- CRIANÇA -
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ORGULHO
Passaram-se os dias, os anos e o tempo.
Edgar no seu ofício de diretor geral da Recebedoria de Rendas. A mulher, Nair
P. Penteado a se mudar de mansão por outra existente não tão perto como a
primeira. Lenira havia contraído matrimonio com o médico Narcíseo de Almeida. O
rapaz Nestor filho de Clara se
tornou então esposo da doutora Norma
Cortes. A senhora Clara mantinha-se na Escola Doméstica, igualmente sua filha
Lenira, irmã do doutor Nestor, já médico. Viagens de Nair para o Rio e com ou
sem Lenira a levar de reboque. E dessa forma Nair procurava outra amiga para
não ir apenas só. E dessa forma era uma existência de orgulho. Conversar pouco
e com gente grã-fina. À gente pobre Nair mantinha distancia. E certa vez ela
buscou mudar de nome: Ramona Pêra. Esse nome serviria apenas para o futuro
quando Nair começasse um novo e largo oficio da vida a surgir. Ramona era um
nome de antiga projeção de cinema. Com certeza, a estudar bastante Nair
encontrou esse nome em alguma peça de teatro ou mesmo no cinema, quem sabe de
algum autor, provavelmente, morto. Certa vez, buscando em um folheto, quando se
encontrava no Rio de Janeiro, a dama observou de surpresa algo em torno de um
filme de nome “Ramona”. A bela senhora mostrou esse folheto a sua amiga Lenira
e indagou se poderia ir assistir a tal película.
Lenira:
--- Claro! E por que não? – respondeu
sem saber de algo.
Nair:
--- Mas diz aqui ser reservado para
alguns. E é em cine clube. – fez questão em declarar.
Lenira:
--- Espera! Espera! Eu vou me informar!
– e foi. Consciente ou não.
Em seu apartamento de luxo do Hotel, a
mulher não mais virgem, observou um quadro de Maria Santíssima com o Menino
Jesus de braços abertos como quem deseja dizer a todos serem ao menos felizes.
A figura da solitária mãe de Deus menino era um quadro de um real esplendor com
uma coberta negra ou de um marrom escuro, tendo um enfeite em debrum coberto de
ouro ou algo a parecer. A penetrar às virtuais mãos de Maria Mãe era por antes
um vestir vermelho com uma parte em cetim dourado. Na cabeça da Santa Mãe, um
redondo quadro de um brilhante esmero. Com a sua face tranquila, a mãe de
Menino Deus traduzia a grandeza de amada e solitária mulher. Olhos suavemente
fechados em um alinho primordial. Sobrancelhas ternas como de uma Santa em
vulto mulher. Nariz alongado com aprimorado sentido entre uma boca de sempre plena
consciência e sabedoria ternamente fechada. Nair olhou para o menino Jesus,
totalmente despido e sustentado pelas mãos de sua venerada mãe, com seus
cabelos curtos e dourados, olhar suave delicado para quem bem o enxergasse.
Nariz estreitado antes de uma boca de notável ser amado. Um suar frio de Nair
lhe estremeceu a sua natureza vã. Algo tremeu suave em seu ventre amado. E a
mulher supôs:
Nair:
--- Eu? Gravida? – indagou inconsciente.
E então com pouco tempo de idas e vindas
Lenira se acercou da senhora Nair quando essa estava a tocar suavemente no seu
ventre. Sentada em uma cadeira de estufa, a mulher Nair olhou para a sua amiga
e apenas sorriu. Compenetrada com o caso do filme a passar em Cine Clube,
Lenira nem notou de imediato a sua amiga a lidar caricias no seu amado ventre.
E apenas declarou.
Lenira:
--- Pronto! Duas entradas! Certo? Fica a
casa de cinema no Leblon. – explicou-lhe.
Nair:
--- Leblon? – estranhou a distancia com
a sua cara amarga.
E a mulher alisava o ventre. Nesse
tempo, Lenira notou o afago da mulher a fazer carícias em seu ventre e de
espanto indagou com certa alegria:
Lenira:
--- Gravida? – indagou apontado o ventre
de Nair
A senhora Nair sorriu e demorou um pouco
a responder com certeza. Por fim, de alegria, falou:
Nair:
--- Não sei! Mas ao que eu sinto digo
sim. – o sorriu de contentamento.
Lenira:
--- Alegria! Alegria! Eu terei
sobrinhos! Viva! Viva! – respondeu irradiante a dançar com seus braços abertos
ao leu.
À noite, antes das sete horas, Nair e
Lenira estavam no balcão do Cine Clube onde teriam de assistir a exibição do
filme “Ramona”, película do ano de 1928. A fita era baseada no livro homônimo
de Helen Maria Hunt, escritora estadunidense. O romance foi escrito em 1884 e
um ano após Helen Hunt morrer antes do êxito universal desse livro. “Ramona” é
história épica a se desenvolver em 1847 na guerra entre México e Estados
Unidos. Na luta os índios Yahi brigam pela posse da terra. Logo após o aguardo,
começa a sessão e um rapaz conta a história do filme, ainda mudo, porém com
letreiros e a música de fundo tocada em um disco de 78 RPM. Nair começa a
chorar de tanto entusiasmo e amor. A melodia era um encanto e mais emocionante
era o filme. Com isso, Nair não esqueceu o titulo “Ramona”.
Nair:
--- Ramona! Que nome! – e buscou nos
livros da estante propriamente em sua casa.
