- INTELIGENTE -
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MANHÃS
Segunda feira, manhã, questão de nove
horas, um homem baixo e forte, cabelos rasos, tez branca quase morena, falando
pouco e ruim, adentrou ao balcão da Recebedoria de Rendas do Estado à procura
do senhor Edgar Penteado, chefe geral. O chefe não havia ainda chegado ao
prédio da Avenida Duque de Caxias fazendo esquina com a Rua Sachet. Ele então o
esperou. Seu nome era João Mota. Profissão: Mecânico. De Automóveis e Veículos grandes
ou pequenos De qualquer tamanho. Ônibus, caminhão, tratores, Enchedeiras e o
diabo a sete. A Repartição estava no início do seu serviço àquela matinal hora.
Mota era do tipo de não esperar sentado em cadeira, banco ou toco: de pau, se
bem que um toco às vezes servisse para ele um pouco repousar do cansaço da vida
ingrata, chata, acanhada, maltratada. A conversar sozinho com alguém não
existente, Mota sorria contando os passos. Manhã de sol, brilhando o ar ele a
assobiar uma cantiga de cabaré. E assim vivia o homem que abraçava a vida sem
querer forçar. Gente a passar, entrar, cuidar de qualquer coisa a mais. Apenas
matar. E matar o tempo em vão. E ele dava bom dia a qualquer ninguém, pois
ninguém respondia aos seus velhos apelos deselegantemente, indigentes,
inteligentes, displicentes. A chegada de três senhoritas de braços dados para
Mota não fazia diferença. Elas eram as três irmãs siamesas ou não a vestir
trajes compridos e descentes ou decadentes, todos de um só modelo e cor do
mesmo tom. De cabelos ondulados, cacheados, amarrados, elas eram uma constante
presença ao serviço de bater a máquina. Para alguém como João Mota, pouca
importância ele podia dar. Na noite passada o entre velho já estava com a
mulher dos seus sonhos em presença intima a não falar a ninguém. Mota o velho
de guerra era um timaço na cama, na lama, na chama. Onde quer que se ama ou
dana. Depois de tudo, o drama. Segunda feira atrasada e um recado aprazado,
acharcado:
Alguém:
--- Mota! Alguém te chama! – gritava o
atendente do posto de gasolina e diesel.
Ele seguia cabisbaixo e ao chegar,
perguntava:
Mota:
--- Quem? – a pergunta.
Alguém:
--- Teu homem! – dizia-lhe alguém se
referido ao doutor Edgar.
Era meia volta e seguia em frente, com
gente, contente, comovente. Manhã de sombra seguia pela onda nas paredes
derradeiras onde não havia nem frio quente a se tornar demente a mente
insistente, maldizente. E então, à
frente. Repartição. Gente, indigente, maldizente, indecente, delinquente,
contente. Entre. Ele não havia chegado. Espera. Demora. Inglória. História.
Fábulas, Rábulas, parábolas. De repente. Entre outros ele. É ele. O doutor.
Mota radiante, delirante, em frente.
Mota:
--- Doutor! Pronto! Que manda? –
pergunta sorrindo
Edgar:
--- Preciso de você! – disse.
Mota:
--- Agora! – sorridente.
Edgar:
--- Minha noiva! – respondeu.
Mota:
--- Vai casar? – alegre por demais.
Edgar:
--- Sim. Mas não agora. Você precisa
ensinar-lhe a dirigir. – comenta acanhado.
Mota:
--- Pronto! Agora! Onde? – indaga
pensando.
Edgar:
--- Lá! – e aponta para Petrópolis.
Mota:
--- Ela dirige? – pergunta ele surpreso.
Edgar:
--- Não! Tudo é início. – acertou.
Mota:
--- Logo! – determinou despreocupado.
Edgar:
--- Espera! – fez sinal com a mão.
Adiante, homem e mecânico seguiam a
frente com Edgar a dirigir seu “Buíque” ladeira acima, interior abaixo até chegar
afrente do solar. Ela, Nair, delirante, a sorrir. Chega a dizer:
Nair:
--- Pra que isso? Não precisa! Ô meu
Deus! Que coisa! – descia à porta para rever seu amado e olhar bem o mecânico.
Edgar:
--- Ela é tua! Faça-a uma motorista! –
falou alegre a sorrir.
Mota:
--- Mota! Seu criado! – falou alegre.
Nair:
--- Nair! Sua aprendiza. – gritou alegre
batendo palmas no ar.
Foi o começo. João Mota abriu a porta de
entrada do veículo onde podia seguir a estudante de volante. O senhor Edgar,
mais compenetrado, se animou por ter a certeza de começar naquele local as
aulas de motorista para a sua noiva. E assim procurou se sentar no banco
traseiro do seu veículo ambientado, pois com a ação do mecânico. Esse abriu a
porta do motorista onde procurou sentar. Mota ainda verificou se tudo estava em
ordem com o auto com a finalidade de averiguar como recebera o carro. Ele nada
falou. Apenas verificou os instrumentos, como óleo, combustível, água e de
preferencia as luzes da frente e de trás. Tendo visto está em ordem, ele se pôs
a instruir a Nair de como fazer o automóvel se mover.
Mota:
--- Bem, dona. ... Seu nome? – indagou o
mecânico como se alheio.
Nair:
--- Nair. O meu nome. Nair! – sorriu a
acompanhante.
Mota:
--- Ah. Certo. Nadir. Agora estou sabendo.
– relatou o mecânico a querer sorrir.
Nair:
--- Nair. Não Nadir. – sorriu a
aprendiza de volante.
Mota:
--- Ah! Eu me confundo todo. Amanhã eu
volto a perguntar novamente. Foi assim com o doutor Efraim. – disse o mecânico
a verificar freios, acelerador, embreagem, engrenagem de marcha e tudo mais.
Edgar:
--- Quem? – quis saber sorrindo.
Mota:
--- Ô! Desculpe! É o senhor mesmo.
Doutor. ...Como é mesmo o nome? – se assustou de repente o mecânico com a cara
estranha.
Edgar:
--- Deixa pra lá. Vamos ao que interessa.
– gargalhou o doutor Edgar.
De repente, o mecânico sentiu um cheiro não
estranho para ele, pois algo apontava como um possível vazamento de combustível
no interior da máquina. E ele abriu a porta do motorista, desceu com muita
pressa levando chaves, estrelas, alicates e outras mais, além da inseparável
bucha. Serviços nem tão bem delicados. Com pressa, Mota se deitou no interior
da frente do carro tendo vindo também o proprietário do veículo para saber o
que estava se passando. Após certos momentos, Mota saíra de baixo de carro e
declarou não ser nada. Nada além. Apenas o eixo da catarineta.
Edgar:
--- Que? Eixo? Qual? – indagou
preocupado o advogado.
Mota:
--- Sim. Um probleminha no cano de
combustível. Coisa que se apresenta. Eixo da Catarineta. Eu apertei o cano. –
disse Mota a sair debaixo do carro e se encaminhou para o seu interior.
Edgar:
--- Que eixo? – perguntou insistente.
Mota sorriu maliciosamente e disse ser a
hora de “beber água de coco” no bar do Tetéu. E começou a instrução à aprendiza. E a
primeira lição era:
Mota:
--- Está pronta? – sorriu e fez de vez a
cara trancada.
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