sábado, 5 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 05 -

- Letícia Colin -
- 05 -
Ao chegar ao Monte Sagrado, bem distante da residência onde Chiquito morava, o homem pode ver a quantidade de cabeças mortas e mesmo as aves de rapina que estavam também mortas ao lado das vacas, bezerros e touros. Ele passou a contar o numero de reses e chegou ao teto de 23 animais. Com Chiquito estavam dois vaqueiros, um deles Manoel Izidro, o vaqueiro que encontrou o gado morto. O estrando era que não havia presença de alguém e de nem mesmo alguma cobra. Os animais mortos nem sequer estavam exalando mau cheiro. Quando as aves de rapina tentaram devorar os corpos, nesse ponto eles eram ou tinham sido mortos também. Na verdade, tinham mais aves de rapina do que vacas, bezerros e touros, todos mortos e os seus corpos em perfeito estado de conservação. Aquela observação trouxe o temor estranho a Chiquito e aos dois vaqueiros. Vasculhando o terreno próximo Chiquito encontrou algo como se fosse “misterioso”. Era um ser humano. Ele estava no local. Mas sem vida. Chiquito temeu se aproximar do “homem”, se era que fosse, pois entendia não ter conhecimento para afirma que, de fato, aquele ser estava mesmo sem vida. Em um espaço de tempo de não menos 15 segundos Chiquito se aparou e saiu correndo do local buscando a proteção do matagal bem longe do local. Os vaqueiros, atordoados com a corrida do seu patrão Chiquito, correram também por causa de não sabiam dizer.
Nesse momento, chegavam ao local das vacas mortas o ajudante do veterinário, Joaquim Solano e mais dois vaqueiros. O homem nem chegou a ver direito o dono das vacas, Chiquito, mas dentro de pouco tempo uma voz com certo mistério e alarme chamou por Solano. Ele procurou a criatura, mas não teve o alcance de ver de onde ela estava. Apenas ouvia o chamado.
--- Solano! Aqui! Atrás do pé de pau! .Chega! – gritou Chiquito a buscara observação de Solano
Nesse ponto, procurando inquieto com os dois vaqueiros para saber onde estava escondido Chiquito, então ele encontra na mata virgem, o homem Chiquito e seus dois vaqueiros a tremeres de medo. Assim, Solano se esquecendo das vacas mortas procurou falar com o chefe da turma para saber de tanto espanto que o homem continha.  E foi até a mata onde os dois vaqueiro temerosos nada falavam. Foi Chiquito que falou:
--- Olha lá atrás das vacas! Tem um corpo de um parece que homem! Sei lá! Eu corri para longe quando vi você chegando! – conseguiu falar todo medroso o cidadão Chiquito.
--- Mas está ali o morto? – perguntou Solano sem temor.
--- Está! Bem ali! Parece morto! Mas não é gente! É o filho do cão! – disse apressado Chiquito.
--- Vou olhar. Venha também. Não dá medo! Se estiver morto, então é que não assusta! – falou tranquilo o ajudante de veterinário.
E o ajudante de Veterinário, Joaquim Solano se deslocou até o ponto marcado por Francisco de Assis Tenório, chamado Chiquito, e procurou encontrar o corpo do homem para atestar seu estado de morte. E passando por cima dos corpos das vacas, a reclamar dos espinhos, Solano se deparou com o corpo do que parecia ser homem, mas com alguma diferença dos humanos. Usando de um estilete, Solano forçou o rosto do ser para sentir se estava de fato morto e luzes piscaram ao longo de sua veste. Era uma roupagem que ele não identificava ao certo, podendo ser roupa de seda ou outro fato. As luzes piscavam insistentes sem provocar qualquer zoada. Apenas piscavam. Solano temeu estar o ser alienígena ainda vivo e naquele momento apenas desmaiado por conta do seu impacto com a Terra.
--- Ele está vivo? – perguntou bem alto de fora do seu “esconderijo” já mais próximos das vacas o cidadão Chiquito.
--- Não sei. Apenas as luzes de sua roupa estão a brilhar. Ele não falou nada. – respondeu Solano ao tentar ouvir sinais de vida no alienígena.
--- Não seria bom chamar o delegado? – falou Chiquito ainda temeroso.
--- Eu penso desta mesma forma. Como você não tem a disposição de ficar com o cadáver, então pode chamar o delegado para documentar o caso. Eu fico. Não tem problema. – relatou o rapaz Solano.
Trato feito. E Chiquito partiu em disparada em direção à cidade, acompanhado pelos seus dois vaqueiros. Esses, a despeito de serem vaqueiros destemidos, estavam aterrorizados com aquele “monstro”, como então chamavam o alienígena aparentemente morto com o seu corpo estendido no chão.  
