sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CREPÚSCULO - 17 -

- Scarlett Johansson -
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O ACIDENTE
O Hotel, restaurante e bar “Cassino” ficava no ponto central da cidade. O espaço para casais era algo de deslumbramento. Candelabros modelo italianos, mesas sempre com cobertas e quatro cadeiras para cada uma de tais mesas. O salão do restaurante tinha nada menos que três candelabros ao centro. Do lado direto do salão havia dois enormes espelhos e do lado esquerdo havia  outro espelho em forma de arco. Em cada lado do salão do hotel havia várias lâmpadas encrustadas em uma espécie de antigo abajur pendurados há três metros do chão. Um relógio de esmero acabamento marcava as horas e estava pregado em uma silhueta de metal dourado, na parte esquerda do salão do hotel composto por dois arranjos de madeira. Na entrada do salão havia uma porta dividida em duas bandas. Cada uma dessas bandas tinha espelhos retangulares. Todo o recinto era feito de madeira de mogno acabado e o teto do Hotel ostentava um belo acabamento. Enfim. A sala do Hotel “Cassino” era de um arrebatamento e requinte total. Na sala de refeições havia oito apuradas cadeiras aparentemente feitas em madeira de lei. Afinal, tudo era luxuoso no lugar. Do outro lado do salão do Hotel Cassino, estava o bar para atender os quantos frequentadores que surgiam. E ao lado com a sala do Hotel estava a boate onde em certas ocasiões era reservada para a dança ao toque do piano de cauda. Era evidente que naquela ocasião o Salão da Boate Cassino estaria aberto na parte do meio dia em diante.
O dia era um sábado. Orlando Martins, o dono do elegante Hotel de luxo tinha programado um almoço a luz ambiente para poucos convidados. Podia-se contar o Comandante do Aeroporto e esposa bem como os demais auxiliares mais diretos; o comandante do Exército, seus auxiliares e esposas; os arqueólogos da Universidade que estavam empenhados nas escavações dos túmulos do cemitério do Monte Sagrado; mais alguns outros, como Juiz, Prefeito, Delegado de Policia, convidados do casarão do velho Juca, inclusive o mesmo; veterinário, médicos, advogados e demais personalidades. Entre os convivas, estavam a esposa do organizados da festa, senhora Laura e a filha mais velha de Orlando Martins, a senhorita Secretária de Educação do Município de Panelas, Marina Martins e a sua prima, gerente atual do Hotel senhorita Darlene entre as demais convidadas de Marina. Ao toque de um acordeom teve inicio o salutar almoço onde todos os convivas trocavam as suas ideias sobre o prosseguimento das obras feitas pelos cientistas arqueólogos no Monte Sagrado e o destino do aeroporto de Panelas, marco histórico no progresso regional. Por seu lado, Orlando Martins estava cheio de orgulho por ver em sua seara as maiores autoridades da região, faltando chegar apenas um representante do Governo do Estado. Comidas e bebidas francas ao sabor de cada qual, o homem orientava ao Mestre a cuidar para que nada naquele fausto ambiente faltasse.
Logo após o almoço foi servido um bailado de pompa para os que aderiram à movimentada fantasia de cores e beleza. Quase todos os convidados estavam a dançar ao som do piano de calda dedilhado por um magnifico concertista chamado com precisão para a festa dos seis meses de busca dos achados no Monte Sagrado. A cidade toda estava cheia de bandeiras abrindo o marco oficial da festividade. Nem mesmo a zoada dos caminhões tanques a passar tirava o êxito do primoroso festival. Ao sabor de todos convidados os prêmios para os quais como de costume foram entregues na entrada do salão de dança da Boate “Cassino” tinha o esmero de toda pompa quase que oficial. Medalhas e prêmios feitos em madeira de lei foram entregues aos ilustres representantes das Forças Armadas e da Aeronáutica. Quando todos estavam ao sabor da música, de repente um mensageiro entrou no salão a procura do dono da festa.
--- Patrão! Tem um rapaz querendo entrar! – disse o vaqueiro José Jacó.
--- Eu não posso receber agora. Quem é o rapaz? – falou baixo Orlando.
--- É um rapaz. Ele disse que é urgente! – relatou muito baixo o capataz.
---Bosta! Mas ele disse do que se trata? – perguntou o dono do Hotel Cassino.
--- Não disse. Apenas que era urgente! – relatou o homem com paciência.
Pelo sim e pelo não, Orlando resolveu receber o talvez estafeta e foi até a entrada da boate àquela hora da tarde, cerca de três horas. O estafeta estava coberto de suor e ficou mais ainda quando se deparou com o doutor Orlando. Passaram-se alguns segundos e o estafeta teve o que declarar.
--- Meu senhor eu venho dizer ter o governador morrido no acidente a caminho de Panelas. O carro no qual viajava bateu em outro e todos os ocupantes tiveram morte imediata. – relatou com muita pressa o rapaz.
O homem ficou perplexo com a notícia e quase não pode entender o que o rapaz bem moço ainda estava a dizer. A sua cabeça zunia como um pinhão. De repente, o homem se equilibrou de suas emoções. E Orlando perguntou alheio, a estafeta.
