- Ivanety Maria -
- 15 -
DIA A DIA
Nesse
instante Otilia chegou até a sala onde estava Toré e sua mãe. Ela reclamou do
calor àquela hora da manhã. Mesmo assim, se sentou em uma cadeira ao lado do
seu esposo e olhou para ele com a cabeça abaixada. Sorriu e indagou se ele
estava a passar bem. E ele respondeu apenas com a cabeça que sim. Dona Dulce
Pontes chegou com uma xicara de café e pôs a frente da nova senhora e disse-lhe
ter os dois uma marola por causa da bebida tomada a noite passada. Otilia
sorriu e bebeu devagar apenas o café.
Otilia:
--- Estou
enjoada. – reclamou a mulher.
Dulce:
--- Não é
pra menos. – disse-lhe a sua sogra.
Toré:
--- Foi o
queijo. – relatou o homem de cabeça abaixada.
Otilia
sorriu. A sua mãe indagou com espanto.
Dulce:
---
Queijo? Que queijo? – indagou a mulher com assombro.
Toré, de
cabeça abaixada na mesa, começou a sorrir. A sua mulher então sorriu sem saber
por que. E então indagou:
Otilia:
--- E
teve queijo? Ai minha cabeça! Estou zonza. Não. Vou tomar um banho e depois
ajudar dona Dulce. Queijo? Que queijo? – se voltou Otilia espantada com o que
dissera Toré.
Com um
bom tempo Toré tomou uma xicara de café e voltou a procurar o rato da
madrugada. Apesar de vasculhar todo o recinto nada encontrou. E disse a sua mãe
ter de comprar uma ratoeira e deixar armada num ponto de passagem de ratos.
Toré:
--- Vou
comprar uma ratoeira da feira. Quero ver o bicho estendido no chão. – comentou
Toré
Dulce:
--- Tem é
muitos. Uma só não dá. – falou a mulher lavando os pratos.
Toré:
--- Trago
três então. – falou o rapaz já meio aborrecido.
E desta
forma o rapaz foi até o seu quarto e se vestiu com roupa de mecânico e zarpar
para a rua. Logo Toré comprou em uma banca da feira três ratoeiras e saiu,
então para o seu trabalho em uma oficina do bairro. Quando trabalhava em um
carro apareceu um homem. Ele era chamado de Gigante, por sua estatura alta e de
um bom físico. O homem se entreteu com o serviço feito em seu carro e nada
indagou dos mecânicos. Em certa ocasião, ele conversava com um rapaz de certa
filosofia e Toré o escutava dizer.
Gigante:
--- Ele
se passou há vários anos. E esteve por todo esse tempo a “dormir”. O espirito
dele despertou naquele instante. Foi então que viu uma multidão entrando na
casa e foi também para a casa. Mas a casa era um Centro Espirita. E ele não
sabia. Ele, que eu digo, era o espirito do homem. – e sorriu o homem Gigante.
Rapaz:
--- Eu
fiquei sabendo desse caso. – relatou o rapaz. Ele também era mecânico.
Toré
ouvindo isso teve certo assunto a despertar. Mas, como estava por baixo de um
carro a consertar o veículo nem ligou para mais ouvir os dois a conversar. E
Gigante continuou a falar de certos casos passados. Em certa oportunidade, Toré
saiu de baixo do carro e olhou cismado para Gigante. Mesmo assim, nada
conversou. Se fosse rato o assunto, ele já estava ciente do caso, pois em sua
casa era rato o caso da madrugada. E passou a parte da manhã. Como não havia
expediente à tarde, os mecânicos já estavam dispensados das suas atividades. Ao
sair da oficina, Toré deixou cair o pacote a enrolar as três ratoeiras. O rapaz
que esteve conversando há algum tempo antes tinha especialidade em carburação.
O seu nome, todos os outros mecânicos e pessoal de fora o chamavam de Milton. E
assim também Toré o chamava. Milton era um moreno magro quase seco com olhos
avermelhados por causa da carburação com a qual trabalhava. O homem, Milton,
estava a pentear o cabelo e viu as ratoeiras no chão. Na continuação da conversa Milton indagou:
Milton:
--- Ratos
na tua casa? – indagou o homem a pentear o cabelo.
Toré.
--- Hoje,
quase não preguei os olhos. Os desgraçados faziam uma folia geral. – respondeu
Toré agachado e ponto tudo num saco.
Milton
sorriu e não disse mais coisa alguma. Ele chegou até a pensar nos ratos como
animais asquerosos. Toré, de momento,
perguntou a Milton:
Toré:
--- Aquele
homem que você conversava: ele é macumbeiro? – indagou Toré sem se preocupar
com o termo.
Milton
sorriu e respondeu:
Milton:
---
Espirita. Macumbeiro é outro negócio; - falou Milton ao rapaz.
Toré se
inquietou e disse para se livrar de algum encosto.
Toré:
--- Sai
pra lá bicho. Pra mim tudo é uma coisa só. Macumbeiro, espirita. – fez vez
Toré.
Milton:
--- De
certa forma pode se acreditar. Mas Gigante trabalha com mesa branca. Macumbeiro
é com baixo espirito. Está aí a diferença. – relatou Milton a guarda o pente
limpando nas calças.
Toré:
--- Mesa
branca? Que negócio é esse? – indagou assustado Toré.
Milton:
--- É
assim que se chama aos trabalhos nos Centros. As mesas são forradas de branco.
– falou sem achar graça o mecânico.
Toré:
--- Dá na
mesma coisa. Os de macumba forram as suas (mesas) de preto? – indagou Toré
cheio de espanto.
Milton:
---
Acredito que sim. Mas os espiritas atendem gente de diversas classes. E não
tenho isso de levar um frango ou garrafa de cachaça. Na sala, o povo recebe
passe. – comentou Milton
Toré:
--- Ah.
Bom. Entendo. Esse negócio de galinha quase sempre aparece na estrada (de
ferro) que passa em frente à minha casa. Dizem que é galinha e encruzilhada. –
sorriu Toré.
Milton:
--- Isso
é. Quem paga o pato são os galos pretos. – sorriu Milton adiantando para sair
da oficina
Toré:
--- Galo
preto! Esse é o nome de um mecânico que conheci. – gargalhou Toré sem que nem
mais.
E a
conversa terminou por esse tempo tendo Toré partido para a sua casa perto da
curva da linha do trem e levado a feira regular da semana. Feijão, carne jabá e
carne de gado, porque era domingo o dia seguinte e outras coisas a mais. Como
estava casado há poucos dias, Toré inventou de levar sequilhos para Otília.
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