A pesquisar encontrou o tal romance
épico de uma autora por ela desconhecida, assim como outros tantos autores por
Nair ainda não conhecidos. De certo caminhou a cândida mulher. No seu ventre, o
bebê já “conversava” sobre o seu futuro entre arranhaduras e coisas mais. Nair
costumava consultar o seu médico de confiança. Porém ele ainda não definira o
sexo.
Nair:
--- Se for mulher, o bebê de chamará
Emma! – respondia à grávida.
Medico:
--- Belo nome e de origem europeia. –
respondeu lisonjeiro.
Nair:
--- Significa: “Aquela que é universal”.
Nome de aparência alemã. – sorrio ao se referir.
Médico:
--- Não restam dúvidas. Inteligência e
poder de se comunicar. – falou pomposo
A mulher sorriu e observou o seu ventre.
Após o Rio, Nair esteve no médico, em
Natal. E assim caminhou na sua vida serena distante das pessoas ricamente
pobres. O tempo se foi e nasceu o primeiro filho: mulher, com certeza. Nome:
Emma. Era o prometido à sua irmã de outras eras. Edgar ficou eufórico com
tamanha beleza da criança. E não sabia nem como acolher ao seu modo o bebê. Se
segurar de um lado a criança chorava. Se voltar ao outro, também chorava. Era
um tomento para o pai não saber segurar com jeito apenas um bebê chorão de
poucas horas então. Enfim, Odessa, a doméstica ama da infante criança
recém-nascida tomou em seus braços a acolher com o maior cuidado a criança Emma
para ver o que havia de fato.
Odessa:
--- Urinas! – declarou a moça a sorrir.
Odessa era uma doméstica vinda das
entranhas do morro onde estava a Rua do Motor. Filha de quem, não se sabia. A
sua mãe era lavadeira. E o nome Odessa foi por conta de seu padrinho, um
navegante a estar em Odessa, uma cidade costeira da Ucrânia, às margens do Mar
Negro. A União Soviética tinha nesse porto o local mais importante do País. O
nome de Odessa vem do grego: Odisseia o que se traduz como a Grande Jornada.
Contudo, o ancião marinheiro tomou a palavra como um símbolo e certa vez
declarou ao nome poder dar a alguém muito especial. O padrinho de Odessa era
marinheiro de longo curso e o seu nome era Túlio “Namorado”, pois em todos os
portos se encontrava um amor nostálgico da vida do homem. Em uma de suas
viagens Namorado morreu longe de terra e em pleno mar bravio açoitado pelo
vento.
Após fazer a limpeza e o trocar de
roupas Odessa trouxe a infante para os braços de sua mãe onde o bebê pegou o
seio e se pôs a mamar. À continuação dos dias, Odessa caminhava pelo parque da
casa nobre com o bebê nos braços para lhe dar banho de sol, logo cedo da manhã.
Os cuidados eram por demais atentos. A mãe da criança sempre estava ao lado da
domestica para acalentar, se preciso fosse à tenra criança. E assim se passaram
os dias. Cuidados eternos. Passear, acariciar, fazer de tudo o precisar. Odessa
estava sempre atenta aos choros irrequietos da criança Emma. Enquanto isso
corria, uma vez na sala oval duas mulheres conversavam: Nair e Lenira. Após
várias conversas fúteis, Nair indagou:
Nair:
--- Pergunto agora: Por que você não se
casou na Catedral de Notre Dame? – indagou curiosa.
Lenira:
--- É um caso ocorrido. E não foi
questão de recursos. Notre Dame nem tanto. Mas o local da festa me fez pensar
sobremaneira. Nós somos plebeias a frente dos franceses, Ingleses e até mesmos
Alemães ainda a se recompor da Guerra. Houve um caso nas suas núpcias. O
gerente da Casa “Estilo” não dava a importância da festa, apesar de ser de
grande pompa. Ele queria é que a plebe saísse de sua Casa. Que nós fossemos
embora. “Já chega”. Era o seu pensar. Isso eu notei com frequência. Embora
vocês – Edgar e voce – não notassem, eu sozinha notei. Quando eu casei aqui
mesmo, nessa pequena cidade, eu fiz do melhor possível. Os franceses não se
lembram de que fomos nós os baluartes da Guerra. Há séculos, desde o país
descoberto, os franceses sempre se têm preocupado em ganhar o nosso território.
Como eu já vos disse: nós somos pobres. Eles são ricos. Não importa o quanto um
parlamentar brasileiro tem em reserva. Não importa. Ele pode ter Igrejas
protestantes, como tem os alemães no Rio Grande do Sul a Igreja Luterana. E
outros têm as Evangélicas. Isso não importa. Porque no final das contas o
dinheiro vai todos para os cofres dos seus países no exterior. E nós
continuamos pobres. Para voce ter uma ideia, Luís Carlos Prestes foi preso por
várias vezes por ser membro do PCB e participar da Aliança Nacional
Libertadora. Ele é comunista, algo temeroso no Brasil. E todos os comunistas
são de esquerda, algo por demais perigosos para o Governo brasileiro que conta
com o aval dos Estados Unidos. Mas os franceses tem a mesma ideologia. Isso
como os ingleses e outros países europeus. Então eu percebo de se casar na
Europa é a maior pompa para eles e, não para nós, os pobres. O casamento por si
só, é uma miséria. Quem hoje se casa, no Brasil não pode ao menos se divorciar,
apesar desse sistema existir em outros países, como os Estados Unidos. O
divorcio é tão antigo que não nos parece ser. Em Roma, 445 anos antes de Cristo
já havia divórcio e a moça casava aos 12 anos de idade. Homens, não menos de 30
anos. Inclusive Jesus se casou aos 30 anos de idade com Maria Madalena. –
explicou a mulher.
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