quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

DOIS AMORES - QUATRO -

- Elisa Sedaoui -
- QUATRO
- SUICIDIO -
Bartolo contou essa história na maior tranquilidade possível como se estivesse tomando um suco de graviola. Com os seus espirros constantes, ele limpava o nariz e procurava outro guardanapo a lhe acudir daquela coceira infernal a lhe comichar as narinas. Os demais amigos nem sabiam ou sentiam a veracidade do declarado pelo o jornalista. Na verdade, Bartolo tinha seguido até a ponte do Forte, ligando a cidade à praia da Redinha com a séria resolução de cometer suicídio, ou seja, pular da ponde para a morte. Porém, desistiu por conta da sujeira em baixo das águas do rio. E ele ainda argumentou o tal motivo:
Bartolo:
--- Sujeira incrível. Em sentia até o cheiro vindo do riacho da lagoa do Jacó. Coisa horrorosa! Então desisti de morrer daquela vez. – disse o homem a passear na sala.
Fernando:
--- Espere! Voce não está dizendo isso por brincadeira! – indagou assustado.
Bartolo:
--- Eu? Imagine! Queria pular de cima da ponte mesmo! Não deu certo! Agora vou procurar outro meio de suicídio. – espirros e assuados.
Caio:
--- Que? Suicídio? Nem pensar aqui. – correu o homem para fechar a janela do apartamento.
Bartolo:
--- Não. Não. Nem se importe. Será em outro lugar. Ah Dafne, Dafne, Dafne! – dizia com angustia o homem.
Caio:
--- Dafne? Sua esposa? Que ela tem a ver com isso? – indagou perplexo.
Bartolo:
--- Ela me deixou. Pediu divórcio. Tudo acabado. Disse que já não aguentava mais. Eu saía cedo de casa. Voltava tarde da noite. Não vinha almoçar. E não limpava o banheiro! Tem mais essa! Agora entrou com a questão na Justiça. Quer o Divórcio e pronto. – declarou chorando.
Dalva:
--- Bem feito! Vocês são uns imundos! – declarou com ênfase.
Fernando:
--- Eu não sou casado e não tenho esse costume de sujar banheiro. – relatou sem pressa.
Caio:
--- Mas isso não é questão para o suicídio! – reclamou.
Bartolo:
--- Não é para você que não é casado há dez anos. Eu? Quem vai lavar as minhas cuecas? Onde eu vou dormir agora? Se bem que tem o jornal! – disse o homem meio confuso.
Dalva:
--- Tem um quarto aqui! – apontou com o dedo para o seu apartamento.
Bartolo:
--- De quem é o quarto? – indagou meio confuso.
Dalva:
--- É meu. Mas está desocupado. E eu não durmo no apartamento. Está limpo mesmo. – relatou.
Fernando:
--- Pronto. Caso resolvido! – falou com garbo.
Bartolo:
--- E as cuecas? – perguntou sem saber o que fazer.
Dalva:
--- Tem a máquina de lavar. Só não venha pedir para eu mexer na máquina! – disse a mulher fazendo com as mãos o modo de se lavar roupa.
Caio:
--- Um momento! A senhora pensa em dormir aqui? – perguntou assustado.
Dalva:
--- É a parte melhor da questão. Voce dorme no seu e eu no meu quarto! – falou sem maior conversa.
Bartolo:
--- Mas a senhora não é irmã dele? – apontou para Caio.
Caio:
--- Não é minha irmã, nem minha cunhada, e muito menos minha sogra. Somos apenas vizinhos. Se bem que agora ela está vivendo comigo! – reclamou
Dalva:
--- Epa! Vivendo, não! Apenas eu pedi para dormir em um dos seus cômodos! – reclamou.
Caio:
--- Se bem que foi isso. – declarou em murmúrio.
Fernando:
--- E nas horas vagas? – perguntou o bancário.
Caio:
--- Não tem “horas vagas”. Ela lá e eu cá! – respondeu com malcriação.
Bartolo:
--- Está bem! É melhor do que nada! “Se é para o bem da Nação diga ao povo que eu fico”. – declarou sem cismas.
Caio:
--- Agora vai pagar o aluguel, a faxineira, a água, a luz e o condômino. – relatou.
Dalva:
--- Espere! E eu vou pagar o daqui também?  - perguntou assustada.
Caio:
--- Que é que voce acha? – indagou sem meias palavras.
Dalva:
--- Isso é um abuso! – declarou irritada.
Fernando:
--- A não ser que tenha as horas vagas! – sorriu o bancário.
Caio:
--- Não tem horas vagas. É olho por olho e dente por dente. – declarou o homem retirando nova cerveja da geladeira.
Dalva:
--- Estou quase desistindo. – reclamou a mulher.
Bartolo:
--- É bom me avisar primeiro. – disse o homem olhando a rua em baixo do apartamento
 

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