- Eva Mendes -
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O CASAMENTO
O clima
era de louca euforia no Bar de Isabel com alegres discussões sobre o jogo dos
times da capital onde o empate serviria um time e nada mais. Os comerciantes
apostavam na queda do dólar apesar de que outros queriam vê-lo subir ainda
mais. E tudo se aplacava ao terminar de uma dama a pedir um cigarro qualquer e
era atendida por Otilia ou Isabel. Ninguém ali tinha suposição do paradeiro de Gonzaga.
O homem saíra perto das nove horas da manhã em companhia de outro rapaz a
procura de fazer negócio de compra por uma caminhoneta em desuso. Com alegria
nos eventos Gonzaga sabia ser necessário ter um veiculo para poder fazer a
feira de todos os dias. O dia de sol propiciava tempo melhor de se percorrer os
negociantes de carro velho ou em desuso. Os vendedores ficavam em pé, na praça
de automóveis de aluguel a espera de um possível freguês. Foi assim que se deu
com Gonzaga como com muitos outros chamados de beradeiros no assunto de carros.
De qualquer jeito, Gonzaga tinha como acompanhante o mecânico Hélio. Esse era
um homem entendido no assunto de carros velhos ou novos. E com Hélio o homem
teve melhor confiança. Enfim o homem encontrou o carro o qual lhe servia.
Camionete, por sinal.
Quando
chegou ao bar com o seu veículo, todos notaram a alegria de Gonzaga. Ele e
Hélio desceram do carro e o povo todo saiu para ver de perto o calhambeque. A
alegria era geral. E cada qual a dizer:
Mecânicos:
--- O
homem está rico! – gritavam os mecânicos.
--- Que
se beba a riqueza de Gonzaga! – outros alegres remendavam.
--- Hoje,
a bebida é por conta da casa! – fomentavam alguns a saudar Gonzaga.
Isabel,
Otilia e Toré se aproximaram do veiculo e nada mais perguntaram. Toré sentiu o
ardor de Otilia a se sustentar em seu ombro. O sorriso era constante. Por
sinal, alguém disse a levantar um copo:
Alguém:
--- Só
falta agora o casamento! – referindo-se a Gonzaga e Isabel.
A mulher
ficou encabulada e mando o insinuante da China.
Isabel:
--- Vai
pra China. Queres mais bebida? – perguntou Isabel a quem falou.
Nisso, o
derradeiro sinal de Gonzaga:
Gonzaga:
---
Bebida hoje é por conta da casa! – sorriu o homem e levantou o braço fazendo o
sinal para todos entrarem.
Em contra
partida, Otilia se virou para Toré e lhe deu um beijo diante de tanta emoção. O
rapaz apenas sorriu e entrou abraçado no barraco com a moça também a sorrir por
causa da algazarra pelos quase embriagados. De vez, Isabel, por fim, disse a
todos:
Isabel:
--- A
bebida é de graça! Mas os pratinhos, esses todos terão de pagar! – sorriu
Isabel ao declarar a sua intenção em tirar o prejuízo.
E, um
tanto desconfiada, olhou para Gonzaga. Esse estava a sorrir. Ele chamou Hélio
para dentro do bar e ali se pôs a conversar sobre o carro.
Hélio:
--- O
carro está de primeira. Mas temos que ver a questão do freio. – relatou Hélio.
Gonzaga:
--- Isso
é com você. Ao carro fica por sua conta até o anoitecer. – fez ver o homem
alegre e feliz.
Em outro
ponto da sala, Otília começou a conversar com Toré. Se ele estaria a trabalhar
pelos dias passados. E esse disse sim.
Toré:
--- Tem
uma oficina lá perto. Eu estou por lá. E agora, estando livre, posso ir
tranquilo para a oficina sem mais temer.
Otilia:
--- Isso
é bom. Ter um ganho certo. Você tem família? – indagou a moça.
Toré:
---
Mulher, não. Moro eu e minha mãe. Eu nunca casei e nem me amiguei. – sorriu
Toré com o braço apoiado na janela e a mão sustentando a cabeça.
Otília:
--- Assim
é melhor. Eu nunca casei. Nem tive alguém. Mas, um dia. ...- fez ver a moça.
Toré:
--- Quer
casar comigo? – perguntou Toré sem mais nem menos e a sorrir.
Otilia:
--- Eu?
Você está louco! Nem pensar! Você merece coisa melhor que uma simples mundana!
– vez ver a moça um tanto acanhada.
Toré:
--- Que é
isso?! Não fale assim. Você é gente. Não diga tal expressão. – faz ver o rapaz.
E dai
começou o namoro. Ao final da tarde Otilia já estava pronta para ir morar com
Toré. O difícil era dizer a Isabel. Mesmo assim, Otilia tomou coragem e, no
meio do salão, ela se voltou para a mulher e lhe disse em um só fôlego.
Otilia:
---
Isabel. Toré me conquistou. Vamos morar juntos! – disse a moça a Isabel.
Esta, por
sua vez teceu comentário:
Isabel:
--- Mas
mulher! Estou besta! Você me quebrou as pernas! Não tem nada não! Se você quer,
então você pode ir. E me arranjo com Das Dores. – falou a mulher em tom de
tristeza.
E a vida
seguiu tranquila no Bar de Isabel. Das Dores, mulher de seus 40 anos, assumiu a
vaga deixada por Otilia. Com mais idade, Das Dores já não assumiu compromissos
com nenhum cliente de ocasião. Sua missão era preparar as refeições e, às
vezes, dormir no bar. Quando chovia a mulher tremia de frio. Mesmo assim, era
mão de obra para todos os fins. Se algumas vez aparecia um dos seus cinco
filhos Das Dores não demorava muito para atender ao rapaz. Era pei e bufo. De
imediato resolvia o problema. Falava alto e áspero. Era uma mulher de poucos
quilos, branca por sinal, cabelos curtos, cara amassada como se tivesse sofrido
um acidente. O seu andar era apresado e se encurvava para frente como quem está
a subir uma ladeira. Nada havia na cozinha que Das Dores não soubesse fazer. E ainda por cima reclamava de
alguém se esse não soubesse o comer pedido:
Das
Dores:
--- AH!
Você não sabe nem o que quer! – reclamava Das Dores empurrando o prato para
cima do freguês.
E gritava
o tempo todo sempre a querer sabe do freguês o que estava errado:
Das
Dores:
--- Isso
é comida de gente. OUVIU? – reclamava a mulher quando alguém reclamava.
Era desta
forma onde o bar tomava forma. Das Dores, quando estava no fogão, na certa
estava na pia a lavar os panos por ela considerados sujos:
Das
Dores:
--- Uma
imundice! Vá ver que na casa dele se coa café com as cuecas do pestilento.
Vai-te para o inferno miserável. – reclamava a mulher com certa raiva.
E seguia
a vida assim, com a imensa raiva do mundo. Certa vez, menos de um mês, surgiu à
porta a moça Otilia. E falou com Isabel ser preciso ter a mulher no Cartório
dentro de uma semana. Ela juntaria os panos sujos aos mal lavados, em seja.
Otilia estava para casar.
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