Na Secretaria de Educação do Município de Panelas o clima de trabalhar ou não estava infernal para os professores, toda a classe com salários em atraso há três meses.  E então, com o apoio do Sindicato da classe, os revoltosos – em sua maioria: homens – aclamavam por paralização das suas atividades até ser feito o pagamento dos meses em atraso. E portando cartazes e faixas os professores entraram Secretaria adentro conclamando pelo apoio geral e irrestrito dos demais servidores da repartição, pois seria oportuno mostrar força as autoridades municipais, em primeiro lugar o prefeito Sebastião Salgado. E gritaria tomava conta do movimento, quase virando em baderna a posição dos educadores. Era um barulho imenso aquele movimento do professorado.  A polícia foi chamada, mas o delegado Benjamim Carvalho, já não estava na delegacia, uma vez que foi chamado para atender um caso importante que se registrava no município. De qualquer forma, a polícia naquele local era de apenas oito soldados, incluindo-se nesse termo o próprio delegado, o sargento Carvalho. Em termos de “força”, o Sindicato tinha muito mais gente. Até porque o movimento colhia simpatizantes de outras regiões do município. E a garotada fazia a festa ajudando a levar bandeiras, faixas e cartazes. Os mais antigos entre os professores usavam tinta no seu rosto e se chamavam as “Caras Pintadas”.
--- Queremos pagamento! Queremos o salário! Fora o Salgado! – eram os dizeres mais ouvidos.
Em meio desse tumulto, alguns manifestantes jogavam cadeira para fora do salão, quebravam maquinas de escrever e até mesmo um computador reservado ao Secretario de Educação foi arrebentado a chutes e pontapés.  Ao que se notava era uma desordem total. Os aparelhos telefônicos estavam todos desligados e postos ao chão. E o alarido era maior a todo instante. Com o tempo o bando de anarquista se voltou para a sede da Prefeitura deixando sua marca de desespero na sede da Secretaria de Educação. Como a cidade era pequena não durou mais tempo para os revoltosos chegarem ao Palácio do Prefeito. Na verdade, o Palácio da Prefeitura era uma casa. O imóvel antigo não tinha mais que um andar. O Prefeito nunca estava no seu gabinete, pois permanecia sempre na sua fazenda a tratar de negócios da compra e venda de animais, de modo principal o gado. E naquele dia não foi diferente. Um funcionário do seu agrado foi levar de imediato a notícia ao chefe geral de todo o município, o chamado Coronel Juca, homem forte da região, cujo nome era João Tenório de Alencastro.
--- Coronel! Coronel! Estão invadindo o Palácio! – relatou atormentado o funcionário.
--- Que disse menino?! – indagou perplexo o velho Juca.
--- É. O pessoal do Sindicato! Eles estão invadindo o Palácio! – relatou com maior temor o servidor
--- E onde está o Prefeito? – perguntou com desaforo o coronel.
--- Ele está na fazenda dele. - relatou ao desespero o funcionário.
--- E o delegado? – indagou o coronel ao assustado servidor.
--- Quem sabe? Acho que ele saiu! Quando eu vim para a casa do senhor vi a delegacia fechada. – disse mais inconformado o servidor.
--- É danado! Deixe “eles” quebrarem tudo. Depois o prefeito me paga essa conta! – respondeu com ira o coronel Juca.
--- Eu volto? – indagou o servidor com medo.
--- Heim? Eu sei lá! Faça o que quiser! – respondeu malcriado o coronel.
Nesse momento chagava a sua casa o filho do coronel alarmado e dizendo ter encontrado um corpo no chão perto das vacas mortas.
--- Corpo? Que corpo? De quem é o corpo? – perguntou desesperado o coronel.
--- Não deu para identificar. Só vi que era um corpo. Eu mandei um vaqueiro chamar o delegado! – falou alarmado Chiquito, filho do coronel.
--- É danado! Além de tombo é coice! Va chamar urgente o delegado! – disse por vez o coronel Juca com certo receio de tal corpo.
--- Mas ele já foi para o sopé do Monte Sagrado, meu pai! – relatou aflito o homem Chiquito.
--- Então que é que você está fazendo aqui seu verme? Va atrás do delegado! Ele é outro verme! – relatou com raiva o coronel Juca.
--- Mas o delegado não resolve? – indagou com o maior medo o homem Chiquito.
--- Você está com medo seu verme? Pois eu vou só! – relatou com pressa o coronel procurando um cavalo da estrebaria.
--- Mas meu pai? O bicho é grande! – fez ver Chiquito ao velho pai.
--- Vai pra merda! – disse o velho a chicotear o cavalo em busca do local do Monte Sagrado.
Já bem distante da fazenda o coronel Juca topou com o sargento Carvalho e mais cinco soldados. Ele procurou saber se tinha noticia de outras matanças de gado em algumas fazendas próximas. O delegado disse apenas ter na Fazenda “Mombaça” havido morte de dez cabeças.
--- Mas isso é um terremoto! – relatou alarmado o coronel.
O delegado Carvalho não teve outra coisa a fazer e então sorriu.
--- Pode ser uma comida estragada, coronel. O veterinário é quem vai dizer. – vez fez o sargento.

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