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DESVARIO
Desvario eterno! Nair, atraente e majestosa
não podia se conter de imensos risos. Entre meios e desatinos a nubente evocada
aceitava comprimentos de pessoas extremamente estranhas, a seu ver. Ao lado,
estava Edgar, o esposo, amigo, amante. Tudo era simpatia para o casal. Bonne
nuit para cá, merci para lá e assim seguia a chama ardente do seu porte inerte.
Antes da hora certa, à meia noite, a valsa, tudo era devaneios obedientes no
Salão da Casa “Estilo”. Gente muita a transitar no vai e vem das horas
infindas. A núbia estava com o seu traje de noiva, saia longa, cor de lácteo e
não podia sair para algum lugar, salvo se houvesse pressa. Então, a virgem ao
desatino, procurava Lenira, a companheira de todos os sempre para então fazer o
que era assim feito. Uma vez para a toalete a retocar a linda imagem de mulher
presente. Em outras, para apenas
derramar o líquido viscoso da urina. Era dessa forma a louca agonia da senhora
Nair P. Penteado. O sobrenome do seu marido. Lagrimas e sorrisos constantes de
emoções milenares. E nem prestava atenção a alguém o qual não lhe queria bem.
Nair:
--- Mas quem? Mas quem? – indagava sem
sentido a querida noiva.
Lenira:
--- Ele! Ó! – e apontava o dedo para um maricas sem fama.
E o medíocre saía abanando a testa.
Maricas:
--- Que festa! Que festa! – era o dito
adoidado do fraco homossexual.
Rapazes a transitar com estilo e oferecer
vinhos, champanhes e consumir em bandeja de prata. Ora. Ora. De graça, todos se
aproveitavam e fascinantes loucos a sorrir. Conversas, conversas, conversas com
pancada de matar doido às cegas. Os megas estrangeiros, por certo, brasileiros,
não eram o chame da nobreza rígida dos humildes homens do castelo oval. E,
certamente, jovial. Alguém aparece entre os demais procurando enxergar quem era
a dama. Esquisito, de um só momento, o distraído dava a volta e seguia em
frente para torpor de toda gente. Rosas de Istambul, jarros de Japão era louca
agonia para os serventes de alcova.
Servente:
--- Cuidado! – gritava um para proteger
o ambiente.
A estátua em nu segurava um globo
terrestre com uma cruz em cima. Puro enfeite do acaso ingente. Ó inteligente
mente de alguém que sente o glamour presente. E o baile continuava com todo
povo insensato a bailar antes de começar de vez a verdadeira festa. Quadros
distinto na ambiental moldura. Era de alguma esfinge de certa altura encimando
o capacete de cornos inteligentes, presente constante nos cornos da lua. Majestosa
criatura de bom gosto e um tanto aluado. O salão tomado todo com bailarinos
ainda em desenvolvimento, porém de elegantes trajes teciam na orquestração do
ambiente os magistrais boleros e rumbas de casos distantes a contar histórias
de inertes amantes. Às vezes uma terna alegoria de canção.
Presentes:
--- Bravo! Bravo! Bravo! – gritavam os
presentes nada menos inteligentes.
E a salva de palmas irrompeu solene com
dignidade e esmero.
Umas garotas de saia mais ou menos
curtas vinham e voltavam. Elas ofereciam coquetéis e negócio salgado para quem
quisesse experimentar. E tinha homem esquisito de estado um pouco duvidoso a
encher a boca com as impadas, pasteis e espetos de carne além de demais
salgados. Algum lance de especial, ele não podia segurar e enfiava no bolso do
paletó de linho. A orquestra tocava um soul para amenizar o ritmo constante da
folia. Um toque de clarim se fez ouvir no total ambiente. Era um clássico de
Glenn Miller, ele, desaparecido em plena guerra dos seis anos onde a França
naufragou no encimar da tragédia.
Radio:
--- E atenção! O avião com Glenn Miller
a bordo perdeu contato com Torre de Controle! – comentava o locutor nos
primeiros momentos.
Glenn Miller, aparentemente morreu no
dia 15 de dezembro de 1944. Sua Banda de Ritmo se reorganizou para não perder o
estilo de jazz e swing. Na festa, as ternas e irradiantes mulheres choraram de
verdadeira comoção. E a continuação aconteceu, de fato. Um duo entrou no salão
para montar um espetáculo de balé. Moça e rapaz. A coreografia apontava para um
rimo alucinante onde a diva se apresentava em desvario inconstante em silhuetas
mil. O salão era pequeno para um balé dinâmico. Mesmo assim, a bailarina entoou
seu ritmo como se pudesse ser uma sílfide de magia. Em varias tonalidades,
corpo, movimento, palavra: a representação sobre técnica de bailado contemporâneo
a dançarina se faz como uma borboleta a voar de flor em flor. Era uma técnica para
as modalidades de rebuscada dança. E então, com maestria e esmero, as
transformações do seu universo sem fim. Bailar, bailar, bailar. O
deslumbramento cativante da realeza múltipla. As pessoas a observar temerosas e
inquietas o duo a rodar sem cuidar em absoluto silencio enquanto a Orquestra
entoava cantos de amores infindos. A dança nobre era uma arte antiga a
expressar sofisticação e leveza de encantamento sedutor. Com o seu corpo a
dobrar como galho no vento a bailarina fazia a sua vez de suaves deleites.
