segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Trinta e Nove -

- SILFÍDES -
- 39 -
- NOÇÃO -

Com toda certeza, João Mota soube logo. Nair seria boa aluna. Ele a olhou ao entrar pela segunda vez no Buíque, veículo não hidramático, como o de Lenira, porém de excelente qualidade como todos os carros importados dos Estados Unidos. Se bem a Inglaterra, a França, a Itália terem modelos de veículos capacitados sem contar com a Alemanha, ferida da guerra e ainda sem recuperar os estragos de sua máquina automotiva. Por certo, Mota não teria o impacto de mover modelos de outros países, como os europeus, sem falar nos russos, distantes do mercado consumidor do Brasil. Importados pelo país havia poucos carros, tal como o Cadillac, da GM. O cambio automático dava melhor rendimento aos veículos e motoristas além de permitir maior durabilidade e economia do motor, bem como de todos os componentes, tal qual caixa, eixos e diferencial. Todavia, o mecânico não tinha méritos para discutir a qualidade do automóvel, se então soubesse ser um veículo de maior segurança. Na Agencia General Motors, do bairro da Ribeira, João Mota tinha acesso frequente por meio onde o mecânico desmontava e montava uma caixa de marcha hidramática sem pestanejar de certo. Um homem sem instruções era capaz de desfazer e fazer o feito. Enfim, ele era Mota, o mecânico de total esmero. A sua pouca estatura não afetava a grandiosidade do saber.

Com determinação, João Mota fez a volta no Buíque e tomou direção contraria percorrendo a ladeira do Hospital “Miguel Couto” e seguindo pela Rua Nilo Peçanha a terminar em uma região mais tranquila. Quando ele acertou com o ponto alertou à moça:

Mota:

--- Aqui está bom. Não tem movimento de veículos. Rua tranquila. Sem gente, pois quando a senhora estiver dirigindo tenha cuidado com os pedestres. Velhos são mais arriscados. Além disso, tem animais e mesmo outros veículos. Catabirros são piores do que se pode imaginar. Pois, pois. Vamos ver como funciona o automóvel. Uma alerta: a senhora não dirige agora!. E nem vai resolver dirigir onde tem a “telha”!. (e bateu na própria cabeça) Esse é outro assunto. Bem!. O carro está estacionado, paradinho sem mexer com nada. Entendeu? Eu sei que sim!. Para a senhora começar a entender, veja bem. A senhora entra no veículo depois de enxergar se tudo está bem por fora, como os pneus e o tanque de gasolina. Ou outra coisa qualquer, como para-choque. Tudo em ordem e a senhora entra no seu carro. Costume verificar se não tem bichinhos, como escorpião e baratas. Tudo bem. Agora, a senhora se senta e verifica tudo por perto. A chave está em suas mãos. A senhora verifica os pedais. – ele mostra os pedais -. Tem os pedais de embreagem, esse aqui. É como se diz mesmo. Tem o acelerador. E tem o freio. Quando a senhora for dirigir, preste atenção nos sapatos. Eu vejo que a senhora está de sapato de salto alto. Tudo bem. Antes de começar a saída do carro, preste atenção com outros carros em volta. Bonde, inclusive. Então a senhora vai começar a dirigir. Mas não agora!. Espere!. A senhora põe a chave na ignição. Aqui, está vendo? –e olhou para Nair que continuava de braços presos ao busto e sorrindo alegre por demais. – Não é para achar graça! É sério! Pergunte a ele! – e apontou para Edgar. –

Edgar;

--- É sério, meu amor. – respondeu compenetrado e com maior incerteza

E então começou o curso de direção com o motorista em alerta para os trancos e barrancos, a mostrar como se mover o carro. De início, vagaroso! Lento! Cuidadoso! E a moça sem sorrir então prestou atenção a tudo. O noivo, atrás, observava atento! Mota, à direção, apenas falava em “carburador”, radiador, marcha-à-ré, estacionar, largar, acertar, não tocar. Mas, em nada tocar para não atrasar quando sair.  E assim começou a aula de direção.

