domingo, 27 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 26 -

- Graziela Barduco -
- 26 -
SER PERFEITO
O salão do hotel Cassino estava repleto naquela noite estival. Gente de toda parte. Até mesmo de cidades vizinhas. Era um aconchego romântico e eterno entre aromas perfumosos de um doce sabor aquele de um nervosismo sem fim. Moças, rapazes, homens e esposas. Todos ao mesmo tempo. Alguns a sussurrar palavras de bem-querer. Outros a gargalhar ao sabor de qualquer acaso. Poetas a recitar seus lindos e eternos versos de amor. Garçons a passar de repente a atender os mais ruidosos e apurados fregueses. Era na verdade um mundo a desabar entre enlevos e colóquios. No final da sala onde tinham doze mesas, cada uma com quatro cadeiras. Estava um pianista a tocar peças de autores celebres em punhados de melodias a encher de frenesi os corações dos ternos e eternos namorados. Diante de tudo isso, chegou ao salão do hotel o senhor Coronel João Tenório de Alencastro tendo por companhia o seu filho Antônio Tenório e o respeitado chefe do executivo municipal, senhor Sebastião Salgado. O senhor Coronel João Tenório foi recebido à entrada do Hotel pelo seu proprietário, doutor Orlando Martins acompanho de sua esposa Laura e da filha maior, secretária de Educação municipal, Marina Martins de Barros, sobrenome nunca usado por nenhum da família de Orlando. O convidado adentrou no recinto e foi até a um local reservado onde os dois chefes poderiam conversa com maior tranquilidade. E, depois de demorada conversa, sentindo-se a morte do ex-governador; o caso dos loucos cientistas resolvendo não mais procurar os velhos túmulos dos extraterrestres; e da ausência de invernada no sertão, daí começou a devida conversa.
--- Muito bem, doutor Orlando Martins. Mas eu estou aqui para conversar com o senhor pelo caso mais importante. O senhor sabe que vai haver eleição para prefeito, vereador e deputado estadual. O senhor tem alguma para alguns desses cargos? – indagou o coronel com melancólica conversa.
--- Bem. Eu confesse que não tenho nenhuma pretensão. Eu tenho o meu trabalho no Ministério da Agricultura. E se sobra um tempo eu venho na minha fazenda. Tenho essa palhoça que o povo chama de Hotel; e mais alguns bodes e vacas para criar. O meu terreno já é parte da aeronáutica. Enfim, eu tenho tudo isso para cuidar. E não penso mais em nada. – falou o doutor Orlando.
--- Muito bem. Eu sei que o senhor é um homem rico. E não precisa mais de nada. Mas pense bem: nós temos um cargo vago. E não tem pretendente. O cargo de Prefeito. O senhor não acha que pode ser o prefeito desse município? – indagou o Coronel falando baixo.
--- Na verdade, isso bem que pode ser. Mas vai tomar um tempo enorme para quem o ocupa. E eu não vejo a possibilidade de para eu ser negociável. Agora, eu tenho uma proposta a fazer ao senhor: que tal o senhor conseguir um empenho para fazer um cargo vereador da a minha filha? - perguntou de vez o agropecuarista Orlando Martins.
A moça cresceu os olhos para o seu pai, porque ele fez uma proposta se ouvi-la sobre o assunto. E daquela vez Marina quase despencou no chão. Mesmo assim, a moça não disse nada, apesar do susto que teve.
Por largos e bons momentos a conversa prosseguiu com Orlando Martins dizendo que “não” e o coronel insistindo que “sim”. E com isso a conversa se insistia e persistiu pela alta madrugada quando no salão do Hotel já havia mais viva alma, a não serem os sonolentos garçons e a turma do bar se ajeitando para sair. E com isso, finalmente veio a resposta:
--- Está bem. Eu aceito. Desde que a minha filha, Amanda, tenha o apoio do senhor. – relatou por fim Orlando Martins.
Esse era o inicio da semana. E o coronel Juca se sentiu vitorioso.
--- Ao trabalho. – disse ele com o sabor da vitória.
No caminhar para a sua casa, Orlando Martins ouviu poucas e boas de sua filha Marina como uma rejeição a proposta feita ao coronel Juca. E o homem se defendia para fazer da filha melhor candidata a vereadora.
--- Não seja assim minha filha. Eu propus o cargo para você, porque, para mim, tanto fez como tanto faz. Eu não vejo nenhuma vantagem nisso. Agora, para você é o primeiro degrau. Depois vem o de deputada. E, quem sabe, até mesmo de Governadora. Eu espero que você aceite o que eu fiz. – relatou o homem.
