domingo, 8 de dezembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Cinquenta -

- CRIANÇA -
- 50 -
ORGULHO
Passaram-se os dias, os anos e o tempo. Edgar no seu ofício de diretor geral da Recebedoria de Rendas. A mulher, Nair P. Penteado a se mudar de mansão por outra existente não tão perto como a primeira. Lenira havia contraído matrimonio com o médico Narcíseo de Almeida. O rapaz Nestor filho de Clara  se tornou  então esposo da doutora Norma Cortes. A senhora Clara mantinha-se na Escola Doméstica, igualmente sua filha Lenira, irmã do doutor Nestor, já médico. Viagens de Nair para o Rio e com ou sem Lenira a levar de reboque. E dessa forma Nair procurava outra amiga para não ir apenas só. E dessa forma era uma existência de orgulho. Conversar pouco e com gente grã-fina. À gente pobre Nair mantinha distancia. E certa vez ela buscou mudar de nome: Ramona Pêra. Esse nome serviria apenas para o futuro quando Nair começasse um novo e largo oficio da vida a surgir. Ramona era um nome de antiga projeção de cinema. Com certeza, a estudar bastante Nair encontrou esse nome em alguma peça de teatro ou mesmo no cinema, quem sabe de algum autor, provavelmente, morto. Certa vez, buscando em um folheto, quando se encontrava no Rio de Janeiro, a dama observou de surpresa algo em torno de um filme de nome “Ramona”. A bela senhora mostrou esse folheto a sua amiga Lenira e indagou se poderia ir assistir a tal película.
Lenira:
--- Claro! E por que não? – respondeu sem saber de algo.
Nair:
--- Mas diz aqui ser reservado para alguns. E é em cine clube. – fez questão em declarar.
Lenira:
--- Espera! Espera! Eu vou me informar! – e foi. Consciente ou não.
Em seu apartamento de luxo do Hotel, a mulher não mais virgem, observou um quadro de Maria Santíssima com o Menino Jesus de braços abertos como quem deseja dizer a todos serem ao menos felizes. A figura da solitária mãe de Deus menino era um quadro de um real esplendor com uma coberta negra ou de um marrom escuro, tendo um enfeite em debrum coberto de ouro ou algo a parecer. A penetrar às virtuais mãos de Maria Mãe era por antes um vestir vermelho com uma parte em cetim dourado. Na cabeça da Santa Mãe, um redondo quadro de um brilhante esmero. Com a sua face tranquila, a mãe de Menino Deus traduzia a grandeza de amada e solitária mulher. Olhos suavemente fechados em um alinho primordial. Sobrancelhas ternas como de uma Santa em vulto mulher. Nariz alongado com aprimorado sentido entre uma boca de sempre plena consciência e sabedoria ternamente fechada. Nair olhou para o menino Jesus, totalmente despido e sustentado pelas mãos de sua venerada mãe, com seus cabelos curtos e dourados, olhar suave delicado para quem bem o enxergasse. Nariz estreitado antes de uma boca de notável ser amado. Um suar frio de Nair lhe estremeceu a sua natureza vã. Algo tremeu suave em seu ventre amado. E a mulher supôs:
Nair:
--- Eu? Gravida? – indagou inconsciente.
E então com pouco tempo de idas e vindas Lenira se acercou da senhora Nair quando essa estava a tocar suavemente no seu ventre. Sentada em uma cadeira de estufa, a mulher Nair olhou para a sua amiga e apenas sorriu. Compenetrada com o caso do filme a passar em Cine Clube, Lenira nem notou de imediato a sua amiga a lidar caricias no seu amado ventre. E apenas declarou.
Lenira:
--- Pronto! Duas entradas! Certo? Fica a casa de cinema no Leblon. – explicou-lhe.
Nair:
--- Leblon? – estranhou a distancia com a sua cara amarga.
E a mulher alisava o ventre. Nesse tempo, Lenira notou o afago da mulher a fazer carícias em seu ventre e de espanto indagou com certa alegria:
Lenira:
--- Gravida? – indagou apontado o ventre de Nair
A senhora Nair sorriu e demorou um pouco a responder com certeza. Por fim, de alegria, falou:
Nair:
--- Não sei! Mas ao que eu sinto digo sim. – o sorriu de contentamento.
Lenira:
--- Alegria! Alegria! Eu terei sobrinhos! Viva! Viva! – respondeu irradiante a dançar com seus braços abertos ao leu.
À noite, antes das sete horas, Nair e Lenira estavam no balcão do Cine Clube onde teriam de assistir a exibição do filme “Ramona”, película do ano de 1928. A fita era baseada no livro homônimo de Helen Maria Hunt, escritora estadunidense. O romance foi escrito em 1884 e um ano após Helen Hunt morrer antes do êxito universal desse livro. “Ramona” é história épica a se desenvolver em 1847 na guerra entre México e Estados Unidos. Na luta os índios Yahi brigam pela posse da terra. Logo após o aguardo, começa a sessão e um rapaz conta a história do filme, ainda mudo, porém com letreiros e a música de fundo tocada em um disco de 78 RPM. Nair começa a chorar de tanto entusiasmo e amor. A melodia era um encanto e mais emocionante era o filme. Com isso, Nair não esqueceu o titulo “Ramona”.
Nair:
--- Ramona! Que nome! – e buscou nos livros da estante propriamente em sua casa.
