- DELEGACIA -
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A PRISÃO
Após algum tempo, não mais de meia hora,
o homem Edgar Penteado já estava no Distrito Policial de Macaíba a procura o
senhor delegado. Na sala da frente havia um único policial, por sinal, a
palitar os incompletos dentes, principalmente os queixares. O policial estava
sentado em uma cadeira estofada e rota pelos gases que se soltava, com suas
pernas por cima do birô onde havia ordens de captura, fugas, assassinatos entre
outros meticulosos termos. O sol era encoberto pelo nevoeiro como o prenuncio
da chuva. E os pingos viraram intempéries com o decorrer dos minutos alagando
toda a cidade. Água em monte inundando casas e casebres, vilas e povoados a
demonstrar a invernada a chegar. Burros, touros, vacas, bodes e cabras não se
avisaram. Apenas saltavam de um lado para outro. Era como a cantiga da região
do brejo conhecido como sítio do “coco amarelo” ou apenas Macaíba. A chegada de
Edgar Penteado na Chefia da Policia se deu como o aviso do inverno, temporal ou
aguaceiro de encher pipa pelas margens do rio Jundiaí. O militar se levantou depressa no acolchoado
da sala onde estava o birô do delegado e de imediato disse o que não sabia ao
certo:
Soldado:
--- Pois não! Qual é a queixa? – indagou
amedrontado a olhar para a mulher em choro.
Edgar:
--- O delegado onde está? – falou altivo
e com muita raiva.
O soldado nesse ponto da história nem
sabia o que falar de certo. E a chuva a cair aos cântaros a encharcar os avisos
em cima da escrivaninha alertava o militar a recolher tudo para colocar dentro
de uma gaveta da mesa de se escrever. Ou atendia o visitante ou guardava tudo o
que era de avisos. Com o quepe posto ao contrario em cima de sua cabeça, o
soldado pedia um pouco de trégua enquanto guardava todo o material. A chuva
grossa não deixava em paz o militar e logo ele falou sem vontade de ouvir a
questão.
Soldado:
--- Ele saiu meu comandante. Ele saiu.
Foi à feira. – disse o soldado todo atarantado pela bagunça formada dentro da
delegacia.
Goteiras faziam a festa no interior da enlameada
cadeia enquanto um homem moço e mal vestido, talvez presidiário, se destinava
ao interior da casa a buscar um balde para por em baixo do imenso vazamento a
despencar constante. Enquanto isso Deodora e sua filha não se continham e o
choro era constante. O advogado Edgar Penteado ralou com pressa:
Edgar:
--- Tem algum presidiário recente nessa
espelunca? – indagou com brutalidade.
O soldado quase sem ouvir, soergue a
cabeça e indagou:
Soldado:
--- Es o que? Ah. Tem não senhor. Só
Pantera. Esse ai? – comentou o militar a enxugar com a toalha a mesa toda
molhada pela chuva.
Edgar.
--- Muito bem. Vou espera-lo! – declarou
abusado com o sumiço do seu bondoso Carrapicho, seu lugar tenente.
A chuva torrencial cobria todo o
município de Macaíba àquela hora bem cedo da manhã. Dia de feira na Cidade.
Gente correndo para todos os lados procurando se agasalhar do temporal. Outros
ficavam recolhidos em suas bancas a cobrir o restante da mercadoria. Carne
seca, verde, de porco, de criação. Esses eram todos os molhados do lamaçal.
Galinhas, patos, perus e outras aves também sofriam nas penas com os destroços
a escorrer. Um galo vermelho, magro como era a sua raça, veio de dentro do
presidio completamente encharcado a beliscar por termos as suas enigmáticas penas. Logo a seguir
surgiu a sua companheira de penas como tidas pedrês. Em um pouco para trás
vieram os frangos e os pintos. O presidiário da limpeza tangeu a prole para
trás como forma de poder deixar o presidio menos sujo. Nesse instante ouviu-se
um berro estridente na porta da rua. Era um borrego desgarrado a procura de sua
mãe, a senhora ovelha. De volta, o presidiário saltou o pano a trazer na mãe e
disse ainda:
Pantera:
--- Xô desgraça da vida! – declarou
alarmado o presidiário.