--- Mas o senhor nem me procurou ouvir. Talvez eu tenha outas pretensões. – disse por sua vez a moça.
--- Que pretensões? – perguntou o pai a filha amada.
--- Eu talvez quisesse ser médica! – relatou em seguida à moça Marina.
--- Mas isso não empata. Quer dizer. É...Você é quem sabe o que quer. – relatou o homem já um tanto desolado com a situação da filha.
--- Não é justo isso. Não é justo! – respondeu a moça de forma malcriada.
E assim, o homem conteve mais a sua voz e pegou o carro em direção à casa grande sem querer mais de conversa. Ao chegar a casa, desceu do carro, bateu a porta de vez e disse apenas isso:
--- Bosta! Pra que fui me meter nisso! – respondeu Orlando todo de péssimo humor.
--- Não tem importância. O senhor vai amanhã à casa do coronel e diz: conversei em casa e desisti da ideia. Nem eu nem o senhor. Estamos conversados. E pronto! – fez vez Marina.
--- É fácil pra você, heim? – falou com modos rudes o doutor Orlando.
E Marina suspendeu os ombros três vezes como que diz: “Eu! Não tenho nada a ver com isso”.
O homem entrou em sua casa e foi logo perguntando a sua esposa, Laura.
--- O que é que devo fazer? Diga-me! – indagou Orlando a Laura.
E a mulher respondeu:
--- Sei lá! Vocês é que são brancos é que se entendem. Eu não sei de nada. – respondeu Laura passando para o quarto de dormir.
--- Boa amiga você é! – falou bravo o homem
Com isso, todos foram dormir menos Orlando. Esse puxou a cadeira da varanda e ficou a meditar. Eram cinco horas da manhã quando o homem tornou de vez com a cabeça doendo parecendo ter tomado uma cachaça dos infernos. Nesse momento, o seu capataz José Jacó se acercou do patrão. Sem nenhuma importância Jacó ofereceu a Orlando um prato de qualhada ao dizer:
--- Esta ótima. Pode comer. – falou Jacó ao seu patrão.
--- É. Vou comer mesmo. Eu vou para a capital daqui há pouco. Não vou mais ficar aqui. Já ontem não fui. É um azar dos diabos. – relatou o homem com a cabeça tinindo.
--- Sabe? O Gafanhoto foi para o campo de pouso. – relatou o capataz ao seu patrão.
--- Campo de pouso? Ah sim. Aeronáutica. E o que foi fazer na Aeronáutica? – perguntou o dono da fazenda
--- Não sei. Ele está por lá. Quem me disse foi seu irmão. E ainda não voltou para casa. – disse Jacó.
--- Será que está preso? – perguntou o doutor a seu capaz.
--- Não sei. Mas é bem provável. E o coronel Juca o que foi que disse ao senhor essa noite na reunião? – perguntou o capataz.
--- Nada de mais. Ele quer ter um candidato a prefeito. Só isso. – disse o homem enquanto comia a qualhada.
--- E vai ser o senhor? Pelo que vejo! ... – disse o capataz.
--- Não está nada certo. Eu tenho o meu emprego no Ministério da Agricultura. Eu sei que o vencimento de prefeito não é tanto assim. Mas, dá para o gasto. Porém eu vou ter mais serviço. E as pessoas azucrinando aos meus ouvidos. E por conta disse eu prefiro desistir dessa empreitada. Não leva a nada.  – falou bem forte o doutor Orlando.
--- Mas o senhor pode por um ajudante. – fez ver o homem Jacó.
--- Ajudante? Que ajudante? Eu sou quem vou prestar contas no final. – relatou o doutor Orlando.
--- E o negócio do morro? O que é que o senhor pensa? – perguntou o capataz.
--- Do morro. Eu sei lá. Isso é com o Governo Federal. – destacou o homem.
--- E a Prefeitura não tem nada a ver com o morro? – voltou a indagar o capataz.
--- Deve ter. Deve ter. Eu não me meto nessa confusão. – relatou o doutor Orlando devolvendo o prato ao seu capataz.
--- E o Gafanhoto? Como fica? – indagou o capataz ao doutor Orlando.
--- Sei lá. Ele não me metendo nessa confusão que parece ter aprontado. .... – o doutro cuspiu para um lado e limpando o canto da boca.
O capataz sorriu uma risada bem velhaca e desandou para casa ainda a sorrir e comentar,
--- Esse doutor. ... – disse por vez sem mais querer o capataz.
Nesse momento o doutor Orlando Martins entrou em casa e se topou com a filha Marina tendo ido ao banheiro já naquela hora da manhã. Ela bocejou como nunca e nem falou com seu pai.

Um comentário:

  1. Oi Grazi..eu recebi hoje - 2/07 - seu breve comentario
    O romance foi publicado com outro titulo 'DEUSES DAS ESTRELAS" A TUA foto foi aplicada nao tendo razao do conteudo da historia. Apenas encontrei na tua beleza algo de
    fascinante. Obrigado.

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