terça-feira, 22 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 21 -

- Melaine Laurent -
- 21 -
A GRUTA
Logo ao amanhecer do domingo, instante do crepúsculo, o repórter Eustáquio Lopes estava a ferver a sua chaleira de água para coar o café matinal. O companheiro do repórter, o camponês Gafanhoto, havia saído minutos antes para caçar nos arredores de onde os dois ficaram a dormir em uma gruta. O jeito estranho de Gafanhoto deixava Sonrisal constrangido, pois o homem sabia demais do que aparentava descrever. No seu local, Sonrisal abanava o fogo com uma tampa sempre preocupado com as pedras, pois temia aparecer de imediato alguma serpente ou mesmo um animal peçonhento, como um escorpião, aranha, lacraia, taturana ou marimbondos.  E assim, Sonrisal colocava um olho do fogo e outro nas pedras. Após a serpente aparecer no local do Templo das Orações ou Oraculo o rapaz ficou mais ainda temeroso. Algumas pedras começaram a cair e isso foi o suficiente para amedrontar o rapaz. Com o barulho, Sonrisal se levantou apressado, com olhos esbugalhados e então correu para longe procurando verificar o que se dera. Ele temia surgir da escuridão das pedras um monstro terrível, talvez do outro mundo, para agarrá-lo. O seu coração batia descompassado e, temeroso Sonrisal pulou para fora da gruta. Ele procurava divisar algo ao qual fosse o seu monstro colossal, fantástico e aterrorizante, mitológico e lendário. E assim ficou o jovem repórter totalmente terrificado, longe das pedras a procura de tal horrenda criatura. Com a chaleira derramada apagando o fogo, o rapaz nem prendia para tal fato. Quando tudo parecia acalmar, eis que um barulho tenebroso fez voltar mais para o lado de fora o rapaz. Com os seus olhos atemorizados ele viu dos jegues tocados pelo seu companheiro de viagem a adentar ao local. O homem Gafanhoto trotava os jegues com toda paciência possível de um conhecedor da mata. Ao perceber o temor de Sonrisal, o homem foi logo a perguntar:
--- Que houve? – quis saber Gafanhoto.
--- Sei lá! Um negócio fez barulho aí dentro! – respondeu o repórter.
--- Pedras? É normal! Elas caíram por conta do nosso peso! – disse o homem a amarrar os jegues em uma estaca existente ao lado.
--- Ave! Eu pensava em um monstro! – reclamou o repórter ainda com seu coração batendo forte.
--- Ave! Ave o que? – indagou o camponês ao repórter meio embrutecido.
--- O que? – indagou o repórter desnorteado.
--- Você disse: “Ave”. E eu pergunto: qual ave? Arribação? – quis saber Gafanhoto querendo gozar com a cara do repórter.
--- Não! Ave! Ave Maria! Eu quis dizer! – respondeu o repórter ao astuto camponês.
--- Ah bom. Está respondido agora. – disse o homem ao seu companheiro de viagem procurando o café pronto.
E viu derramada a chaleira por cima do carvão. Esse já apagara por completo e só restando fumaça. O matuto olhou para o rapaz e comentou:
--- Tudo apagado. – disse o matuto ao rapaz da cidade.
--- Faço novamente. – respondeu Sonrisal ao mateiro.
Enquanto tomavam café Gafanhoto distribuiu as frutas trazidas da serra, dentre as quais pinhas, fruta-pão, graviolas e jacas. No saco de viagem, o homem guardava outras espécies. O rapaz não perguntou o que havia do saco por uma questão de respeito. Os muares estavam à entrada da caverna. E o repórter apenas olhou os dois muares. Nesse momento o homem falou:
--- A gente vai aqui por dentro. É mais fácil! – falou Gafanhoto apagando o fogo com seus pés.
E o rapaz concordou. Apenas fez uma pergunta a uma questão não bem explicada pelo campônio.
--- O senhor falou que os astrônomos não passariam nem do primeiro Mistério das Águas? Por quê? O senhor já esteve no local? – indagou Eustáquio querendo forçar alguma resposta do homem.
--- Mistérios são Mistérios. No sepulcro existem vários Mistérios. Água, ar, fogo, sala das Lamentações; Santo Sepulcro; Sala das Aclamações ou dos Banquetes. – explicou Aquiles ao repórter.
--- Foi o teu pai quem disse isso? – perguntou o repórter de forma curiosa.
--- É. Ele disse. Mas eu fui ao salão do Banquete. – declarou o homem já arrumando os jegues.
--- Então o senhor passou pelos outros Mistérios! – declarou confiante o repórter Eustáquio.
--- Não foi preciso. O meu pai me ensinou como atravessar a Cúpula dos Eternos. – disse ainda o matuto.
