- O SERTÃO -
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CIÚMES
Era ciúmes o sentir por a esposa Nair.
Ele, o homem, estava à beira dos seus 50 anos de idade. A mulher, Deodora, era
bem mais nova. Com certeza, os seus 35 anos de vida. Enquanto isso, Nair era de
apenas 20 anos. Com essa questão de idades, surgiu o impasse. A jovem Nair
pensava ter a mulher um leve assanhamento com Edgar. Uma espécie de concubina
sexual do seu marido. Nesse ponto, a senhora saiu da casa a conduzir a sua
filha tendo ao lado a ama Odessa calada e atenciosa. O Céu estava limpo com
algumas brancas nuvens a passar. Na terra vasta e seca notava-se a presença de
insetos a transitar bravios, como os extremosos “cavalos do cão”, um besouro de
ferradura mortal. No jardim da casa grande da Fazenda Dois Irmãos era o que
havia presente. De um barulho frenético, o besouro matava em um só instante a também
mortal aranha grande caranguejeira de patas enormes. Além desses, tinha também
as abelhas de ferraduras mortais a colher o néctar das belíssimas flores
abundantes nos pomares e sem maiores precauções. As três personagens passeavam
por entre rosas e fruteiras quando se ouviu uma voz nada altiva de um ancião.
Ele estava na porteira da frente distante da casa grande. Nair observou de
longe o ancião e por vez perguntou a Odessa:
Nair:
--- Quem? – indagou de forma murmurante
a mulher com o semblante tumultuoso.
Odessa:
--- Um velho! Ele está pedindo comida. –
responde a moça.
Nair;
--- Veja o que tem e dê para ele. –
disse a murmurar.
E a moça foi até o portão e indagou ao
ancião o que ele queria. Dito o caso a moça retornou à fazenda para buscar um
prato do almoço. Enquanto isso Nair ficou a fazer a visita ao jardim embalando
sua filha amada. Nesse instante o ancião a chamou para mais próximo:
Ancião:
--- Senhora! Venha mais para cá. – falou
com a sua voz trêmula.
E a mulher seguiu mais para frente do
ancião para ouvir os reclamos. O homem, de seus 85 anos, todo vestido em cosicados
trapos, marca de andarilho sem sossego, chinelas nos pés, chapéu seguro entre
as mãos já doentes do fazer muito na roça, fala quase nula e com um sorriso na
face por onde se observava a falta de dentes, disse então:
Ancião:
--- A senhora tem uma bela menina. Ela
será gente fina quando tomar corpo. Eu sei o nome da menina e o seu também. –
relatou quase sem forças o ancião.
A mulher Nair, pouco conhecida naqueles
recantos ainda assim indagou cismada.
Nair:
--- Como é o seu nome? – indagou meio
confusa.
Ancião:
--- Eu me chamo Manoel. Mas a senhora
pode me chamar de Neco. Agora, a menina tem um nome brilhante: Emma. Bem
escolhido o nome. Na verdade, Emma era nome irmã da senhora, em outra geração.
– disse o ancião a sorrir sem dentes.
Nair:
--- Com o senhor sabe do nome de Emma? –
assustada.
Ancião
--- Dona. Eu sei de muito mais. Rio das
Moças. Evelyn, Eduardo. E até o vosso próprio nome. – respondeu a sorrir.
Nair.
--- E como é meu nome? – irritada.
Ancião:
--- Dona Nair é agora. Mas a senhora foi
irmã de dona Emma. Filha de dona Evelyn. Teve irmão de nome Joel. E até o seu
nome. – disse o ancião.
A senhora Nair estremeceu de susto. Mas
ainda indagou:
Nair:
--- Qual nome que eu tive? – indagou
esperançosa por um erro fatal.
O ancião sorriu de forma prolongada. Ao
fim relatou.
Ancião:
--- Teu nome? Cecília. Era assim que se
chamava. – relatou com voz tremula.