--- A que horas foi o acidente? – indagou o homem ao rapaz bem moço
---Era quase meio dia. Foi na dobra para se chegar a Panelas. Sabe onde fica? – disse e perguntou o rapaz.
Quase a tremer de medo, Orlando Martins confidenciou ao rapaz ser ele mesmo o anunciante do acidente aos seus convivas.
--- Está certo. Eu trabalho da Estação dos Correios. Posso ir? – indagou o estafeta atarantado.
--- Pode. Pode. E agora? Como vou dizer tudo isso? – inquiriu-se o homem franzindo a testa.
Após um breve período  para raciocina com vagar, Orlando Martins resolveu falar como podia. Acercou-se do concertista e pediu uma trégua para então dizer ter sido informado do acidente que vitimou o Governador do Estado há algumas horas passadas. E ainda ele falou ter convidado para a festa a Sua Excelência, porem como estava a demorar, ele resolveu dar inicio a festiva cerimonia a todos os presentes. E somente naquela hora é que o homem foi informado do desditoso acidente. Com isso, Orlando Martins suspendia a festa comemorativa a qual se estava a deleitar todos os seus nobres confrades.
A notícia repercutiu como uma bomba no meio de todos os circunstantes. Até mesmo os Comandantes Militares ficaram assustados com tais informações atemorizantes. E as conversas com isso começaram a rolar de boca em boca e cada qual quisesse saber aquilo que estava tão de repente a acontecer diante de todos os circunstantes. Houve um pequeno tumulto no recinto e os Chefes das Armadas Militares, com os seus acompanhantes tiveram que sair às pressas tomando a direção dos seus Quarteis. O Exército já estava bem melhor sediado em uma casa alpendrada. A cabana de campanha havia sido demolida em troca de um espaço de melhor forma. Para a sua nova moradia, o comandante se dirigiu as pressas querendo procurar de notícias oficiais da plena morte do Governador do Estado naquela hora da tarde. O outro comandante pertencente a Aeronáutica igualmente se dirigiu ao seu Quartel na esperança de ter algo para lhe confiar. Ambos os comandantes foram apanhados no meio do caminho pelos estafetas dos seus quarteis com a mensagem da morte do Governador.
--- Chegou agora a pouco a notícia da morte do Governador. Excelência! – diziam ambos os estafetas ao encontrar os seus comandantes.
Um pranto atroz caiu sobre todo o Estado. O caso veio à tona bem devagar. Foi com uma onda marinha a se propagar insistente desde a chamada Curva do Mau, onde houve o acidente tenebroso até os mais longínquos rincões do sem fim. Foi uma tragédia estranha àquela que vitimou o Governador e seus acompanhantes a solenidade do município de Panelas.  Era tudo festa onde todos os participantes eram de plena alegria. Contudo depois do acidente com vítimas fatais tudo entrou em prostração. Os comentários eram os mais variados:
--- Eu bem que disse que essa festa ia terminar em tragédia. - relatava alguém.
--- Mas estava tudo tão perfeito! – comentava outro com a sua voz tímida.
--- E agora? Quem vai assumir a despesa? – perguntava um senhor sem saber coisa alguma.
--- E agora? Isso é obra do Governo Federal. – retrucava um mais sabido.
--- Sei não. Isso tem arte do diabo. – confessava uma mulher temendo a pura sorte.
--- Que arte, mulher! Que arte! Aconteceu com o Governador como acontece com qualquer um. Ora! – respondia com voz altiva o marido.
--- É lá que tem Disco Voador? – indagava outra pessoa querendo saber detalhes.
--- Lá vem você com suas perguntas bestas. Disco Voador não tem nada a ver! Unfff! – resmungava um idoso vendo as loucuras do rapaz.
--- É lá sim. Tem disco as pampas. Já pegaram até um! – respondia um rapaz querendo fazer galhofa.
--- Olha aí! Isso é questão de Discos. Vá ver. – alguém falou com o maior medo da selva.
--- Eu nem quero ouvir falar. Vou rezar meu ofício! – sentenciava a anciã com o maior medo do mundo.
No mesmo sábado, antes do crepúsculo, as emissoras de rádio da capital estavam noticiando com insistência a morte do Governador. As emissoras de tevê fizeram matérias diante do local onde ocorreu o acidente. Os jornais deixaram para sair com a notícia no domingo pela manhã. Porém, teve um jornal de menor circulação que ainda divulgou a notícia na noite do sábado contando a trajetória do Governador do Estado e suas raízes de uma família de vereadores, deputados estaduais, federais, senadores, ministros concluindo com o próprio Governador. Homem muito querido nas esferas da política, ele deixava uma vaga de modo não igualada sem ter alguém para sucedê-lo naquela ocasião. O corpo do Governador foi velado durante o domingo no Salão Negro do Palácio até a hora da tarde quando foi levado para o município onde ele nasceu. Os auxiliares do Governador foram três. Dois, foram encaminhados para o interior do Estado e um foi sepultado na capital. Os comentários eram vários de modo que a população expressava o seu sentimento de dor e de perda. E não se falava no motorista. Esse ficou paralitico por fratura nas pernas e na espinha dorsal.
--- E o motorista? – indagou um popular.
--- Não sei. Ele parece que morreu também. – disse alguém.
--- Não. Ele escapou. E está no hospital. – aduziu outra pessoa.

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