sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O CAÇADOR - Capítulo um -

- SERTÃO -
- Capítulo Um -
A CHEGADA
Eram mais de três horas da tarde quando o caçador Joel desceu a íngreme ladeira vindo do cimo da serra. Ele nunca tinha viajado por aquele lugar. Após um dia estafante em busca da caça o homem um tanto exausto procurou descer em seu corcel pela colina vendo de longe a cabana de alguém, talvez, pois tinha a sua chaminé a lançar fumaça naquele fim de tarde. A descida era íngreme com arbustos por todo o canto entre árvores um tanto carcomidas pela ação do insólito tempo. Do alto da colina podia-se enxergar ao longo o campo repleto de pequenas plantações e um rio alagando bom pedaço e terra. O vento morno soprava constante por toda a ravina sem fim. Ao descer mais ainda o caçador notou a presença de outro homem talvez dono do imenso e franco. Terra a se perder nos confins do horizonte.  Para o lado esquerdo de Joel, havia imensas ravinas. Para o seu lado direito, continuava o barranco já em lugares em ascensão até se perder de vista. O rio a correr constante provinha de um leito bem mais ao alto pelo lado esquerdo por Joel a avistar constante. Após enxergar o homem, com certeza a trabalhar na derrubada de um pé de pau, Joel Caçador pode ver mais ao longe um garoto a espantar alguns bezerros. Os animais eram criados no aceiro da cabana construída em estacas de madeira entrelaçadas com outros a se fazer as taipas. De um determinado instante um cão latiu. Era a chegada ainda distante do caçador. Ele trotava aos cuidados do vento sem ligar para os latidos do cão. Era já o entardecer do dia e Joel caminhava do Estado vizinho da Paraíba e começava a descer a serra distante a separar os dois territórios: o do Rio Grande com a Paraíba. Tempo difícil aquele onde um estranho podia ser morto de tocaia ou não. O garoto ouviu o cão latir e foi aos poucos observar quem era o qual. O cão latia sem cessar e o homem com um machado de corte olhou bem para Joel ainda ao longe. Esse já estava dentro de suas terras. De momento, o homem agricultor se escorou no cabo do machado e esperou a chegada do estranho. Esse homem não reconhecia Joel e nem Joel o conhecia tão bem.  As águas do rio dificultavam a passagem de Joel. Contudo, mesmo e de qualquer forma ele atravessou a corrente. O menino, dos seus dez anos, ficou atento ao estranho temendo ser alguém mandado pelos criadores de gado a infestar a região dominada.
Nando;
--- O senhor o conhece? – indagou o menino, a saber, do pai.
Palhano:
--- Nunca o vi por essas bandas. Mas deixa chegar. Se for por bem, a gente sabe logo quem é. – respondeu com incerteza.
Nando:
--- Ele vem das bandas a serra. – comentou o garoto.
E o cão latia cada vez mais. Há certo tempo o menino mandou calar para ouvir melhor o que o homem havia de reclamar ou dizer. O tempo não prometia chuva por aqueles dias em toda a região do sertão do Rio Grande. Borboletas dominavam a área rural do imenso sertão a depositar seus ovos a cada vez de flor em flor. Apesar da terrível seca, Palhano não levava a mal o ocorrido, pois no seu recanto ainda estava o rio a se estender desde o nascente das pedras pela profunda mata virgem. O carneiro estava a mordiscar o plantio de ervas e o menino açoitou para fora. Nesse momento, Joel chegou mais próximo do cercado e comprimentou o dono da casa. O sol do final de tarde não afetava enfim o caçador. Vestindo roupa de brim, um revolver na cintura, preso na cela um rifle e ainda coisas de um puro caçador arranjadas na traseira de montar no cavalo. E o caçador enfim indagou:
Joel:
--- Boa tarde meu senhor. Por que bandas eu sigo para poder chegar ao Piauí? – indagou com duvidas em seguir.
De mão no machado escorado no chão, Palhano teve a declarar ser o Piauí lugar bem distante a percorrer por aqueles sertões da região nordestina.
