segunda-feira, 14 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 14 -

- ROMINA YANKELEVICH -
- 14 -
APARELHO DO CÉU
Era noite fechada. Caminhões com betume chegavam da capital a todo instante para garantir o bom uso do material nas três pistas de pouso e decolagem do aeroporto de Panelas, cidade situada há duzentos quilômetros do principal porto de navios onde se apanhava todo tipo de mercadorias, inclusive o betume.  O movimento de caminhões tanques era intenso de dia e de noite, sem parar. Quando não era para abastecer o aeroporto e os tanques de combustíveis. Os carros tanques também traziam betume para as pistas do Exército onde se fazia estudos da serra do Monte Sagrado. Ou mesmo para a construção da estrada que levava para o aeroporto. Tal obra tinha terminado nas primeiras semanas do inicio da construção da estrada para a Serra. Contudo, ficava a manutenção da pista para evitar desgaste. O gigantesco aeroporto estava já quase em conclusão nos seus edifícios de embarque e desembarque. As pistas de pouso e decolagem tinham sido concluídas. A noite era tudo iluminado para melhor visibilidade dos pilotos dos aparelhos de aviação. Os hangares estavam concluídos e para abastecer as aeronaves faltava apenas serem concluídos os soberbos tanques de combustíveis.  Com certeza, o aeroporto era um mundo, afinal.
E nessa noite, quatro meses após o inicio das obras quase concluídas, um alerta geral gerou pânico no setor de operação do aeroporto. Um aparelho caça que havia decolado há pouco menos de uma hora para vistoriar o campo da Serra de Monte Sagrado, enviava mensagem de pedido de socorro para a base.
--- May-Day! May-Day! May-Day! – Era o crucial alarme de socorro do piloto. Era uma conclamação de que “venha de ajudar” a que todo piloto estava, a saber, o código internacional de rádio.
Em dado instante os carros de bombeiros – eram mais de seis carros -, jipes, carros de apoio e uma enormidade de bombeiros bem preparados, com mascaras, roupas e equipamento de combate ao fogo já estavam na pista de pouso do aeroporto a espera da aeronave acidentada. Com certa dificuldade de visão o aparelho em poucos minutos tocou ao chão e derrapou na pista levando para a direita onde só havia vegetação rasteira. O piloto, cheio de assombro, não aguentou dizer coisa alguma sendo posto em uma maca e levado em ambulância para o setor de emergência do hospital da Aeronáutica. O copiloto foi mais atento, mas somente veio a falar quando estava no gabinete do médico também no Hospital Militar. O que se pode perceber a primeira vista foi ade que o aparelho a jato cumpria a missão de verificar toda a área da Serra quando, de repente, um Objeto não Identificado fazia piruetas em torno do aparelho. Por vezes, o piloto tentou escapar do UFO, mas, a aeronave estava por vezes em baixo do UFO ou ao seu lado. O jato fez curvas e o UFO acompanhou a aeronave militar com toda a precisão. Era um vou que o piloto não podia fazer alvo no UFO, pois tinha instantes de o UFO estar em cima, em baixo, na frente ou a retaguarda do caça. Isso levou poucos minutos. Quando o piloto se viu livre do seu perseguidor, foi à vez de chamar o aeroporto com a senha de pedido de socorro. Foi isso o que tentou dizer o copiloto. Depois de tudo, o piloto do caça teria que responder a todas essas indagações por uma Junta Militar. Tal assunto não foi repassado para a população em geral e nem a imprensa teve acesso ao incidente. Quem, porventura perguntasse o que esteve havendo com o aparelho caça dizia-se apenas ter sido um acidente no trem de pouso ou coisa assim. Esse caso ficou em sigilo absoluto por todo o tempo. Apenas, quem viu a perseguição do Disco Voador em terra, quando estava a pessoa alheio ao que podia ser, foi quem disse:
--- Teve uma perseguição de um Disco a um avião de caça. – dizia a pessoa.
--- Onde você viu? – perguntava o outro.
--- Estava caçando no mato quando os dois aparelhos apareceram! – dizia a pessoa que viu.
--- Verdade? – indagava outra pessoa que estava por perto.
--- Não estou dizendo? – respondia o caçador.
--- Isso é conversa de caçador! – dizia alguém a sorrir.
No dia seguinte e nos outros dias os jornais nada trouxeram a respeito do avião caça que tinha sido perseguido por um OVNI. Apenas a conversa se formou tomando conta do salão do Bar “Cassino” para a alegria de toda a gente.
Mesmo assim, bem antes da perseguição do OVNI ao aparelho caça da Força Aérea, um matuto que estava a caçar do outro lado da serra, disse ter avistado um objeto redondo e cheio de luzes fazendo piruetas do ar durante a noite em que caçava. O nome do homem era conhecido apenas por “Gafanhoto” e ninguém deu muita importância ao que ele disse. Quando surgiu a historia do aparelho a perseguir o avião caça, ele voltou a dizer:
--- Quando eu disse ninguém acreditou! Agora gente do Coronel Juca anda falando que viu uma geringonça perseguindo um avião, aí todos vão acreditar. E não vou mais dizer coisa alguma! Quem quiser acreditar, que acredite. Pouco me importa com isso! – disse o homem “Gafanhoto”.
