajes de ostensivos cortes. Uma matilha fazia vez de o completo vestir. Um traje longo ao tocar o chão. Após um breve período de aplausos eis a dama de preto a entoar a perene voz. Uma hora e meia de cantar com dois seguidos intervalos. No segundo Ramona surgiu com um vestido de cor escarlate. Tal caso despertou a plateia a ovacionar aquele empenho. Na terceira vez, Ramona surgiu com uma veste de cor azul marinho quase negro. E a plateia delirava sem fim. Ao derradeiro clímax da apresentação, de tanto aplauso dado, Ramona voltou à cena mais uma vez e os seduziu aos estonteados fãs com a melodia “Odeon”, do autor Ernesto Nazareth da esfera nacional tendo acompanhamento de seus dois filhos, Emma Joel.   
Após o espetáculo, Nair Penteado se dirigiu com o máximo de pressa ao seu camarim. Ao entrar no recinto nem chegou a perceber a presença de um homem. Esse estava como a se ocultar atrás da porta e quando Nair entrou, ele surgiu. Nair como aturdida estremeceu de susto ao ver seu ambiente invadido por um estranho. Ela nem percebeu ter ele um antigo conhecido das terras da Rua do Motor. Calos era seu nome. Em trajes de um senhor bem vestido o homem indagou à magnifica mulher.:
Carlos:
--- Venha comigo! – chamou o homem.
Nair:
--- Quem é o senhor! Segurança! – gritou brava a dama.
De repente entrou um segurança no camarim da estrela. Carlos se vendo acuado sacou do revolver e disparou contra o obediente homem. Esse cambaleou e caiu. Vieram então mais seguranças e a sobrinha de Nair. Essa ficou alarmada ao ver o criminoso de arma em punho. E deveras gritou:
Lenira:
--- Não atire! Não atire! Eu estou desarmada! Cuidado! – gritava a mulher.
Nesse momento, Nair partiu para cima de Carlos e lutou bravamente com o fim de retirar a arma do homem. Esse lutava a todo instante para se desvencilhar severo da mulher. E enfim no mesmo instante acudiu a dama o seu esposo, Edgar. Esse chegara um pouco depois e entrou na contenda com o assassino. Agarrado por dois contendores, Carlos não teve êxito e disparou contra si mesmo sem ter a oportunidade de se soltar do marido e mulher. O disparo se alojou no peito esquerdo e como um misterioso mortal em um instante a bradar um grito de horror o ser caiu desfalecido e, no mesmo instante sucumbiu. Nair também desfaleceu não ouvindo sequer as vozes dos filhos ao chegar ao ato extremo de terror inglório.
Pessoas de todo o local de acercaram de vez ao se deparar com o guarda ferido e do lado de dentro do camarim o corpo exangue do cruel bandido. Nair já estava sendo tirada para fora onde se prestaria cuidados. Pai e filhos estavam juntos, mais a tia Lenira, o marido Narcíseo, a cunhada Clara e seu marido França e toda gente a entrar no corredor dos camarins. A polícia veio depressa para colher os informes e até mesmo os guardas do teatro já estava por perto para resguardar o recinto onde estava caído o morto. O segurança havia sido ferido no ombro pelo tiro recebido e mesmo assim foi levado para um pronto socorro existente ao lado do Teatro. A mulher, Nair, desacordada, foi atendida pelo medico Dr. Narcíseo a estar assistindo a apresentação naquele instante da cantora. Ao ver a mulher desacordada ele usou um material como éter para fazer recobrar os sentidos. Logo em seguida, sob a proteção do seu marido Edgar, sua prima Lenira e demais pessoas, Nair foi conduzida ao pronto socorro ao lado onde fez melhor tratamento.  O cadáver de Carlos continuou no local a espera do médico legista. O Governador chegou tão logo recebeu a informação da ação criminosa do individuo conhecido por Carlos.  
No dia seguinte os jornais da manhã detalharam o ocorrido. O de maior circulação abriu em página inteira com o título sempre bombástico: “CENA DE MORTE NO TEATRO”.