Mota:

--- Por aqui! Não! Não! Está dirigindo troncho! – gritava insistente o mecânico.

Nair:

--- E eu faço o que? – a perguntar nervosa, com temor.

Mota:

--- Assim! Assim! Veja! – gritava ingenuamente o mecânico a voltear a direção com as próprias mãos.

Esse era o começo! O início! A partida! A invertida! A saída! Assim era o desabrochar da ninfa para seguir adiante nos temores, horrores, terrores da vida da imaginável motorista. Depois, a subida. A descida, a corrida, a batida. Era um mundo para o qual Nair, ao desespero interior se compadecia de ter consentido a fazer e não daquele inacreditável modo da vida a levar. Ao cabo de duas horas, o mecânico, suado, alertado, alterado findou a entregar o volante ao seu dono Edgar. Pronto! Agora, apenas no dia seguinte. A virgem ao dissabor seguiu à sua mansão, então, entrou. Suada! Irritada! Agoniada. Maltratada! Ela jamais saberia o acontecer dos dias a seguir. E assim foi a chama para aquele que clama a proteção de algum modo de viver e de quem ama. E se não ama começa a amar, deleitar, suportar a ânsia de animar.

Meio-dia. Almoço. Lenira indaga:

Lenira:

--- Então? – de olhos acesos e sorrir constante.

Nair:

--- Horror! – falou ligeiro a donzela.

Lenira:

--- Por quê? Tão fácil! Amanhã se aprume! As lições serão “pesadas”! – falou sem insistência.

Nair:

--- Não vou mais! O homem irrita qualquer um! – relatou a ninfa a olhar para um lado e a mão no queixo.

Lenira:

--- Ah vai! Tem que ir! Ora se vai! E tem mais: amanhã começa uma nova etapa na vida! – zangou de outro modo

Nair olhou em troca e quis saber qual era a nova etapa.

Nair:

--- Não quero ouvir tragédia! Já chega! Qual? – indagou surpresa.

Lenira:

--- Francês!  De tarde! A matrona chega! Veja bem! Todas as lições! Etiquetas! – falou enfim com muito esmero.

Nair:

--- O que? – se abusou com a cara amarga.  

Lenira:

--- Não é por mal! Você entrou em um novo mundo! Um mundo esplendoroso! Mágico! Tudo é fascínio! Requinte! Ocidental! Eternal! Perenal! – vibra a moça a iniciar a dança das sílfides! Das melhores elegantes mulheres.

Nair:

--- Não entendo nada! – despachou a moça aquietada em seu sofá.

Lenira:

--- Mas entenderá. Após essa semana tem outra coisa! – relatou com suavidade no olhar e seu modo de sorrir.

Nair:

--- Qual? Pirangí? Já conheço! – destacou a ninfa com voz soturna.

Lenira:

--- Nada de praia! São outras “eras”! – relatou a sorrir constante e a dançar as sílfides com a sua mão no coração.

Nair:

--- Como? – indagou a ninfa com a mão no queixo e a olhar do seu divã de baixo para cima.

Lenira:

--- Mas eternas, seguem sem cruzes, sem flautas, sem arados. São sonhos da vida e do sonhar. Estão perto do mundo e distante do juízo. Qualidades sem limites. Tudo é segredo! Esperemos! – falou elegante a dançar constante.

Nair:

--- Droga! Diga o quê? – perguntou com cismas e inquieta ao se soerguer do sofá.

Lenira:

--- Crepúsculo dos Deuses! – e dançava, dançava, dançava, dançava as lembranças das sílfides.

Nair:

--- Que? – indagou ainda mais misteriosa.

Lenira:

--- Isso! Deuses! Deuses! Deuses! – cantava a bela de forma eternal a bailar.

Então, Nair se aquietou e fez sentar de novo. Ainda indagou meio em dúvida.

Nair:

--- Cinema? – perguntou para saber.

Lenira:

--- Isso! Deuses! Deuses! Deuses! – delirava sem sossego a bela diva.

Nair:

--- Ah! Bom! Melhor! – relatou ansiosa.


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