sábado, 7 de dezembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Quarenta e Nove -

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DESVARIO
Desvario eterno! Nair, atraente e majestosa não podia se conter de imensos risos. Entre meios e desatinos a nubente evocada aceitava comprimentos de pessoas extremamente estranhas, a seu ver. Ao lado, estava Edgar, o esposo, amigo, amante. Tudo era simpatia para o casal. Bonne nuit para cá, merci para lá e assim seguia a chama ardente do seu porte inerte. Antes da hora certa, à meia noite, a valsa, tudo era devaneios obedientes no Salão da Casa “Estilo”. Gente muita a transitar no vai e vem das horas infindas. A núbia estava com o seu traje de noiva, saia longa, cor de lácteo e não podia sair para algum lugar, salvo se houvesse pressa. Então, a virgem ao desatino, procurava Lenira, a companheira de todos os sempre para então fazer o que era assim feito. Uma vez para a toalete a retocar a linda imagem de mulher presente.  Em outras, para apenas derramar o líquido viscoso da urina. Era dessa forma a louca agonia da senhora Nair P. Penteado. O sobrenome do seu marido. Lagrimas e sorrisos constantes de emoções milenares. E nem prestava atenção a alguém o qual não lhe queria bem.
Nair:
--- Mas quem? Mas quem? – indagava sem sentido a querida noiva.
Lenira:
--- Ele! Ó! –  e apontava o dedo para um maricas sem fama.
E o medíocre saía abanando a testa.
Maricas:
--- Que festa! Que festa! – era o dito adoidado do fraco homossexual.
Rapazes a transitar com estilo e oferecer vinhos, champanhes e consumir em bandeja de prata. Ora. Ora. De graça, todos se aproveitavam e fascinantes loucos a sorrir. Conversas, conversas, conversas com pancada de matar doido às cegas. Os megas estrangeiros, por certo, brasileiros, não eram o chame da nobreza rígida dos humildes homens do castelo oval. E, certamente, jovial. Alguém aparece entre os demais procurando enxergar quem era a dama. Esquisito, de um só momento, o distraído dava a volta e seguia em frente para torpor de toda gente. Rosas de Istambul, jarros de Japão era louca agonia para os serventes de alcova.
Servente:
--- Cuidado! – gritava um para proteger o ambiente.
A estátua em nu segurava um globo terrestre com uma cruz em cima. Puro enfeite do acaso ingente. Ó inteligente mente de alguém que sente o glamour presente. E o baile continuava com todo povo insensato a bailar antes de começar de vez a verdadeira festa. Quadros distinto na ambiental moldura. Era de alguma esfinge de certa altura encimando o capacete de cornos inteligentes, presente constante nos cornos da lua. Majestosa criatura de bom gosto e um tanto aluado. O salão tomado todo com bailarinos ainda em desenvolvimento, porém de elegantes trajes teciam na orquestração do ambiente os magistrais boleros e rumbas de casos distantes a contar histórias de inertes amantes. Às vezes uma terna alegoria de canção.
Presentes:
--- Bravo! Bravo! Bravo! – gritavam os presentes nada menos inteligentes.
E a salva de palmas irrompeu solene com dignidade e esmero.  
Umas garotas de saia mais ou menos curtas vinham e voltavam. Elas ofereciam coquetéis e negócio salgado para quem quisesse experimentar. E tinha homem esquisito de estado um pouco duvidoso a encher a boca com as impadas, pasteis e espetos de carne além de demais salgados. Algum lance de especial, ele não podia segurar e enfiava no bolso do paletó de linho. A orquestra tocava um soul para amenizar o ritmo constante da folia. Um toque de clarim se fez ouvir no total ambiente. Era um clássico de Glenn Miller, ele, desaparecido em plena guerra dos seis anos onde a França naufragou no encimar da tragédia.
Radio:
--- E atenção! O avião com Glenn Miller a bordo perdeu contato com Torre de Controle! – comentava o locutor nos primeiros momentos.
Glenn Miller, aparentemente morreu no dia 15 de dezembro de 1944. Sua Banda de Ritmo se reorganizou para não perder o estilo de jazz e swing. Na festa, as ternas e irradiantes mulheres choraram de verdadeira comoção. E a continuação aconteceu, de fato. Um duo entrou no salão para montar um espetáculo de balé. Moça e rapaz. A coreografia apontava para um rimo alucinante onde a diva se apresentava em desvario inconstante em silhuetas mil. O salão era pequeno para um balé dinâmico. Mesmo assim, a bailarina entoou seu ritmo como se pudesse ser uma sílfide de magia. Em varias tonalidades, corpo, movimento, palavra: a representação sobre técnica de bailado contemporâneo a dançarina se faz como uma borboleta a voar de flor em flor. Era uma técnica para as modalidades de rebuscada dança. E então, com maestria e esmero, as transformações do seu universo sem fim. Bailar, bailar, bailar. O deslumbramento cativante da realeza múltipla. As pessoas a observar temerosas e inquietas o duo a rodar sem cuidar em absoluto silencio enquanto a Orquestra entoava cantos de amores infindos. A dança nobre era uma arte antiga a expressar sofisticação e leveza de encantamento sedutor. Com o seu corpo a dobrar como galho no vento a bailarina fazia a sua vez de suaves deleites.
