quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ISABEL - 46 -

 
- Lucélia Santos -
- 46 -
POLÍCIA
Ainda pela manhã daquele mesmo dia o Coordenador de Polícia do Estado esteve no Gabinete do Delegado da Polícia Federal. Ele foi à busca de ajuda na investigação do elemento conhecido por Mão Branca. O Coordenador foi apenas ele e mais ninguém. Nem mesmo o motorista da repartição. O Coordenador explicou ao Delegado ter certeza de elementos de alta cúpula envolvidos nos assassinatos frequentes executados na capital e interior do Estado. E fez citar alguns nomes envolvidos como o do Governador do Estado e do deputado estadual Sandoval Quaresma bom como de outros parlamentares, inclusive senadores. E por tal motivo, mesmo em sigilo, a Polícia Federal poderia averiguar o caso e até prender os envolvidos nessa trama diabólica. O Delegado perguntou o porquê de tal movimento, então o Coordenador relatou não ter confiança em nem um de sua secretaria, pois em qualquer caso quem fosse, saberia de imediato o fato inusitado.
Coordenador:
--- Eu estou de mãos atadas. Não confio em ninguém de meu Gabinete. – relatou sem paz o Coordenador.
Delegado:
--- Nem o Secretário de Segurança? – investigou o Delegado meio constrangido.
O Coordenador sorriu sem querer antes de qualquer resposta. Passaram-se alguns segundos e o Coordenador de cabeça um pouco abaixada e depois levantou apenas para dizer ao Delegado de Polícia (Federal) o seguinte teor:
Coordenador:
--- Para bem falar, o Secretario de Segurança é um bom pau mandado. O homem está no seu Gabinete como se não estivesse. Veja bem: tem departamentos que o homem nem sabe se existe na sua repartição. É uma coisa de horror. Ah meus Deus! Ele é um insípido Secretario. Vamos dizer: está no posto porque sua mãe ordenou. É uma forma de falar. O Secretario, na verdade, é um pau mandado. Quando tem de tomar uma decisão pergunta primeiro ao Governador. “Eu devo falar? Que é que eu digo?” com aquela voz de taboca rachada. Eu nem imagino confiar no homem. Francamente! – foi o que falou o Coordenador.
Delegado:
--- É um caso sério!....Mas vamos falar no que a Polícia Federal pode fazer! Aqui nós estamos atrelados ao Governo Federal. Se bem que a história é um pouco diferente. Mas como nós podemos ajudar? – indagou o Delegado de Polícia.
Nesse ponto o Coordenador ficou mais a vontade de falar. Mesmo sendo uma esfera federal, a Polícia podia verificar os deputados, senadores da situação e o próprio Governador do Estado até o ponto no qual chegasse à conclusão definitiva de elucidar o esquema montado para apontar os culpados desses hediondos crimes. Se pudesse fazer a investigação, teria de por inclusive dentro do próprio Governo do País para ditar quem é ou não aquele a mandar “executar” um ladrão ou outros elementos simpatizantes de causos fora do poder. Até mesmo os “comunistas”. As pessoas a existir no sistema “clandestino”, dizia o Coordenado Geral da Polícia do Estado.
Coordenador:
--- É uma verdadeira “caça as bruxas”. – fez ver o Coordenado um pouco constrangido.
E os homens entraram em detalhes da investigação com os agentes federais disfarçados em lixeiros, técnicos em telefonia a colocar esquemas estratégicos em telefones do Palácio, homens a entrar em departamentos como um simples carregador de arquivos, gente metida na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas, enfim em todos os locais suspeitos, até mesmo no interior do Estado.
Delegado:
--- É um caso que leva tempo. Talvez meses ou anos. Se bem que o caso é profundo para conseguir uma resposta de imediato. - declarou o delegado enxugando o suor da testa.
Coordenador:
--- É. Isso é. Talvez eu já tenha morrido certamente quando esse caso seja resolvido. – relatou o Coordenador de Polícia com a sua cabaça abaixada.
Delegado:
--- Eu tenho informes de homens encapuzados invadindo residências altas horas da noite e acabam com rapaz atirando seguidamente e até a chutar cães e gatos. Isso é uma temeridade real.  A Polícia Federal não age desta forma. Eu acredito também ser igualmente a polícia do Estado. Eu vejo vários relatórios de crimes hediondos a serem abertos na Justiça. E vejo assim não haver conclusão de tais assassinatos. – relatou o delegado.
