- Paola Oliveira -
- 54 -
PUB
Em
um dia de uma semana após o divertir da lagoa, Gonzaga ouviu de um cliente a
observação de mudar o nome de Bar para um mais afeiçoado com pub. Algo
semelhante a Help Irish Pub soaria bem melhor. E dai por diante teve inicio a
discussão entre os frequentadores. Alguns acreditavam em se tirar o Bar de
Isabel criaria problema com os frequentadores. Outros eram de opinião diversa.
E teve quem dissesse mudar para Irish se tornaria deselegante:
Frequentador:
---
Pouca gente sabe o que significa Irish. Talvez duas ou três pessoas. E colocar
Help? Nossa Senhora dos Aflitos. E se tem que mudar, é pôr um nome regional. Bem
mais terra. Na Inglaterra eles puseram nomes de cidade. Ou não puseram nada.
Pelo menos os ingleses chamam de Public Houses. Nome popular. Por exemplo –
Isabel Pub House. Ou pelo menos Casa Pub Isabel. Coisa assim. Nem tiraria o
sentido de Pub e colocaria o nome já tradicional. – relatou o freguês.
Gonzaga:
---
Muito bem. Façamos então uma votação. Os frequentadores mandam um nome que mais
se adequa e, no fim, o melhor será o nome da casa. Está bem assim? As propostas
ficarão guardadas em um cofre. Quando chegar o final, ele será aberto. Uma
comissão formada por três cavalheiros terá a incumbência de tirar os nomes da
urna. E, depois, outros três senhores darão um prêmio no valor total de “x” em
prêmios de monitor de computador, todo completo, com notebook e coisas mais e
um televisor de 21 polegadas. Esse será o premio. Os candidatos inscritos para
verificar o conteúdo dos nomes, terão uma significativa remuneração. E mais: Os
nomes devem ser dados em sigilo. Um envelope a parte terá o nome do inscrito.
Que acham disso? – indagou Gonzaga a todos os presentes a recepção no pub.
Freguês:
---
É democrático. Eu aprovo! – disse um homem.
Outro:
---
Eu também. – falou outro.
E
assim, todos os frequentadores tiveram a oportunidade de opinar de modo
adequado. Já no dia seguinte a imprensa divulgava o concurso para o nome do Pub
de Isabel. O assunto tomou conta da cidade e até de outros centros nos Estados
mais próximos. Cuidou-se de depositar os nomes no cofre para após um mês o
mesmo ser aberto e do seu local os três ilustres senhores examinar cada nome e
cuidar de resolver o mais chegado ao ambiente. Isabel não disse nada a respeito
do assunto. Ela estava, nesse momento, a frequentar aulas de direção para tirar
sua carta de motorista. O presente do marido foi algo fenomenal. O veículo de
dois assentos, prateado, pleno luxo a percorrer as ruas da cidade e até mesmo
do interior. O Morgan era o luxo sem par. Embora a mulher não tenha habilidade
de dirigir, pois ainda estava a aprender, o seu automóvel, dormindo sossegado
na garagem de sua casa, todo coberto por um cobertor era uma espécie de
“deusas” dos lugares mil. A mulher não via a hora em poder dirigir o seu
magnífico Morgan pelas ruas e estradas da cidade e das proximidades.
Nesse
meio tempo, o Governo Federal mandou um ultimato para o Governo do Estado em
decidir a hora de abandonar o cargo. O Governado estava sem cobertura na
Assembleia Legislativa, pois a maioria dos deputados já estava contra a sua
administração. Isso representava a
minoria de parlamentares a apoiar o seu mandato. Quatro investigadores da
polícia estavam metidos nos assassinatos a mando de políticos da situação do
Estado e do próprio Governador. Havia inclusive um senador e um deputado
federal. O Secretário de Segurança também estava envolvido no esquema do tal
famoso Mão Branca. A polícia federal armou uma operação logo de madrugada da
manhã desse dia e cobriu toda a área do senhor deputado estadual doutor
Sandoval Quaresma. No casarão era esconderijo inclusive quatro bandoleiros
pertencentes a polícia do Estado. Esses malfeitores foram identificados pelo
agente da polícia federal, José Baldoíno cuja identidade fora mudada para
Manoel do Sertão ou apenas Sertanejo. Às cinco horas da manhã os agentes
federais invadiram a fazenda dando ordem de prisão do deputado Quaresma e aos
quadrilheiros. Todo pessoal ainda dormia estando apenas acordada a senhora Josefa
Maria da Conceição, cozinheira da casa grande. A sua filha Nívea Maria tinha
saído para o mato onde estaria a cumprir as suas necessidades normais e
corriqueiras. Os agentes cuidaram da mulher. A filha “Matuta”, nome pelo qual
era conhecida, ao ver os agentes, correu em debandada para dentro da selva o
por lá apavorada ficou a olhar para o movimento feito no interior da fazenda. A
demora foi rápida. O deputado Sandoval Quaresma acordou sob as armas e a voz de prisão do delegado da
Policia Federal. Os demais agentes cuidaram dos cinco homens – um era de fora
do bando, pois não pertencia a Policia do Estado -. Mesmo assim, era bandoleiro
afamado. O deputado aos gritos apenas dizia ser ele deputado a não recebia
ordens de qualquer um. Os seus argumentos de nada valiam, pois, o deputado foi
algemado da mesma forma como os demais capangas. As viaturas rumaram mundo
afora com presteza da prisão.
