sexta-feira, 11 de maio de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 43 -

- Greta Garbo -
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GOVERNADOR
O Coronel Marcolino Godinho seguiu passagem por outra estrada existente aberta no interior do próprio sitio e um caminho menos perigoso do outro tomado pelo emissário do Governador e, por um jeito certo ou não, pois na direção do veiculo o seu guarda costas Otelo Gonçalves, bandoleiro seguro nas armas e na direção. De tanto trafegar com o Coronel Godinho o homem aprendera também a dirigir o carro. Apesar do pistoleiro não ser tão bom quanto os outros profissionais do volante o homem chegou primeiro na casa do Governador. Otelo Gonçalves, ao descer do carro fez dois murros com as mãos cerradas como a dizer:
Otelo:
--- Venci os bons! – teria dito Otelo ao firmar as suas mãos.  
Tão logo chegou à casa do Governador, o Coronel Godinho foi recebido à porta por um soldado parecendo um guarda de honra do Chefe do Estado. De qualquer modo, Godinho foi logo a perguntar:
Godinho:
--- Onde está o Chefe? – quis saber o Coronel limpando a testa do suor e da poeira da estrada.
Soldado Um
--- Por aqui coronel. Ele está a vossa espera. – comentou o militar.
O Coronel Godinho entrou na casa grande onde estava o Governador acompanhado dos seus assistentes provinciais – os três pistoleiros: Otelo Gonçalves; Júlio Medalha; e Antero Soares. Ao chegar à sala de despachos, o deputado estadual cumprimentou o Governador. Esse, porém, teve olhar cismado para os três pistoleiros, coisa estranha para uma audiência particular entre o Governador e o Deputado Estadual. Após alguns segundos, o Governador foi a pergunta taxativa.
Governador:
--- Quem são os moços? – indagou o chefe de Estado.
Godinho:
--- Meus assistentes. Um candidato a deputado federal; outro candidato a Prefeito Municipal: o terceiro é o provável presidente da Câmara. Os três estão aqui para cumprimentar vossa excelência, como manda o rigor da lei.
Governador:
--- Ah bom. Sendo assim sejam bem vindos os senhores. – falou o governador olhando bem as armas dos três pistoleiros.
Passados alguns minutos e os cumprimentos formais dos três pistoleiros começou a reunião sobre qual motivo o governador precisava falar tao urgente com o coronel. Uns remendos para cá e outros para lá e veio o principal assunto. Disse o Governador ter de solicitar ao Deputado Godinho o seu obsequio de sair candidato ao Senado da República. Isso porque o senador eleito em primeiro escrutínio, o doutor Godofredo Sussuarana teve de ser hospitalizados por uma grave enfermidade e não poderia mais assumir a vacância do cargo. E sendo assim, o Estado procuraria outro candidato para suceder o senador Sussuarana no cargo. O Deputado ouviu tudo com atenção sem deixar de olhar o rosto dos três protetores. Logo após afirmou ao Governador.
Godinho:
--- Vossa Excelência tem certeza do que está afirmando? – perguntou o homem ao Governador
Governador:
--- É caso liquidado. Alguns dias apenas. Isso foi afirmado pelo o médico que o assiste. Ele abriu e fechou o abdômen do senador. E disse aos familiares do Senador Sussuarana ser um caso liquidado. – dialogou o Governador
O Deputado Godinho se pôs a refletir como faria para sair candidato ao Senado, uma vez faltar poucos meses para as eleições. Era terrível lamentar a ausência de um grande correligionário e falar sobre um homem de decisões firmes. Sussuarana era um parlamentar desde muitos anos e senador a seis legislaturas. Com isso, Godinho teria a certeza de refletir bem mais tempo antes do tomar tal posição. Como Coronel, ele estaria em melhores condições no Estado. Era vez de procurar apoio das quatro regiões antes de qualquer coisa.  
O Governador olhava atento para o deputado, com as suas duas mãos em forma de oração batendo uma na outra e seu olhar ensimesmado para o homem forte do legislativo quando se tratava de votação de assuntos governamentais. O deputado, encurvado para o lado direito em sua poltrona apenas a imaginar a reviravolta dada para si em um momento tao crucial do período das eleições. Os três defensores do deputado Godinho apenas olhavam de suas poltronas a decisão a ser tomada pelo velho homem. Em nada singular, ao parecer de todos. Nesse momento, uma porta se abriu e entrou o homem senhor da mensagem. E ele viu o Governador sempre muito calado. O homem olhou ainda o Coronel e bateu continência para o Governador como forma de respeito. O Coronel então se decidiu:
Coronel:
--- Está bom. Vamos à frente. – relatou Godinho.
Governador:
--- Assim é que se fala meu nobre Coronel! – sorriu alegremente o Governador.
E a conversa prosseguiu até altas horas com os acertos finais de cada lado e o compromisso do Chefe do Executivo em prosseguir com as conversas com líderes das demais regiões do seu Estado a ponto de não sobra duvidas de quem seria outro candidato a concorrer. E mesmo se houvesse esse provável candidato seria boicotado pelos chefes máximos das regiões de maior densidade eleitoral. Nos comícios seriam dados os nomes de interesse do Governador do Estado e em muitos dos quais estaria o próprio Governador. Far-se-ia panfletos do provável Senador de modo a ter o povo a decorar o nome do coronel quando esse começasse a sua jornada política. Além do mais o Governo poria a disposição do candidato o Jornal “Nossa Voz” de propriedade do poder executivo com espaços para deputados federais e estaduais e até mesmo os prefeitos do interior ligados ao Governo. O jornal, muito embora de regular circulação, não deixava de ser sem sombras de dúvidas um expoente maior para os demais candidatos ao pleito eleitoral. Retratos do coronel Godinho seriam postos em todas as edições circulantes no “Nossa Voz” para amenizar a vantagem de poder ter algum outro candidato ao Senado Federal. O Coronel estava convicto de não perder a parada eleitoral e tinha a ideia de abrir escritórios em distritos como forma de reter os eleitores nos seus locais de residência.  
No caminho de volta, na manhã do domingo, o Coronel Godinho já fazia o feito de um senador eleito pelo saber da forte influencia nos redutos do interior do Estado em mãos do Governador capaz de dissolver uma eleição onde o seu candidato tivesse minoria de votos. O pleito durava um dia, mas a apuração, em certas regiões chegava a durar até um mês. Com isso, o coronel estava ciente de sua conquista e para o Senado não haveria segundo turno. De imediato, ele escolheria os seus mais ferrenhos ajudantes e poria também o ajudante na boca da mesa a apontar ao eleitor o nome de votação. E se não houvesse outro candidato a vitória seria acachapante. Com isso, o Coronel era todo sorriso.
Coronel
--- O senhor Otelo é o meu candidato a deputado federal; o senhor Antero Soares será o prefeito; o senhor Júlio Medalha vai para a Assembleia Legislativa; Renovato Alvarenga fica como vereador. Se bem que ele mereça cargo até melhor. Mas, vejamos o desempenho de cada um nessas eleições. A minha filha fica como Secretaria de Educação. Ludmila! A minha outra filha pode ser assessora do Vereador. – relatou de vez o Coronel Godinho para os seus participantes da viagem de volta.
Antero:
--- E dona Emília é vossa filha Coronel? – indagou surpreso o pistoleiro
Coronel:
--- De criação! De criação! Criei aquela menina desde pequenina! Aquele besourinho rola bosta se bem posso dizer. – declarou o coronel na pose de um senador eleito desde a hora presente.
A rapaziada da viagem caiu na gargalhada com a insinuação de rola-bosta do coronel.

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