quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Cinquenta e Quatro -

- TEATRO -
- 54 -
TRÁGICO
Dia de sexta-feira, noite, Teatro repleto de gente. Cortinas fechadas. As ovações são ouvidas. Extasse total. No ambiente da casa de espéculo “Carlos Gomes”, o teatro, movimento intenso. Pessoas a rodear um ao outro. Entre coxias, pessoas voltam e passavam apressadas. Um piano de Calda Inteira Steinway. Uma pequena moça a se sentar. Um meio rapaz com seu violino ainda na espera. Eles: Emma e Joel. Filhos enfim de Nair e Edgar. Aflição total para o início do espetáculo. A sua mãe, Nair, bem mais conhecida por Ramona Pêra ainda estava no camarim. Na plateia: Odessa e o noivo Dimas entre muitas outras pessoas, inclusive o esposo da cantora Edgar e seu amigo leal Ricardo França ou simplesmente França e a esposa Clara, irmã de Edgar. Um caso especial: Lenira estava na coxia. O Governador do Estado já no seu Camarote Oficial estava presente no seu magnifico lugar. Ele a esposa e filhos, o Ajudante de Ordens e mais secretários especiais acima de todos os das poltronas nos balcões. Frisas repletas de assíduos frequentadores. Camarotes em igual proporção. Os ostensivos homens de fardamentos briosos e estilo nobre também estavam rigorosamente presentes a orientar os demais frequentadores onde tomar assento. O Salão de entrada ostentava entre meios com seus habituais frequentadores a conversar futilidades. Ao lado direito tinha o bar a vender o que mais se precisasse. Nas galerias: públicos e silenciosos homens fardados em estilo formais. No salão de entrada entre três grossas portas de ferro havia exposição de Ramona Pêra, com suas fotos e brindes especiais. Os fotógrafos faziam suas artes e esquemas de alumbramento com aqueles quadros em tamanho natural. Era esse o clima do Teatro a um quarto da noite.
Quando se abriu a cortina após um terceiro aviso, surgiram as brilhantes duplas: – moça e rapaz - a agradecer com todo o esmero o seleto e excelente público. No salão foram apagadas as luminárias em estilo de candelabros. Apenas o palco era iluminado. A plateia em deslumbre se comportou em absoluto silencio. Do piano se ouviu o som de um concerto de Bach. Magistral e esplendido pianíssimo a dedilhar por uma infante. Em seguida, ouviram-se em silencio os acordes de um violino a executar uma peça de Mozart de número 3 algo muito bem composta para Reis, Rainha e autoridades eclesiásticas, como o Santo Padre, o Papa. E o auditório caiu em deslumbre quando surgiu a mágica sonora Ramona Pêra. Eram demais aplausos em arrebatador fragor. A plateia queria ouvir o soar da soprano tão elegantemente em trajes de ostensivos cortes. Uma matilha fazia vez de o completo vestir. Um traje longo ao tocar o chão. Após um breve período de aplausos eis a dama de preto a entoar a perene voz. Uma hora e meia de cantar com dois seguidos intervalos. No segundo Ramona surgiu com um vestido de cor escarlate. Tal caso despertou a plateia a ovacionar aquele empenho. Na terceira vez, Ramona surgiu com uma veste de cor azul marinho quase negro. E a plateia delirava sem fim. Ao derradeiro clímax da apresentação, de tanto aplauso dado, Ramona voltou à cena mais uma vez e os seduziu aos estonteados fãs com a melodia “Odeon”, do autor Ernesto Nazareth da esfera nacional tendo acompanhamento de seus dois filhos, Emma Joel.   
Após o espetáculo, Nair Penteado se dirigiu com o máximo de pressa ao seu camarim. Ao entrar no recinto nem chegou a perceber a presença de um homem. Esse estava como a se ocultar atrás da porta e quando Nair entrou, ele surgiu. Nair como aturdida estremeceu de susto ao ver seu ambiente invadido por um estranho. Ela nem percebeu ter ele um antigo conhecido das terras da Rua do Motor. Calos era seu nome. Em trajes de um senhor bem vestido o homem indagou à magnifica mulher.:
Carlos:
--- Venha comigo! – chamou o homem.
Nair:
--- Quem é o senhor! Segurança! – gritou brava a dama.
De repente entrou um segurança no camarim da estrela. Carlos se vendo acuado sacou do revolver e disparou contra o obediente homem. Esse cambaleou e caiu. Vieram então mais seguranças e a sobrinha de Nair. Essa ficou alarmada ao ver o criminoso de arma em punho. E deveras gritou:
Lenira:
--- Não atire! Não atire! Eu estou desarmada! Cuidado! – gritava a mulher.
Nesse momento, Nair partiu para cima de Carlos e lutou bravamente com o fim de retirar a arma do homem. Esse lutava a todo instante para se desvencilhar severo da mulher. E enfim no mesmo instante acudiu a dama o seu esposo, Edgar. Esse chegara um pouco depois e entrou na contenda com o assassino. Agarrado por dois contendores, Carlos não teve êxito e disparou contra si mesmo sem ter a oportunidade de se soltar do marido e mulher. O disparo se alojou no peito esquerdo e como um misterioso mortal em um instante a bradar um grito de horror o ser caiu desfalecido e, no mesmo instante sucumbiu. Nair também desfaleceu não ouvindo sequer as vozes dos filhos ao chegar ao ato extremo de terror inglório.
