domingo, 20 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 19 -

- Carolin Berger -
- 19 -
O CAMINHO DA SERRA
No mesmo sábado do acidente com o Governador do Estado, bem antes, no começo da manhã, ainda com o sol bastante frio, o repórter Eustáquio Lopes, conhecido por toda a classe como Sonrisal, já estava na cabana do senhor de nome conhecido por Gafanhoto – na verdade o seu nome era Aquiles -, mateiro por oficio, vivendo da caça de animais silvestres, como tatu. O homem morava com a sua mulher em uma tapera de taipa bem longe do centro da cidade. Na hora em que Sonrisal chegou, encontrou o homem a palitar os dentes e, sentado em uma pedra, a contemplar o céu distante como se tudo aquilo fosse o que mais lhe interessasse. De modo algum quem passasse alí por perto não imaginaria em que Gafanhoto estava verdadeiramente a pensar. O seu modo rude de ser mostrava em Gafanhoto apenas um indivíduo melancólico e nada mais. Ao chegar junto ao sossegado menestrel do tempo, Sonrisal quase que nem o cumprimentou para não lhe tirar do momento em que estava. No aceiro do campo somente havia mato e o repórter olhou depressa para todo o ambiente ao seu redor. E, por fim, para não dizer bom dia, apenas soltou um apelo de quem não soubesse coisa alguma.
--- Esse mato encobre tudo ao seu redor. – foi o que disse Sonrisal de modo até inerte.
O homem, Gafanhoto, nada respondeu. Foi como se estivesse ali um punhado de nada. Para o roceiro, sua grande preocupação era um tatu enfurnado em uma rocha e ele não conseguiu nem por muito tirá-lo. Por tal motivo Gafanhoto acudia ao céu como em promessa para fazê-lo achar o magnifico tatu. Essa era a reza que ele fazia a todo instante de sua vida. O tempo era passado e então Gafanhoto percebeu a presença do rapaz e com isso se voltou para Sonrisal como se a conversa estivesse longa. E falou:
--- O tempo mostra que não chove tão cedo. – comentou Gafanhoto para Sonrisal.
O repórter olhou para o céu e se voltou para o camponês há sorrir bem pouco para não dizer outro evento. Ele estava preocupado em sair para a serra onde o camponês disse ter sido naquele monte o local dos astronautas.
--- O senhor sabe quando vai chover ou não. – indagou com mais algum tempo o repórter.
O homem delirou um pouco para somente então falar.
--- O meu pai dizia: Quando chove, filho, ou vai chover, o céu mostra uma esfera diante do sol. – comentou Gafanhoto se relacionando com o seu pai.
O repórter tornou a olhar o céu para ver de havia roda em torno do sol. Contudo nada então ele notou. E ficou a ciscar o chão com a ponta do pé para depois olhar o macambuzio senhor do nada. Após alguns instantes, Sonrisal foi a perguntar o caso que mais lhe atormentava.
--- É longe daqui? – indagou o repórter ao se referir ao monte onde os arqueólogos trabalhavam.
--- Podemos ir pelo lado de trás da serra. – respondeu Gafanhoto ainda sentado de pernas cruzadas por sobre a grande pedra de lajedo.
Com isso, o repórter se alegou por ver ter Gafanhoto se lembrado dele, o rapaz da entrevista do inicio da semana. E então sorriu falado a seguir:
--- Vamos bater uma foto do senhor? – perguntou o repórter retirando a maquina fotografia que ele trazia por empréstimo.
O camponês sorriu e se aprontou para dar melhor pose ao repórter. Esse recomendou para ele sair da sombra feita pelos galhos de um pé de algodão e então lhe tirou uma, duas, três fotos. E agradeceu a atenção do camponês para com o repórter Eustáquio Lopes. Na mesma hora, sorriu.
O caminho era longo. Gafanhoto trouxe dois jegues: um para si e o outro para o repórter. Ele comentava a distância feita do monte até o seu casebre. Talvez demorasse ao meio dia.
--- É longe assim? – perguntou o repórter ao se abismar com a distância a percorrer.
--- Um pouco. Talvez menos. E nós vamos ter que dormir na serra. – relatou Gafanhoto ao acompanhante de viagem.
--- Nossa! É muito longe! – se alarmou Sonrisal ficando acabrunhado.
--- Se não quiser ir, nós podemos voltar. – disse Gafanhoto ao repórter.
--- Não. Nós vamos! – relatou Sonrisal de forma resoluta.
