segunda-feira, 28 de maio de 2012

ISABEL - 05 -

- Julia Roberts -
- 05 -
ABORTO


No decorrer da semana Isabel já estava arranjada com as comidas e, por acaso, bebidas para a grande parte dos frequentadores da pensão, principalmente aos costumeiros do meio dia, por assim dizer e quando os homens pediam uma cajibrina, birita e até mesmo saideira  ela estava com a mente certa de uma bebida forte, como cachaça. E assim Isabel se seguiu aprumada e além das bebidas, a moça já estava contende a oferecer um tira-gosto, coisa não vista no interior onde a prestimosa serviçal atendia a todo gosto dos homens frequentadores. Para dizer se havia algum simpático, Isabel nem se voltava a esse caso. No seu trabalhar tinha apenas de servir e lavar pratos até às nove horas quando estava pronta para cair na cama.
E a vida foi assim sem maiores atropelos. O movimento do dia e o parar quando houvesse feriado. Certo dia, não muito tempo depois, Isabel estava desperta por volta das quatro horas da manhã quando bateu a sua porta a domestica Otília. Era cedo para se começar o serviço. E por pouco tempo Otília foi conversar com sua nova amiga de serviço coisas do dia a dia. Até ai tudo bem. Mas ao continuar da conversa Otília chegou a falar em uma questão de abortu:
Isabel:
--- Aborto? – indagou com assombro a moça.
Otília;
--- É. O negocio está atrasado. Eu fui a Taperoá e ele falou ser menino. – explicou Otília.
Isabel:
--- Filho? Você está buchuda? – indagou mais alarmada ainda.
Otília:
--- Eu creio. Mas Taperoá disse que se faz aborto. E eu estou na duvida. – reclamou a moça.
Isabel:
--- Quem é esse Taperoá? – indagou bastante cismada.
Otília:
--- É um enfermeiro. Ele entende do caso. Eu não tenho é dinheiro para pagar. – relatou a moça bem preocupada.
Isabel:
--- Dinheiro? E se cobra para fazer uma sujeira dessas? – indagou perplexa
Otília:
--- É verdade. Tem os medicamentos.....Ele faz o aborto...Tem muita coisa. ... Mas se paga pelo serviço. ... Agora, eu não tenho dinheiro para fazer o aborto. – comentou quase a chorar.
Isabel:
--- E o pai? – perguntou a moça a querer sabem o homem responsável.
Otília então entrou em um desengano total e baixou a cabeça por entre as suas pernas para dizer se ela uma mãe solteira.
Otília:
--- Não tem pai. Eu saí com vários. Pode ser qualquer um. – relatou a moça a chorar.
Isabel:
--- Qualquer um? Como é que pode? Na minha terra nunca ouvi falar desses troços! – falou mais assombrada que nunca.
E Otília caiu em pranto longo e lastimoso por não ter numerário para fazer aborto. Era um caso deveras de aflição a todo custo. Isabel ficou pensativa sobre o problema da sua amiga. E por fim deu sua resposta.
Isabel:
--- Peça um adiantamento? – falou a jovem ao se referir o numerário para pagar o aborto.
Otília:
--- Dinheiro? É o que você pensa. Aqui não se ganha coisa alguma. A gente trabalha pela comida. Dinheiro se arranja nas saídas da noite. Mas nem todos os fregueses dão certa quantia para se pagar até mesmo o quarto. – falou a soluçar a moça do bordel.
Isabel:
--- Onde fui amarrar meu jumento! – relatou Isabel pensativa.
Isabel ficou a pensar ter feito o mais complicado dos negócios da sua vida. Estava a moça em um lupanar o qual se passava por pensão de servir comida. A infortunada operaria nada estava a receber qualquer centavo pelo feito. Isso também acontecia no interior: moças empregadas a trabalhar sem nenhum pagamento em casas dos soberbos e faustos Coronéis. Era assim que Isabel tinha a conhecer a gente rica do lugar. Já chegara às quatro e meia da manhã e as moças ouviram o barulho das panelas. Com certeza, dona Marina estava a cuidar das tarefas da manhã. Em seguida, Otília pediu licença a Isabel para se ausentar e tomar conta do serviço.
Otília:
--- Vou chegando. Depois a gente conversa. Bico calado. Não que ela saiba. – falou Otília a se referir à dona Marina.
E nesse ponto se ausentou a nada virgem para se ocupar das suas obrigações. Era mais o dia de terror a enfrentar. Café para um, mungunzá para outro, cuscuz para não sei quem. E a vida continuava sem progresso na rotina de Isabel.  O certo é ter a moça a procurar outra ocupação em qualquer canto. Mesmo assim, salário era uma coisa de se falar. Se fosse para a rua, ela arranjava algo para comer e beber. Mas então ficava o problema de moradia. Diante de tais fatos, Isabel se aquietou de vez a espera de melhor ocasião. Na tarde daquele dia Otília se ausentou da pensão. Ela deu informação para onde deveria ir e disse apenas o de sempre:
Otília:
--- Vou caminhar. – falou Otília a meia voz para Isabel.
Isabel:
--- Para onde você vai? – perguntou preocupada a moça.
Otília:
--- Ali! – e apontou para a rua.
Sem mais nem menos a moça saiu. Ela e sua barriga. Isabel ficou a supor se teria Otília conseguido dinheiro com os mecânicos ou motoristas os quais estiveram na taberna. Mas de nada adiantou o seu pensar. Apenas a mulher dona do restaurante ainda perguntou:
Marina:
--- Onde foi à menina? – indagou com sua voz de quem chora.
Isabel:
--- Não sei. Não me falou. Disse apenas que ia ali. – comentou a outra ajudante de cozinha.
Marina:
--- Estranho. Vai assim sem dizer a gente? – cismou dona Marina.
Isabel:
--- Deve ter ido a alguma farmácia. – declarou Isabel tentando suavizar o caso.
Marina:
--- Estranho! Ela teve algum compromisso? – perguntou a dona da pensão.
Isabel:
--- Se tem nada falou. – respondeu Isabel enxugando a louça.
Marina:
--- Hum rum. Essas mulheres? – indagou sem querer dizer o sento da frase
O tempo mudou de vez. A chuva se fez presente. Era um aguaceiro total. Dona Marina recuou as mesas para baixo de um galpão, mas nem por isso evitou a se molhar. Isabel também estava na mesma faina. A chuva engrossou e de um momento para outro só se ouvia o gritar dos mecânicos a se encolher de frio com a chuva torrencial.

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