- SERTÃO -
- Capítulo Um -
A CHEGADA
Eram mais de três horas da tarde
quando o caçador Joel desceu a íngreme ladeira vindo do cimo da serra. Ele
nunca tinha viajado por aquele lugar. Após um dia estafante em busca da caça o
homem um tanto exausto procurou descer em seu corcel pela colina vendo de longe
a cabana de alguém, talvez, pois tinha a sua chaminé a lançar fumaça naquele
fim de tarde. A descida era íngreme com arbustos por todo o canto entre árvores
um tanto carcomidas pela ação do insólito tempo. Do alto da colina podia-se
enxergar ao longo o campo repleto de pequenas plantações e um rio alagando bom
pedaço e terra. O vento morno soprava constante por toda a ravina sem fim. Ao
descer mais ainda o caçador notou a presença de outro homem talvez dono do
imenso e franco. Terra a se perder nos confins do horizonte. Para o lado esquerdo de Joel, havia imensas
ravinas. Para o seu lado direito, continuava o barranco já em lugares em
ascensão até se perder de vista. O rio a correr constante provinha de um leito
bem mais ao alto pelo lado esquerdo por Joel a avistar constante. Após enxergar
o homem, com certeza a trabalhar na derrubada de um pé de pau, Joel Caçador
pode ver mais ao longe um garoto a espantar alguns bezerros. Os animais eram
criados no aceiro da cabana construída em estacas de madeira entrelaçadas com
outros a se fazer as taipas. De um determinado instante um cão latiu. Era a
chegada ainda distante do caçador. Ele trotava aos cuidados do vento sem ligar
para os latidos do cão. Era já o entardecer do dia e Joel caminhava do Estado
vizinho da Paraíba e começava a descer a serra distante a separar os dois
territórios: o do Rio Grande com a Paraíba. Tempo difícil aquele onde um
estranho podia ser morto de tocaia ou não. O garoto ouviu o cão latir e foi aos
poucos observar quem era o qual. O cão latia sem cessar e o homem com um
machado de corte olhou bem para Joel ainda ao longe. Esse já estava dentro de
suas terras. De momento, o homem agricultor se escorou no cabo do machado e
esperou a chegada do estranho. Esse homem não reconhecia Joel e nem Joel o
conhecia tão bem. As águas do rio
dificultavam a passagem de Joel. Contudo, mesmo e de qualquer forma ele
atravessou a corrente. O menino, dos seus dez anos, ficou atento ao estranho
temendo ser alguém mandado pelos criadores de gado a infestar a região
dominada.
Nando;
--- O senhor o conhece? – indagou
o menino, a saber, do pai.
Palhano:
--- Nunca o vi por essas bandas.
Mas deixa chegar. Se for por bem, a gente sabe logo quem é. – respondeu com
incerteza.
Nando:
--- Ele vem das bandas a serra. –
comentou o garoto.
E o cão latia cada vez mais. Há
certo tempo o menino mandou calar para ouvir melhor o que o homem havia de
reclamar ou dizer. O tempo não prometia chuva por aqueles dias em toda a região
do sertão do Rio Grande. Borboletas dominavam a área rural do imenso sertão a
depositar seus ovos a cada vez de flor em flor. Apesar da terrível seca,
Palhano não levava a mal o ocorrido, pois no seu recanto ainda estava o rio a
se estender desde o nascente das pedras pela profunda mata virgem. O carneiro
estava a mordiscar o plantio de ervas e o menino açoitou para fora. Nesse
momento, Joel chegou mais próximo do cercado e comprimentou o dono da casa. O
sol do final de tarde não afetava enfim o caçador. Vestindo roupa de brim, um
revolver na cintura, preso na cela um rifle e ainda coisas de um puro caçador
arranjadas na traseira de montar no cavalo. E o caçador enfim indagou:
Joel:
--- Boa tarde meu senhor. Por que
bandas eu sigo para poder chegar ao Piauí? – indagou com duvidas em seguir.
De mão no machado escorado no
chão, Palhano teve a declarar ser o Piauí lugar bem distante a percorrer por
aqueles sertões da região nordestina.
