terça-feira, 29 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 28 -

- Yvonne Furneaux -
- 28 -
O ALMOÇO
Naquela mesma terça feira, Orlando Martins chegou ao seu escritório do Ministério da Agricultura, sede da Capital quando foi logo recebido com um “bom dia” por sua secretária particular, Augusta Vieira, moça de boas prendas a qual Orlando foi logo a perguntar se tinha algo para despachar tão breve chegasse. A moça trouxe-lhe os papeis e os pôs sobre a mesa de trabalho do doutor Orlando. O homem se exasperou por fazer tamanho calor àquela hora da manhã e pediu para a moça abrir as janelas do prédio. Em troca, Augusta disse-lhe ter a recomendação de fechar todas as janelas do prédio vez que foi posto o aparelho de ar condicionado para sustentar todo o edifício. E foi o que ela fez.
--- É bonito isso! Tem até graça! Esse equipamento está longe de oferecer ar condicionado a todo o prédio como se está falando. Abra a janela! – ordenou o doutor Orlando Martins.
--- Foi o doutor Afrânio quem mandou. – disse a moça outra vez.
--- Abra essa bosta. Ora. Eu vou morrer de calor aqui dentro? – inquiriu o homem
E a moça obedeceu ao mandado do doutor Orlando enquanto esse  coçava as costas para um lado e para o outro, sem cessar. Por fim ele pediu a moça para lhe coçar as costas. Ela sorriu e apontou a porta. Ele compreendeu e mandou fechar a porta por dentro. Augusta obedeceu.
--- Vou coçar com que? – perguntou a moça a sorrir leve.
--- Passe a régua. Coceira danada. Aqui para baixo. Não. Para cima. Mais para o lado. Em cima. Assim. Coce. – dizia Orlando como um louco com tanta coceira. E a sua cara estava toda franzida por causa da comichão. Após alguns minutos a coceira para de incomodar. Pelo menos ele de refez. Foi então que Orlando Martins dialogou nova conversa com a sua secretária.
--- Diz-me um negócio: que você sente em eu me candidatar a prefeito de Panelas? – indagou o homem.
A moça ficou espantada com a novidade.
--- Prefeito? O senhor? Que ótimo! – respondeu a moça a sorrir bastante feliz.
--- É. Prefeito! Eu peço licença do Ministério. ... Agora, tem o seguinte: eu precisaria de alguém de minha total confiança. Eu estou pensando muito no caso. Mesmo assim, eu pergunto: você aceitaria em ir para Panelas, se eu saísse vitorioso? – perguntou Orlando Martins um tanto precavido com a resposta.
A moça nem pensou muito tempo e respondeu:
--- Eu? Eu? Logo eu! Eu sei que o senhor sairá vitorioso. Mas eu? – falou com bastante receio a moça.
--- É. Você mesma. Se eu sair vitorioso, eu tenho que montar minha equipe. Vamos dizer que você não seja uma secretaria particular. Mas, pode ser até mesmo uma Secretaria. – relatou sem pressa o homem.
--- Não! O senhor está caçoando comigo! – sorriu a moça ao mesmo tempo em que a cabeça delirava.
--- Verdade! Cabe a você responder: sim ou não! Por lá você tem hotel enquanto arranja casa! Mordomia até demais. Aceita? –perguntou o homem com essas propostas a moça.
--- Quer dizer: nada é certo. Apenas estamos aventando. Mas, eu temo perder o meu emprego. Custou-me muito para conseguir esse emprego. Muito mesmo. E se eu sair assim de repente, de um momento para outro como vai ser? – perguntou a moça cheia de preocupação.
--- Você não vai perder o emprego. Eu até pensei em você pedir transferência para um órgão do Ministério da Agricultura. Depois eu desisti da ideia. E você pede uma licença. Se houve essa licença, então você vai para Panelas, Se não. Paciência. – relatou com firmeza o doutor Orlando.
--- Paciência! – suspirou por fim a dama inocentemente.
Amanhã percorreu sem mais abrolhos com Orlando Martins a despachar com serenidade seus expedientes; fazer correspondências; atender ao telefone e coisas mais. Às onze horas da manhã, aproveitando a oportunidade de Augusta adentar no gabinete, ele lhe falou:
--- Você vai para onde? – perguntou Orlando enquanto lia uma correspondência.
--- Eu? Agora? Vou terminar a listados funcionários. – disse a moça a seu chefe.
--- Não. Agora não. Quando acabar o expediente. – falou Orlando ainda com a correspondência na mão.
--- Eu? Vou para a minha casa? – sorriu espantada a moça.
