- Mona Grudt -
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O SEGREDO
Enquanto isso, na fazenda,
Ludmila, ainda atormentada com o segredo do bilhete, resolveu perguntar a sua
mãe de quem se tratava a mulher chamada Odisseia, moradora do lugar. E foi
assim que a moça fez. Aproveitando a ocasião do marido ausente a rachar lenha
para o fogão, ela aproveitou a oportunidade e foi até ao cômodo da sua mãe
Cantídia Marques, onde a mulher estava a costurar umas fronhas e indagou se na
verdade a sua mãe conhecia de vera certa senhora Odisseia. A mulher foi tomada
de surpresa e apesar do susto apenas disse:
Cantídia:
--- Odisseia? Era a mulher do
senhor Severino Policarpo! Por que a pergunta a esta hora? – indagou Cantídia a
costurar.
Ludmila:
--- Por nada! Alguém falou nesse
nome! E eu achei parecido com o nome tido na Historia! – respondeu Ludmila
descartando a preocupação de sua mãe.
Cantídia:
--- Ah bom. Era Odisseia, filha
de um homem que nem conheci! E você vai viajar? – indagou Cantídia a cosicar a
fronha.
Ludmila:
--- Sim. Talvez no final de
semana! Agora não presta! – lembrou a moça.
Cantídia:
--- O que está havendo? –
perguntou com surpresa a mãe de Ludmila.
Ludmila:
--- Regras, apenas! – e sorriu a
moça a procurar de sair do quarto.
Cantídia:
--- Regras! E por que foi se
casar? – indagou mal humorada a mulher.
Ludmila:
--- Acontece. Chegou ontem mesmo!
– respondeu Ludmila a sorrir.
E a moça saiu de casa em direção
a casa de Emília Alvarenga onde ela e o marido estavam tratando de arranjar o
resto do casarão. Com eles também foram uns jagunços cedidos pelo coronel
Godinho senhor de amplas terras da região dos sertões dos Inhamuns. A terra era
fértil e cheia de caça como toda a região quando chovia. O sertão dos Inhamuns
ficava na fronteira Oeste do Estado. A vida do vaqueiro era penosa de plenos
atropelos. Na chapa da serra o povo sonhava em um dia poder ver o mar. Ali era
um reduto da cobertura vegetal da caatinga. Inhamuns era uma região de
depressão sertaneja. E era ali que se estabeleceu o clã da família Marcolino
Godinho. Tal família veio de longe, perto do rio São Francisco. Era uma família
rica e para tomar as terras foi apenas a luta. Para se chegara localidade era
preciso se abrir meia dúzia de porteiras. Quem quisesse viver naquele local era
necessária muita força e muita luta. O gado era toda a riqueza da região. O povo do sertão vivia como podia. O de
parcas riquezas, o pobre mesmo, servia como jagunço. À noite a solidão era
maior. Alguns recantos escondiam a marca de um passado distante. O drama da
ociosidade pela falta de chuvas provocava a morte dos animais com fome e com
sede. A fazenda do coronel era a mais isenta desses males por conta de sua
patente e da posição social de deputado estadual à margem de senador. Mas, na
verdade, tinha municípios onde já não havia mais ninguém para morar. Era uma
região fantasma. E nessa região estava Ludmila Godinho Soares. Diante do sol
inclemente ela já bastante afônica e cansada chegou à fazenda de Emília da
Conceição Alvarenga chegou para lhe fazer visita. O vento árido e muito quente
fervia até os ossos. Emília avistou a sua amiga desde tenra criança e saiu para
um abraço. As duas estiveram juntas na noite anterior, porém isso era como não
se tivesse avistado a longo tempo. O marido de Emília largou o machado e veio
cumprimentar a recém-casada.
Renovato:
--- Bons olhos te vejam! Já
largou o marido? – quis saber sorrindo o concunhado.
Ludmila:
--- Nada. E a saudade. – disse a
moça em largos sorrisos.
Emília:
--- É sempre bem vida. Nós
estamos a arrancar os tocos. – sorriu a moça por sua vez.
Renovato:
--- O que tem demais aqui é abelha.
Cada ferroada de dá dó. Eu já estou me acostumando om às pestinhas. – sorriu
Renovato como podia.
Emília:
--- Mas se abanque. Vamos por em
dia a conversa. – sorriu Emília oferecendo um tamborete a Ludmila.
Ludmila:
--- Deixa-me descansar da viagem.
– sorriu Ludmila a sossegar.
Renovato:
--- Bem. Vocês estão com a vida
feita. Pois deixa fazer a minha também. – relatou Renovato apanhado o machado e
saindo do local.
Após alguns minutos de conversas
tolas, veio a parte mais forte quando Ludmila indagou de Emília e essa sabia
algo a respeito da senhora dona da casa onde estavam a residir.
Ludmila:
--- Odisseia é o nome. – disse a
mulher sem perder a calma.
Emília:
--- Odisseia! Eu já ouvi alguém falar nesse nome.
Não sei quem. Mas ouvi. – respondeu Emília a pesquisar a sua memoria.
Ludmila:
--- Ela morou aqui. Foi dona
disso tudo. E morreu faz tempo. – ressaltou a senhora moça.
Emília:
--- Odisseia! Espera! Deixa me
lembrar. Tinha tal de um Professor. Parece! – discorreu a moça a pensar com
bastante paciência.
Ludmila:
--- Professor? Que professor? –
arguiu temerosa a virgem dama.
Emília:
--- Espere! Parece-me que ela era
filha de um Professor. Isso! – estalou seus dedos da mão.
Ludmila:
--- Que professor é esse? Veja se
se lembra. – inquiriu Ludmila.
Emília, de cabeça um pouco
abaixada, ficou a pensar por mais tempo e nada conseguiu atinar. Apenas
perguntou a Ludmila para que tanta questão.
Emília:
--- Por que você está preocupada?
– indagou preocupada a senhora Emília.
Ludmila:
--- É segredo. Eu vi hoje um bilhete
no bolso do meu pai. Um moleque me avisou dele ter recebido esse bilhete. Mas
não dizia muito. Apenas um duelo na serra das Almas. Pelo amor de Odisseia. Só
isso e nada mais! – respondeu a pergunta Ludmila.
Emília:
--- Ah. Isso não fica assim não!
Um bilhete? E de quem? – indagou cheia de ira a Emília se levantando o toco com
as mãos nos quadris.
Ludmila:
--- O bilhete não dizia quem
mandava! Apenas um duelo sem testemunhas!. – enfatizou a senhora Ludmila.
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