domingo, 24 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Trinta e Oito -

- INTELIGENTE -
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MANHÃS
Segunda feira, manhã, questão de nove horas, um homem baixo e forte, cabelos rasos, tez branca quase morena, falando pouco e ruim, adentrou ao balcão da Recebedoria de Rendas do Estado à procura do senhor Edgar Penteado, chefe geral. O chefe não havia ainda chegado ao prédio da Avenida Duque de Caxias fazendo esquina com a Rua Sachet. Ele então o esperou. Seu nome era João Mota. Profissão: Mecânico. De Automóveis e Veículos grandes ou pequenos De qualquer tamanho. Ônibus, caminhão, tratores, Enchedeiras e o diabo a sete. A Repartição estava no início do seu serviço àquela matinal hora. Mota era do tipo de não esperar sentado em cadeira, banco ou toco: de pau, se bem que um toco às vezes servisse para ele um pouco repousar do cansaço da vida ingrata, chata, acanhada, maltratada. A conversar sozinho com alguém não existente, Mota sorria contando os passos. Manhã de sol, brilhando o ar ele a assobiar uma cantiga de cabaré. E assim vivia o homem que abraçava a vida sem querer forçar. Gente a passar, entrar, cuidar de qualquer coisa a mais. Apenas matar. E matar o tempo em vão. E ele dava bom dia a qualquer ninguém, pois ninguém respondia aos seus velhos apelos deselegantemente, indigentes, inteligentes, displicentes. A chegada de três senhoritas de braços dados para Mota não fazia diferença. Elas eram as três irmãs siamesas ou não a vestir trajes compridos e descentes ou decadentes, todos de um só modelo e cor do mesmo tom. De cabelos ondulados, cacheados, amarrados, elas eram uma constante presença ao serviço de bater a máquina. Para alguém como João Mota, pouca importância ele podia dar. Na noite passada o entre velho já estava com a mulher dos seus sonhos em presença intima a não falar a ninguém. Mota o velho de guerra era um timaço na cama, na lama, na chama. Onde quer que se ama ou dana. Depois de tudo, o drama. Segunda feira atrasada e um recado aprazado, acharcado:
Alguém:
--- Mota! Alguém te chama! – gritava o atendente do posto de gasolina e diesel.
Ele seguia cabisbaixo e ao chegar, perguntava:
Mota:
--- Quem? – a pergunta.
Alguém:
--- Teu homem! – dizia-lhe alguém se referido ao doutor Edgar.
Era meia volta e seguia em frente, com gente, contente, comovente. Manhã de sombra seguia pela onda nas paredes derradeiras onde não havia nem frio quente a se tornar demente a mente insistente, maldizente.  E então, à frente. Repartição. Gente, indigente, maldizente, indecente, delinquente, contente. Entre. Ele não havia chegado. Espera. Demora. Inglória. História. Fábulas, Rábulas, parábolas. De repente. Entre outros ele. É ele. O doutor. Mota radiante, delirante, em frente.
Mota:
--- Doutor! Pronto! Que manda? – pergunta sorrindo
Edgar:
--- Preciso de você! – disse.
Mota:
--- Agora! – sorridente.
Edgar:
--- Minha noiva! – respondeu.
Mota:
--- Vai casar? – alegre por demais.
Edgar:
--- Sim. Mas não agora. Você precisa ensinar-lhe a dirigir. – comenta acanhado.
Mota:
--- Pronto! Agora! Onde? – indaga pensando.
Edgar:
--- Lá! – e aponta para Petrópolis.
Mota:
--- Ela dirige? – pergunta ele surpreso.
Edgar:
--- Não! Tudo é início. – acertou.
Mota:
--- Logo! – determinou despreocupado.
Edgar:
--- Espera! – fez sinal com a mão.
Adiante, homem e mecânico seguiam a frente com Edgar a dirigir seu “Buíque” ladeira acima, interior abaixo até chegar afrente do solar. Ela, Nair, delirante, a sorrir. Chega a dizer:
Nair:
--- Pra que isso? Não precisa! Ô meu Deus! Que coisa! – descia à porta para rever seu amado e olhar bem o mecânico.
Edgar:
--- Ela é tua! Faça-a uma motorista! – falou alegre a sorrir.
Mota:
--- Mota! Seu criado! – falou alegre.
Nair:
--- Nair! Sua aprendiza. – gritou alegre batendo palmas no ar.
Foi o começo. João Mota abriu a porta de entrada do veículo onde podia seguir a estudante de volante. O senhor Edgar, mais compenetrado, se animou por ter a certeza de começar naquele local as aulas de motorista para a sua noiva. E assim procurou se sentar no banco traseiro do seu veículo ambientado, pois com a ação do mecânico. Esse abriu a porta do motorista onde procurou sentar. Mota ainda verificou se tudo estava em ordem com o auto com a finalidade de averiguar como recebera o carro. Ele nada falou. Apenas verificou os instrumentos, como óleo, combustível, água e de preferencia as luzes da frente e de trás. Tendo visto está em ordem, ele se pôs a instruir a Nair de como fazer o automóvel se mover.
Mota:
--- Bem, dona. ... Seu nome? – indagou o mecânico como se alheio.
Nair:
--- Nair. O meu nome. Nair! – sorriu a acompanhante.
Mota:
--- Ah. Certo. Nadir. Agora estou sabendo. – relatou o mecânico a querer sorrir.
Nair:
--- Nair. Não Nadir. – sorriu a aprendiza de volante.
Mota:
--- Ah! Eu me confundo todo. Amanhã eu volto a perguntar novamente. Foi assim com o doutor Efraim. – disse o mecânico a verificar freios, acelerador, embreagem, engrenagem de marcha e tudo mais.
Edgar:
--- Quem? – quis saber sorrindo.
Mota:
--- Ô! Desculpe! É o senhor mesmo. Doutor. ...Como é mesmo o nome? – se assustou de repente o mecânico com a cara estranha.
Edgar:
--- Deixa pra lá. Vamos ao que interessa. – gargalhou o doutor Edgar.
De repente, o mecânico sentiu um cheiro não estranho para ele, pois algo apontava como um possível vazamento de combustível no interior da máquina. E ele abriu a porta do motorista, desceu com muita pressa levando chaves, estrelas, alicates e outras mais, além da inseparável bucha. Serviços nem tão bem delicados. Com pressa, Mota se deitou no interior da frente do carro tendo vindo também o proprietário do veículo para saber o que estava se passando. Após certos momentos, Mota saíra de baixo de carro e declarou não ser nada. Nada além. Apenas o eixo da catarineta.
Edgar:
--- Que? Eixo? Qual? – indagou preocupado o advogado.
Mota:
--- Sim. Um probleminha no cano de combustível. Coisa que se apresenta. Eixo da Catarineta. Eu apertei o cano. – disse Mota a sair debaixo do carro e se encaminhou para o seu interior.
Edgar:
--- Que eixo? – perguntou insistente.
Mota sorriu maliciosamente e disse ser a hora de “beber água de coco” no bar do Tetéu.  E começou a instrução à aprendiza. E a primeira lição era:
Mota:
--- Está pronta? – sorriu e fez de vez a cara trancada.

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