--- Cúpula dos Eternos? E tem essa Cúpula? – indagou espantado o repórter.
--- Tem. E tem outras mais. Dos Enfermos; dos Duendes; dos Areópagos. Tem tudo isso. – relatou o homem do campo.
--- E o senhor sabe de tudo isso? – perguntou boquiaberto o repórter.
--- Areópagos é o Tribunal Supremo. É uma Corte de Justiça. Reunião dos Sábios. – relatou Gafanhoto.
--- Mas o senhor podia muito bem orientar os astrônomos nessa busca. – fez ver o repórter
--- Não posso. Só o Tribunal dos Supremos é quem pode fazer. Porém isso era quando Eles estavam no seu clã. Depois desse tempo não se pode mais. E quem desobedece ao que está escrito em letras cuneiformes  tem a paga. – comentou o homem do campo.  
--- Cuneiforme? E o que é isso? – indagou perplexo o repórter.
--- São letras em forma de cunha. A escrita cuneiforme gravada em argila. Essa a escrita dos deuses. – declarou o homem sem letra.
--- Deuses? Que deuses? – quis saber o repórter já bastante temeroso.
--- Os deuses do Universo. – fez saber o homem sem letra.
--- Mas o senhor não disse que não existe Deus? – perguntou alarmado o repórter.
--- Esse Deus que vocês adoram esse não existe. O Mundo é imenso. Sabe o que é Imenso? Pois o mundo é imenso. A Constelação de Hercules é bem aqui. Mas você levaria milhões de anos para poder chegar nos seus planetas. Nós vivemos em uma galáxia que tem mais de um bilhão de cometas, sois, quasares, asteroides, buracos negros. Mas isso é insignificante perante o Universo. Nós estamos na Via Láctea. Além desse aglomerado de planetas, como a Terra, tem outras, vamos dizer, Via Lácteas. O Universo tem para mais de um bilhão de Via Lácteas dessa forma. E todo dia nasce uma, por que existe a Rede Cósmica. Há um gigantesco grupo de galáxias no mundo. Pense nisso. – comentou o homem simples do mato.
--- Como o senhor sabe de tudo isso? – quis saber o repórter.
--- Doutor. O senhor sabe que o Universo é composto de energia escura? – perguntou o eremita.
--- Não. Quer dizer. ...Não. -  falou sem jeito o repórter.
E os dois pesquisadores dos homens das estrelas montaram em seus muares e seguiram pelo caminho por dentro da caverna, já montados, pois assim, eles não tropeçariam em pedras arrastadas pela passagem não conteriam a preocupação com as serpentes porventura ali existentes. No caso a anaconda, ofioideo mítico de enormes proporções, com cerca de dez metros de comprimento e com manchas escuras em sua pele. E assim, os pesquisadores caminharam por mais de duas horas. Aquiles ficava sempre a contemplar aquela gruta por onde tantas vezes passara em companhia do seu pai e Eustáquio, sempre amedrontado seguia caminho a indagar sobre o tempo gasto até onde ele estava.
--- Talvez daqui a bem poucos instantes nós cheguemos próximo ao Hangar. – respondia de quando em quando o eremita.
--- De quando em quando! É tudo o que ele sabe exclamar. – respondia de forma ao homem não escutar o jovem repórter.
Na saída da gruta ao entrar em um bosque para melhor pesquisar o Hangar, ali estava a chover com certa intensidade. O homem solitário da mata advertiu ao rapaz para esperar exato instante enquanto a chuva não aumentasse de pronto. Eles ainda estavam dentro da gruta já em sua saída onde podia se ver a densa floresta do bosque no alto da serra com os seus frondosos galhos a sacudir de um lado para o outro. Então o repórter teve a oportunidade de falar:
---- É chuva grossa! – comentou assustado o repórter.
--- Mas passa logo. É a chuva do maturi. -  comentou o homem do campo.
O repórter sorriu. E logo após Eustáquio falou.
--- E aqui tem maturi? – perguntou o repórter um pouco desconfiado.
--- Lá em baixo. Na serra tem de tudo. Caju, buriti, mangaba, jaca, pitomba. Tudo o que se pesquisa. Na mata tem as frutas, tem água, tem caça. Tem tudo. O homem é que não saber disso. Tudo! – comentou o senhor Aquiles.
--- É. Quem sobe a serra é que encontra dessas comidas. – fez ver o repórter Eustáquio.
O tempo continuava chuvoso. Mesmo assim, os dois andejos viajantes procuraram sair pelo menor caminho menos tortuoso e buscaram a pesada floresta do bosque onde estaria escondido o hangar das naves espaciais ou as naves das estrelas vindas de um mundo longínquo.


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