sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 04 -

- Rachel Weisz -
- 04 -
A CHEGADA

O ônibus da capital chegou à meia noite daquele domingo. Esse não seria o único transporte a chegar. Houve outros durante a tarde. Mesmo assim, aproveitando o restinho do fazer nada, Marina, a jovem de 18 anos, só voltou mesmo a sua fazenda – e do seu pai – na ultima condução. No dia seguinte era de trabalho na Secretaria de Educação do Munícipio de Panelas. Desta forma, apesar de somente um único expediente, ela não queria faltar as suas funções. À tarde Marina Martins concluía o curso de segundo grau. E no ano vindouro ela devia ir passar o tempo na capital, onde buscaria fazer o curso universitário. Era de o seu costume viajar para a cidade todos os finais de semana onde buscaria novas amizades, por assim dizer. Tao logo chegou a estação rodoviária, Marina tomou o taxi para poder chegar a fazenda “Mombaça” onde já era o seu costume: dormir. A viagem era de apenas duas horas em um veículo particular entre a capital e a cidade de Panelas. Porém em um ônibus, durava quase três horas de percurso. O sono na dava vez a moça. Mesmo seguindo em um taxi ela não teve outra escolha: dormir novamente. Contudo a viagem era curta e nem dormir a moça teve a necessidade. O veiculo era um tanto velho e procurar um mais novo era impossível. A praça era feita por três carros. Todos velhos.  E a depressão do terreno, a estrada nunca feita pelo seu pai, tudo isso levava a moça ao tormento.
--- Essa estrada não dá oportunidade nem de se tirar uma soneca. – reclamou a moça a se zangar.
--- O seu pai não cuida bem da estrada. – respondeu o taxista procurando se aguentar na direção.
--- Eu não sei o que ele faz. Sempre está na capital. Deus te guie. – reclamou a moça com ódio.
--- Sabe. Moça? O negócio é com a prefeitura. O Prefeito daqui é outro que não faz nada. Só sabe pedir votos. – relatou o taxista.
--- Eu acho que vou me candidatar a Prefeita. E a primeira coisa que eu faço é mandar calçar todas as vielas existentes na cidade. – relatou a moça.
--- Seria muito bom a senhora se candidatar. Seria. Acabaria de um só prefeito, como está agora. – disse o taxista todo atrapalhado com a buraqueira no percurso até a fazenda “Mombaça”.
--- Mas o prefeito tem o apoio do coronel. – relatou a moça.
--- E só é eleito quem ele apoia. O Coronel Juca. Senhor de terras. Eu vejo isso. – expôs o taxista.
--- Por mim, o prefeito não ganha nunca. Só se for eu. Do contrario. ...- disse Marina abrindo a boca com vontade de dormir.
--- E a senhora não gosta dele? – indagou o motorista.
--- Prá mim nem fede nem cheira. -  falou Marina constrangida com os solavancos da estrada.
--- Sei não. Acho que a senhora tem razão. Na cidade só tem esses três taxis. Mas vá procurar uma placa! O secretário diz já ter muito carro. Trinta ou mais. – fez ver o motorista.
--- Eu não sei pra que tanta placa assim. Eu tenho a impressão que todos estão rodando de um município para outro. Aqui é que não fica um sequer. – fez ver a moça ao motorista.
--- É. Tem muito taxis mesmo na cidade. – relatou o motorista.
No dia seguinte, logo cedo da manhã, o veterinário João Mota abeirar-se na fazenda a procura do doutor Orlando Martins. Foi justo na hora em a moça Marina saía de sua casa em busca do escritório da Secretaria de Educação. Ela topou com o pai na varanda e quase não lhe pediu a benção pelo tempo que fazia e o carro da Secretaria estava a buzinar a procura da moça. Outras pessoas também viajavam naquele carro. Todas elas a trabalhar na Secretaria de Educação de Panelas. O pessoal já falava em greve para os próximos dias por conta do atraso no pagamento.  Enquanto isso, o veterinário João Mota entreva em conversa com Orlando Martins a lhe dizer não ter encontrado nada que provocasse a morte das vacas do jeito em que elas estavam. Com esse diagnóstico o homem Orlando ficou bastante preocupado, pois não pudera saber qual o caso da mortandade do touro, bezerros e vacas.
--- É danado! Nada não? – perguntou o homem Orlando ao veterinário.
--- É. Foi o que vi até o momento. Mas eu vou agora pra a capital levando as amostras para poder colher melhores resultados. Por lá eles tem maiores recursos para um diagnóstico melhor. – disse o veterinário.
--- Eu tenho que ir a capital também. Posso ir com você? – indagou Orlando ao veterinário.
--- Mas vamos ter que ir a ambos os carros. O meu e o teu. Eu vou ficar mais tempo por lá. – sorriu João Mota ao afirmar a sua ida a capital.
--- Está certo. Eu me ajeito. Você vai a Universidade e eu vou ao centro da cidade. – comentou Orlando coçando a cabeça.
