quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ISABEL - 51 -

- Patrícia Pillar -
- 51 -
AVIÃO
Com um espaço tremendo no céu, o avião passava raspando as coberturas das humildes casas alí existentes fora a de Isabel. Esta era uma casa de melhor porte, apenas na feitura. A garagem era ao lado. Contudo toda a armação era de grande porte. Ao contrario, as outras casas eram pobres e, algumas, feita de barro ou de palha. No caso da aeronave, essa passou tão baixa a dar para ver a tripulação a querer saltar do aparelho  logo esse caísse no mar. Eram três tripulantes. Um avião cargueiro pertencente à Força Aérea. Na rua, as mulheres corriam em zig-zag a procura dos seus filhos menores a temer pelo barulho vindo do espaço de meu Deus. As crianças alarmadas gritavam com o temor de aquele ser fantástico vir a cair ainda em terra. O gigante do ar era monstruosamente algo sem par. Todos em terra a tremer viram o seu tamanho descomunal a olhar bem de perto o bojo do inominável avião. O aparelho, com uma alucinante terrível zoada dava para rastrear a sua sombra no chão árido da larga praia cobrindo um espaço imenso. O menino de Maria José correu para se atracar com a sua mãe sob o temor alucinante de um monstro assombrador. O roncar do assombroso sagrado foi estender logo à frente no mar aberto a estraçalhar partes de sua cauda nos arrecifes do mar. O aparelho mergulhou de vez a sua frente enquanto os tripulantes saltavam nas águas quentes do Atlântico Sul. Com pouco tempo o aparelho mergulhou se encobrindo das águas calmas do Oceano e a tripulação teve tempo de se afastar e chegar a salvo nas pedras protetoras do avanço das águas quando o mar era violento. O pessoal a gritar de medo já começava a chegar às pedras e alguns ofereceram ajuda aos tripulantes para se soerguerem das águas do oceano naquela hora ainda calmo. Os pescadores que estavam nas pedras também vieram em socorro dos tripulantes. A pequena porção de gente foi aumentando a medida de o tempo avançar. Isabel ficou ao longe e o seu marido, Gonzaga, se aproximou dos tripulantes para dar apoio aos náufragos daquela tarde clara e com sol aberto. Maria José e os outros amigos – Valdivino, Maria Clementina, a filha do casal, senhorita Suzana e a sua recente amiga, Racilva – também ficaram ao largo a comentar a tragédia. Elas não puderam avaliar como o avião caiu ao mar sem bater em nenhuma casa por onde a tripulação navegou com destreza.
Com o tempo de meia hora começaram a chegar ao local da tragédia às viaturas da FAB, inclusive três ambulâncias. Os oficiais ordenaram de imediato o isolamento da área enquanto os soldados já faziam o cerco na parte da praia acidentada. O aparelho não mostrou sinal de ser tirado de momento. Os tripulantes continuavam nas pedras a tremer de frio. Repórteres e fotógrafos vieram logo após da ocorrência da tragédia daquela tarde. Mesmo assim, nenhum repórter teve permissão de se aproximar do local do acidente. Dessa forma eles procuravam ouvir a declaração das pessoas, todas ainda assustadas com o forte acidente.  Enquanto isso, algumas pessoas já comentavam a boca miúda.
Pessoa Um
--- Vou me mudar daqui! – dizia uma mulher.
Outra:
--- Deus me livre! Escapei por pouco! –
Outra:
--- Tenho é medo! –
Outra:
--- Lá em casa os pratos ainda estão tremendos! –
Bêbado:
--- É o fim do mundo! – declarava um bêbado a tomar de lado com voz descompassada.
Por toda parte da tarde e um pouco da noite o povo se admirava com a tragédia. As emissoras de rádio colocaram no ar as opiniões dos moradores. Alguns nem queriam falar:
Popular:
--- Eu? Tenho medo desses “bichos”. – sorria a mulher e saía de perto.
Outro:
--- Besteira! Bota aqui que eu falo! O que é pra dizer? – dizia outra empolgada em falar no rádio.