A cabeça de Nair rodou como um pião.
Cecília era o nome que ela tivera em outra geração. A irmã era Emma. E Joel era
seu irmão. Nair estava em duvidas ao tentar querer saber mais alguma coisa,
pois de nada adiantava indagar. Mesmo assim voltou a perguntar.
Nair:
--- E o meu pai? – perguntou com receio.
Ancião.
--- Teu pai se chamava Jônatas. Esse
nome tem significado: “Dado por Deus”. E tem mais: Não brigue com a tua mãe.
Ela está lá dentro. Tua mãe teve agora o nome de Deodora. Antes era Evelyn. Não
tenha mágoa. Ela não tem nada com teu marido. É certo que tu nasceste com a mãe
que se chamava Maria Emilia. E o teu pai era José Pereira. Mas em outra
existência houve outros pai e mãe. Deodora é Evelyn. Peço por favor, que não
brigue com ela. Jônatas era eu! – falou devagar o ancião.
E nesse momento o ancião sumiu como por
encanto. E a senhora Nair caiu ao desmaio. Nessa altura estava a chegar à moça
Odessa. Ela nada observou da conversa mantida por dona Nair e o ancião. Ela
teve apenas a noção de observar a mulher caída ao solo e a menina apelando em
socorro para a mãe se levantar.
Odessa:
--- Senhora! O que foi que deu na
senhora? Onde está o velho? – indagou agoniada.
Nesse instante Nair quis levantar do
desmaio, mas ainda indagou:
Nair:
--- Onde está meu pai? – perguntou meio
zonza a mulher.
Lenira veio até a porta de entrada da
casa grande para olhar o tempo quando viu o movimento de Odessa com a sua
patroa. Observou por bem Lenira e indagou a si mesmo o estar a se passar
adiante. Não temendo maior vexame correu e foi em direção mais depressa
possível para se por em assunto do ocorrido. Ao chegar foi logo a indagar:
Lenira:
--- O que houve? – indagou exasperada.
Odessa:
--- Parece ter dona Nair levado súbito
desmaio. E estou ainda a cuidar do prato de almoço que o velho pediu. Mas não há
velho nenhum aqui. – declarou a moça
toda atordoada.
Lenira:
--- Velho? Que velho? – indagou a
senhora a sacudir Nair.
Nair:
--- Meu pai. Ele esteve aqui. Meu pai. –
relatou a senhora em estúpido desatino.
Lenira:
--- Ah! Bom! Que susto!. E que ele queria? – perguntou
Lenira se referindo a José Pereira.
Odessa:
--- José Pereira morreu. Faze tempo! –
relatou a ama de Emma.
Lenira:
--- Morreu? Ah É isso! E ele voltou a
ter como voce? – perguntou cheia de dúvidas.
Nair:
--- Não foi esse meu pai. Foi o outro.
Jônatas! – respondeu a mulher
Lenira:
--- Jônatas? E tem outro? – pesquisou a
mulher e forma mais alucinada.
Odessa olhou assombrada para a sua
patroa e não teve a menor resposta.
Odessa:
--- Dois? – indagou a moça um tanto
atribulada.
Lenira:
--- É melhor sair do Sol e ir lá para
dentro enquanto eu chamo Edgar.
E a questão levou bom tempo para se
entender. As principais visitas da casa grande acolheram a senhora Nair
Penteado e a colocaram em uma cadeira à entrada do alpendre quanto Nair
procurou pelo menos entender do que se estava pelo a passar consigo mesma, pois
naquela hora ela jamais podia distinguir José Pereira de Jônatas. Foi um longo
período de tempo para Nair contar a verdadeira história onde tudo ocorreu como
de fato. Edgar, o marido, pediu calma aos demais e entre prantos e desgostos
conduziu a sua esposa para o interior da casa. No interior do quarto onde
pretendiam dormir a senhora Nair contou o ocorrido.
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