Caminho a fora, Gafanhoto relatou tudo aquilo que o seu pai lhe ensinara. Dizia o homem ter nós se instalado em uma rede cósmica.
--- Como assim? – indagou perplexo o repórter meio atormentado.
--- É  uma rede como fazem as aranhas. Tem buracos onde não existe nada. E têm uns negócios onde estão os planetas, cometas, asteroides.  – respondeu o homem açoitando o burro com os pês balançado na barriga do asno.
--- E? – quis saber mais o repórter Sonrisal.
--- Tem planetas gigantes. Bem maior do que a Terra. Gigantes mesmo! - comentou o homem já bem suado entrando nas veredas do sertão bruto da mata virgem, longe dos acampamentos dos arqueólogos.
E divagou sobre o que havia no firmamento; a existências de outras galáxias; a existência de buracos negros bem próximos da Terra; módulo de rádio e muito mais. O repórter a ouvir tudo o que o camponês dizia ficou de certo modo tonto por não saber nada do exposto no calor das nove horas.
--- Eu imagino ser meu pai de outro planeta ou de ter viajado para outros planetas. Ele sabia de tudo o que comentava. – disse mais o camponês a chibatar o seu jegue.
--- Imagino! Ele nunca foi à escola? – indagou o repórter a espantar as moscas varejeiras.
--- Se bem sei, não. Ele estudava nos livros de casa. – comentou Gafanhoto já a subir a serra em um ponto bem distante do cemitério dos extraterrestres.
--- O Templo: Estamos pertos? – perguntou o repórter ao viajante camponês.
--- Um pouco distante. Temos que dobrar mais acima para chegar ao Templo das Orações. O Hangar dos Discos fica bem próximo. -  explicou o camponês a chicotear o seu jegue.
--- Mas é longe! – relatou todo suado o repórter então com lamentações por conta do seu jegue.
--- É. Meio dia. Eu disse. – fez ver Gafanhoto açoitando o jegue.
--- E os astrônomos? – quis saber o repórter a apontar para o lado dos arqueólogos.
--- Vai demorar eles chegarem aqui. Talvez um ou dois anos. Talvez nunca! Quem sabe? – comentou o camponês subindo a serra com o seu jerico.
Era mais do meio dia quando Gafanhoto apeou do seu jerico para poder o burro sossegar um pouco. A mata era densa e só se ouvia a zoada do vento bem como as abelhas da Serra do Monte Sagrado. O suor era intenso por conta do calor abrasante. Não se notava o vulto de nenhuma pessoa. Não havia casa sobre a Serra e água, apenas havia em uma nascente bem perto onde os homens estavam.
--- A nascente é logo ali. – explicou o camponês já um tanto cansado.
--- Eu estou cansado. Imagine o muar. – relatou o repórter Sonrisal em meio de um sorriso.
--- Eles estão acostumados. Tem jegue que nunca chega à cidade. Nasce, vive e morre por aqui mesmo. Tem muitos. Nunca eles se perdem. É muito mais fácil a gente se perder. – disse mais o camponês.
--- Tem muita gente perdida por essas brenhas? – perguntou o repórter tirando os sapatos para os pés sossegar.
--- Quem não conhece, na verdade se perde. – declarou o camponês.
--- Imagino. É uma tristeza. – exclamou o repórter enxugando o rosto do suor.
--- É. Tem touro brabo nesse lugar, Touro, vaca. Eles nunca viram uma pessoa. São marruados! – quis dizer o camponês Gafanhoto.
--- Marruado?  O que é isso? – quis saber o repórter.
--- Touro brabo. Nunca viu gente. Como tem pessoa. Por esses caminhos se há de encontrar gente que não vê o seu semelhante. – explicou o mateiro.
--- Nossa Senhora! E como ele vive? – indagou Sonrisal um pouco nervoso.
--- Como Deus quer. Aliás, meu pai dizia que esse Deus não existe. Nunca existiu. O povo é quem diz Deus me livre. Mas na verdade, ele não existe. O mundo não se fez do um estrondo, como falam os professores. Ele vai se formando lentamente até chegar ao ponto de se ter muitos sois que se chama de estrelas; Terras, como a nossa; asteroides, quasares; Tudo isso. Meu pai sempre dizia. Eu suponho ter sido meu pai feito por mulheres e homens dos outros planetas. Ele nunca afirmou tal caso. Mas eu suponho. Veja os nomes que ele pôs nos filhos: Acherópita, Papazone, Arabites. Isso é nome de gente? – comentou o camponês muito desapontado.
Com isso, o repórter Eustáquio Lopes  sorriu.

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