--- Ah. Bom. .... – falou sem mais nada a dizer o doutor Orlando.
--- O senhor quer algo? – indagou Augusta.
--- Não. ... Nada.. ...Eu queria apenas conversar. Estou com a cabeça tinindo.. ..Pensei que você pudesse ir comigo almoçar. – falo o homem displicente.
Augusta pensou um pouco e finalmente voltou a falar.
--- Eu posso ir. A que horas? – indagou Augusta querendo por suas obrigações em dia.
--- Daqui há pouco. Onze e meia. Meio dia. Por ai assim. – fez ver Orlando ainda lendo a correspondência.
--- Está bem. Meio dia. Vamos aonde? Desculpe! – relutou Augusta a perguntar onde seria o almoço.
--- Desculpe o que? Ah.. ...No restaurante. Ou em uma peixada. Qualquer coisa assim. – declarou o homem sempre a ler o que estava em suas mãos.
Ao meio dia o automóvel seguia firme dirigido por Orlando Martins para um restaurante localizado em um bairro frequentado com regular participação de pessoas no dia da semana. O calor era intenso naquela hora. Mesmo assim, o veículo do fazendeiro, agricultor e além de tudo diretor de um departamento da sua repartição do setor da Agricultura era todo refrigerado a ar condicionado. Tão logo o homem entrou no carro, ligou o ar condicionado para amenizar o calor ardente que estava a fazer no meio ambiente. Augusta se sentiu satisfeita pelo ar condicionado. E quis saber do seu dono o tempo que ele havia adquirido aquele automóvel.
--- Faz tempo que o senhor tem esse auto? – indagou a sorrir a moça.
--- Um ano, mais ou menos. – respondeu Orlando ajeitando-se na direção.
Veículos passavam com ligeira pressa indo e vindo pela rodovia nem tanto congestionada, pois Orlando dirigia sem pressa, admirando a paisagem do mar aberto e sua brisa suave porem calorenta àquela hora do começo da tarde. Augusta tinha a impressão de sentir em sua pele o açoitar da afoita ventania a soprar intermitente por entre as dunas. A moça teve a impressão de se aberto o vidro da porta sentia-se melhor aquele vento afago. Enfim, Augusta lembrava-se de Olga, sua amiga. E onde estaria aquela hora.
--- Olga! –falou mansinha a moça Augusta.
--- O que dissestes? – indagou o homem sem ter entendido bem.
--- Nada. Apenas chamei o nome de Olga, uma amiga que eu tenho. – sorriu a moça ao falar.
--- Ah sim! Olga! É também um tango! – reportou o homem quase de imediato.
--- Não conheço a melodia. Tango? – indagou a moça um pouco surpreendida.
--- Sim. Tem muitas obras de arte com nomes singulares. – comentou Orlando ao passar por outro veiculo.
--- É. Tâmara. Amélia. Tammy. Martha. E tantos outros. –falou Augusta Vieira ao notar um restaurante onde o veiculo estava a estacionar.
No interior do restaurante de onde se podia ver o mar em ondas plácidas a salpicar a areia da praia, enfim Orlando buscou uma mesa na metade do restaurante e dali pode sentir a leve calma a sussurrar baixinho algo como uma terna canção de amor. Um casal quase desnudo adentrou nessa mesma hora da tarde no restaurante a sorrir e se dirigiu ao balcão. Outros pares estavam a comentar assuntos triviais. Algo de pouca importância para Orlando.  Naquele recinto ele estava apenas para conversar sobre assuntos que lhe interessavam. E nem se perturbava se a moça não interessasse também. O homem vendendo coco passava pela calçada com o seu carrinho de mão a chamar a atenção de quem quisesse.
--- Côco! Olha o côco! Está frio! – recitava homem adernando o próprio corpo.
Um garoto entrava para oferecer cartões de fotos. Uma menina surgia entre outras para suplicar esmola. Um bêbado tropeçava com suas pernas cambaleantes. Ele não sabia se continuava ou parava. Entre o meio de toda aquela gente, estava a mulher a vender goma fresca.
--- Goma! Olhe a goma! Está fresquinha! – respondia a mulher para ninguém.
Diante de tudo isso, o homem sorriu. Augusta, de costas, teve que se virar e olhar o que motivara o homem a sorrir. Vendo tudo o que se passava, Augusta indagou:
--- O que houve? – perguntou a moça sem entender do que se passava.
O homem então parrou de sorrir e respondeu.
--- O ébrio equilibrista! – disse por fim o doutor Orlando.
E a moça se voltou para olhar e nada mais enxergou. E Orlando disse apenas.
--- Já passou. – e voltou a sorrir de leve.   

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