- Camilla Belle -
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VISITA
Na
tarde daquele dia Isabel estava na casa de Toré demonstrando todo o seu
contentamento pelo rapaz ainda confuso e pleno de gases as quais doíam bastante
por não deixarem um só minuto em paz. Ele arrotava para ver se os gases saíam,
porém não havia jeito de passar. A mulher Otilia preparou uma dose de remédio para
gases e Toré engoliu de uma só vez fazendo uma cara horrenda a declinar:
Toré:
---
Amargo! – e fez cara de vomitar aquilo que tragou.
As
duas amigas, Isabel e Otilia, soltaram uma bela gargalhada. E não se sabia por
causa da cara feia de Toré o por tê-lo feito ingerir uma bebida amarga, com
certeza. Apesar de tudo, Toré, com o braço direito enfaixado, ainda fez careta
de ojeriza. E o tempo passou com as batidas dos ferros na oficina e a gritaria
dos mecânicos sobre qualquer negocio. Um homem passou vendendo doce geleia de
coco pela rua em uma tirada só enquanto outro oferecia tapioca molhada. Era a
gritaria a faltar a Toré pelo tempo passado no Hospital. Com a boca azeda pelo
remédio tomado, Toré, mesmo assim, sorriu teimoso a seu bel prazer. Não pelos
sorrisos das duas mulheres, mas pelo martelar das oficinas e o gritar dos
ambulantes. Era isso a faltar no rapaz, com segurança.
Logo
após Isabel voltou a falar em um caso recente. Ela e Maria José sempre foram
amigas de infância e as duas meninas andavam de braços dados ao seguir para a
mercearia, ambiente se se chamava bodega ou venda. Alheias a tudo o fazer, ela
não ligavam ao passar pelos botecos onde as prostitutas faziam os seus negócios
de alcova. Sempre as meninas olhavam as prostitutas e logo em seguida rumavam
para a bodega. Era assim a vida no Saco. Por lá, as duas meninas conheceram o
homem – até formoso – chamado Valdivino. E por causa do homem também elas
conheciam a senhora Maria Clementina. Eles eram namorados. Contudo, os casais
viviam separados. Cada qual em seu lugar. Maria Clementina, por certo, era uma moça conforme diziam os que a
conheciam. E Valdivino era um rapaz. Pelo menos era o dito das pessoas. As
meninas passavam por Clementina e sorriam com a boca tapada com suas próprias
mãos. Quando era a vez de passar por Valdivino, as meninas mudavam de calçada –
por assim dizer, pois calçada não existia no Saco. E as duas molecas
transitavam como duas moças, grudadas uma na outra. E foi assim o tempo das
garotas. Quando estavam mais crescidas, Isabel conheceu Boi Selado – seu nome
real era Argemiro –e com ele viveu até o rapaz ser morto por causa do apelido.
E dali em diante, Isabel não viu mais o homem Valdivino, muito embora Maria
Clementina ainda fosse vista nas feiras vez por outra. O certo é: depois de
tantos anos, um mendigo bateu à porta de Isabel. Quem atendeu foi Maria José,
pois a moça já estava a morar da capital. A mulher, ao atender o mendigo notou
aquele homem parecer um farrapo. Assim ter a mulher servido um pequeno almoço
ao andarilho, apareceu à porta outra moça de nome Racilva a solicitar um livro
sobre teatro à Maria José. Esse livro tinha sido presente de um freguês do bar
de Isabel. Mesmo assim, Maria José não sabia do livro. Foi então ter a moça
Racilva visto Valdivino e o identificou. Dai por diante foi só uma festa. Maria
José conhecia Valdivino desde menina, porem não o reconhecera na cidade. Tao
logo o reconheceu deu-lhe roupa nova um lugar dos trapos e mandou o velho
aguardar a chegada de Gonzaga, pois o homem teria algo melhor para o andarilho.
E foi essa a historia contata por Isabel a sua amiga Otilia.
Otilia:
---
Nossa Senhora! Essa moça reconheceu o homem? – indagou com a mão na boca e
olhos bem acesos.
Isabel:
---
Ela, com o passar do tempo, reconheceu o pobre Valdivino. Eu mesma não
acreditei ao chegar a casa. Nesse dia nós – eu e Gonzaga – fomos almoçar em
nossa casa. Gonzaga nada sabia sobre a história. Ele apenas reconheceu a calça.