O Cuco na parede alertou a hora. O
doutor Edgar Penteado verificou em seu relógio de algibeira o quanto já
esperava. Por longo espaço, se ouviu um barulho com a subir a calçada de modelo
alto a ventar à entrada de enxurradas. Com um tempo, Edgar notou a presença do
delegado de polícia. De imediato, vieram mais três policiais. Com essa turma, o
homem olhou para a mulher como a indagar:
Edgar:
--- Reconhece? – indagou de modo baixo.
Deodora:
--- Não foram eles. – falou sentida a
mulher.
O delegado entrou na sala e indagou do
policial:
Delegado:
--- Algo? – perguntou curioso.
Militar:
--- Só o advogado. – disse o policial
ajeitando o seu quepe.
O sargento se voltou para o homem
enquanto procurava a mesa para sentar e em seguida relatou na esperança de ser
briga de casal.
Delegado:
--- Pois não doutro! Em que posso ajuda-lo?
– disse o delegado ao advogado.
Esse se aproximou da mesa e com as duas
mãos feito o ferrete de marcar gado foi logo a declarar.
Edgar:
--- Quero saber quem foi à peste que
esteve de manhã em minha fazenda e levou preso e sem destino o meu moço lugar
tenente? – foi como o homem falou cuspindo brasa.
Delegado:
--- Calma! Coronel! Vamos por parte. O
senhor procura alguém ou soldado? – perguntou com calma o delegado.
Edgar muito bravo não se aguentou e
disse em fúria ao delegado.
Edgar:
--- Eu sei lá quem foi o sovina! Quatro
ou cinco policiais invadiram hoje bem cedo a Fazenda e arrastaram Carrapicho,
meu lugar tenente. Eu vim saber onde colocaram o meu rapaz. – relatou com
dentes trincados.
Delegado:
--- Eu não senhor Coronel! Eu não sei!
Estou ouvindo falar agora nesse caso! – relatou o delegado com olhos
esbugalhados.
Edgar:
--- Não sabe ou não quer dizer? Heim?
Heim? Heim? – se soergueu o homem até tocar com a sua cabeça a testa do
delegado.
Delegado:
--- Não seu meu Coronel! Não sei! Alguém
sabe disso aí? – perguntou nervoso a pesquisar um lado e outro.
Soldado-2.
--- Eu vi em dois jipes o Capitão
Tororomba e seus soldados. Ele estava no comando. – relatou o militar não
querendo se meter na história.
Com essa novidade, o advogado Edgar
Penteado se voltou para o ensopado miliciano.
E chegou tão depressa que esse não teve meio de defesa. Os demais
militares procuraram intervir, mas o delegado se meteu na conversa e logo
desapartou o advogado.
Delegado:
--- O que você viu, hein? - indagou o delegado em cima do soldado
Soldado 2.
--- Bem. Eu não sei quantos. Mas o
capitão Tororomba estava no comando. E a tropa levava um preso em um dos jipes.
Eles rumaram por Mangabeira. Eu vinha para o distrito há essa hora. – comentou
enervado o soldado.
Delegado:
--- Mangabeira? Nas minhas barbas? Há
essa hora? – perguntou perdendo o senso de humor.
Edgar:
--- Vamos atrás desse vagabundo. Eu
quero saber qual foi o motivo de invadir meu cercado. – falou em fúria o
advogado.
Delegado:
--- Mas nosso carro está no prego. –
relatou o homem de braços abertos sem saber o que fazer.
Edgar:
--- Então vá a pé! – rosnou com ira o
advogado.
Delegado:
--- Você chame um carro! – mandou o
homem forte do distrito a um soldado.
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