Alguns:
--- Que horror! – dizia estarrecido o povo simples.
Outros jornais traduziam: “MORTE COMANDA ESPETÁCULO”.
E assim os fúteis e inibidos jornais de Natal faziam da arte o seu trivial e sangrento comércio. E jamais cogitavam na apresentação em si dos garotos e da lírica cantora.
De imediato, então, levou-se a cantora lírica para o pronto socorro bem ao lado do Teatro, onde estava sendo atendido outro servidor. A senhora Nair, já desperta e meio confusa nada relatava e não imagina o que fora de fato. Ao seu lado, a conduzir com atenção pelo corredor do pronto socorro, estava o seu marido Edgar e demais acompanhantes, inclusive Lenira e Odessa a ama dos dois meninos em tempos passados. Foi um eterno e longo período. A lua azul se alteava no céu em tempos de serena e contida paz. Os bares da rua já estavam fechados. Um moribundo dormia o seu sono de embriagues. Carros a transitar do Teatro tomavam o rumo da Cidade Alta e demais distantes bairros. Uma sirene se ouviu. Uma ambulância a sair. O homem que levou um tiro no ombro. A ambulância saiu com pressa e em desabalada assistência correu o mundo distante. Dois amantes sorriam de modo arteiro e descuidado ao passar pela rua onde existiam pés de flamboyant e eles chutaram ao leu as eternas flores da maviosa primavera.  Um guarda noturno apitou para bem distante a procura de outro a responder. Esse era o clima no qual vivia sempre o nostálgico bairro da Ribeira.
Um mês de repouso absoluto. Foi então a receita do médico de plantão. De pleno acordo o doutor Narcíseo entendeu. Logo a seguir, todos os que estavam no pronto médico largaram para a residência de Nair. E Lenira lamentava o ocorrido.
Lenira:
--- Bruto! Canalha! Pederasta! – era o que formulava o sentir da moça a relatar contra o morto
Um mês de repouso absoluto. Nesse tempo, Nair, seu marido Edgar e mais os seus filhos – Emma e Joel – a tia dos infantes, senhora Lenira e mais todos os serviçais, como Odessa, Deodora e a menina já moça, Ana Julia juntaram-se na fazenda Dois Irmãos. De momento a se sentar junto a Nair quando essa estava desanimada pelo conflito de horas passadas Odessa contou uma história um pouco mal entendida. Ela conhecia o homem do tiro.
Odessa:
--- Eu conheci o canastrão. Carlos Passos era o seu nome. Ele morava na Rua do Motor. E sempre jurou vingança contra a dona Nair. Desde muito moço ele queria namorar a senhora. Mas nunca obteve êxito. A senhora sempre o detestou. Certa vez, dona Yayá advertiu a Carlos ter visto uma nuvem negra em seu caminho. Isso queria dizer: morte. Ele não se importou.  – falou tranquila.
Nair:
--- Que coisa! Eu nunca dei atenção a esse homem! Nem mesmo quando moça! – falou com ressentimento e magoada.
 Após o passar das horas como se fora eternidade, Deodora chegou com suco de graviola para atender a todos. De imediato Nair agradeceu chamando-a de “mãe”. O marido Edgar suspeitou do carinho. E Nair mesmo confessou;
Nair:
--- Deodora foi minha mãe em vidas passadas. Ela se chamava de Evelyn. – disse e não sorriu.
Edgar:
--- Ah. Lembro-me. O velho! – respondeu sem sorrir.
Nair:
--- Sim. Por coincidência ele esteve ali na frente de casa nesse instante. – lembrou.
Edgar:
--- Jura? Eu não tive nenhum aviso. – disse assustado.
Nair:
--- Ele fez aceno de adeus ou até mais com o braço levantado. – relatou
Edgar:
--- Coisas! Eu podia ter visto a “fera!”. – falou como indignado.
De parte, a dupla comentava enquanto a vitrola tocava disco LP em uma melodia marcante de anos passados.
Joel:
--- O que eles falam tanto? – pergunta com relação a sua mãe.