E assim, com as informações do local, a pequena quantidade de gente aumentou de forma circunstancial com pessoas vindas de toda parte da capital. Uns traziam suas bebidas. Outros apenas eram para namorar agarrados uns e outros. E nem sequer verificaram as ambulâncias a sair com os três tripulantes da aeronave.  Isabel e seus amigos, depois de muito tempo, voltaram  para casa a indagarem como foi o acidente tão inoportuno daquela tarde. Valdivino se lembrou de um trágico acidente havido há um bom tempo em uma cidade do interior do seu Estado. Nessa ocasião, houve várias mortes e muita gente ferida. O avião comercial foi de encontro a uma serra em uma noite de chuva.
Valdivino:
--- Foi luta para se achar os corpos! Eu estive no local do acidente. Durante vários dias ainda tinha ossada de pessoas acidentadas! Nossa Senhora! – falou o velho com a cabeça abaixada como se pensasse no desastre e muitos anos.  
Com certo tempo Gonzaga voltou para não falar demais. Apenas dizia:
Gonzaga:
--- É fogo! – dizia o homem a lembrar do acidente do avião.
Logo após Maria José e seu filho Paulo foram para dentro da casa onde a mulher com certeza daria banho no filho. Isabel procurou conversar com a sua mãe e essa dizia apenas estar a rezar pelos mortos do acidente. Isabel sorriu e deixou a mulher a rezar. Apenas se lembrava não haver mortos a lamentar, com certeza. A festa acabara com o acidente aeronáutico. Apenas a filha de Valdivino ainda perguntou a Racilva se esta voltaria com pouco mais e essa respondeu:
Racilva:
--- Depois da janta! – respondeu a garota preocupada com sua mãe a tempo a procurar pela moça.
Suzana se decepcionou e voltou amargurada para o interior da casa de Isabel.
Suzana:
--- Merda! Por que ninguém me atende? – falou a miúde a moça.
Em meio a toda confusão a reinar na praia as altas horas da tarde quase noite, em sua casa Isabel procurava por as coisas em ordem. De imediato foi resolver pequenas questões e viu Maria José a dar banho no filho Paulo. Os dois homens, Gonzaga e Valdivino comentavam o trágico acidente com o aparelho da FAB e Maria Clementina ajudava com os pratos e garrafas a por no deposito onde deveriam estar. Isabel perguntou a Maria Clementina o que esta fazia no sertão antes de vir para a Capital. E ela respondeu:
Clementina:
--- Eu estava ajudando nas vendagens de Maricola, uma aposentada. – respondeu a mulher.
Indecisa, Isabel ficou a pensar no nome. E após alguns momentos ela falou:
--- Maricola! Maricola! Era uma que servia almoço no Mercado? – indagou Isabel a andar para cima e para baixo com uma bandeja de pratos sujos.
Clementina:
--- Não. Aquela é a irmã (dela). Maria Lola! Todos a chamam assim! – relatou a mulher.
Isabel:
--- E quem é Maricola? – estranhou Isabel sem saber ao carto.
Clementina:
--- É a que vende grude, tapioca e bolo preto para os lados da Estação de Trem! – respondeu Clementina.
Isabel:
--- Maricola? É uma mulher bem gorda? – indagou ainda a estranhar a mulher.
Clementina:
--- Ela é forte.  Ela era casada com o soldado Clemente. – falou a mulher a meia voz.
Isabel:
--- Parece que já sei quem é. – respondeu Isabel arrumando a louca com toda a pressa.
Nesse momento surgiu de fora à moça Suzana a indagar se Isabel queria cuscuz. Esta sem meias palavras respondeu.
Suzana:
--- Dona Isabel. A senhora vai querer cuscuz? O cuscuzeiro está lá fora. – disse Suzana,
Isabel:
--- Você quer cuscuz? – perguntou Isabel a moça.
Essa sorriu com um aceno de então querer cuscuz. O homem estava adiante da casa a despachar cuscuz para outros fregueses. Era um vai e vem de troca-troca de miúdos a levar o mundo inteiro. O garoto ainda perguntou se o cuscuzeiro tinha visto o acidente do avião. E esse disse que não, concluindo a conversa.

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