- SUMÉRIOS -
- 21 -
NAIR
Na noite daquele mesmo dia Nair resolveu
pedir licença ao doutor Edgar Penteado para poder ir até a sua moradia dar
conhecimento do real trabalho conseguido. E teve a permissão. De formas Nair
enveredou de ladeira abaixo para dá ciência a sua irmã a estar trabalhando em
uma casa de família na Avenida Getúlio Vargas, bem perto de sua residência. Com
certeza, a jovem moça juntou os seus farrapos e pôs tudo em um saco, retornado
o mais depressa possível para o casarão onde estava a partir daquele dia. Tudo
isso aconteceu em menos de uma hora. A voltar encontrou seu Edgar estudando em
seu escritório onde livros era coisa de outro mundo. Uma repleta estante de
parede a parede tomava conta do recinto. Naquele local, Edgar guardava todo o
seu acervo. Nair chegou e foi pedindo licença para informa ter já havido feita
a sua “mudança”. E levantou o saco com as vestes surradas, doação de alguém,
pois do dinheiro da sua casa era improvável poder ter de tudo o precisar. Ele – Edgar – sorriu contente e sugeriu a
moça a dormir no dormitório reservado aos empregados até poder se conseguir
algo melhor. Ela agradeceu e sorriu. Nessa ocasião, Nair teve oportunidade de poder
observar um magistral moderno quadro com um retrato de uma dama. Com
indubitável certeza aquele retrato bem ampliado e emoldurado de uma forma a
parecer ouro podia ser a mãe de Edgar, quando moça ou outra pessoa querida,
pois a moldura ficava em exposição do lado esquerdo do cômodo onde por
obrigação quem entrasse teria a notar a bela imagem de tão singela e
deslumbrante jovem ao calor da sua esmerada mocidade. Seria então uma magia
sublime do Olimpo. Olhos miúdos, sobrancelhas arqueadas, nariz proporcional,
boca carnuda, cabelos louros e ondulados, face comprida, mãos de eternal vigor,
luvas pretas e um colar de ouro. Todo isso a moça pode verificar em leve
instante no qual vislumbrou a elegante figura de mulher. Do seu gigante birô,
estava o homem Edgar a observar o vislumbrar da moça.
Edgar:
--- Zélia. O seu nome. Nós éramos
noivos. Quis o destino. Ele o levou. Eu então fiquei sem o menor amparo.
Tenho-a na moldura. – disse com tranquilidade.
Nair:
--- O senhor era noivo da moça? Pena!
Que sina! Por que o senhor não casou de novo? – indagou sem compreender.
Edgar:
--- Zélia era meu único afeto! – relatou
com tristeza.
Nair:
--- Faz tempo? – indagou.
Edgar:
--- Vinte e cinco anos de eterna
solidão. – ressaltou.
Nair:
--- Meu Senhor do Céu! O senhor devia
amar demais! – e apontou para o retrato na moldura.
Edgar:
--- Apenas se ama uma vez. – confessou
magoado.
Nair:
--- Nunca tive namorado. Pode ser. –
disse a moça a pensar.
Edgar:
--- Você já pensou de onde viemos? –
perguntou o homem se mágoas.
Nair:
--- Eu? Sei lá. Achou que foi de minha
mãe. E pronto. – resolveu com isso.
Edgar:
--- Esse é o mistério. Entre, por favor.
Vou tentar te explicar. Por um instante apenas. – comentou o homem a continuar
no seu birô.
E a moça procurou entrar e ficar de pé
em frente ao birô segurando seus pertences com as mãos pondo-os em frente as
suas formosas pernas. E ali ficou e atentou a ouvir. O homem estava quieto e se
pôs envergado para trás com as duas mãos em sua cabeça, pelo lado de trás na
cadeira de estufa.
Edgar.
--- Há cerca de cem anos um homem
comentou informações confiáveis sobre nosso passado. Mas, tais informações
podem ser de milhares de anos. Quando o ser humano surgiu nesse planeta, há
cerca de dois milhões e anos, começou então a luta pela sobrevivência. O homem
nasce, morre e renasce em outro corpo. Temos cerca de 28 bilhões de seres que
já morreram e eles esperam algum dia voltar. Temos certas dúvidas. E por isso
pouca gente acredita no seu retorno após a morte. Nós temos a alma. Essa
caricatura que você está olhando em mim. Essa alma, no instante da minha morte,
se transpõe para outra dimensão. Ela vai ser agora o meu espírito. Esse
espirito já veio muitas vezes em outros corpos. A alma difere do espirito por
esse motivo. O espirito é imutável. Vem e vai. O espirito é quando se desprende
do corpo físico. Entende? – indagou com paciência.
Nair:
--- Estou meio confusa. Mas eu conheço
uma velha, dona Yayá, que já me falou nessa história. Mas eu fiquei na mesma.
Minha mãe, algumas vezes, visitou um Centro. Mas eu não sei nem o que o homem
falou. – sorriu a moça, procurando uma cadeira para se sentar.