Emma:
--- E eu sei? Coisas do arco da velha! – respondeu a moça a olhar o tempo.
O dia já quase terminava por entre folhas de acácia a derramar suas flores amarelas ao chão. Um bezerro perdido se acercou da fazenda e olhou para o rapaz Joel. Naquele instante soltou um mugido de quem procura a sua mãe. O rapaz Joel olhou bem para o garrote e apontou com o dedo polegar da mão esquerda ter a mãe se escondido no curral. O garrote saiu satisfeito dando pulo para a direita e a esquerda e se enfiou para o cercado. A mocinha não aguentou a astucia do rapaz e em seguida sorriu.
 
- FIM –

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Cinquenta e Três -

- PIANO -
- 53 -
TEMPOS
O tempo era passado. Em seu lugar começaram os cantos. Nair encontrou um nome artístico e mudou. Era chamada então de Ramona Pêra. Nome atraente e básico em um filme de outrora onde o personagem principal se chamava de Ramona. Tal nome era oriundo de um antigo romance do mesmo título escrito por Helen Hunt em 1884, um ano antes de sua morte. Desde que viu esse filme, a senhora Nair Penteado quis modificar o seu nome mesmo sendo artístico. E assim ficou sendo chamada de Ramona Pêra por quem não a conhecia de fato. A menina Emma estava com mais de três anos de idade. Quase quatro anos. E Joel, o irmão, estava com dois anos de idade. A alegria voltou a casa, em Natal. Nos dias de festa, como natal, carnaval e são João era desatino de fuzarca. No Carnaval por demais principalmente. Lança-perfumes da marca Rodouro era o mais usado para os enfeites formais. Passear de automóveis com os rostos pintados ou deveras mascarados, no corso das avenidas era o tal ambiente quando era às quatro horas da tarde. Os tormentosos “assaltos” de casa em casa não parava de emoção. Homens com trajes femininos e a deselegância de cada qual deixavam os naturais ambientes naufragados em confusão. Os menos conhecidos já chamavam Nair por Ramona. E era um total desvario infernal. Quatro dias de folia e ainda eram poucos. À noite eram os loucos bailes da grã-finagem nas boates de fina classe, como o Aero Clube, Natal Clube, Brasil Clube entre tantos mais existentes na capital. E sem falar no corso a continuar em plena noite indo até as dez ou onze horas. E com lança perfume, serpentinas, confetes entre meios de muito uísque, vinhos e cachaças. Era a loucura a se esvair entre moços, destintas jovens, adultos e também os anciões de tantos anos. Na mesa, tinham de tudo nas mansões de gente nobre, desde peru, galinha, guinés e mesmo os assados de pernil ou gado além de bebidas do mais fino gosto. No dia seguinte, manhã cedinho eis que estavam todos os bêbados e equilibristas à beira mar curtindo a ressaca braba. Alguns a dormir o eterno sono dos justos. Outros, a gargalhar das zombarias dos eternos. Em frente a todos estava à senhora Ramona Pêra e os seus dois amados filhos.
Como se deu a questão de Ramona! Certa vez, no salão de baile do Grande Hotel, estava um pianista vindo de estradas distantes. Seu nome era Richard North. Era ele um exímio pianista a estar em Natal a convite de um elegante empresário. Certa noite de um sábado estava no recinto o casal Edgar e sua esposa para ouvir o concerto do pianista. O início ocorria horas depois. Enquanto não havia dado a hora, North, o pianista, executava melodias várias e então se acercou do piano a modesta pessoa não conhecida de tanta gente. Nair era seu nome. Ela escutava o maestro ao piano e deu-lhe vontade de acompanhá-lo em certas melodias. E então deu por inicio o seu desempenho. Nessa ocasião, após várias canções de eternos encantos o maestro North perguntou-lhe se havia já cantado de outras vezes. E Nair disse não. Apenas em casa, a ninar as suas belas crianças.
North:
--- Mas a senhora é uma maravilho cantora. Bela soprano. Uma verdadeira musa. A senhora estuda música? – perguntou admirado o autor.
