terça-feira, 15 de maio de 2012

0S QUATRO CAVALEIROS - 45 -

- Isabelle Huppert -
- 45 -
CONFUSÃO
O matrimonio seguia as normas regulares da ocasião com o sacerdote Dom Carmelo fazendo a sua oratória e desejando união e progresso para o casal sem temor de algo ainda por chegar ou mesmo do passado quando, já no final, antes de desejar boa sorte aos nubentes ele fez a tradicional pergunta de se alguém tivesse algo a dizer que fizesse naquele instante. De repente, um moço dos seus vinte e poucos anos surgiu no meio do salão e declarou:
Deodato:
--- Eu tenho! Essa moça não pode se casar! – falou alto o rapaz.
Foi um tumulto total. Cada um que quisesse olhar de quem era a voz tão estranha. Em um tom alguns diziam:
Mulher:
--- Quem está falando? – perguntou uma senhora.
Outra respondeu:
--- Eu não sei. Parece alguém de fora! – falo a outra.
Coronel:
--- Quem é você rapaz? – indagou em tom bravo.
Um homem:
--- O filho do fazendeiro! – comentou de boca aberta um senhor.
Deodato:
--- Deodato é o meu nome! E eu proíbo esse casamento agora! – falou bravo se aproximando do coronel.
Ludmila desmaia. O noivo a ampara. Quase todos os presentes queriam ouvir o rapaz. Os mais próximos socorriam a noiva. Era uma algazarra total. Ninguém se entendia. Os garotos procuravam amparo na saia de suas mães. Os homens mais temidos do lugar queriam partir para agressão. O sacerdote pedia ao povo a se acalmar. Ninguém se entendia de fato naquela ocasião. E começou uma correria desenfreada com as pessoas temendo o pior. O Coronel puxou da arma para atirar. O seu segurança Otelo Gonçalves Dias se interpôs. A gritaria dos meninos de colo era ensurdecedora. O rapaz foi agarrado pelos jagunços. Deodato tentava se soltar:
Jagunço:
--- Está dominado coronel! Quer que eu mate? – indagou bem serio o jagunço.
Coronel:
--- Deixe o homem se explicar! Fala de uma vez, canalha! – resolveu falar o coronel.
Deodato:
--- Mande esses jagunços me soltar! – reclamou o rapaz enfezado.
O Coronel olhou para um lado e para outro e ouviu a voz do padre Dom Carmelo, barrigudo e neurastênico. O sacerdote pedia calma ao coronel Godinho.
Dom Carmelo:
--- Não faça besteira Coronel! Deixa o rapaz falar! – falou irritado dom Carmelo.
O Coronel Godinho procurou se soltar das mãos de Otelo e Júlio. E terminou por dizer:
Coronel:
--- Fala depressa! – declarou em voz firme e alta.
A moça saiu levada para a secretaria da Igreja conduzida pelo noivo e mais três homens. Ludmila em estado de desmaio apenas suspirava bastante lento como se a consciência tivesse se esvaído de vez por todas. Uma mulher bastante apressada pediu álcool para fazer acordar a moça. Os acólitos correram um para cada lado sem saber o que fazer de fato. Na sacristia era bastante gente para acudir a noiva. A mãe de Ludmila era a mais aflita querendo fazer a estonteante virgem linda noiva a retornar de imediato à consciência normal. Cada um opinasse de forma diversa. Ninguém sabia o que dizia o outro ao seu lado. Ludmila foi posta numa cama velha de solteiro. Os coroinhas indecisos corriam para cima e para baixo tentando encontrar um vidro de álcool. Era um tumulto total na estreita sala da Igreja. De imediato, um deles achou uma garrafa fechada.
Coroinha:
--- Olhe aqui o álcool! – disse o coroinha com pavor.
Antero:
--- Isso é cachaça moleque! – repreendeu o noivo totalmente agoniado ao garoto.
Enquanto isso, no salão do templo o sacerdote tentava a aplacar os ânimos alterados dos participantes do casamento de Ludmila e Antero Soares administrando com a sua paciência a ferina palavra do circunstante. Esse não parava de dizer:
Deodato:
--- Ela não casa! Ela na casa! Ela está comprometida! – respondia o rapaz em voz alterada.
Sacerdote:
--- Meu filho. Escute bem! A noiva está comprometida com quem meu filho? – indagou o padre com a batina já toda cheia de manchas de vinho parecendo sangue.
Os jagunços estavam por perto para segurar o rapaz. Otelo e Júlio estavam ao lado do coronel. Esse estava impaciente a falar mais alto a qualquer forma. Então falou Deodato:
Deodato:
--- Ela não casa porque estamos atrelados! Desde pequenos! Ela foi quem disse! “Eu só me caso com você”! Ela disse isso pra mim! Ela disse! – falou bem alto o rapaz querendo se desfazer das mãos dos jagunços.
O burburinho foi maior entre as pessoas ainda presentes à Matriz naquela hora finda da tarde. Os meninos cantores apenas olhavam de cima do alto de onde estavam em companhia dos rapazes dos clarins, violinos e órgãos. Cada qual mais alarmado por causa do desafio feito em baixo pelo rapaz atemorizado. Um garoto ainda perguntou:
Garoto:
--- A gente ainda canta?
--- Cala a boca bobão! Não tá vendo o padre falar! –
E o garoto amofinou. Todos queriam saber a fim da historia. E o padre, paciente, então falou:
Sacerdote:
--- Filho! Isso é conversa de crianças! Ela nem se lembra disso! Agora apareceu um novo pretendente, meu filho! – relatou com calma o vigário.
Coronel:
--- Pretendente! Ora seu vigário! O senhor não está vendo o que ele afirma? – indagou cheio de ira o coronel.
Nesse ponto entraram os soldados. Eram quatro mais o delegado! Esse vinha com os bofes a estourar pela boca. E foi logo a querer saber:
Delegado:
--- O que está havendo aqui? O que está havendo aqui? – quis saber o delegado todo colérico.
Coronel:
--- Esse cachaceiro atrapalhou o casamento da minha filha. Prenda-o! – falou com muita ênfase o deputado.
Delegado:
--- Soldados! Levem preso o facínora! – determinou o delegado.
E foi assim o que sucedeu. O rapaz foi preso e o casório, depois de algum temível tempo, pode prosseguir. Enquanto saiu Deodato falava alto com a cabeça virada.
Deodato:
--- Isso não fica assim! Isso não fica assim! – esbravejou Deodato.

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