sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ISABEL - 54 -

- Paola Oliveira -
- 54 -
PUB
Em um dia de uma semana após o divertir da lagoa, Gonzaga ouviu de um cliente a observação de mudar o nome de Bar para um mais afeiçoado com pub. Algo semelhante a Help Irish Pub soaria bem melhor. E dai por diante teve inicio a discussão entre os frequentadores. Alguns acreditavam em se tirar o Bar de Isabel criaria problema com os frequentadores. Outros eram de opinião diversa. E teve quem dissesse mudar para Irish se tornaria deselegante:
Frequentador:
--- Pouca gente sabe o que significa Irish. Talvez duas ou três pessoas. E colocar Help? Nossa Senhora dos Aflitos. E se tem que mudar, é pôr um nome regional. Bem mais terra. Na Inglaterra eles puseram nomes de cidade. Ou não puseram nada. Pelo menos os ingleses chamam de Public Houses. Nome popular. Por exemplo – Isabel Pub House. Ou pelo menos Casa Pub Isabel. Coisa assim. Nem tiraria o sentido de Pub e colocaria o nome já tradicional. – relatou o freguês.
Gonzaga:
--- Muito bem. Façamos então uma votação. Os frequentadores mandam um nome que mais se adequa e, no fim, o melhor será o nome da casa. Está bem assim? As propostas ficarão guardadas em um cofre. Quando chegar o final, ele será aberto. Uma comissão formada por três cavalheiros terá a incumbência de tirar os nomes da urna. E, depois, outros três senhores darão um prêmio no valor total de “x” em prêmios de monitor de computador, todo completo, com notebook e coisas mais e um televisor de 21 polegadas. Esse será o premio. Os candidatos inscritos para verificar o conteúdo dos nomes, terão uma significativa remuneração. E mais: Os nomes devem ser dados em sigilo. Um envelope a parte terá o nome do inscrito. Que acham disso? – indagou Gonzaga a todos os presentes a recepção no pub.
Freguês:
--- É democrático. Eu aprovo! – disse um homem.
Outro:
--- Eu também. – falou outro.
E assim, todos os frequentadores tiveram a oportunidade de opinar de modo adequado. Já no dia seguinte a imprensa divulgava o concurso para o nome do Pub de Isabel. O assunto tomou conta da cidade e até de outros centros nos Estados mais próximos. Cuidou-se de depositar os nomes no cofre para após um mês o mesmo ser aberto e do seu local os três ilustres senhores examinar cada nome e cuidar de resolver o mais chegado ao ambiente. Isabel não disse nada a respeito do assunto. Ela estava, nesse momento, a frequentar aulas de direção para tirar sua carta de motorista. O presente do marido foi algo fenomenal. O veículo de dois assentos, prateado, pleno luxo a percorrer as ruas da cidade e até mesmo do interior. O Morgan era o luxo sem par. Embora a mulher não tenha habilidade de dirigir, pois ainda estava a aprender, o seu automóvel, dormindo sossegado na garagem de sua casa, todo coberto por um cobertor era uma espécie de “deusas” dos lugares mil. A mulher não via a hora em poder dirigir o seu magnífico Morgan pelas ruas e estradas da cidade e das proximidades.
Nesse meio tempo, o Governo Federal mandou um ultimato para o Governo do Estado em decidir a hora de abandonar o cargo. O Governado estava sem cobertura na Assembleia Legislativa, pois a maioria dos deputados já estava contra a sua administração.  Isso representava a minoria de parlamentares a apoiar o seu mandato. Quatro investigadores da polícia estavam metidos nos assassinatos a mando de políticos da situação do Estado e do próprio Governador. Havia inclusive um senador e um deputado federal. O Secretário de Segurança também estava envolvido no esquema do tal famoso Mão Branca. A polícia federal armou uma operação logo de madrugada da manhã desse dia e cobriu toda a área do senhor deputado estadual doutor Sandoval Quaresma. No casarão era esconderijo inclusive quatro bandoleiros pertencentes a polícia do Estado. Esses malfeitores foram identificados pelo agente da polícia federal, José Baldoíno cuja identidade fora mudada para Manoel do Sertão ou apenas Sertanejo. Às cinco horas da manhã os agentes federais invadiram a fazenda dando ordem de prisão do deputado Quaresma e aos quadrilheiros. Todo pessoal ainda dormia estando apenas acordada a senhora Josefa Maria da Conceição, cozinheira da casa grande. A sua filha Nívea Maria tinha saído para o mato onde estaria a cumprir as suas necessidades normais e corriqueiras. Os agentes cuidaram da mulher. A filha “Matuta”, nome pelo qual era conhecida, ao ver os agentes, correu em debandada para dentro da selva o por lá apavorada ficou a olhar para o movimento feito no interior da fazenda. A demora foi rápida. O deputado Sandoval Quaresma acordou sob as  armas e a voz de prisão do delegado da Policia Federal. Os demais agentes cuidaram dos cinco homens – um era de fora do bando, pois não pertencia a Policia do Estado -. Mesmo assim, era bandoleiro afamado. O deputado aos gritos apenas dizia ser ele deputado a não recebia ordens de qualquer um. Os seus argumentos de nada valiam, pois, o deputado foi algemado da mesma forma como os demais capangas. As viaturas rumaram mundo afora com presteza da prisão.