Nair:
--- Não. Não. Nunca. Eu canto apenas para os meus filhos. – sorriu a mulher.
North
--- Mas uma voz se perdendo! Por que a senhora não procura uma escola de musica? – indagou surpreso o pianista.
Um cidadão gordo e relativamente de pouca estatura estava próximo de North e nessa ocasião ele se aproximou ainda mais e relatou como conhecedor de causas. Era o professor Otto Rossi, mestre erudito cujo nome era internacionalmente conhecido. Nessa oportunidade o professor Rossi era diretor da Escola de Musica de Natal e estava no Grande Hotel para prestigiar com a sua magnitude a apresentação de Richard North, cuja amizade se solidificara há vários anos quando ambos faziam doutorado em musica erudita do Conservatório de Musica de Toscana na Itália. Para o professor Rossi, o seu amigo North era uma sumidade na musica erudita. North tinha passado pelos maiores e melhores centros musicais dos países de todo o mundo. A visita a Natal era apenas por um convite recebido de outro ilustre amigo conhecedor do homem, profissional de escol em longas datas. E foi dessa forma ter Rossi se aproximado do augusto e ilustrado homem para confirmar o que a sumidade dissera.
Rossi:
--- Com permissão do ilustre professor North, é de admirar a senhora nunca ter se aproximado da Escola de Musica, pois sua voz maviosa encantaria a todos os frequentadores de academias musicais. Eu convido a senhora a compor a nossa Escola de Musica, se for o caso. – relatou com firmeza o erudito professor.
Nesse instante surgiu a figura de Edgar. Ele se identificou como esposo de Nair e fez ver ter a jovem senhora um cunho artístico sem precedentes. Ele mesmo a ouvira entoar cantos de ninar e sempre se admirou de tal essência de voz. Se nunca deu a maior importância foi por causa do seu trabalho diário e de alternativas de vida as quais o faziam esquecer-se do mais próximo. A sua sobrinha Lenira foi outra a ter imenso orgulho na suavidade de voz da sua inseparável amiga de tia quando essa estava a cantar para acolher os seus meigos filhos. Mesmo assim, como todos cantavam, para Lenira nem o mínimo pensar a jovem senhora deduziria colocar a sua amiga e tia em alguma Escola de Canto. No caso de Edgar Penteado, ele homem por demais conhecido nas classes governamentais, políticas e do comercio entre outros. Ele nem necessitou se apresentar como diretor de uma repartição. Isso porque a sua presença já era signo de ostentação e firmeza. A tomar o conhecer de Nair em ser a esposa de Edgar, o maestro então fez reverências especiais ao casal se levantando do seu banco ao piano.  Daí por diante a conversa tomou um novo rumo. A senhora se fez presente no recital e concerto adiante a seguir. Com o passar do tempo, Nair já estudante de música erudita achou por bem modificar o seu nome: Ramona Pêra.
Passaram-se cinco difíceis anos. Ramona já estava penetrando no Concerto de Música da Escola e sendo afinada por demais, não durou tanto tempo para a senhora ser a soprano principal.  Recife, Fortaleza, Belém, Salvador, Rio, São Paulo, Porto Alegre entre outros. Esses eram os centros mais ilustres e constantes das apresentações do Concerto da Escola. Nair, então Ramona Pêra se tornara na elegante prima dama do estilo em soprano. Em outra parte, anos antes, dona Yayá, certa estava sentada em um tamborete quando por frente de sua maltratada moradia passou um rapaz por nome de Carlos. Esse rapaz nutria forte atração pela mocinha de 13 anos chamada Nair. E tentou por varias vezes entabular namoro com Nair. Mas sempre foi rejeitado. Nair nada queria saber de namoro em sua época. E um dia:
Yayá
--- Moço! Eu vejo a sua frente uma terrível sombra! – falou a anciã bem tranquila.
Carlos:
--- Que estás dizendo, ó velha? – perguntou com voz grossa e atrevida.
Yayá:
--- Uma sobra que significa “morte”. Eu temo que isso aconteça! – falou cachimbando a anciã.
