domingo, 15 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo Três -

- FEIRA -
- 03 -
A FEIRA
No dia da feira livre da vila de São Miguel, logo cedo havia um bom número de gente. Vendendo ou comprando, esse povo andava de um canto a outro. Os talhadores de carne de gado se misturavam com os de carnes de criação ou negociantes de tripas e fatos secos para servir um bom repasto de buchada. Havia mantas de carneiros misturadas com bodes entre as demais mercadorias servidas como as lamparinas e candeeiros. E a mistura com as frutas, legumes e porções de remédios feitos de ervas medicinais se confundiam com tamboretes e comidas de momentos iguais as tapiocas, bolos e grudes. Era o mundo todo a se aproveitar da situação do povo pobre e decadente entre panelas de barro, jarras, alguidares e coisas mais.  Por um instante, Palhano, sua mulher Dalva e o seu filho Nando entraram em uma parte onde funcionava a venda de artigos domésticos na repartição de um andar para vasculhar o de novo colocado. Joel, o caçador também estava com eles e logo entrou percorrendo a sala de modas e vestuários indo após por um pouco espaço de tempo ao balcão do bar. No rumoroso local funcionava o bar de um lado e o entreposto do outro a mostrar as novidades da capital. De tudo tinha no empório. Da seda pura à lamparina a passar pelos chapéus modernos para as jovens moças dos seus quinze anos e até mesmo os coletes bem postados para homens de fino trato. Joel, o caçador, ao ser atendido no balcão da mercearia foi cercado por um jovem  de certa altura, musculoso e bem disposto uma vez a se notar os seus braços fortes. O quase monstro se aproximar de Joel ele  falou com certeza:
Bandoleiro:
--- Moço! O patrão quer falar com o senhor! – falou forte e com voz firme a mostrar suas armas, dois revólveres.
Joel, ouvindo a voz, olhou para trás e indagou:
Joel:
--- É comigo que o senhor fala? – perguntou de forma calma.
Bandoleiro:
--- Não vejo outro aqui! – relatou o bandoleiro apesar do salão está cheio de celerados.
Joel se virou e quis saber ao certo:
Joel:
--- Quem é o seu patrão? – perguntou com modos.
Bandoleiro:
--- O coronel Ernesto. Aqui todos sabem quem é o coronel. Ernesto Malveira! – cuspiu fumo para um lado.
Joel:
--- Eu não tenho conversa com nenhum coronel! – respondeu com voz altiva.
Bandoleiro:
--- Mas é melhor obedecer. Ou eu levo o senhor na marra! – respondeu com voz grossa.
Joel olhou para a marra de homem a sua frente e se dispôs a não ir virando as costas para o agressor. Nesse instante, ao deixar a bodega, ouviu o musculoso homem a tentar agarra-lo pelos os braços a enlaçar Joel com suas intensas mãos. Era então a hora de fazer algo. Joel soergueu os seus braços e se voltou de imediato para o homem forte e alto, esmurrando lhe no queixo por mais de duas vezes e vendo a resistência do bandoleiro em receber os socos sem atinar para tanto. Com todo o empenho Joel esmurrou o bestial homem e viu em seguida a terrível sanha incontida do grandalhão a se manter de pé e segurar o caçador como se fosse uma vela e soergue-lo para o alto ante a turma de outros bandoleiros a bater palmas e gritar com terrível regozijo para a ação do bandido. O indivíduo bruto pegou Joel e torceu de vez como um cisco no ar pronto para joga-lo no chão. Com o barulho ensurdecedor Palhano foi chamado pelo seu filho Nando, ao relatar:
Nando:
--- Pai! O monstro vai quebrar o caçador Joel! – chamou o seu pai com temor.  
Nesse instante, Palhano entrou no salão armando-se de um porrete achado em um canto e se pôs a maltratar o bruto carniceiro ainda com Joel preso por entre as suas grossas mãos para joga-lo por cima das bancas do bar. E de imediato, Palhano socorreu o novo amigo deflagrando uma paulada no pescoço do monstro com o intuito de tirar Joel da incomoda posição. Com a pancada recebida na nuca o bandoleiro desandou e findou por soltar o caçador de qualquer forma e cair no assoalho do bar. Nesse momento, toda a turma a estar no bar se enraiveceu e partiu para cima de Palhano armado apenas com um porrete. Foi uma contenda cruel. Joel, já recomposto, se meteu na briga. Eram apenas dois contra um turbilhão de cangaceiros.  Nem por isso Palhano se descuidou e tacou o porrete em cima dos desatinados tendo ao seu lado o seu amigo Joel. Foi luta intensa para não se acabar mais. Entre socos e pontapé a guerra já durava um largo tempo quando alguém se pronunciou de vez.
