domingo, 13 de maio de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 44 -

- Marilyn Monroe -
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A CHAPA
Ainda no domingo o Coronel mandou chamar Renovato Alvarenga para ter uma conversa demorada. E declarou na ocasião a situação das chapas concorrentes: o Coronel para o Senado; Otelo para deputado federal; Júlio Medalha para Deputado Estadual; Antero Soares para Prefeito de Alcântara; Renovato Alvarenga para Vereador. Foi à descrição feita pelo Coronel Godinho quando todos os quatro pistoleiros estavam presentes. Dito isso o deputado estadual e Coronel quis ouvir a palavra dos quatro. E Renovato foi o primeiro a falar um tanto cismado por ser indicado vereador:
Renovato:
--- E presta esse negócio? – indagou desconfiado o homem.
Coronel;
--- Presta o que? Presta o que? Presta o que? – indagou irritadíssimo o homem.
Renovato:
--- É porque só sei disparar bala! – falou o homem entristecido e com o chapéu na mão.
Coronel:
--- Pois fique o senhor sabendo que a partir da sua eleição o senhor, se matar, vai ser em nome da lei! – respondeu o Coronel bastante aborrecido.
Antero:
--- Até eu coronel? Até eu? – indagou espantado o outro homem.
Coronel:
--- O senhor nem se fala! Nem consegue atirar! – falou um pouco mais acomodado o coronel.
Antero:
--- Ah bom! Assim é melhor! Mas eu tenho arma mortal! – relatou Antero ao se referir do punhal.
Em meio dessa fuzarca surgiu à porta da casa grande a noiva de Antero Soares, toda muito apressada, com as mãos nos quadris a indagar do Coronel Godinho, com vexame e com pressa se havia algum desentendimento para o seu futuro casamento. E todos olharam à moça:
Ludmila:
--- Meu pai! Vai haver ou não o casório? Isso porque eu já fui pedir os banhos ao seu vigário! – relatou a moça alarmada.
Coronel:
--- Deixa de vexame Ludmila. Vai haver sim! O quanto antes. Isso por que até lá sua barriga pode estourar! De raiva! – respondeu o Coronel Godinho um pouco desnorteado.
Antero:
--- O que Coronel? A moça vai perder a barriga? – indagou assustado o noivo.
Coronel
--- Não! Que nada! Deixa como está! – salientou de vez o velho
E nesse momento Ludmila rodou nos pés e foi para dentro da casa grande dizendo os maiores palavrões contra o noivo por ter ele não se importado com o que ela ouviu do seu pai. Coisa como isso:
Ludmila:
--- Ou raiva! Ou monstro! Agora só quer saber em política! Um safado desse! Por que eu fui me apaixonar por um traste daquele? – dizia a moça a transitar pela sala de jantar.
O pessoal da cozinho estava no seu canto e logo disseram:
Pessoal:
--- Que cobra mordeu essa moça?
--- Sei lá! Ela anda assim desde o negocio do casório!
--- E ela vai casar? – perguntou uma terceira pessoa assustada com a história.
--- E tu não sabes mulher?
--- Eu não! Virgem! Agora que estou sabendo! – relatou a terceira pessoa.
--- Pois basta! – respondeu a primeira pessoa a sorrir baixo.
Nesse ponto, Ludmila tinha voltado em cima dos pés e foi logo a perguntar:
Ludmila:
--- O que as senhoras estão a falar? Posso saber? – perguntou intrigada a noiva com olhos bem atentos.
Uma pessoa:
--- Nós? Nada! Estávamos falando era.... – interrompeu a fala.
--- Do croché! – destacou a segunda pessoa.
--- Pois é! Tá vendo! Do croché! – relatou a primeira pessoa.
Muito enraivecida Ludmila saiu para o seu quarto onde se assustou com a mãe a rezar deitada de peito pra cima na cama da moça. Ludmila não se conteve e deu uma rabissaca, fechou a porta e foi para o estande de tiros onde a moça pudesse acertar em quem passasse.
No dia do casório, um sábado à tarde, a Igreja Matriz se encheu de gente, todas da região. O Governador foi convidado, porém não pode comparecer ao ato. Delegou em seu lugar um assessor. Esse veio acompanhado de dois seguranças, um dos quais era um pistoleiro afamado. Esse bugre calado, implacável e frio capaz de qualquer ação quando se fizesse necessário. Seu nome era Fausto. A solenidade foi longa até demais. Os participantes não tinham como se defender do calor insuportável a fazer na Matriz. Crianças de colo a chorar. Os mais crescidos a praticar badernas, como se estivesse em lugar público. A moça com seu namorado a trocar olhares sufocantes. Na primeira fila o coronel, a sua dama, os dois pistoleiros. Na outra parte da primeira fila estava o assessor com seus dois guarda-costas. O padre Carmelo, no altar a suar a píncaros e barris. Os seus dois acólitos limpavam a testa do vigário. De imediato, o Coronel saiu para buscar a noiva. Essa estaria um pouco atrasada, o que era normal. A mulher do coronel ficou só assessorada pelos dois pistoleiros Otelo e Júlio. O decente e calado noivo, Antero Soares, se impacientava pela demora da noiva. Ele estava acompanhado Renovato Alvarenga e sua senhora Emília da Conceição, casados recentemente. Eles formavam o casal de padrinhos do noivo. O homem era todo elegante com seu uniforme de linho azul escuro. Na parte das filas dos bancos ali estava o homem por nome de Fausto, calado e sem pressa para qualquer evento a acontecer.
Após alguns minutos, parecendo eternos, surgiu à noiva acompanhada do seu pai, o coronel Godinho, em traje de veste branca. A noiva parecia não ter pressa para chegar ao altar mor e receber em definitivo o seu amado Antero. Desse modo Ludmila mais o seu pai caminhava solene e deslumbrante despejando aromas esfuziantes a dominar todo o sacro salão da Matriz onde as finas damas se entreolhavam por não terem mesmo aquelas mesmas fragrâncias em suas toaletes. E comentavam a sussurrar.
Damas:
--- Que esmero!
--- Que fragrância!
--- Eu tenho apenas pó de arroz. – comentava outra.
A nave do templo se encheu de perene e doce alegria com os cantores mirins a entoar cânticos matrimoniais ao acompanhamento de clarinetes, violinos e órgãos.  Sublime, linda e magistral festa feita de pompas e glorias para enternecer os mais vagos corações de damas e homens. O cortejo seguia ao som das melodias e com o acerto de quatro pequenos jovens a noiva marcha como uma deusa sobre o tapete vermelho rodeado de cravos brancos. A noiva sorridente com um buque de lírios em suas mãos de um branco de luvas acompanhando o vestido de cetim coberto com um véu de igual tom. As andorinhas acordoavam os cânticos sublimes do amor eterno. Era um momento de esplendor e decisivo para a bela e estonteante nubente. Algo de sublime encanto e esplendorosa festa. A festa de casamento de Ludmila Godinho jovem majestosa e mais bela daquele sertão infinito.

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