sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ISABEL - 48 -

- Letícia Sabatella -
- 48 -
VINGANÇA
Ao passo de alguns minutos o quadrilheiro Lindolfo falou sério ao novato Sertanejo se ele estivesse enganando o seu grupo, o tal seria morto sem dó nem piedade. Era bom saber, disse Lindolfo aquele a mandar nos demais quadrilheiros era apenas ele. E não admitia vingança seja lá de quem fosse. Sertanejo disse apenas estar no local a mando do capitão Florêncio. E se ninguém precisasse mais de suas armas era bom Sertanejo ter conhecimento, pois desse modo se mandaria do local. E o deputado podia decidir entre uma parte e outra. Era esse o negócio.
Lindolfo:
--- O senhor sabe usar armas? – indagou o homem quadrilheiro.
Sertanejo:
--- Vez por outa. Quando é para me defender ou matar cobra. É sim! Pois é! – falou com calma o senhor Sertanejo.
Lindolfo:
--- Como é o vosso nome? – indagou Lindolfo para pesquisa mais o pistoleiro.
Sertanejo:
--- Manoel. Porem pode me chamar de Sertanejo. Eu já cumpri mortes em seus municípios a mando de um político. E tenho mais para fazer, se não ficar aqui. Tenho minhas armas para matar quem o senhor falar. – respondeu Sertanejo nem um pouco destemido. Conversa e pronto.
Lindolfo:
--- Se eu mandar o senhor faz o serviço? – indagou Lindolfo a sorrir sarcástico.
Sertanejo:
--- Isso eu faço em cima da hora! – ressaltou o pistoleiro.
Uma voz:
--- Espera um instante seu carniceiro. Eu mandei chamar um bom matador. – falou a voz a estar escondido na casa grande.
Lindolfo sorriu e apenas disse.
Lindolfo:
--- Eu queria apenas experimentar o homem, seu deputado! – relatou Lindolfo por falar.
Quaresma:
--- Entra prá cá companheiro! Vamos deixar de mão essas conversas. Ele só tem papo furado! – informou o parlamentar a seguir com Sertanejo para o interior da casa grande.
E o deputado Quaresma adentrou no salão verde da casa grande da Casa Grande deixando sozinho a mastigar capim o seu confiante pistoleiro Lindolfo. Esse ficou apenas a olhar os dois homens a seguir para a sala do Reservado onde ninguém podia entrar, a não ser um convidado muito particular. Lindolfo cuspiu para um lado e se pôs a sentar no batente da entrada por onde o deputado seguiu com rival Sertanejo, pois Lindolfo se sentia francamente diminuído por sua presença entre todos os demais. Um dos capangas ainda veio até Lindolfo e colocou a mão em seu ombro como quem dizia:
Capanga:
--- Coragem! Amigo! Nós estamos do teu lado!
O tempo passou por cerca de duas horas. Conversas e conversas. No terreiro, os bandoleiros apenas sacudiam pedras no ar. Por três vezes viu-se a doméstica Nívea Maria da Conceição, conhecida por Matuta, entrar na sala reservada com uma bandeja com xicaras de café e o açucareiro. Também estava ali o açúcar bruto para os homens, se preferissem usá-lo. Após uma longa espera o deputado Quaresma saiu do seu Gabinete reservado em companhia do pistoleiro Sertanejo a conversar amenidades.
Quaresma:
--- Mando minhas lembranças ao capitão. – e deu com a mão nas costas do bandoleiro.
Na saída da casa grande, o pistoleiro Lindolfo ainda fez uma graça para Sertanejo como quem tencionava duelar. Esse responde ser Lindolfo muito mais do que ele. E sorriu. Com a sua montaria, ele puxou as rédeas de modo ao cavalo andar para trás até certo ponto e seguiu viagem a todo galope. Lindolfo ficou rezando para haver um duelo. Mas houve, portanto essa oportunidade. Foi um tempo perdido, enfim. Lindolfo ficou a olhar o homem Sertanejo a escapar das suas mãos, pois algo dizia ser ele um facínora do outro lado e não do mesmo do deputado Quaresma. A moça Nívea Maria, a Matuta, passou por Lindolfo com um sorriso leve no rosto como quem dizia:
Nívea:
--- Perdestes o tempo! – e sorria.
