quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Vinte e Cinco -

- DELEGACIA -
- 25 -
A PRISÃO
Após algum tempo, não mais de meia hora, o homem Edgar Penteado já estava no Distrito Policial de Macaíba a procura o senhor delegado. Na sala da frente havia um único policial, por sinal, a palitar os incompletos dentes, principalmente os queixares. O policial estava sentado em uma cadeira estofada e rota pelos gases que se soltava, com suas pernas por cima do birô onde havia ordens de captura, fugas, assassinatos entre outros meticulosos termos. O sol era encoberto pelo nevoeiro como o prenuncio da chuva. E os pingos viraram intempéries com o decorrer dos minutos alagando toda a cidade. Água em monte inundando casas e casebres, vilas e povoados a demonstrar a invernada a chegar. Burros, touros, vacas, bodes e cabras não se avisaram. Apenas saltavam de um lado para outro. Era como a cantiga da região do brejo conhecido como sítio do “coco amarelo” ou apenas Macaíba. A chegada de Edgar Penteado na Chefia da Policia se deu como o aviso do inverno, temporal ou aguaceiro de encher pipa pelas margens do rio Jundiaí.  O militar se levantou depressa no acolchoado da sala onde estava o birô do delegado e de imediato disse o que não sabia ao certo:
Soldado:
--- Pois não! Qual é a queixa? – indagou amedrontado a olhar para a mulher em choro.
Edgar:
--- O delegado onde está? – falou altivo e com muita raiva.
O soldado nesse ponto da história nem sabia o que falar de certo. E a chuva a cair aos cântaros a encharcar os avisos em cima da escrivaninha alertava o militar a recolher tudo para colocar dentro de uma gaveta da mesa de se escrever. Ou atendia o visitante ou guardava tudo o que era de avisos. Com o quepe posto ao contrario em cima de sua cabeça, o soldado pedia um pouco de trégua enquanto guardava todo o material. A chuva grossa não deixava em paz o militar e logo ele falou sem vontade de ouvir a questão.
Soldado:
--- Ele saiu meu comandante. Ele saiu. Foi à feira. – disse o soldado todo atarantado pela bagunça formada dentro da delegacia.
Goteiras faziam a festa no interior da enlameada cadeia enquanto um homem moço e mal vestido, talvez presidiário, se destinava ao interior da casa a buscar um balde para por em baixo do imenso vazamento a despencar constante. Enquanto isso Deodora e sua filha não se continham e o choro era constante. O advogado Edgar Penteado ralou com pressa:
Edgar:
--- Tem algum presidiário recente nessa espelunca? – indagou com brutalidade.
O soldado quase sem ouvir, soergue a cabeça e indagou:
Soldado:
--- Es o que? Ah. Tem não senhor. Só Pantera. Esse ai? – comentou o militar a enxugar com a toalha a mesa toda molhada pela chuva.
Edgar.
--- Muito bem. Vou espera-lo! – declarou abusado com o sumiço do seu bondoso Carrapicho, seu lugar tenente.
A chuva torrencial cobria todo o município de Macaíba àquela hora bem cedo da manhã. Dia de feira na Cidade. Gente correndo para todos os lados procurando se agasalhar do temporal. Outros ficavam recolhidos em suas bancas a cobrir o restante da mercadoria. Carne seca, verde, de porco, de criação. Esses eram todos os molhados do lamaçal. Galinhas, patos, perus e outras aves também sofriam nas penas com os destroços a escorrer. Um galo vermelho, magro como era a sua raça, veio de dentro do presidio completamente encharcado a beliscar por termos  as suas enigmáticas penas. Logo a seguir surgiu a sua companheira de penas como tidas pedrês. Em um pouco para trás vieram os frangos e os pintos. O presidiário da limpeza tangeu a prole para trás como forma de poder deixar o presidio menos sujo. Nesse instante ouviu-se um berro estridente na porta da rua. Era um borrego desgarrado a procura de sua mãe, a senhora ovelha. De volta, o presidiário saltou o pano a trazer na mãe e disse ainda:
Pantera:
--- Xô desgraça da vida! – declarou alarmado o presidiário.
O Cuco na parede alertou a hora. O doutor Edgar Penteado verificou em seu relógio de algibeira o quanto já esperava. Por longo espaço, se ouviu um barulho com a subir a calçada de modelo alto a ventar à entrada de enxurradas. Com um tempo, Edgar notou a presença do delegado de polícia. De imediato, vieram mais três policiais. Com essa turma, o homem olhou para a mulher como a indagar:
Edgar:
--- Reconhece? – indagou de modo baixo.
Deodora:
--- Não foram eles. – falou sentida a mulher.
O delegado entrou na sala e indagou do policial:
Delegado:
--- Algo? – perguntou curioso.
Militar:
--- Só o advogado. – disse o policial ajeitando o seu quepe.
O sargento se voltou para o homem enquanto procurava a mesa para sentar e em seguida relatou na esperança de ser briga de casal.
Delegado:
--- Pois não doutro! Em que posso ajuda-lo? – disse o delegado ao advogado.
Esse se aproximou da mesa e com as duas mãos feito o ferrete de marcar gado foi logo a declarar.
Edgar:
--- Quero saber quem foi à peste que esteve de manhã em minha fazenda e levou preso e sem destino o meu moço lugar tenente? – foi como o homem falou cuspindo brasa.
Delegado:
--- Calma! Coronel! Vamos por parte. O senhor procura alguém ou soldado? – perguntou com calma o delegado.
Edgar muito bravo não se aguentou e disse em fúria ao delegado.
Edgar:
--- Eu sei lá quem foi o sovina! Quatro ou cinco policiais invadiram hoje bem cedo a Fazenda e arrastaram Carrapicho, meu lugar tenente. Eu vim saber onde colocaram o meu rapaz. – relatou com dentes trincados.
Delegado:
--- Eu não senhor Coronel! Eu não sei! Estou ouvindo falar agora nesse caso! – relatou o delegado com olhos esbugalhados.
Edgar:
--- Não sabe ou não quer dizer? Heim? Heim? Heim? – se soergueu o homem até tocar com a sua cabeça a testa do delegado.
Delegado:
--- Não seu meu Coronel! Não sei! Alguém sabe disso aí? – perguntou nervoso a pesquisar um lado e outro.
Soldado-2.
--- Eu vi em dois jipes o Capitão Tororomba e seus soldados. Ele estava no comando. – relatou o militar não querendo se meter na história.
Com essa novidade, o advogado Edgar Penteado se voltou para o ensopado miliciano.  E chegou tão depressa que esse não teve meio de defesa. Os demais militares procuraram intervir, mas o delegado se meteu na conversa e logo desapartou o advogado.
Delegado:
--- O que você viu, hein? -  indagou o delegado em cima do soldado
Soldado 2.
--- Bem. Eu não sei quantos. Mas o capitão Tororomba estava no comando. E a tropa levava um preso em um dos jipes. Eles rumaram por Mangabeira. Eu vinha para o distrito há essa hora. – comentou enervado o soldado.
Delegado:
--- Mangabeira? Nas minhas barbas? Há essa hora? – perguntou perdendo o senso de humor.
Edgar:
--- Vamos atrás desse vagabundo. Eu quero saber qual foi o motivo de invadir meu cercado. – falou em fúria o advogado.
Delegado:
--- Mas nosso carro está no prego. – relatou o homem de braços abertos sem saber o que fazer.  
Edgar:
--- Então vá a pé! – rosnou com ira o advogado.
Delegado:
--- Você chame um carro! – mandou o homem forte do distrito a um soldado.

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