Nair:
--- Meu Deus do Céu! Como bailam esses
infantes! – comentou de susto e derradeira ânsia.
E depois vieram os palhaços. De circo,
evidentemente. Fizeram mungangas, fizeram chalaças. Um papelão de arruaça. E
eram gordos. Outros, magros. Alguns, pequenos. Alguns bem altos. Uns cantavam.
Outros faziam a graça de contar canto historiado sem graça. Carros muito
pequenos de não caber nenhuma fumaça. E no carro cabiam todos achatados.
Desengonçados. A fazer ameaças. Risos. Arruaças. Era enfim o circo de papel
então. E que desse, então viesse. Para rir ou chorar sem reza e prece. Quando
passam os palhaços chegava a hora da emoção dividida. A valsa dos noivos. Logo
após, a dança. Dançar, rodar, amar. E então, no fim, de novo a valsa. Essa: da
Despedida. Coros a cantar, sorrir, chorar.
O avião chegou bem tarde da noite em
Natal. Todos com bastante sono. Alguns nem viram a cidade ao redor. Apenas
outros sentiram o chiado dos pneus ao tocar a pista. A bordo estavam Edgar e
Nair. Os demais chegaram há alguns dias: Celia, a esposa de Ricardo França;
Nestor, o seu filho; Lenira, sua filha. O Comandante Ricardo França ficou no
Rio, onde foi se apresentar à diretoria da firma de aviação. Ficaram na França,
os recém-casados. E naquele instante eles chegaram cansados, porém felizes com
tudo o conhecido em sua viagem de núpcia. As visitas a Paris, Itália, Grécia,
um tanto combalida pelas circunstancias da guerra da mesma forma que a Itália
onde se ouvia notícias funestas da gente humilde. Em algum lugar da Itália uma mulher
soluçava por ter perdido seus entes enquanto na sua banca de vender artigos
feitos à mão se notava a presença de uma antiga dissonante foto onde mostrava
as figuras de Benito Mussolini, o imperador da Itália e do seu aliado o líder
Adolf Hitler. Quem perguntasse a mulher se ouvia dizer a razão:
Mulher chorando
--- Questo è non dimenticare questo
bastardi!
Quem entendesse italiano saberia dizer
ter a mulher se referido aos amigos de guerra: “Isso é para não esquecer esses
canalhas!”. Era o comentário lacrimoso da idosa mulher. A Itália ainda doída se
tornara em um inferno esquecido. Cinco anos eram passados. Dos históricos dias
da guerra vinha à lembrança da falta do que se comer e beber.
Nair:
--- Coisa triste! – ela abraçada ao
marido.
Edgar:
--- A guerra trás muito desconforto.
Veja bem Paris! – lembrou o homem com modéstia.
Adiantados em muito Nair e Edgar
seguiram atentos aos episódios da nefasta guerra onde tudo era solidão. Observando
o roteiro da belle époque o casal
seguiu avante a buscar espetáculos de boa visão dispensando o sinônimo da
guerra e a parte do Lago de Como, na Lombardia, próximo ao rio do Pó local onde
foi trucidado o líder fascista, Benito Mussolini, então, displicente à
sanguinária historia recente o casal se pôs no roteiro de festa nem tão
burlesca. Idas e vindas ouviram o cantar dos pássaros em ninhos logo em Milão
onde o maior compositor da Itália, Giuseppe Verdi costumava montar as suas
óperas. Naquele local os dois assistiram
as mais espetaculares obras de arte cênica. Aida, ópera, estava no circuito de apresentações.
Nair:
--- Aida, de Giuseppe Verdi. Magnifica
obra. Lenira me falo certa vez. – relatou com emoção
Edgar:
--- Essa ópera estreou no Cairo, em
dezembro de 1871. E ela não foi composta por encomenda do governo egípcio em
comemoração a abertura do Canal de Suez. – tentou explicar.
E depois o casal seguiu para visitar os
museus. Roma e Florença estavam do topo. O principal era o Museu do Vaticano ou
chamado o Museu da Santa Sé. Mas o roteiro tinha a presença do Museu das
Antiguidades Egípcias com trinta mil obras só a perder para o Museu do Cairo,
no próprio Egito. Tudo isso era um mundo à parte para Nair ao se sentir maviosa
e nata em possuir tamanho orgulho de mulher. Grécia era outra ostentosa
maravilha da eterna natureza. O casal voltou ao seu país após um mês do
casamento.
E a luta continuava com Edgar a
verificar o estado de conservação do solar feito muito antes quando então era
noivo de Zélia Albuquerque falecida há alguns anos por questão de um sopro
coronário. Foi nesse caso ter o homem ido buscar outra saída. E foi assim que a
cuidadosa criatura bateu à porta do seu velho amigo. Edgar procurou fazer
negócios com o casarão, pois o próprio mais parecia um acanhado casebre. Aderbal
Macedo foi tomado de susto ao ver a magnifica figura de Edgar Penteado penetrar
no recinto do seu escritório antes das nove horas da manhã. De chave na mão
Edgar foi dizendo:
Edgar:
--- Venda-o! O problema é seu! – falou
rápido.
Aderbal:
--- Mas. ...Venda o que? – assustado
estava
Edgar:
--- Eu vou agora para o meu trabalho! –
e tirando seu chapéu deu-lhe bom dia.
Aderbal:
--- Homem! Espere! É danado! Vender? O
que? – e indiferente assustado percebeu
as chaves em suas mãos.
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