- Alida Valli -
- 01 -
À NOITE
Sexta-feira, fim de semana, oito
horas da noite. Otto desligou o seu computador e verificou se tudo estava
correto ou se esquecera de algo. Ele bateu no bolso da camisa a procura de uma
caneta e estava ciente de estar no mesmo lugar. Em seguida Otto rumou para a
bandeja de copos no local de costume e tirou um pouco de café. Ao sorver o café
ele olhou para a mesa da redação e viu a moça Vanesca a dedilhar a sua matéria
e outras redatoras ao fim do mesmo ofício: concluir o seu trabalho. A caminhar
devagar, sorvendo o seu café, Otto se aproximou da mesa de Vanesca e olhou para
o seu trabalho. Nada disse. Foi em seguida para outro canto da sala. Ainda
ouviu da moça um aceno com a mão direita a querer dizer algo como:
Vanesca:
--- Espere! – falara a moça ao
rapaz sem precisar dizer. Em seguida voltou-se para o trabalho.
Otto estava despreocupado, pois o
seu trabalho já havia sido concluído. Próximo à porta da redação ele topou com
o seu chefe. O homem saía com um pouco de matérias em direção ao diagramador.
Ele mostrou as matérias a balançar com as mãos. E nada falou. Otto sorriu ainda
sorvendo o seu café. A moça atendente de
telefones já estava pronta para sair. O homem olhou em cima da mesa alguns
recados misturados com revistas nacionais. Coisa de só menos importância. Ao
voltar a sua mesa de trabalho Otto olhou sem dar importância à matéria da moça
Alda Paiva. E ela então olhou para o rapaz
sem nada falar. Apenas enroscava o seu cabelo com o dedo indicador
direito. Após esse breve instante, Alda Paiva voltou ao trabalho. Otto se
dirigiu a mesa de Vanesca e indagou:
Otto:
--- Pronto? – falou o jovem.
A moça lhe respondeu:
Vanesca:
--- Quase. – e olhou para o rapaz
a sorrir.
Otto caminhou para um lado onde
depositou o copo na cesta de coisas usadas momento em que a mulher da limpeza
recolhia o saco para depois sair da redação do jornal em busca de outros sacos
por alí depositados. Ao cabo de alguns minutos, Vanesca se levantou e buscou
seus apetrechos de maquiagem e falou para o seu noivo:
Vanesca:
--- Volto logo. – e saiu com
pressa para a toalete feminina.
Otto voltou a conversar com
Ricardo, chefe de redação. O homem apenas relatou:
Ricardo:
--- O “homem” quer que se dê
maior cobertura a represa. O Presidente deve inaugurar ainda esse ano. – falou sem
motivo o chefe sacudindo a cabeça para um lado e para outro.
Otto sorriu e vez ver se o
Governo já pagara aos trabalhadores terceirizados.
Otto:
--- E os trabalhadores
terceirizados já receberam? – sorriu o homem.
Ricardo:
--- Isso ele não fala. Afinal são
terceirizados. Pra que falar? – disse o chefe a se apoiar na mesa de diagramação.
Diagramador:
--- Que faço com essa foto? –
perguntou o diagramador.
Ricardo:
--- Ponha do lixo. – respondeu o
chefe vendo uma foto sobrando na mesa.
O diagramador sorriu e pôs a foto
no saco do lixo ao dizer:
Diagramador:
--- Não seja por isso. – sorriu o
diagramador.
Otto ficou a espera de Vanesca a
olhar as outras jornalistas a bater as suas matérias. Dentre as tais estava
Racilva, jovem em tempo de aprendizado de redação. Otto se acercou a moça e
olhou bem a matéria. Teve um trecho a merecer reparos. Ele apontou com o dedo.
A moça não entendeu de certo. Ele então bateu à teclada e substituiu a palavra.
A moça sorriu para Otto e a ajuda prestada por ele.
Racilva:
--- Obrigada! – respondeu a moça
a tremer de susto.
Vanesca voltou da toalete e logo
se dispôs a sair. Otto também já estava pronto. Ainda assim, olhou a matéria de
Alda Paiva e disse-lhe.
Otto:
--- Vá fundo! – falou o rapaz
querendo dizer – “Mais ação”. -
Em seguida, Otto e Vanesca saíram
com pressa, pois já estava quase meia hora em atraso. Eles rumaram para o
elevador onde já estavam mais duas moças de outras secções a conversar algo sem
nexo e por isso mesmo sorriam.
Vanesca:
--- Demora! – falou a moça com
cara de quem quer sair o mais rápido possível.
Otto:
--- O restaurante já deve está
cheio há essa hora. – falou o rapaz sem muita conversa.
O automóvel rumou em direção de
um restaurante muito procurado pelas moças e rapazes e se tornara o chamariz
dos encontros de fim de semana. Um sinal fez o motorista brecar. Duas mulheres
atravessara a rua quase correndo. Uma anciã atravessou sem pressa, pois o sinal
estava a indicar o vermelho. Otto olhou a idosa senhora e ficou a pensar em
quantas eras teria aquela mulher. Um corpo franzino, saia comprida até ao chão,
cor de luto, bengala na mão. Isso era tudo da mulher corcunda vergada pelo
tempo. Um homem atravessou em sentido contrario agarrado a sua feliz namorada.
Do outro lado a rua os carros estavam parados enquanto nos bares da vida os
garçons corriam de um lugar a outro para atender com maior presteza aos
fregueses. Após um tempo o sinal abriu para os carros e Otto se dirigiu em
sentido à direita em busca do restaurante de costume. A moça Vanesca olhava as
vitrines do interior do carro e apertava a mão de Otto para que ele também olhasse
aqueles lançamentos da semana.
Vanesca:
--- Olha que chique! – dizia a
moça a verificar os lançamentos da moda nas vitrines.
Otto:
--- É apelação. Não tem nada de
chique. – respondeu o rapaz preocupado em encontrar um local de estacionamento
ao chegar ao restaurante.
Vanesca:
--- Você também é um desmancha
prazer. – vez ver a moça com a cara nervosa.
Otto:
--- Mais não é mesmo? – sorriu sem
querer o rapaz a estacionar o carro em um pátio.
O flanelinha veio depressa para
dizer ao dono do carro que ele estava ali a tomar conta dos automóveis para ninguém
arranhar os mesmos. O flanelinha apenas fazia o seu dever de ganhar alguns
trocados dos donos dos carros. Otto deixou uns trocados com o rapaz se
encaminhou a entrada do restaurante. Como era de se pensar a respeito, o local
estava quase completamente lotado. A sala era toda muito bem arrumada e uma
vitrine existente no local dava para se
ver os barcos de pescas a trafegar com lentidão
no rio. Os bravos garçons ou empregados
de mesa transitavam céleres de um lado para o outro para atender com presteza
aos pedidos já um bom tempo que eram feitos. As mesas com quatro ou seis
cadeiras eram para dar mais luxo ao recinto. Otto não reparou bem nesses magníficos
detalhes, pois já estava acostumado a se
ver nesse aprazível local de comes e bebes. Com o passar dos minutos, o rapaz
puxou um garçom pela túnica e pediu uma bebida como vinho, para dois. O garçom
conferiu a mesa e disse apenas:
Garçom:
--- Um instante. – e caminhou
apressado para o interior do bar.
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