O vento soprava constante pelo arredor
da casa com o cheiro de maresia. As portas da frente estavam trancadas. Porém
havia lâmpadas acesas em todo o solar. Na rua, casais passeavam juntinhos a
enamorar com sorrisos e afagos. O Bonde passava de retorno do seu final da
linha. E se ouvia apenas o tilintar do motorneiro como avisar estar à vez do
bonde passar. Eram 21 horas ou 9 horas da noite. Com certeza o Bonde ainda
faria outra viagem do Grande Ponto até o ponto do retorno na curva da Avenida
Getúlio Vargas. Do lado esquerdo da avenida, havia os aquedutos e no final, os
batentes. Tais batentes, todos feitos de cal, pedra miúda e óleo de baleia eram
o mágico local para os namorados em pleno luar. No final dos batentes havia um
enorme buraco onde escorria a água da chuva. Era um buraco profundo de por medo
de se olhar. Pelo local ninguém se atrevia a descer ou subir. Do lado direito,
tinham as casas de moradia dos habitantes da avenida. E nesse espaço de tempo,
o advogado continuava a focar a sua história.
Edgar:
--- Pois bem. Mas é assim a historia da
espiritualidade. Não raro, quando ocorre da gente morrer ou desencarnar, os
chamados nossos irmãos, familiares e amigos sempre nos procuram para desejar as
boas vindas. Agora, isso se dá com espíritos evoluídos. Se alguém morre em
triste agonia, ele viverá como espírito em tristeza profunda. Eu tenho recebido
espíritos que revelam está residido em uma casa onde há muito tempo foi um
cabaré. E hoje é outro local. Mas o espírito daquele morto faz questão de viver
como viveu aqui, no seu tempo. Outros vivem em casas de comércio que antes era
um cemitério ou uma casa mortuária. E tem espíritos desencarnados que vivem
como se fossem estaca. São ébrios, por assim dizer. É preciso se fazer uma
espécie de varredura para despertar aquele espírito e leva-lo para um umbral de
pleno equilíbrio. Então ele revive o seu passado. Muitas vezes ele revive
passados infinitos. Sua mãe, eu digo, ela está esperando o seu pai na porta de
sua casa. Você não precisa acreditar. Mas o que eu falo é uma verdade. O seu
pai ainda dorme como espírito. Uma coisa: eu vi a sua mãe. – relatou com
consciência.
Nair:
--- O senhor o que? O senhor viu a minha
mãe? E como era ela? – perguntou assombrada.
Edgar:
--- Eu posso dizer. Ela, por sinal, está
aqui junto de você. Ela se apresenta como a mesma pessoa. Semelhante a qual
você a conheceu. Ela não envelheceu. Ela espera o seu pai acordar para seguirem
a outro Universo. Uma coisa: Em recentes dias, uma equipe do centro esteve em
um casarão existente na cidade e foram buscar os três espíritos de três irmãs
que estavam albergadas naquele local. Foi de certa forma, difícil convencer as
três irmãs de que elas já estavam mortas, em seu carma. Depois de muitos passes
elas entenderam e as três seguiram para outro caminho.
Nair:
--- Nossa Senhora! Minha mãe? Ela está
vivinha aqui comigo? – perguntou olhando para um lado e outro.
Edgar:
--- Ela falou que você não pode vê-la.
Mas mandou te perguntar onde está à boneca que ela te deu e que você chamava de
“bruxa”. Mais precisamente: “bruxinha”? – indagou calmo.
Nair:
--- Meu Deus do Céu? Minha mãe? Só ela
sabe da bruxinha que ela me deu. A bruxinha está aqui no meu saco. – falou a
moça a olhar em varias direções.
E logo após, uma boneca saiu de dentro
do saco de roupas volteado a frente de Nair. A moça, não suportando tal
impasse, desmaiou. De imediato, o homem saltou da sua escrivaninha e, pôs em
socorro a moça em brusco espanto a entrar em desmaio. Nair estava pálida como
uma lágrima e de modo inerte. Com a ajuda espiritual da mãe de Nair, o homem
colocou a jovem em uma poltrona e procurou sobra de leve a sua face. Nesse
instante surgiu o espírito de Zélia e deu um passe na exangue moça ajudada por
demais espíritos trabalhadores. A mãe, Maria Emília, ficou um pouco afastada.
Ela deixava o espírito de Zélia trabalha com os demais espíritos e o dono da
casa, Edgar Penteado. Nessa altura a boneca já estava guardada no saco de Nair
onde havia outras roupas da moça. Como um passe de mágica, Nair recobrou os
sentidos e, com a mão na cabeça, apenas indagou:
Nair:
--- Onde está? Onde está? Onde está? –
perguntava a moça por sua mãe.
Edgar, muito paciente, enxugando o suor
de sua face, apenas divagou:
Edgar:
--- Subiu. Ela subiu. – disse o homem ainda tenso e nervoso.
Na sala, estavam os espíritos de Zélia,
dos seus trabalhadores e de dona Maria Emília. Com um determinado, o espírito
de Maria Emília desapareceu.
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