sábado, 14 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo Dois -

- A SECA -
- 02 -
DESTINO
O homem Euclides já estava decidido e os argumentos apresentados por Palhano não o convenceram de forma alguma. Ele havia se esforçado em ir para o Goiás ou Mato Grosso, ainda mais distante de sua habitação. Essa era a sua sina. Morar distante onde pudesse plantar e colher sem maiores sacrifícios. O homem que ateou fogo em sua casa, Ernesto Malveira era um indivíduo bruto e astucioso sendo capaz de matar a todos os agricultores de perto para cuidar do seu gado o todo de mais precioso a existir.
Euclides:
--- O gado morre com a seca. Quando chega a seca, mata tudo. Eu vou embora para o Goiás ou Mato Grosso. Se essa é a minha sina, Deus que me forneça melhor lugar. – falou sentido de raiva e comoção.
Palhano:
--- Quem sabe mais de tua partida? – indagou preocupado.
Euclides:
--- Eu falei apenas com vossa senhoria. E mais ninguém. – relatou de vez.
Palhano:
--- Hoje nós temos uma reunião na minha casa. Eu direi a todos que o senhor teve que ir. Mas, se o senhor puder, peço que espere para logo mais. – falou com amargura.
Euclides:
--- Não. Não. Eu vou seguir o rumo por essa estrada da vida. – resolveu de uma vez o homem.
E a carroça partiu rumo ao desconhecido. Via-se nos olhos de Euclides as lágrimas a descer pela face angustiada. Ele não suportaria mais um revés da sorte. No terreiro de Miguel Palhano se ouvia o cantar do galo como se fosse o adeus para sempre ao abatido agricultor. Enquanto a carroça partia, em seu lugar, Miguel Palhano tecia conversa com seu novo amigo Joel Caçador a ditar ser aquela mais uma vitória do injusto homem do gado pelos lados do sertão do Rio Grande.
Palhano:
--- É isso que o infeliz quer! Mas a mim ele não abate! – relatou com raiva.
Joel:
--- Quem é esse homem? – indagou por sua vez.
Palhano:
--- Ele se diz um “ricaço” por essas terras. Criador de gado. É só o que ele sabe fazer. – declarou embrutecido.
Joel:
--- E o pessoal que trabalha com ele? – quis saber.
Palhano:
--- Tem de toda a sorte! Até mesmo bandidos sanguinários! Gente bruta igual ao extremado! – relatou com ira.
Joel:
--- Eu posso dar uma espiada nos homens dele? – indagou o homem caçador.
Palhano:
--- Claro que pode. Amanhã tem feira no povoado. Os asseclas estão todos pela cidade. Principalmente no bar da bodega. Essa fica na esquina da rua principal. E o senhor pode ir até a bodega. – falou com cautela o homem da terra.
Durante  a reunião da noite na casa de taipa de Palhano, os demais fazendeiros alegaram que se tem de viver ao Deus dará, era um caso perdido.  Outro fazendeiro também havia decidido partir do lugar naquelas eras de vidas estranhas. Esse episódio balançou de forma cruel o fazendeiro Palhano. Ele não aceitava desistência de mais nenhum posseiro.
Aquino:
--- A vida é minha! E eu não vou sacudir a minha vida em vão! Eu vim para essas terras quando o Governo garantiu melhores dias para todos! – falou alto o pequenino Aquino. 
Calorosa discussão se seguiu a todo instante. Nesse momento, Joel Caçador teve a entrada permitida pelo senhor Palhano. Um deles indagou a estranhar pela presença de um forasteiro aquela altura dos acontecimentos.
Palhano:
--- Ele é meu amigo. Não fala, mas pode ouvir os que os senhores disserem. Joel Caçador é o seu nome. – e apresentou.
Aquino:
--- O senhor conhece o bastardo Ernesto Malveira? – indagou em suspeita.
O caçador olhou para Palhano e recebeu a ordem de responder.
Joel:
--- Não. – disse apenas o demostrado.
Palhano respondeu falar em lugar de Joel Caçador.
Palhano:
--- Ele trabalha comigo! Mais questão? – perguntou com as mãos nas ancas.
Um –
--- Ele parece ser de longe. – replicou outro agricultor.
Aquino:
--- O senhor veio de onde? – indagou cismado.
Joel.
--- Pernambuco. Atravessei todo o território da Paraíba. E agora estou a trabalhar com o senhor Palhano. -  lembrou o caçador.
Dois –
--- O senhor conhece Jeremoabo? – indagou outro fazendeiro.
Joel:
--- Sim. A terra do Jerimum. Difícil de viver. – declarou o caçador.
Um. –
--- Por que difícil? – indagou cismado.
Joel:
--- O senhor conhece a região? – quis saber.
Um. –
--- Claro que não. Por isso eu quero saber. – relatou com modos.
Joel:
--- Além da seca tem o fogo. Antigas aldeias indígenas. A terra do Monte Santo. – respondeu.
Aquino:
--- Monte Santo é onde houve a Guerra de Canudos há pouco tempo. – declarou o agricultor.
Um. –
--- O senhor é de lá? – perguntou um agricultor.
Joel:
--- De mais longe. – falou o caçador

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