Carlos:
--- Não devo nada a ninguém! – falou um tanto abusado
Yayá:
--- Mas tenha cuidado. A morte ronda o teu espírito. – proclamou sem dúvidas a anciã.
 O tempo passou e Nair, casada com um bom partido, nem se lembrava de mais dos parceiros da Rua do Motor. Ela era uma mulher de posses, exímia  e magistral. Sendo então uma soprano de classe, Nair com o pseudônimo de Ramona Pêra se tornara em mulher elegante sem nem sequer pisar no chão. 
As festas vieram e passaram. Depois do Carnaval veio a Semana Santa, o São João e, por fim o Natal emendando com o Ano Novo. Na residência de Nair, tudo era festa, regozijo e beleza. As festas do Natal eram uma grandiosidade de enfeites e presentes. Tais presentes, aos homens e mulheres da Fazenda Dois Irmãos, bem como aos da alta classe onde Nair igualmente festejava a convite para o jantar de confraternização. Nem todos poderiam comparecer, pois a festa alusiva era também nas outras moradias. Os discos em LP já estavam na moda. Na vivenda de Edgar, podia-se ouvir Beethoven, Chopin, Bach, Bizet, Debussy e tantos outros. E também se trazia os populares brasileiros e estrangeiros. Enfim, tudo era festa. E quem pagava o “pato” era o “peru” assado com fritas. Além do mais tinham as farofas e os escargot para o contento da senhora Nair Penteado. A noite inteira era de festa, principalmente para a gente grande uma vez que a meninada já estava choramingando para dormir. No dia seguinte, o Natal de Jesus, as domésticas já estavam acordadas a servir a refeição matinal. Embora todos ainda dormissem. Isso se procedia quando Edgar, Nair, a parelha de meninos e mais uma doméstica, na certa a senhorita Odessa não se preparavam para passar fora o final de semana.
Por vezes, Nair (ou Ramona Pêra), tinha apresentação no teatro, sempre à noite, de forma solo. A mulher já estava com dez anos de cantora e os seus meninos já eram quase adultos. Emma era uma estudante de piano e já usava o instrumento com toda a delicadeza. O filho, Joel era estudante de violino e outros órgãos. Com relação específica, A Valsa do Imperador, Canto dos Bosques de Viena, Danúbio Azul, peças vienenses as mais variadas até mesmo uma Ave Maria, de Franz Schubert, eram marcas singulares no repertório de Ramona Pêra. E todas as canções e valsas eram acompanhadas por seus dois filhos. Ao sublime final de cada recital, na Fazenda Dois Irmãos as ovações eram tamanhas como tanto era a voz da soprano.  O seu esposo Edgar Penteado, família e moradores se sentiram entusiasmados. Era um dia de domingo, ao cair da tarde. Nesse dia, era comemorado mais um aniversário de casamento de Nair, na Catedral de Notre Dame. E entre ensaios e devaneios quis Nair enaltecer a briosa data e fez ver a lembrança jamais se apagar. Estavam presentes, o casal Narcíseo e Lenira, além da domestica Odessa acompanhada de um rapaz chamado Dimas, aparentemente seu namorado. A apresentação de Nair durou até seis horas da noite ainda clara quando a dama entoou o canto da Ave Maria ao acompanhamento dos seus delicados filhos. Para a gente do interior aquela apresentação foi algo de magnifico e todos os rancheiros aplaudiram com verdadeiro entusiasmo. Ao final da festa foram servidos os habilidosos bolos e salgados, acompanhados de vinhos e moscatel italiano. Dona Deodora foi quem serviu ao casal.
Deodora:
--- Um pouco de Moscatel, senhora! – sorriu a mulher.
Nair.
--- Obrigada! Sente-se à mesa e saboreie conosco também! – disse a mulher tendo já resolvido o impasse de velhos tempos.
Deodora:
--- Obrigada, senhora. – ressaltou a mulher antes mãe de Nair em tempos remotos.
E a festa continuou com êxito por largas horas no esplendor da noite. Em uma vitrola de ouvia o tocar de uma “Hallelujah”, de Haendel, peça magistral e singular.