A calça era de Gonzaga. Mesmo assim, não disse nada. Apenas perguntou a Maria
José quem era o homem. E ela sorriu as pampas. Afinal Maria José falou ser de
Gonzaga. – sorriu a visita da tarde.
Maria:
---
E então? – indagou Otilia querendo saber da decisão de Gonzaga.
Isabel:
---
É. Então, Gonzaga vai leva-lo para o sitio e procurar encontrar Maria
Clementina. Se ainda estiver com vida, dessa vez os dois se casam, certamente.
A não ser ter ela um marido! – sorriu com prazer a mulher.
Com
poucos instantes chegaram a casa de Toré a sua filha Silvia, a irmã de Toré,
senhora Luiza, e a mãe do rapaz, dona Dulce Pontes. A menina se aproximou do
seu pai e, com cuidado, o homem acolheu a filha. A sua mãe – Dulce – lhe beijou
a face. E o mesmo ocorreu com a sua irmã Luiza. Com olhar lacrimejado, Toré
falou apenas:
Toré:
---
Como é bom se estar doente. Afinal nem sempre é assim que vocês me beijam. –
disso com mágoa o rapaz.
Dulce:
---
Ora! Deixa de besteira. Em sempre te agradei! – responde a mãe de Toré.
Dias
após, um homem a cavalo se acercou da casa grande onde residia – às vezes – o
deputado estadual Sandoval Quaresma. Ele
foi recebido pela moça Nívia Maria da Conceição conhecida também por “Matuta” e
indagou se ali morava o deputado Quaresma. E a moça respondeu:
Nívea:
---
Quem pergunta? – indagou Nivea “Matuta” em cima da hora com as mãos nas ancas.
Cavaleiro:
---
Sou de fora. Mas eu ouvi falar ter ele necessidade de um pistoleiro de aluguel.
– disse o homem abanando o rosto com o calor que era feito.
Nívea:
---
Disso eu não sei! Por que não fala com o deputado o senhor mesmo? – indagou
cheio de vida a donzela.
Cavaleiro:
---
Bem, senhora! Eu não sei onde fica a capital. Apenas me disseram que era aqui!
– falou o homem com tranquilidade.
Nívea:
---
Por mim, o senhor já está despachado. Aqui não se trata desse assunto! – falou brava
a Matuta.
Nesse
pontou outro moço se acercou da conversa. Ele chegara do interior da casa
grande. Seu nome Lindolfo, peito largo do deputado. E sem meias conversas foi
logo a indagar.
Lindolfo:
---
Quem é o senhor, se bem pergunto? – indagou Lindolfo com as mãos pregadas aos
seus revolveres.
O
homem olhou bem para Lindolfo e o homem notou as duas armas ainda no coldre.
Dentro da casa deveria haver outros pistoleiros a apontar as suas armas com
certeza. E por fim, bem montado em seu cavalo, ele apenas respondeu sem tocar
em seus trabucos.
Cavaleiro:
---
Bem. Meu nome é Manoel. Porém outros chamam de Manoel do Sertão ou apenas
de Sertanejo. – falou sem pressa o
pistoleiro.
Lindolfo
ficou a meditar de qual sertão o homem falava e responde em seguida para o caso
de não haver nenhum sertanejo pelas quebradas das serras do Mundo Velho.
Lindolfo:
---
Eu acredito que tudo isso é mentira. Não tem nenhum pistoleiro para os lados do
Mundo Velho. – respondeu o pistoleiro mor.
Sertanejo:
---
Que é isso camarada?! Eu não sou desse Mundo Velho! Meu campo é o Raso. Pra as
bandas do sul. – fez ver o pistoleiro já preparado a sacar seus revolveres.
Lindolfo:
---
Raso? Que Raso? Só tem um Raso nessas bandas do sertão! – respondeu desconfiado
o outro pistoleiro de aluguel.
Sertanejo:
---
O senhor conhece o capitão Florêncio? Pois eu sou desse bando! Foi ele mesmo
quem me mandou para falar com o deputado. – respondeu com sossego o pistoleiro.
Lindolfo:
---
Capitão Florêncio? Vosmicê é do seu bando? – indagou meio desconfiado o
pistoleiro.
Sertanejo:
---
Pois sim. Foi ele mesmo quem mando! – disse o pistoleiro rezando para Lindolfo
acreditar na história.
Lindolfo
passou a mão na barbicha e olhou desconfiado para o pistoleiro. Por fim mandou
o homem se apear do cavalo.
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