Pessoas de todo o local de acercaram de vez ao se deparar com o guarda ferido e do lado de dentro do camarim o corpo exangue do cruel bandido. Nair já estava sendo tirada para fora onde se prestaria cuidados. Pai e filhos estavam juntos, mais a tia Lenira, o marido Narcíseo, a cunhada Clara e seu marido França e toda gente a entrar no corredor dos camarins. A polícia veio depressa para colher os informes e até mesmo os guardas do teatro já estava por perto para resguardar o recinto onde estava caído o morto. O segurança havia sido ferido no ombro pelo tiro recebido e mesmo assim foi levado para um pronto socorro existente ao lado do Teatro. A mulher, Nair, desacordada, foi atendida pelo medico Dr. Narcíseo a estar assistindo a apresentação naquele instante da cantora. Ao ver a mulher desacordada ele usou um material como éter para fazer recobrar os sentidos. Logo em seguida, sob a proteção do seu marido Edgar, sua prima Lenira e demais pessoas, Nair foi conduzida ao pronto socorro ao lado onde fez melhor tratamento.  O cadáver de Carlos continuou no local a espera do médico legista. O Governador chegou tão logo recebeu a informação da ação criminosa do individuo conhecido por Carlos.  
No dia seguinte os jornais da manhã detalharam o ocorrido. O de maior circulação abriu em página inteira com o título sempre bombástico: “CENA DE MORTE NO TEATRO”.
Alguns:
--- Que horror! – dizia estarrecido o povo simples.
Outros jornais traduziam: “MORTE COMANDA ESPETÁCULO”.
E assim os fúteis e inibidos jornais de Natal faziam da arte o seu trivial e sangrento comércio. E jamais cogitavam na apresentação em si dos garotos e da lírica cantora.
De imediato, então, levou-se a cantora lírica para o pronto socorro bem ao lado do Teatro, onde estava sendo atendido outro servidor. A senhora Nair, já desperta e meio confusa nada relatava e não imagina o que fora de fato. Ao seu lado, a conduzir com atenção pelo corredor do pronto socorro, estava o seu marido Edgar e demais acompanhantes, inclusive Lenira e Odessa a ama dos dois meninos em tempos passados. Foi um eterno e longo período. A lua azul se alteava no céu em tempos de serena e contida paz. Os bares da rua já estavam fechados. Um moribundo dormia o seu sono de embriagues. Carros a transitar do Teatro tomavam o rumo da Cidade Alta e demais distantes bairros. Uma sirene se ouviu. Uma ambulância a sair. O homem que levou um tiro no ombro. A ambulância saiu com pressa e em desabalada assistência correu o mundo distante. Dois amantes sorriam de modo arteiro e descuidado ao passar pela rua onde existiam pés de flamboyant e eles chutaram ao leu as eternas flores da maviosa primavera.  Um guarda noturno apitou para bem distante a procura de outro a responder. Esse era o clima no qual vivia sempre o nostálgico bairro da Ribeira.
Um mês de repouso absoluto. Foi então a receita do médico de plantão. De pleno acordo o doutor Narcíseo entendeu. Logo a seguir, todos os que estavam no pronto médico largaram para a residência de Nair. E Lenira lamentava o ocorrido.
Lenira:
--- Bruto! Canalha! Pederasta! – era o que formulava o sentir da moça a relatar contra o morto
Um mês de repouso absoluto. Nesse tempo, Nair, seu marido Edgar e mais os seus filhos – Emma e Joel – a tia dos infantes, senhora Lenira e mais todos os serviçais, como Odessa, Deodora e a menina já moça, Ana Julia juntaram-se na fazenda Dois Irmãos. De momento a se sentar junto a Nair quando essa estava desanimada pelo conflito de horas passadas Odessa contou uma história um pouco mal entendida. Ela conhecia o homem do tiro.
Odessa:
--- Eu conheci o canastrão. Carlos Passos era o seu nome. Ele morava na Rua do Motor. E sempre jurou vingança contra a dona Nair. Desde muito moço ele queria namorar a senhora. Mas nunca obteve êxito. A senhora sempre o detestou. Certa vez, dona Yayá advertiu a Carlos ter visto uma nuvem negra em seu caminho. Isso queria dizer: morte. Ele não se importou.  – falou tranquila.
Nair:
--- Que coisa! Eu nunca dei atenção a esse homem! Nem mesmo quando moça! – falou com ressentimento e magoada.
 Após o passar das horas como se fora eternidade, Deodora chegou com suco de graviola para atender a todos. De imediato Nair agradeceu chamando-a de “mãe”. O marido Edgar suspeitou do carinho. E Nair mesmo confessou;
Nair:
--- Deodora foi minha mãe em vidas passadas. Ela se chamava de Evelyn. – disse e não sorriu.
Edgar:
--- Ah. Lembro-me. O velho! – respondeu sem sorrir.
Nair:
--- Sim. Por coincidência ele esteve ali na frente de casa nesse instante. – lembrou.
Edgar:
--- Jura? Eu não tive nenhum aviso. – disse assustado.
Nair:
--- Ele fez aceno de adeus ou até mais com o braço levantado. – relatou
Edgar:
--- Coisas! Eu podia ter visto a “fera!”. – falou como indignado.
De parte, a dupla comentava enquanto a vitrola tocava disco LP em uma melodia marcante de anos passados.
Joel:
--- O que eles falam tanto? – pergunta com relação a sua mãe.
Emma:
--- E eu sei? Coisas do arco da velha! – respondeu a moça a olhar o tempo.
O dia já quase terminava por entre folhas de acácia a derramar suas flores amarelas ao chão. Um bezerro perdido se acercou da fazenda e olhou para o rapaz Joel. Naquele instante soltou um mugido de quem procura a sua mãe. O rapaz Joel olhou bem para o garrote e apontou com o dedo polegar da mão esquerda ter a mãe se escondido no curral. O garrote saiu satisfeito dando pulo para a direita e a esquerda e se enfiou para o cercado. A mocinha não aguentou a astucia do rapaz e em seguida sorriu.
 
- FIM –

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