Lino:
--- Chega! Palhano venceu a batalha! Todos para seus lugares! Não precisa de mais algazarra! – disse o homem forte a se intrometer na briga.
Com o rosto ensanguentado pela guerra do salão, Palhano olhou para Joel e se deu por satisfeito. O grandalhão continuava estendido no chão pela porretada recebida. O bar ficou todo ao desconforto, com suas mesas espatifadas pela ação dos cangaceiros. No salão nada ficou em plena ordem. Quem se meteu na briga ainda arrotava sangue pela boca. Foi uma carnificina total. As mulheres estavam na loja ficaram a esperar dos dois afoitos lutadores. E assim terminou o combate daquela manhã na bodega existente a feira da vila de São Miguel.
Um cavaleiro bem armado pegou em direção a fazenda do velho Ernesto Malveira e foi dar o recado do ocorrido. O cangaceiro corria mais veloz que o vento quente da manhã de sol. Por entre espinhos e cactos, o bandido sabia apenas correr em seu corcel ao custo de chegar tão breve e contar ao coronel o desmantelo havido no bar onde os jagunços brigaram para ver quem estava com mais força. O bar era do coronel Ernesto Malveira como toda a parte de comercio salvo alguns homens maltrapilhos e maltratados a negociar coisas do plantio em suas terras. Mesmo assim, esses pequenos negociantes ainda pagavam imposto aos celerados do coronel, mesmo os menores de idade, a vender cocada ou coisas típicas das feiras livres da vila. Quando bateu o portão da cancela da casa grande o bandoleiro estava exausto por demais. Quem o viu percebeu ter havido algo de desespero de onde viera. Mesmo assim, ninguém perguntou coisa alguma. O jagunço ao se portar na cancela abriu de imediato para o maior dos dois poder atravessar. E assim feito, o cangaceiro meteu os pés nas ancas do seu corcel e se estirou até chegar à casa grande onde coronel Malveira estava apojado em sua cadeira coberta com couro de bezerro e os seus pés estirados para frente. Sua pança avantajada não deixa por menos o coronel a se apoiar os braços por cima e segurar as mãos entre uma e outra.  Ao chegar à frente da casa grande, fincada em uma altura maior de quem vem, o matuto cuspidor tirou seu chapéu de sua sinagoga e mais que depressa foi dizendo:
Jagunço:
--- O homem é forte. Ele bateu com força do vosso homem. Mesmo assim, o bandoleiro Anaque levantou o homem para o alto e quis joga-lo fora. Nesse momento, Anaque foi atingido por um golpe certeiro em sua nuca por um cabo de machado desferido pelo agricultor Palhano e então começou a contenda. Só parou quando seu Lino disse “chega”. – relatou com pressa o cangaceiro.
O coronel Ernesto Malveira escutou todo o alvoroço e depois mandou o seu cangaceiro tomar banho, pois o seu suor  recendia mais do que gambá. E nesse momento o coronel olhou para o tempo colhendo de o seu pensar quem seria o tal Joel caçador. Um homem forasteiro não conhecedor da força do coronel sendo capaz de mandar executá-lo por qualquer preço.
Coronel:
--- Esse homem não me cheira bem. Tenho que pensar bem para poder atraí-lo. – disse isso consigo mesmo. 
Uma moça da fazenda veio de dentro trazendo refrescos de graviola para entregar ao seu senhor. Esse agradeceu a oferta e então teve a ideia.
Coronel:
--- É isso! Por que não pensei bem antes? – fez saber o coronel.
Mas não teceu maiores comentários a respeito da intuição do fazer.  Dias depois, uma dama da noite chegou à fazenda, por volta das três horas da tarde para confabular com o coronel Ernesto, homem forte do sertão do Rio Grande. E foi assim a conversa bem ao gosto do homem bravo temido por todos os demais sertanejos. Sem meias conversas ele propôs a dama uma rica recompensa se lhe fizesse esse favor sempre bem costumeiro aos andantes do sertão de terras quentes.
Coronel:
--- Faça isso e eu apresento as minhas recompensas. O nome da virgem é Elvira. – relatou o coronel ao falar murmurando.

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