Palhano:
--- Boa tarde. O senhor poder seguir pelos lados da serra.
Mas vai demorar muito para se alcançar aquela terra seca de chão batido. Mas, a
propósito, o senhor conhece o homem chamado Malveira? – indagou para ouvir a
resposta.
O caçador pensou um pouco antes
de responder com firmeza:
Joel:
--- Não senhor. O que ele faz? –
indagou sem muita preocupação.
Palhano:
--- Eu suponho que o senhor tenha
sido mandado por esse sicário, apesar de ter vindo das bandas da Paraíba. Ele
compra tudo o que lhe interessa. E falta apenas adquirir a minha propriedade e
as de outros posseiros. – cuspiu fumo para as costas e olhou atento o caçador.
Joel:
--- Não. Não. Jamais vi tal
pessoa. E mesmo que eu tivesse visto, ele não faz o meu oficio. Eu ando só para
um lado e para outro. Como o que terra
dá. – falou suave o caçador.
Palhano:
--- Pelo que eu observo o senhor
anda bem protegido. – e apontou para as armas do caçador.
O caçador Joel sorriu e respondeu
apenas.
Joel:
--- Isso é a minha ferramenta.
Tenho uma arma para me defender de onças ou cobras. A maior é apenas para caçar
o que está longe. – sorriu o caçador.
Palhano buscou maior assunto, mas
não teve meios. Ele viu na figura de Joel o homem franco e o seu falar era
conciso. Afinal, se ele era um caçador das estepes bem podia ser aquele
andarilho solitário a procura apenas de caçar onça, mocó ou veado. E ao topo de
algum tempo Palhano fez o convite para se postar a sua fazenda. Joel aceitou a oferta, pois afinal a noite
não tardaria a chegar e para onde o homem desejava ir, ficaria muito longe. Com
isso, Joel se apeou buscando água em uma bomba de extrair o líquido do próprio
chão. O corcel bebeu água na manga feita para os outros animais. Em seguida,
Joel tratou de guardar no celeiro todo o que se podia tirar do lombo do cavalo.
Ao final das contas o caçador foi até a sala do casebre onde encontrou dona
Dalva, mulher de Palhano. A mulher lhe ofereceu a comida pronta àquela hora
tardia enquanto os homens conversavam dos problemas surgidos no decorrer do
tempo.
Após a refeição do fim da tarde,
Joel Caçador aproveitou o vestígio de sol e procurou derrubar a árvore ainda restante
com o machado cortante e, em seguida, veio também o dono das inóspitas terras.
Os dois musculosos homens fizeram finca-pé até a derrubada da arvore de angico
já sem vida e estar a apodrecer de pé como ente mortal. Já era noite quando os
homens acabaram com o seu oficio. Pela manhã, ainda cedo, Joel estava deitado
na estrebaria e notou a presença do garoto Nando a pesquisar com seu olhar se
Joel ainda dormia. O caçador estava deitado e comprimento o garoto, tendo esse
um susto terrível, pois não esperava Joel acordado.
Nando:
--- Que susto! Eu não vi o senhor
acordado! – teve medo o garoto.
Joel:
--- Eu estava apenas deitado e vi
sua sombra penetrar pelo estábulo. – sorriu o caçador.
Nesse momento, chegou à casa de
Palhano o outro posseiro, Euclides com toda a sua família para dar a noticia de
ter de sair em busca de outros lugares. E dava como exemplo o feito em suas
terras com a queima de sua casa a mando do senhor fazendeiro Ernesto Malveira,
homem bruto e grandalhão com sua pança enorme, cabelos assanhados a parecer
nunca cortados. E respondia Euclides não ter forças maiores para ficar na sua
propriedade, pois os homens de Malveira tocaram fogo em tudo.
Palhano:
--- Não faça isso. Nós ajudamos e
reconstruir sua casa. É isso o que o sicário quer. Nós éramos vinte. Hoje temos
a metade dos posseiros. Essa terra a ele não pertence. Não adianta ir para
outro lugar. Eu peço a voce ter de ficar mais um pouco. Assim, unidos nós
podemos soerguer a vossa casa. – rogou o homem ao desabonado companheiro.
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