segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Trinta e Um -



- MISSA -
- 31 -
GALHOFAS
O automóvel de Edgar Penteado parecia mais um comboio da Rede Ferroviária de tão cheio de caixas de roupas. No banco de traz era tudo tomado onde não cabia nem mais um dedal. As duas belas moças ficaram mesmo na parte da frente onde também estava o motorista quase lançado para fora. A alegria era demasiada. Lenira e Nair ainda estavam a conduzir outros pacotes menores e gargalhavam por causa de tudo ou nada. Eram duas horas da tarde do sábado onde todo o comércio do bairro da Ribeira já estava fechado por conta da tal chamada “Semana Inglesa” onde o comércio não funcionava no restante da tarde. Apenas os bares estavam abertos e assim ficavam dia e noite. A Confeitaria de Olívio era a de maior frequência durante a tarde. Os beberrões da cidade estavam no auge de sua festa. Era tamanho o movimento que as cadeiras ficavam do lado de fora do bar. E Edgar já a caminho de sua casa a dirigir seu automóvel ficava espremido entre a porta e as divinas moças sem nem ao menos poder sorrir, pois do jeito onde ficou era um aperto dos diabos. A loja de vendas tinha cerrado as suas portas. Mesmo assim, a magazine ainda servia as duas compradoras até mais de uma hora da tarde. No caminhar para o seu solar as divas sorriam por nada querendo apenas se lembrar de negócios atrapalhados, do caixeiro no ir e vir, das matronas de cara feias, de um negociante atrapalhado por causa de um par de meias. Enfim, era a galhofa do dia. E a chegada em seu solar, ainda teve alguém a reclamar pelo tempo de atraso.
Clara:
--- Agora? – ralhava à mulher com as mãos nos quadris ela então parecia um açucareiro de duas asas.
Lenira:
--- Foi à loja, mamãe. Foi à loja! Nunca vi tamanha aflição dos despachantes. – sorriu a moça com tanto desmando.
Clara:
--- Estou pra ver! – resmungou a mulher.
Edgar:
--- Minha mãe? – indagou o motorista cheio de compras nas mãos.
Clara:
--- No quarto. Desde que voltou da missa. – respondeu a já entrar na casa.
Edgar:
--- Missa! - (ele seguia e voltava do automóvel com os pacotes) – e se lembrou de algo ocorrido na Santa Missa, em Macaíba, celebrada em sufrágio da alma de Carrapicho.
Clara:
--- Deodora está no fogão. Ela e Odiléia. A mulher – (Deodora) – ainda anda triste. – reclamou com suavidade.
No caso da Santa Missa houve um problema. Ninguém notou o tal receio. Após a celebração, o homem Jerônimo, recente lugar tenente do doutor Edgar, homem desconhecido do lugar, mas de plena confiança do fazendeiro, teve o tento em falar com seu patrão sobre algo ocorrido. Durante a celebração, seu Jerônimo notou a presença de uma figura ao lado do advogado. E teve o descuido de saber de quem se tratava. Foi assim o sucedido:
Jerônimo:
--- Patrão! Quem era o senhor a seu lado dentro da Igreja? – indagou cismado.
Edgar:
--- Quem? O comandante da Polícia. – disse o homem a Jeronimo.
Jeronimo:
--- Não era esse! O comandante da Polícia estava do seu lado direito. É outro. Ele estava do lado esquerdo. – declarou com modos.
Edgar:
--- Do lado esquerdo não tinha ninguém. A não ser a viúva. Mas a mulher estava no banco da frente. – relatou com certeza.
Jerônimo:
--- Estranho. Eu o vi por uns instantes. Porém logo ele saiu do lugar. Eu fiquei quase no final dos bancos. Mas percebi muito bem. Eu pergunto por que o homem sumiu de repente do local. – falou cismado.
Edgar:
--- Homem? Que homem é esse? – indagou preocupado
Jerônimo:
--- De boa altura, pele clara, roupa de vaqueiro, sem chapéu. Sisudo. Mãos grosas e firmes. Calça acochada na cintura. Foi o que percebi. De repente o homem sumiu. – disse preocupado.