Três dias depois, quando tudo era calma e reza, a enfermeira entrou no apartamento de Toré e anunciou a sua alta. Ele teria de voltar com mais uns dias para curar o ferimento. Naquela ocasião, nada mais teria a ser feito. O homem sentiu orgulho de poder sair e então chorou de tanta felicidade. Segurou o seu ombro e sentiu um aperto. Porém era coisa simples. E olhou em volta encontrando a esposa. O Agente Silva já havia saído em definitivo. Nada mais restava para o agente a fazer. A auxiliar de enfermagem ainda estava na quina da cama de Toré. Era ela mais uma auxiliar, pois a cada seis hora de trabalho mudava a auxiliar. A que estava de pé em seu lugar tinha o rosto pálido, igual a uma vela branca a combinar com o seu traje de vestir, todo branco. Toré nem chegou a olhar direito da a auxiliar. Mas, a sua mulher notou a face da auxiliar de enfermagem e alertou para si mesma:
Otilia:
--- Que mulher branca! Nossa Senhora! Parece até com uma vela. – falou a mulher de forma sutil.  Certamente a auxiliar não ouviu o pensar de Otilia.
De momento chegou o médico e olhou bem para o que estava feito no ombro do rapaz e, alegre, declarou ele estar pronto para outra queda. E sorriu afinal. O médico era um rapaz bem moço de estatura baixa, cabelos ao desalinho, voz de quem nem era médico. Toré se levantou da cama e agradeceu ao médico por ter sarado o seu ferimento. O médico respondeu não ter sido ele o feitor da obra. Mas acompanhou todo o procedimento no ombro do rapaz e, com certeza, levaria alguns dias para ser cicatrizado.
Médico:
--- Sempre me perguntam se tal comida é “carregada”. Eu sempre fico a sorrir. Mas para o seu caso, toda comida serve muito bem. A não ser os crustáceos. Alguns peixes. Mesmo assim, é ter cuidado com o ferimento. Não demora mais de 15 dias. Se molhar a corte não deixe por muito tempo a lesão desse modo. De qualquer modo, a nutriente vai lhe passar a receita do que pode ou não comer. Essa é a vida. Saúde! – disse o médico a sorrir.
E o pequenino homem de não mais 30 anos, cumprimentou o rapaz e a sua mulher e soltou leve risada para ambos. Na saída do quarto tinha uma enfermeira a esperar pelo clínico e logo os dois saíram para verificar algo. Toré ficou apoiado na cama. Sentia dores, mas tão logo passageiras. A mulher Otilia e a enfermeira seguraram no homem quando esse quis se levantar de vez. A cabeça de Toré girou como um cata-vento. Ele se apoiou em sua mulher amada. A auxiliar veio com pressa ajudar o rapaz. Esse agradeceu e fez esforço para andar solitário. Toré sentia o ferimento e Otilia recomentava cuidado. Toré agradecia. Mesmo assim, o rapaz começou a caminhar. Outra moça chegou com vagar ao quarto do rapaz. Ela olhou com certa preocupação a forma do homem se locomover ao lado da cama. E levemente sorriu. Após de alguns segundo a Nutricionista recomendou cuidados especiais ao enfermo. E passou às mãos de sua esposa uma lista de alimentos e nutrientes para Toré. Ao fim, Otilia agradeceu a prestimosidade da Nutricionista.
O carro, dirigido por um mecânico da oficina, largou com pressa para levar Toré e sua esposa para o seu lar, acima da oficina onde Toré foi baleado. Na metade do caminho uma tragédia entre dois autos. Um engavetamento provocou o choque brutal dos dois carros. Muita gente ao derredor. Sangue exposto ao solo. Uma ambulância no local. Nos dois carros, presos as ferragens estavam os seus ocupantes. O povo franzia a testa. Alguns colocavam o dedo na boca como querendo dizer ser aquela uma tragédia anunciada. O transito de ônibus e automóvel estava a ser desviado para outro local. A polícia de transito estava alerta para não permitir outros veículos a passar. O tumulto era formado com tanta gente e veículos naquele ponto da tragédia. Alguém falou ser melhor o carro de Toré trafegar por outra avenida ou rua,  pois naquela área estava uma desordem infernal. O motorista obedeceu enquanto um policial de transito já estava a chegar com um apito na boca como a mandar com seus gestos feitos com o braço a se deslocar para fora da rota.
Toré:
--- Que houve naquele trecho? – indagou o rapaz do banco de trás do seu carro.
Otilia:
--- Parece um acidente! – disse a mulher a olhar para fora do automóvel
Motorista:
--- O guarda vem alí a mandar a gente sair da rua. Bosta! Eu vou manobrar para aquele posto de combustível. É o melhor que eu faço! – disse o motorista torcendo o pescoço para se desviar de outros carros.
Uma sirene tocou ao lado do carro de Toré. O motorista disse ter sido um pelotão de transito estar a chegar. E  ele retrocedeu com carro, pedido aos outros permissão de passagem, pois estava com um enfermo do banco de trás. O guarda do apito já estava com o rapaz alertando mais uma vez para ele sair daquele a se formar no transito. O motorista disse estar sabendo. Porem os demais carros empatava o seu deslocamento. O guarda do apito só fazia gesto de “Sai pra lá! Sai pra lá!”. Queria dizer o guarda de transito.
Motorista:
--- Só dando um murro na tua cara é que vai me entender! – proferiu o motorista de Toré.
 


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