A pesquisar encontrou o tal romance épico de uma autora por ela desconhecida, assim como outros tantos autores por Nair ainda não conhecidos. De certo caminhou a cândida mulher. No seu ventre, o bebê já “conversava” sobre o seu futuro entre arranhaduras e coisas mais. Nair costumava consultar o seu médico de confiança. Porém ele ainda não definira o sexo.
Nair:
--- Se for mulher, o bebê de chamará Emma! – respondia à grávida.
Medico:
--- Belo nome e de origem europeia. – respondeu lisonjeiro.
Nair:
--- Significa: “Aquela que é universal”. Nome de aparência alemã. – sorrio ao se referir.
Médico:
--- Não restam dúvidas. Inteligência e poder de se comunicar. – falou pomposo
A mulher sorriu e observou o seu ventre.
Após o Rio, Nair esteve no médico, em Natal. E assim caminhou na sua vida serena distante das pessoas ricamente pobres. O tempo se foi e nasceu o primeiro filho: mulher, com certeza. Nome: Emma. Era o prometido à sua irmã de outras eras. Edgar ficou eufórico com tamanha beleza da criança. E não sabia nem como acolher ao seu modo o bebê. Se segurar de um lado a criança chorava. Se voltar ao outro, também chorava. Era um tomento para o pai não saber segurar com jeito apenas um bebê chorão de poucas horas então. Enfim, Odessa, a doméstica ama da infante criança recém-nascida tomou em seus braços a acolher com o maior cuidado a criança Emma para ver o que havia de fato.
Odessa:
--- Urinas! – declarou a moça a sorrir.
Odessa era uma doméstica vinda das entranhas do morro onde estava a Rua do Motor. Filha de quem, não se sabia. A sua mãe era lavadeira. E o nome Odessa foi por conta de seu padrinho, um navegante a estar em Odessa, uma cidade costeira da Ucrânia, às margens do Mar Negro. A União Soviética tinha nesse porto o local mais importante do País. O nome de Odessa vem do grego: Odisseia o que se traduz como a Grande Jornada. Contudo, o ancião marinheiro tomou a palavra como um símbolo e certa vez declarou ao nome poder dar a alguém muito especial. O padrinho de Odessa era marinheiro de longo curso e o seu nome era Túlio “Namorado”, pois em todos os portos se encontrava um amor nostálgico da vida do homem. Em uma de suas viagens Namorado morreu longe de terra e em pleno mar bravio açoitado pelo vento.
Após fazer a limpeza e o trocar de roupas Odessa trouxe a infante para os braços de sua mãe onde o bebê pegou o seio e se pôs a mamar. À continuação dos dias, Odessa caminhava pelo parque da casa nobre com o bebê nos braços para lhe dar banho de sol, logo cedo da manhã. Os cuidados eram por demais atentos. A mãe da criança sempre estava ao lado da domestica para acalentar, se preciso fosse à tenra criança. E assim se passaram os dias. Cuidados eternos. Passear, acariciar, fazer de tudo o precisar. Odessa estava sempre atenta aos choros irrequietos da criança Emma. Enquanto isso corria, uma vez na sala oval duas mulheres conversavam: Nair e Lenira. Após várias conversas fúteis, Nair indagou:
Nair:
--- Pergunto agora: Por que você não se casou na Catedral de Notre Dame? – indagou curiosa.
Lenira:
--- É um caso ocorrido. E não foi questão de recursos. Notre Dame nem tanto. Mas o local da festa me fez pensar sobremaneira. Nós somos plebeias a frente dos franceses, Ingleses e até mesmos Alemães ainda a se recompor da Guerra. Houve um caso nas suas núpcias. O gerente da Casa “Estilo” não dava a importância da festa, apesar de ser de grande pompa. Ele queria é que a plebe saísse de sua Casa. Que nós fossemos embora. “Já chega”. Era o seu pensar. Isso eu notei com frequência. Embora vocês – Edgar e voce – não notassem, eu sozinha notei. Quando eu casei aqui mesmo, nessa pequena cidade, eu fiz do melhor possível. Os franceses não se lembram de que fomos nós os baluartes da Guerra. Há séculos, desde o país descoberto, os franceses sempre se têm preocupado em ganhar o nosso território. Como eu já vos disse: nós somos pobres. Eles são ricos. Não importa o quanto um parlamentar brasileiro tem em reserva. Não importa. Ele pode ter Igrejas protestantes, como tem os alemães no Rio Grande do Sul a Igreja Luterana. E outros têm as Evangélicas. Isso não importa. Porque no final das contas o dinheiro vai todos para os cofres dos seus países no exterior. E nós continuamos pobres. Para voce ter uma ideia, Luís Carlos Prestes foi preso por várias vezes por ser membro do PCB e participar da Aliança Nacional Libertadora. Ele é comunista, algo temeroso no Brasil. E todos os comunistas são de esquerda, algo por demais perigosos para o Governo brasileiro que conta com o aval dos Estados Unidos. Mas os franceses tem a mesma ideologia. Isso como os ingleses e outros países europeus. Então eu percebo de se casar na Europa é a maior pompa para eles e, não para nós, os pobres. O casamento por si só, é uma miséria. Quem hoje se casa, no Brasil não pode ao menos se divorciar, apesar desse sistema existir em outros países, como os Estados Unidos. O divorcio é tão antigo que não nos parece ser. Em Roma, 445 anos antes de Cristo já havia divórcio e a moça casava aos 12 anos de idade. Homens, não menos de 30 anos. Inclusive Jesus se casou aos 30 anos de idade com Maria Madalena. – explicou a mulher.

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