O fazendeiro, de imediato atentou pelo nome do desconhecido de Jerônimo. Afinal, ele não percebeu ninguém a seu lado esquerdo. Mas a descrição não era mais ou menos do que o senhor Carrapicho, homem de morte matada no final da semana. E na Missa ele estava a acompanhar seu patrão.
Edgar;
--- Diacho! Só podia ser Carrapicho! – falou em surdina o advogado.
Jerônimo:
--- Quem, patrão? – indagou curioso
Edgar:
--- Ninguém. Esqueça que o notou. – falou em murmúrio o patrão.
Essa peleja dominou a lembrança de Edgar Penteado por muito tempo. Quando o advogado chegou a Loja de Departamento, no inicio do bairro da Ribeira, continuava a lembrar de todo o ocorrido. Nesse ponto Edgar Penteado nada falou a ficar sempre omisso. E assine continuou para horas até o ponto de chamar Nair quando ambos conversaram sobre o assunto, já na parte da noite depois da janta.
Enquanto isso, Nair, como todo o seu conteúdo nas sacolas, ela e Lenira fizeram a mudança de cômodo a passar a futura noiva se acomodar em outro quarto dentro da própria casa. Nesse meio tempo Lenira abriu a boca e disse ao seu tido ser preciso seguir a Paris, pois era o centro das últimas tendências da moda em todo o mundo. As lojas de departamento se tornaram monumentos do primeiro comércio da Europa. E ainda era possível conhecer os monumentos históricos existentes como a Torre Eiffel ou a Notre Dame, catedral celebrizada em estilo gótico. A catedral foi iniciada no ano de 1163, dedicada a Maria, Mãe de Jesus. O seu nome em português era Catedral de Nossa Senhora e situava-se na Praça Parvis, na Pequena Ilha da Cidade, rodeada pelas águas do rio Sena. A Catedral surge intimamente ligada à ideia de gótico no seu esplendor, ao efeito claro das necessidades e aspirações da alta sociedade. Justamente foi o enunciar de Lenira ao seu amado tio. O homem não colocou dúvida na ideia da sobrinha. E assim podia inclusive convidar o comandante França. Dois homens era o melhor acordo. Com certeza, adquirir a justa moda, o enxoval em uma cidade plena de enfeires do rigor era um ponto alto do luxo e requinte de maior esmero.
Lenira:
--- Em Paris a gente encontra as últimas tendências da moda. É o belo através das melhores marcas francesas de exclusividade pessoal – declarou a moça ao seu tio.
França:
--- Essa menina é uma expert em luxo e bom gosto. – fomentou o seu pai.
Clara:
--- Tendências! Tendências e esmero. Paris é a Capital da Moda. Berço da alta costura e pronto para uso. – relatou a mãe com sobriedade.
Lenira:
--- Eu sou chique! – gargalhou a moça com as suas alusões.
Nair Pereira desconhecia de tudo aquilo e apenas prestava atenção. Paris, França, o mundo aberto a seus pés. Entretanto havia um angustiante, porém:
Nair:
--- Nesse lugar se come ostra?- indagou indiferente.
Lenira;
--- Escargot! Escargot! Bichinho que se deixa prontos para consumi-los. Oito meses para atingir 15 gramas. Escargot é criado em umidades ideais. Escargot! Esse é o nome. – dialogou com ênfase.
Nair:
--- Ah! Que nome mais esquisito! Eu prefiro chama-los ostras. – sorriu a moça a se aquietar no centro da mesa posta.
E os comensais, todos eles sorriram.
Lenira:
--- Vá se acostumando com a nova cozinha. – sorriu ao modo de princesa.
Nair:
--- Como é o nome mesmo? – sorriu sem quer.
E houve intensa gargalhadas por todos os comensais. Edgar a estar mais próximo da futura noiva segurou da moça as inquietas mãos. A conversa prosseguiu enquanto a comida era então servida.

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