De momento, o deputado chamou sem pistoleiro Lindolfo para uma conversa a sós. Ela – o deputado – desconfiou de certa forma do pistoleiro Sertanejo por dito ser o capanga de confiança de tal capitão Florêncio. O deputado ficou cismado quando o homem declarou ser o capitão morador de um rancho perto do Rio das Antas, lugar por demais distante da fazenda do deputado. Mesmo assim, o homem – Sertanejo – falou em um nome de um senador. Esse Senador já morreu há bastante tempo. Mas, tinha outro senador com o mesmo nome do citado. Apenas era filho do velho senador. E o deputado não sabia do interesse desse senador em querer extinguir homens do nordeste. Mesmo sendo pistoleiros. Portanto, Lindolfo estava despachado a seguir o trajeto do tal Sertanejo.
Lindolfo:
--- Eu também pensei nisso deputado. E estranhei o motivo pelo qual o senhor o mandou entrar e conversar em local separado. – relatou o pistoleiro.
O deputado Sandoval Quaresma ficou pensativo por alguns minutos. Levantou-se de seu acolchoado e olhou o tempo com toda a mansidão a qual lhe sobrava; voltou para o acolchoado e, mesmo ficando de pé ordenou ao seu pistoleiro ele mandar outro em procura do desalmado suspeito. Viajar em quando pudesse. Dia e noite. Noite e dia. Era missão para ser cumprida por mais tempo que fizesse. Não importava em quantos dias. Ele queria saber o pormenor do pistoleiro Sertanejo. E se possível, um mês ou mais. Era serviço para todo o tempo da vida.
Quaresma:
--- Mande um dos seus e com toda a recomendação possível. Não importa quando ele deve voltar. Siga as instruções. É o que quero. – relatou o deputado qualquer coisa de inquieto.  
E um dos jagunços pistoleiro, Zé Rufino,  foi despachado, montando o seu cavalo tendo a missão de procurar o rastro do cavalo do atirador Sertanejo era de fato um real facínora aprumado como deixou claro em sua conversa reservada com o deputado antes da sua partida. Lindolfo não fez por menos e ordenou a outro celerado procurar em toda parte o dito cujo. Feito isso, o homem atirador saiu sozinho a cata de Sertanejo por todos os cantos e vilas existentes naquela região. Ele teria que mandar um aviso ser o tal Sertanejo um elemento bom ou não. Andando sem remorso foi o bandido a procura do homem mau. Passaram-se alguns dias e certa manhã o cavalo do homem perseguidor voltou só. Quem viu a montaria ficou abismado.  E gritou com voz firme o acontecido.
Pistoleiro Um
--- Tem cavalo na entrada. É de Zé Rufino! – alarmou o homem aos quatro ventos.
Todos os demais pistoleiros vieram para ver o sucedido. O cavalo de Zé Rufino estava escoteiro e o seu montador não aparecia nem de longe. Lindolfo veio só e examinou a montaria. No cavalo não havia nada a denunciar. A não ser um bilhete escrito à mão:
Bilhete:
--- “Está aqui seu presente. Não mande outro, pois terá o mesmo fim”. – dizia o bilhete.
Lindolfo leu o bilhete com certa dificuldade, pois o bandoleiro não sabia nem mesmo o alfabeto corriqueiro e acertou mandar para o chefe do bando, o deputado Sandoval Quaresma para ver o sucedido. E logo fez uma carta – quem fez foi à moça Nívea Maria – a dizer ao deputado ser o pistoleiro por demais perigoso. Lindolfo sentia na carne a força e a vontade de poder matar o elemento por causa do desatino sofrido por Zé Rufino.
Lindolfo:
--- Ele era um bom sujeito. – relatou o criminoso ao se referir a Zé Rufino.
E disse mais o bandoleiro ser aquele apenas o início de uma trágica marca no caminho dos dois inimigos no então posto. Lindolfo esperava Sertanejo de homem para homem. A qualquer dia e a qualquer hora. Não importava o lugar. Era a sanha criminosa de dois quadrilheiros a tirar teima a qualquer preço.
Lindolfo:
--- Vai ser luta de feras. Luta de vida ou morte! – falou o homem a torcer as rédeas do cavalo.
O dia passou depressa e não havia presença de nuvens no céu. Apenas o sol inclemente a assolar todo o campo. As aves de rapinas rondavam a mata virgem. Quatis e raposas eram os mais presentes. Um bando de carcarás estava a vir e a voltar. Era o sertão brabo aquele do meio dia na fazenda Guzerá, do deputado Sandoval Quaresma. A moça Nívea passava de um canto a outro com seus afazeres domésticos. Nada mais havia a relatar.

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