Palhano:
--- Boa tarde.  O senhor poder seguir pelos lados da serra. Mas vai demorar muito para se alcançar aquela terra seca de chão batido. Mas, a propósito, o senhor conhece o homem chamado Malveira? – indagou para ouvir a resposta.
O caçador pensou um pouco antes de responder com firmeza:
Joel:
--- Não senhor. O que ele faz? – indagou sem muita preocupação.
Palhano:
--- Eu suponho que o senhor tenha sido mandado por esse sicário, apesar de ter vindo das bandas da Paraíba. Ele compra tudo o que lhe interessa. E falta apenas adquirir a minha propriedade e as de outros posseiros. – cuspiu fumo para as costas e olhou atento o caçador.
Joel:
--- Não. Não. Jamais vi tal pessoa. E mesmo que eu tivesse visto, ele não faz o meu oficio. Eu ando só para um lado e para outro. Como o que  terra dá. – falou suave o caçador.
Palhano:
--- Pelo que eu observo o senhor anda bem protegido. – e apontou para as armas do caçador.
O caçador Joel sorriu e respondeu apenas.
Joel:
--- Isso é a minha ferramenta. Tenho uma arma para me defender de onças ou cobras. A maior é apenas para caçar o que está longe. – sorriu o caçador.
Palhano buscou maior assunto, mas não teve meios. Ele viu na figura de Joel o homem franco e o seu falar era conciso. Afinal, se ele era um caçador das estepes bem podia ser aquele andarilho solitário a procura apenas de caçar onça, mocó ou veado. E ao topo de algum tempo Palhano fez o convite para se postar a sua fazenda.  Joel aceitou a oferta, pois afinal a noite não tardaria a chegar e para onde o homem desejava ir, ficaria muito longe. Com isso, Joel se apeou buscando água em uma bomba de extrair o líquido do próprio chão. O corcel bebeu água na manga feita para os outros animais. Em seguida, Joel tratou de guardar no celeiro todo o que se podia tirar do lombo do cavalo. Ao final das contas o caçador foi até a sala do casebre onde encontrou dona Dalva, mulher de Palhano. A mulher lhe ofereceu a comida pronta àquela hora tardia enquanto os homens conversavam dos problemas surgidos no decorrer do tempo.
Após a refeição do fim da tarde, Joel Caçador aproveitou o vestígio de sol e procurou derrubar a árvore ainda restante com o machado cortante e, em seguida, veio também o dono das inóspitas terras. Os dois musculosos homens fizeram finca-pé até a derrubada da arvore de angico já sem vida e estar a apodrecer de pé como ente mortal. Já era noite quando os homens acabaram com o seu oficio. Pela manhã, ainda cedo, Joel estava deitado na estrebaria e notou a presença do garoto Nando a pesquisar com seu olhar se Joel ainda dormia. O caçador estava deitado e comprimento o garoto, tendo esse um susto terrível, pois não esperava Joel acordado.
Nando:
--- Que susto! Eu não vi o senhor acordado! – teve medo o garoto.
Joel:
--- Eu estava apenas deitado e vi sua sombra penetrar pelo estábulo. – sorriu o caçador.
Nesse momento, chegou à casa de Palhano o outro posseiro, Euclides com toda a sua família para dar a noticia de ter de sair em busca de outros lugares. E dava como exemplo o feito em suas terras com a queima de sua casa a mando do senhor fazendeiro Ernesto Malveira, homem bruto e grandalhão com sua pança enorme, cabelos assanhados a parecer nunca cortados. E respondia Euclides não ter forças maiores para ficar na sua propriedade, pois os homens de Malveira tocaram fogo em tudo.
Palhano:
--- Não faça isso. Nós ajudamos e reconstruir sua casa. É isso o que o sicário quer. Nós éramos vinte. Hoje temos a metade dos posseiros. Essa terra a ele não pertence. Não adianta ir para outro lugar. Eu peço a voce ter de ficar mais um pouco. Assim, unidos nós podemos soerguer a vossa casa. – rogou o homem ao desabonado companheiro.

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