Enquanto isso, seis horas da manhã, outro grupo de agentes bateu à porta do palacete do Governador com a mesma missão. Na parte de fora, a guarda policial quis impedir, porém foi em vão. A Polícia Federal prendia no mesmo tempo o Secretario de Segurança, dois deputados estaduais envolvidos também nos crimes de Mão Branca e buscou mais vários vereadores de cidades do interior. Na Capital Federal houve a prisão de dois deputados federais e um senador pertencente ao partido do Governador. Houve choro muito, porém de nada adiantou tal reclamação. Antes do meio dia, o Governador pedia demissão das funções acompanhadas por todos os Secretários de Governo. Nesse dia a imprensa não teve hora para terminar as suas atividades. O jornal da oposição era o mais procurado nas bancas, pois saíra em edição especial a contar toda a trama armada pelos setores do Governo.
Leitor:
--- Menino? Que confusão é essa? – perguntava alguém plenamente extasiado.
Outro:
--- Esse negócio de Mão Branca é antigo! – respondia outro.  
Alguém:
--- Quem é o bandido? – indagava um terceiro sem saber de nada.
Na Taberna de Isabel o caso virou um estardalhaço. As mesas eram todas ocupadas pelos habituais frequentadores e todos relatavam das peripécias dos homens do poder. Para alguns, o caso terminaria em banho Maria. Outros argumentavam ser o inicio de o grande golpe militar. E tinham os falavam em tragédia por parte do Governador:
Um:
--- Duvido que ele se entregue! Mas duvido mesmo! – relatou um aos seus companheiros.   
Nesse mesmo dia advogados entraram em cena. Era uma correria louca. Os mais afoitos eram os juristas compenetrados na causa do Governador. No corre-corre dos jurisconsultos moviam-se uns e outros para cada lado. Trombada com diferentes juristas era apenas o visto. Na Polícia Federal eles entravam com petições para ter o direito de falar com o seu intercessor. Havia advogados para os deputados, secretários de Estado e até mesmo vereadores. A sede da Polícia se tornou pequena pra ter tanta gente confinada. Alguns presos foram mandados para outras dependências da Repartição Federal enquanto outros ficavam em solitárias amargando a própria sorte. Quarteis do Exercito foram solicitados para guarda tanta gente. E nesse vai-e-vem o dia se passava com maior rapidez possível. Uma carta de renúncia chegava à Assembleia Legislativa no fim do primeiro expediente. Era do próprio Governador. Pequenos aviões decolavam a todo instante em busca de outras paragens. Um Secretário de Estado entrou em uma convulsão por ele não perceber o grau de responsabilidade nos crimes hediondos praticados pelos elementos da Polícia Civil. O Coordenador da Polícia entrava e saia do prédio da Polícia Federal em seu passo ligeiro. A sua gordura não atrapalhava em nada a sua corrida. Quando abordado pela reportagem ele sempre tinha a dizer:
Coordenador?
--- Nada a comentar! Nada a comentar! – e se metia em um carro a leva-lo para locais não sabidos.
O Diretor da Polícia Federal se entrincheirou em sua pasta e não recebia repórter para dar qualquer explicação. O ruge-ruge de gente, carros, kombis,  Bestas e outros mais era um desassossego na vida dos principais envolvidos na causa. Enquanto na Assembleia o caso se tornava pânico, nas demais secretarias de Estado os funcionários apenas comentavam a boca pequena.
Funcionário:
--- Eu sabia que isso dava em convulsão. – comentava alguém a falar baixo.
Funcionário Dois.
--- Eu não sei de nada! – comentava outro.
Funcionaria Três.
--- Ave Maria! Quem diria! – falava uma moça um tanto perplexa.
Funcionária Quatro:
--- Eu vou alí e volto já! – dizia outra servidora, baixa e gorda saindo depressa da repartição.
Funcionário Cinco:
--- E o Governador morreu? Morreu? – indagava outro alheio a toda celeuma.
Funcionário Seis:
--- Homem! É hora de eu ir para casa! – dizia outro se desculpando para sair e bebericar.
O movimento de carros oficiais e particulares era intenso em toda a cidade. E ninguém se importava com uma batida de carro no transito vertiginoso. Apenas regava uma praga para alguém e seguia seu rumo para qualquer lado. Os barres se enchiam de gente. E a Taberna de Isabel era a mais frequentada.
 

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