sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 01 -

- Alida Valli -
- 01 -
À NOITE
Sexta-feira, fim de semana, oito horas da noite. Otto desligou o seu computador e verificou se tudo estava correto ou se esquecera de algo. Ele bateu no bolso da camisa a procura de uma caneta e estava ciente de estar no mesmo lugar. Em seguida Otto rumou para a bandeja de copos no local de costume e tirou um pouco de café. Ao sorver o café ele olhou para a mesa da redação e viu a moça Vanesca a dedilhar a sua matéria e outras redatoras ao fim do mesmo ofício: concluir o seu trabalho. A caminhar devagar, sorvendo o seu café, Otto se aproximou da mesa de Vanesca e olhou para o seu trabalho. Nada disse. Foi em seguida para outro canto da sala. Ainda ouviu da moça um aceno com a mão direita a querer dizer algo como:
Vanesca:
--- Espere! – falara a moça ao rapaz sem precisar dizer. Em seguida voltou-se para o trabalho.
Otto estava despreocupado, pois o seu trabalho já havia sido concluído. Próximo à porta da redação ele topou com o seu chefe. O homem saía com um pouco de matérias em direção ao diagramador. Ele mostrou as matérias a balançar com as mãos. E nada falou. Otto sorriu ainda sorvendo o seu café.  A moça atendente de telefones já estava pronta para sair. O homem olhou em cima da mesa alguns recados misturados com revistas nacionais. Coisa de só menos importância. Ao voltar a sua mesa de trabalho Otto olhou sem dar importância à matéria da moça Alda Paiva. E ela então olhou para o rapaz  sem nada falar. Apenas enroscava o seu cabelo com o dedo indicador direito. Após esse breve instante, Alda Paiva voltou ao trabalho. Otto se dirigiu a mesa de Vanesca e indagou:
Otto:
--- Pronto? – falou o jovem.
A moça lhe respondeu:
Vanesca:
--- Quase. – e olhou para o rapaz a sorrir.
Otto caminhou para um lado onde depositou o copo na cesta de coisas usadas momento em que a mulher da limpeza recolhia o saco para depois sair da redação do jornal em busca de outros sacos por alí depositados. Ao cabo de alguns minutos, Vanesca se levantou e buscou seus apetrechos de maquiagem e falou para o seu noivo:
Vanesca:
--- Volto logo. – e saiu com pressa para a toalete feminina.
Otto voltou a conversar com Ricardo, chefe de redação. O homem apenas relatou:
Ricardo:
--- O “homem” quer que se dê maior cobertura a represa. O Presidente deve inaugurar ainda esse ano. – falou sem motivo o chefe sacudindo a cabeça para um lado e para outro.
Otto sorriu e vez ver se o Governo já pagara aos trabalhadores terceirizados.
Otto:
--- E os trabalhadores terceirizados já receberam? – sorriu o homem.
Ricardo:
--- Isso ele não fala. Afinal são terceirizados. Pra que falar? – disse o chefe a se apoiar na mesa de diagramação.
Diagramador:
--- Que faço com essa foto? – perguntou o diagramador.
Ricardo:
--- Ponha do lixo. – respondeu o chefe vendo uma foto sobrando na mesa.
O diagramador sorriu e pôs a foto no saco do lixo ao dizer:
Diagramador:
--- Não seja por isso. – sorriu o diagramador.
Otto ficou a espera de Vanesca a olhar as outras jornalistas a bater as suas matérias. Dentre as tais estava Racilva, jovem em tempo de aprendizado de redação. Otto se acercou a moça e olhou bem a matéria. Teve um trecho a merecer reparos. Ele apontou com o dedo. A moça não entendeu de certo. Ele então bateu à teclada e substituiu a palavra. A moça sorriu para Otto e a ajuda prestada por ele.
Racilva:
--- Obrigada! – respondeu a moça a tremer de susto.
Vanesca voltou da toalete e logo se dispôs a sair. Otto também já estava pronto. Ainda assim, olhou a matéria de Alda Paiva e disse-lhe.
Otto:
--- Vá fundo! – falou o rapaz querendo dizer – “Mais ação”. -  
Em seguida, Otto e Vanesca saíram com pressa, pois já estava quase meia hora em atraso. Eles rumaram para o elevador onde já estavam mais duas moças de outras secções a conversar algo sem nexo e por isso mesmo sorriam.
Vanesca:
--- Demora! – falou a moça com cara de quem quer sair o mais rápido possível.
Otto:
--- O restaurante já deve está cheio há essa hora. – falou o rapaz sem muita conversa.
O automóvel rumou em direção de um restaurante muito procurado pelas moças e rapazes e se tornara o chamariz dos encontros de fim de semana. Um sinal fez o motorista brecar. Duas mulheres atravessara a rua quase correndo. Uma anciã atravessou sem pressa, pois o sinal estava a indicar o vermelho. Otto olhou a idosa senhora e ficou a pensar em quantas eras teria aquela mulher. Um corpo franzino, saia comprida até ao chão, cor de luto, bengala na mão. Isso era tudo da mulher corcunda vergada pelo tempo. Um homem atravessou em sentido contrario agarrado a sua feliz namorada. Do outro lado a rua os carros estavam parados enquanto nos bares da vida os garçons corriam de um lugar a outro para atender com maior presteza aos fregueses. Após um tempo o sinal abriu para os carros e Otto se dirigiu em sentido à direita em busca do restaurante de costume. A moça Vanesca olhava as vitrines do interior do carro e apertava a mão de Otto para que ele também olhasse aqueles lançamentos da semana.
Vanesca:
--- Olha que chique! – dizia a moça a verificar os lançamentos da moda nas vitrines.
Otto:
--- É apelação. Não tem nada de chique. – respondeu o rapaz preocupado em encontrar um local de estacionamento ao chegar ao restaurante.
Vanesca:
--- Você também é um desmancha prazer. – vez ver a moça com a cara nervosa.
Otto:
--- Mais não é mesmo? – sorriu sem querer o rapaz a estacionar o carro em um pátio.
O flanelinha veio depressa para dizer ao dono do carro que ele estava ali a tomar conta dos automóveis para ninguém arranhar os mesmos. O flanelinha apenas fazia o seu dever de ganhar alguns trocados dos donos dos carros. Otto deixou uns trocados com o rapaz se encaminhou a entrada do restaurante. Como era de se pensar a respeito, o local estava quase completamente lotado. A sala era toda muito bem arrumada e uma vitrine existente no local  dava para se ver os  barcos de pescas a trafegar com lentidão no rio.  Os bravos garçons ou empregados de mesa transitavam céleres de um lado para o outro para atender com presteza aos pedidos já um bom tempo que eram feitos. As mesas com quatro ou seis cadeiras eram para dar mais luxo ao recinto. Otto não reparou bem nesses magníficos detalhes,  pois já estava acostumado a se ver nesse aprazível local de comes e bebes. Com o passar dos minutos, o rapaz puxou um garçom pela túnica e pediu uma bebida como vinho, para dois. O garçom conferiu a mesa e disse apenas:
Garçom:
--- Um instante. – e caminhou apressado para o interior do bar.
 

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