Na fazenda nada havia demais naquela manhã de segunda feira. Os vaqueiros correram o campo sem fim a procura de alguma reis morta. No intricado do sertão, em pleno mato, em outros locais, porém não acharam coisa alguma além das reses já mortas. Os vaqueiros observavam o voo das aves de rapina. Mesmo assim em nada adiantava. Por um descuido qualquer foi um dos vaqueiros de seu Orlando, já na volta, todo atarantado, que ele descobriu uma ave morta. Não teria grande importância se não estivesse a ave a comer partes da carcaça de um animal, dos que estavam mortos na caatinga. Daí então, o vaqueiro correu o campo em busca de outras carcaças. Porém não avistou mais nenhuma, pois o veterinário tratou de enterrar todas as ossadas dos animais que se encontravam morto. Todavia, existia um. E era bem provável terem existido outras aves de rapina em locais bem ao largo do sertão, talvez em outras propriedades onde pudesse haver mais restos mortais de gado ou outros animais de pequeno porte. Tao logo descobriu a ave morta o homem galopou para a fazenda tecendo mato, colhendo espinhos, enveredando pelas sendas com toda a pressa para contar a novidade a José Jacó, o chefe dos vaqueiros.
Quando o vaqueiro Tobias chegou ao cercado de gados foi logo encontrando o vaqueiro Jacó. E sem tempo para perder, o homem foi logo dizendo.
--- Olha Jacó! Percorri vasta extensão de terras e não encontrei gado morto. Tem apenas um urubu morto junto a uma carcaça de gado. Ele estava a esticar as tripas da vaca morta e, então morreu. Mas só vi um urubu. Não tinha mais nenhum outro. Eu fiquei a pensar nos cercados ao lado. Mesmo assim, vim trazer a carcaça da ave para o senhor verificar. – relatou com ligeira o vaqueiro Tobias.
O chefe dos vaqueiros olhou bem para o urubu, sem querer pagar na ave e disse:
--- Isso é mal. Muito mal. Achou por bem você saber de algum gado morto em outros cercados. – fez ver o homem Jacó.
Na casa do velho coronel Alencastro uma noticia tomou de surpresa não só o velho como a outros filhos do velho, a se dizer o homem Chiquito - Francisco de Assis Tenório -. O vaqueiro da fazenda chegou a todo galope e adentrou na sala de jantar onde estava o velho Juca – João Tenório de Alencastro – o foi logo a dizer sem meias palavras.
--- Patrão! Patrão! Eu trago noticia de mau agouro! Na chapada do Monte Sagrado tem pra mais de vinte cabeças. Todas mortas! – relatou o vaqueiro assustado segurando o chapéu de abas curtas no peito.
--- O que você está me dizendo, seu cabra? – perguntou alarmado o velho Juca se levantando da cadeira onde estava sentado.
Nesse ponto o seu filho Chiquito se levantou também e pediu calma ao velho e se intrometeu na conversa do vaqueiro.
--- Calma meu pai! Aonde foi que você disse rapaz? No Monte Sagrado? – indagou Chiquito querendo se por em forma.  
--- É sim! Monte Sagrado! Eu vim de lá! Tá tudo coalhado de corpos de vacas! Tem mais de vinte! Tem sim! – relatou o homem com seus olhos esbugalhados.
--- Tá danado! Eu vou lá para ver! Tonheca! Vê se encontra o veterinário em casa dele! E diz pra ele vir aqui – disse Chiquito com bastante pressa ao seu irmão Antônio Tenório.
--- Mas o doutor já deve ter saído de casa. Eu vi quando ele partiu para a capital. – fez ver de vez Tonheca assustado com a notícia das vacas.
--- Isso é uma merda! E Solano? – indagou Chiquito a seu irmão.
--- Esse deve estar no consultório. – relatou por vez o irmão Tonheca.
Joaquim Solano era o ajudante do veterinário João Mota. Quando Mota não estava na cidade, Solano verificava o que havia a fazer. Tinha tempo em que Solano se ausentava quando era preciso vacinar o gado. Ou mesmo para tratar de cães, gatos, burros e cavalos na própria clínica. Na verdade, trabalho não faltava para os dois homens. Solano, mesmo não sendo veterinário diplomado, entendia bem do recado, pois há vinte anos trabalhava no ramo combatendo as pragas que sempre e sempre afligiam o homem do campo. E por isso, não faltava trabalho na clínica. E sua mulher, Doralice, também ajudava na clínica quando tinha que fazer curativo em porcos, cabras, ovelhas e mesmo cavalos. De pagamento, os mais carentes sempre davam de presente um suíno ou um filhote de cabra. Por isso, o dono da clinica, João Mota nem fazia questão de pagamento do povo pobre. E ensinava até como proceder quando um cão era atropelado por um carro da estrada.
--- Pois chame Solano, se não tiver o doutor. – expôs Chiquito ao seu irmão.
--- Pois tá certo. – disse Tonheca se preparando para partir.
E nesse momento, Chiquito chamou um dos seus filhos para tomar conta do armazém de cereais e de algodão, pois o homem teria que sair para o Monte Sagrado a procura de vacas mortas, dizendo para o coronel Juca que ele ficasse em casa e ensinasse o roteiro para Solano seguir até onde ele fora.
--- E eu não vou? – perguntou o coronel Juca apoquentado.

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