Certo dia, Gafanhoto estava sentado de cócoras no alpendre da sua casa modesta, quando chegou até ele um jipe da Aeronáutica com quatro soldados. Eram um tenente, um sargento e dois policiais da Farda. Ele nem se incomodou e continuou a pitar seu cachimbo, de cócoras como estava. O chapéu de palha na cabeça, roupa velha de uma cor que fora branca;  calça arregaçadas até o meio da canela. Lá estava o velho homem a soltar fumaça pela boca. Nesse momento saltou o jipe um tenente e o cumprimentou. O casebre de Gafanhoto ficava para dentro dos matos onde havia uma casa aqui e outra acola. Tudo era deserto naquele sitio onde havia cobra, tatus e veados. E com esse patrimônio de riqueza, Gafanhoto não pagava a pena. Buscava água na cacimba e comida no mato. A farinha só buscava de semana a semana para ele e a sua mulher, por que os filhos já estavam debandados. Ao receber de tenente as horas, Gafanhoto também cumprimentou com seu cachimbo a baforar. Então, o tenente, tendo o sargento paramentado ao lado, começou a conversa. No inicio foi devagar. O tenente a perguntar como era a vida no mato.
--- Aqui é bom. Pena que tem a secura. Mas fora disso, tendo chuva, até que é bom. Tem o rio logo ali e há caça pra todo gosto. – relatou Gafanhoto ao homem da Farda. E cuspiu de lado ainda de cócoras.
Conversa vai, conversa vem, o tenente convidou Gafanhoto para dar uma aula aos novatos que estavam chegando agora e nada sabiam de historia de homem do mato.
--- Mas seu “comandante” eu não sei nem falar. O eu digo é o que eu vivo. – relatou com a sua voz chorosa o sertanejo Gafanhoto.
--- Mas é isso mesmo que nós precisamos! – sorriu o tenente a iludir o homem.
--- Mas o que os senhores querem saber? – indagou Gafanhoto meio cismado.
--- Bem. É assim. A vida que o homem do mato leva. Como ele cura as feridas, como caça, onde tem bicho para caçar, como se livra da cobra. Isso mesmo. – relatou o tenente a sorrir baixo.
--- E quando eu vou ao campo? – indagou Gafanhoto pesquisando o homem da Farda.
--- Até agora, se quiser! – sorriu o tenente ao ilustre homem do sertão.
--- É. Tá bom. Eu tenho que avisar a mulher que vou falar para o comandante. E volto já! – disse por sua vez o matuto Gafanhoto.
O jipe tomou o caminho e seguiu direto para a Base de Panelas onde a guardar convidou a sentar em uma cadeira estofada e esperar pelo Comandante para ele poder conversar a sós. E Gafanhoto ficou alí bastante entrevado com o frio que fazia o ar condicionado até a hora que foi ele chamado a sala do comandante.  Em lugar da tropa toda, havia alí três homens todo arrumado, sentado em cadeiras estofadas para iniciar a conversação. Após passados alguns minutos o homem do meio, com certeza o Comandante ou algo tão bem parecido, perguntou o nome do acanhado sertanejo.
--- Bem. Sou conhecido por Gafanhoto. Mas meu nome de batismo é Aquiles. – disse o homem por seu lado
--- Aquiles de que? – indagou o Comandante com voz suave.
--- Seu Coronel. Só Aquiles, pois meu pai era de um só nome. Ele era chamado Juvenal do Jumento, porque ele andava no lombo de um jumento.
--- Bom! Está certo! Mas, o que nós queremos é saber do avistamento de um OVNI, ou seja, como foi que o senhor avistou um...- alguém falou para o comandante. E ele concordou - ...Como foi que o senhor viu um Disco no céu? – continuou o Comandante.
--- Ah sim. Isso eu já disse a meio mundo. E ninguém acreditou. Foi numa noite. Eu estava cassando um peba quando veio sobre minha cabeça....lá no alto. ... Aquele chapéu enorme cheio de luzes.... Mas parecia o bar que tem na cidade. Veio, veio, ficou ali por algumas horas e depois desapareceu para o céu. – disse o matuto ao Comandante.
--- O senhor disse: “por algumas horas?” Quanto tempo? – relatou o Comandante assustado.
--- É. Eu digo por algumas horas, mas foi por alguns minutos. Como eu não tenho relógio eu me guio pelas as estrelas. Pra cá e pra lá. Foi cinco minutos ou coisa assim. – disse por sua vez Gafanhoto tremendo de frio.
--- Ah, bom. Foi por um período curto. – fez vez o Comandante.
--- É coisa assim. – comentou Gafanhoto.

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