Nair:
--- Meu Deus do Céu! Como bailam esses infantes! – comentou de susto e derradeira ânsia.
E depois vieram os palhaços. De circo, evidentemente. Fizeram mungangas, fizeram chalaças. Um papelão de arruaça. E eram gordos. Outros, magros. Alguns, pequenos. Alguns bem altos. Uns cantavam. Outros faziam a graça de contar canto historiado sem graça. Carros muito pequenos de não caber nenhuma fumaça. E no carro cabiam todos achatados. Desengonçados. A fazer ameaças. Risos. Arruaças. Era enfim o circo de papel então. E que desse, então viesse. Para rir ou chorar sem reza e prece. Quando passam os palhaços chegava a hora da emoção dividida. A valsa dos noivos. Logo após, a dança. Dançar, rodar, amar. E então, no fim, de novo a valsa. Essa: da Despedida. Coros a cantar, sorrir, chorar.
O avião chegou bem tarde da noite em Natal. Todos com bastante sono. Alguns nem viram a cidade ao redor. Apenas outros sentiram o chiado dos pneus ao tocar a pista. A bordo estavam Edgar e Nair. Os demais chegaram há alguns dias: Celia, a esposa de Ricardo França; Nestor, o seu filho; Lenira, sua filha. O Comandante Ricardo França ficou no Rio, onde foi se apresentar à diretoria da firma de aviação. Ficaram na França, os recém-casados. E naquele instante eles chegaram cansados, porém felizes com tudo o conhecido em sua viagem de núpcia. As visitas a Paris, Itália, Grécia, um tanto combalida pelas circunstancias da guerra da mesma forma que a Itália onde se ouvia notícias funestas da gente humilde. Em algum lugar da Itália uma mulher soluçava por ter perdido seus entes enquanto na sua banca de vender artigos feitos à mão se notava a presença de uma antiga dissonante foto onde mostrava as figuras de Benito Mussolini, o imperador da Itália e do seu aliado o líder Adolf Hitler. Quem perguntasse a mulher se ouvia dizer a razão:
Mulher chorando
--- Questo è non dimenticare questo bastardi!
Quem entendesse italiano saberia dizer ter a mulher se referido aos amigos de guerra: “Isso é para não esquecer esses canalhas!”. Era o comentário lacrimoso da idosa mulher. A Itália ainda doída se tornara em um inferno esquecido. Cinco anos eram passados. Dos históricos dias da guerra vinha à lembrança da falta do que se comer e beber.
Nair:
--- Coisa triste! – ela abraçada ao marido.
Edgar:
--- A guerra trás muito desconforto. Veja bem Paris! – lembrou o homem com modéstia.
Adiantados em muito Nair e Edgar seguiram atentos aos episódios da nefasta guerra onde tudo era solidão. Observando o roteiro da belle époque o casal seguiu avante a buscar espetáculos de boa visão dispensando o sinônimo da guerra e a parte do Lago de Como, na Lombardia, próximo ao rio do Pó local onde foi trucidado o líder fascista, Benito Mussolini, então, displicente à sanguinária historia recente o casal se pôs no roteiro de festa nem tão burlesca. Idas e vindas ouviram o cantar dos pássaros em ninhos logo em Milão onde o maior compositor da Itália, Giuseppe Verdi costumava montar as suas óperas.  Naquele local os dois assistiram as mais espetaculares obras de arte cênica. Aida, ópera, estava no circuito de apresentações.  
Nair:
--- Aida, de Giuseppe Verdi. Magnifica obra. Lenira me falo certa vez. – relatou com emoção
Edgar:
--- Essa ópera estreou no Cairo, em dezembro de 1871. E ela não foi composta por encomenda do governo egípcio em comemoração a abertura do Canal de Suez. – tentou explicar.
E depois o casal seguiu para visitar os museus. Roma e Florença estavam do topo. O principal era o Museu do Vaticano ou chamado o Museu da Santa Sé. Mas o roteiro tinha a presença do Museu das Antiguidades Egípcias com trinta mil obras só a perder para o Museu do Cairo, no próprio Egito. Tudo isso era um mundo à parte para Nair ao se sentir maviosa e nata em possuir tamanho orgulho de mulher. Grécia era outra ostentosa maravilha da eterna natureza. O casal voltou ao seu país após um mês do casamento.
E a luta continuava com Edgar a verificar o estado de conservação do solar feito muito antes quando então era noivo de Zélia Albuquerque falecida há alguns anos por questão de um sopro coronário. Foi nesse caso ter o homem ido buscar outra saída. E foi assim que a cuidadosa criatura bateu à porta do seu velho amigo. Edgar procurou fazer negócios com o casarão, pois o próprio mais parecia um acanhado casebre. Aderbal Macedo foi tomado de susto ao ver a magnifica figura de Edgar Penteado penetrar no recinto do seu escritório antes das nove horas da manhã. De chave na mão Edgar foi dizendo:
Edgar:
--- Venda-o! O problema é seu! – falou rápido.
Aderbal:
--- Mas. ...Venda o que? – assustado estava
Edgar:
--- Eu vou agora para o meu trabalho! – e tirando seu chapéu deu-lhe bom dia.
Aderbal:
--- Homem! Espere! É danado! Vender? O que? –  e indiferente assustado percebeu as chaves em suas mãos.

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