Enquanto
isso, seis horas da manhã, outro grupo de agentes bateu à porta do palacete do
Governador com a mesma missão. Na parte de fora, a guarda policial quis impedir,
porém foi em vão. A Polícia Federal prendia no mesmo tempo o Secretario de
Segurança, dois deputados estaduais envolvidos também nos crimes de Mão Branca
e buscou mais vários vereadores de cidades do interior. Na Capital Federal
houve a prisão de dois deputados federais e um senador pertencente ao partido
do Governador. Houve choro muito, porém de nada adiantou tal reclamação. Antes
do meio dia, o Governador pedia demissão das funções acompanhadas por todos os
Secretários de Governo. Nesse dia a imprensa não teve hora para terminar as
suas atividades. O jornal da oposição era o mais procurado nas bancas, pois
saíra em edição especial a contar toda a trama armada pelos setores do Governo.
Leitor:
---
Menino? Que confusão é essa? – perguntava alguém plenamente extasiado.
Outro:
---
Esse negócio de Mão Branca é antigo! – respondia outro.
Alguém:
---
Quem é o bandido? – indagava um terceiro sem saber de nada.
Na
Taberna de Isabel o caso virou um estardalhaço. As mesas eram todas ocupadas
pelos habituais frequentadores e todos relatavam das peripécias dos homens do
poder. Para alguns, o caso terminaria em banho Maria. Outros argumentavam ser o
inicio de o grande golpe militar. E tinham os falavam em tragédia por parte do
Governador:
Um:
---
Duvido que ele se entregue! Mas duvido mesmo! – relatou um aos seus
companheiros.
Nesse
mesmo dia advogados entraram em cena. Era uma correria louca. Os mais afoitos
eram os juristas compenetrados na causa do Governador. No corre-corre dos
jurisconsultos moviam-se uns e outros para cada lado. Trombada com diferentes
juristas era apenas o visto. Na Polícia Federal eles entravam com petições para
ter o direito de falar com o seu intercessor. Havia advogados para os
deputados, secretários de Estado e até mesmo vereadores. A sede da Polícia se
tornou pequena pra ter tanta gente confinada. Alguns presos foram mandados para
outras dependências da Repartição Federal enquanto outros ficavam em solitárias
amargando a própria sorte. Quarteis do Exercito foram solicitados para guarda
tanta gente. E nesse vai-e-vem o dia se passava com maior rapidez possível. Uma
carta de renúncia chegava à Assembleia Legislativa no fim do primeiro
expediente. Era do próprio Governador. Pequenos aviões decolavam a todo
instante em busca de outras paragens. Um Secretário de Estado entrou em uma
convulsão por ele não perceber o grau de responsabilidade nos crimes hediondos
praticados pelos elementos da Polícia Civil. O Coordenador da Polícia entrava e
saia do prédio da Polícia Federal em seu passo ligeiro. A sua gordura não
atrapalhava em nada a sua corrida. Quando abordado pela reportagem ele sempre
tinha a dizer:
Coordenador?
---
Nada a comentar! Nada a comentar! – e se metia em um carro a leva-lo para
locais não sabidos.
O
Diretor da Polícia Federal se entrincheirou em sua pasta e não recebia repórter
para dar qualquer explicação. O ruge-ruge de gente, carros, kombis, Bestas e outros mais era um desassossego na
vida dos principais envolvidos na causa. Enquanto na Assembleia o caso se
tornava pânico, nas demais secretarias de Estado os funcionários apenas
comentavam a boca pequena.
Funcionário:
---
Eu sabia que isso dava em convulsão. – comentava alguém a falar baixo.
Funcionário
Dois.
---
Eu não sei de nada! – comentava outro.
Funcionaria
Três.
---
Ave Maria! Quem diria! – falava uma moça um tanto perplexa.
Funcionária
Quatro:
---
Eu vou alí e volto já! – dizia outra servidora, baixa e gorda saindo depressa
da repartição.
Funcionário
Cinco:
---
E o Governador morreu? Morreu? – indagava outro alheio a toda celeuma.
Funcionário
Seis:
---
Homem! É hora de eu ir para casa! – dizia outro se desculpando para sair e
bebericar.
O
movimento de carros oficiais e particulares era intenso em toda a cidade. E
ninguém se importava com uma batida de carro no transito vertiginoso. Apenas
regava uma praga para alguém e seguia seu rumo para qualquer lado. Os barres se
enchiam de gente. E a Taberna de Isabel era a mais frequentada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário